sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Don Ata


Certa vez numa entrevista quase ao acaso ouvi Atahualpa Yupanqui dar a melhor definição para violão que eu conheço. Ele falou:
"Sí, la guitarra, esa madera de infinitas vibraciones"
(Sim, o violão, essa madeira de infinitas vibrações)

Foto das mãos de Atahualpa Yupanqui de Pedro Otero

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Missill


Surpresas de Buenos Aires. Hoje tocou DJ Missill na BAFIM.
Graffiti, grafismo, design, flow, fera.
Foto de Filip Drábek

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Jack



Da mesma serie que o anterior, Jack Nicholson
Foto de Annie Leibovitz

domingo, 26 de agosto de 2007

Noir


O diretor espanhol Pedro Almodóvar e a atriz Penélope Cruz, no ensaio fotográfico de Annie Leibovitz que faz homenagem aos filmes noir.
Foto de Annie Leibovitz

Keith Rowe


A eterna procura do som que vai desde os quadros de Paul Klee até uma bolacha ou um isqueiro. Dizem que Keith Rowe, fundador do AMM, foi determinante no trabalho de artistas como Syd Barrett, na alvorada do Pink Floyd.
Foto de Gérard Rouy

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Copy-Paste


A mão segura o ventre
para conter o mundo
no ar fica a leveza
que vem depois da dor
depois de toda a dor
a vida até parece
sustentável.

A água rege os dias
e à ordem natural
o século morreu
o dia em que o homem
quebrou
a marteladas
La Piettá.

Upar descarregar
upar descarregar
copiar colar
calar
a existência
virou um eterno
copy-paste.

Copy-paste, de Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Moraes


Felicidade é uma cidade pequenina
é uma casinha é uma colina
qualquer lugar que se ilumina
quando a gente quer amar.

Se a vida fosse trabalhar nessa oficina
fazer menino ou menina, edifício e maracá
virtude e vício, liberdade e precipício
fazer pão, fazer comício,
fazer gol e namorar.

Se a vida fosse o meu desejo
dar um beijo em teu sorriso, sem cansaço
e o portão do paraíso é teu abraço
quando a fábrica apitar

Numa paisagem entre o pão e a poesia
entre o quero e o não queria entre a terra e o luar
não é na guerra, nem saudade nem futuro
é o amor no pé do muro sem ninguém policiar.

É a faculdade de sonhar é uma poesia
que principia quando eu paro de pensar
pensar na luta desigual, na força bruta, meu amor
que te maltrata entre o almoço e o jantar

O lindo espaço entre a fruta e o caroço
quando explode é um alvoroço
que distrai o teu olhar
é a natureza onde eu pareço metade
da tua mesma vontade
escondida em outro olhar.

E como o doce não esconde a tamarinda
essa beleza só finda
quando a outra começar
vai ser bem feito nosso amor daquele jeito
nesse dia é feriado não precisa trabalhar.

Pra não dizer que eu não falei da fantasia
que acaricia o pensamento popular
o amor que fica entre a fala e a tua boca
nem a palavra mais louca, consegue significar: felicidade

Pão e poesia, de Moraes Moreira e Fausto Nilo

terça-feira, 21 de agosto de 2007

A eternidade segundo Sábato



"Graças ao amor a gente pode desejar e até atingir a eternidade".
Ernesto Sábato

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Sangue bom


Juliette Binoche e Denis Lavant no filme de 1986 Mauvais Sang, de Leos Carax.
Na foto de baixo, o diretor em ocasião da apresentação do filme no Festival de Cannes


domingo, 19 de agosto de 2007

Um poeta João


Se diz a palo seco
o cante sem guitarra;
o cante sem; o cante;
o cante sem mais nada;

se diz a palo seco
a esse cante despido:
ao cante que se canta
sob o silêncio a pino.

O cante a palo seco
é o cante mais só:
é cantar num deserto
devassado de sol;

é o mesmo que cantar
num deserto sem sombra
em que a voz só dispõe
do que ela mesma ponha.

...
A palo seco existem
situações e objetos:
Graciliano Ramos,
desenho de arquiteto,

as paredes caiadas,
a elegância dos pregos,
a cidade de Córdoba,
o arame dos insetos.

