terça-feira, 29 de julho de 2008

Miguel Hernández, a Espanha que não foi


Menos tu vientre,
todo es confuso.

Menos tu vientre
todo es futuro
fugaz, pasado,
baldío, turbio.

Menos tu vientre
todo es oculto.

Menos tu vientre
todo inseguro,
todo postrero,
polvo sin mundo.

Menos tu vientre
todo es oscuro.
Menos tu vientre
claro y profundo.

Versão em português

Menos seu ventre
tudo é confuso.

Menos seu ventre
tudo é futuro
fugaz, passado,
baldio, turvo.

Menos seu ventre
tudo é oculto.

Menos seu ventre
tudo inseguro,
tudo postreiro,
poeira sem mundo.

Menos seu ventre
tudo é escuro.
Menos seu ventre
claro e profundo.

Miguel Hernández foi um dos maiores poetas da língua espanhola. Lutou junto aos republicanos na Guerra Civil espanhola e morreu no cárcere. Em apenas 31 anos deixou uma obra belíssima. A morte do poeta pelo regime franquista privou ao mundo de um artista que estava na melhor fase da sua criação e foi definida como o símbolo da Espanha que poderia ter sido e que não foi.
Desde o ponto de vista literário, o poeta se vale aqui da figura de repetição (anáfora) no início de cada verso. Mais um poema dedicado à sua esposa
Josefina Manresa, Menos seu ventre destaca o valor da mulher como o único espaço seguro num mundo caótico e também como emblema da fertilidade. Nesse sentido, a obra do poeta está atravessada pela idéia de uma mulher forte e ao mesmo tempo profundamente feminina.

Menos tu vientre, de Miguel Hernández
Versão para o português de Juan Trasmonte
Foto do arquivo de Miguel Hernández na prisão

2 comentários:

Gabriela Ventura disse...

não conhecia esse poema em especial do Hernández. Abrigada por compartilhar.

excelente blog, aliás. ;)

Juan Trasmonte disse...

Muito obrigado, Gabriela! Não consegui acessar ao teu perfil para devolver a visita.
Esse é um poema clásico do Miguel. Belíssimo, né?
Abs.