Eis uns poucos exemplos
de ser a palo seco,
dos quais se retirar
higiene ou conselho:

não de aceitar o seco
por resignadamente,
mas de empregar o seco
porque é mais contundente.

A palo seco (fragmento), de João Cabral de Melo Neto

sábado, 18 de agosto de 2007

Isle of Wight


Para continuar na onda dos festivais. O nome dessa mulher é Jacqueline. Na cena, ela e seu companheiro assistem ao show do Jethro Tull no festival Isle of Wight de 1970, enquanto o companheiro toca na barriga dela porque parece que tinha rock lá dentro também.
Um amigo de Jacque descobriu a imagem na internet e mandou pra ela, que não sabia da sua existência.
Quem tava na barriga chama-se Rakesha e hoje tem 37 anos.
Foto de Kim Eley

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Julie


A atriz Julie Christie curtindo o Festival Glastonbury Fair em 1971
Foto de Paul Misso

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Cariocana


Eu trabalhava
não tinha pressa
segunda terça
todas as quartas
eu acordava
às dez e meia
tinha uma fé
fé sem novena
de olhar o céu
atrás da grana
tinha uma urgência
assim clandestina
angústia não tinha
angústia minha
de sol no umbigo
eu misturava
todos os cheiros
roupa com rua
mar com perigo
um com outro
arroz com ouro
eu já sacava
logo de cara
qual era a sua
era mais livre
pra suar rodas
para te buscar
em qualquer lugar.

Cariocana, de Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Eurico Dantas

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Uma mulher, duas canções


1

Eu sou apenas um velho baiano
um fulano, um caetano, um mano qualquer.
Vou contra a via, canto contra a melodia,
nado contra a maré.
Que é que tu vê, que é que tu quer,
tu que é tão rainha?
Branquinha,
carioca de luz própria, luz.
Só minha
quando todos os seus rosas nus,
todinha
Carnação da canção que compus
quem conduz
vem, seduz.
Este mulato franzino, menino,
destino de nunca ser homem, não.
Este macaco complexo,
este sexo equívoco
este mico-leão.
Namorando a lua e repetindo:
A lua é minha.
Branquinha,
Pororoquinha, guerreiro é.
Rainha
de janeiro, do Rio, do onde é
sozinha,
mão no leme, pé no furacão,
meu irmão
neste mundo vão.
Branquinha,
Pororoquinha, guerreiro é.
Rainha
de janeiro, do Rio, do onde é
sozinha,
mão no leme, pé no carnaval,
meu igual
neste mundo mau.


2

Eu não me arrependo de você
cê não me devia maldizer assim
vi você crescer
fiz você crescer
vi cê me fazer crescer também
pra além de mim.

Não, nada irá nesse mundo
apagar o desenho que temos aqui
nem o maior dos seus erros,
meus erros, remorsos, o farão sumir
vejo essas novas pessoas
que nós engendramos em nós
e de nós.
Nada, nem que a gente morra,
desmente o que agora
chega à minha voz.

Branquinha (1989) e Não me arrependo (2006), de Caetano Veloso
Foto de Daigo Oliva
Uma mulher, duas canções e nada a (mal)dizer. Pois é, bicho. O amor é foda.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Arte na rua



Alexandre Orion, artista urbano

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Malandro é malandro


Mas eu mandei minha nêga pro inferno
o diabo não quis aceitar
ele me mandou a crioula de volta
dizendo que lá não era seu lugar.

Olha que o bicho muito injuriado
com a minha crioula não quis brincadeira,
disse que ela me deu muitas voltas
e a ele enganou com a peneira.

Mandou um bilhete por ela
para mim escrito assim:
Essa sua mulher não é flor que se cheire, malandro,
pode acreditar em mim

Eu mandei jogar ela dentro do fogo
e o fogo me pediu chorando:
Você vê se tira essa mulher daqui
porque ela está me queimando.

O diabo ficou nervoso dizendo
isso aqui jamais aconteceu.
Só mandei sua mulher de volta, amizade
porque ela é pior do que eu.

Pode acreditar em mim, de Adelzonilton, interpretada por Bezerra da Silva
Foto de Verônica Peixoto

domingo, 12 de agosto de 2007

Dia das Crianças


Freddie Mercury criança


Mariel Hemingway criança


Paulo Leminski criança


Tadeusz Kantor criança



Gilberto Gil criança


Bob Dylan criança



Cartola criança



Asia Argento criança




Cássia Eller criança

Hoje é o dias das crianças nessa parte do mundo

Crianças


Infants...
La vida ran de pols i les mirades altes,
seda tèbia de neu i llot fresc a les galtes.

Infants...

Esperança i enveja, els picarols del cor;
infidels com el temps, sobtosos com la sort.

(O com la mort) mesquins i jugadors infants,
fraudulents i secrets, o pròdigs com soldans;

terroristes de sol i ressol als jardins,
porucs de nit deserta; impàvids assassins

de roses i libèl·lules; mercaders d'afalacs,
de dolçor viciosos i de llet embriacs.

Infants...

La voluptat furtiva del xipolleig i el fang,
insabuda promesa de l'amor de la sang!

Disfresses de tempesta, ornament del dolor,
pintura de la llàstima, marea de la por,

les llàgrimes sonores i artreres i abundants,
les armes de llur guerra civil contra els gegants.


Versão em português

Crianças...

A vida ao rés-do-chão e os olhares altos
seda morna de neve e lama fresca nas bochechas

Crianças...

Esperança e inveja, cascaveis do coração
infieis igual o tempo, súbitas igual à sorte

(ou igual à morte), mesquinhas e brincalhonas, crianças,
trambiqueiras e segredas ou pródigas como sultões

terroristas de sol e resol nos jardins
medrosas na noite deserta, impávidas assassinas

de rosas e libélulas, mercadoras de lisonjas,
viziadas em doces, de leite bébadas.

A voluptuosidade furtiva da chapinhada e a lama
ignorada promessa do amor do sangue!

Fantasia da tormenta, enfeite da dor,
pintura da pena, maré do temor,

as lágrimas sonoras e arteiras e abundantes
as armas da sua guerra civil contra os gigantes.

Infants, do poeta catalão Pere Quart, pseudónimo de Joan Oliver
Versão para o português de Juan Trasmonte

sábado, 11 de agosto de 2007

Flores eternas


Eu sou bela, ó mortais! Como um sonho de pedra,
e meu seio, onde todos vêm buscar a dor,
é feito para ao poeta inspirar esse amor
mudo e eterno que no ermo da matéria medra.

No azul, qual uma esfinge, eu reino indecifrada;
conjugo o alvor do cisne a um coração de neve;
odeio o movimento e a linha que o descreve,
e nunca choro nem jamais sorrio a nada.

Os poetas, diante de meus gestos de eloqüência,
aos das estátuas mais altivas semelhantes,
terminarão seus dias sob o pó da ciência;

Pois que disponho, para tais dóceis amantes,
de um puro espelho que idealiza a realidade:
O olhar, meu largo olhar de eterna claridade!

A beleza, de Charles Baudelaire
Homenagem aos 150 anos do livro As flores do Mal
Foto de Felix Nadar (1855)

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Guerra química


Vocês achavam o qué?
Guerra química é isso
minha mão que não pode te tocar
apertando a caneta até sangrar
minha mão desvairada escrevendo
sem parar.
Entre você e eu
histórico zero
outras pessoas
nossos corpos generais
de uma guerra louca
palavras engasgadas
cataratas
de palavras
por favor não me toque.

Guerra química é isso
un instante de belleza
as lágrimas que não podemos
conter
o sangue que nos guia
meu corpo seu corpo
dizimados e benditos
pela guerra química
que não escolhimos
foi ela que nos escolheu.

Guerra química, de Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Mintcho


Na gíria Argentina, quilombo é sinônimo de confusão. A caixinha da imagem é semiótica pura. Mintcho Garrammone usa uma caixinha de amendoim com cobertura de chocolate pra simbolizar a felicidade. Então La Felicidad es un quilombo é o nome do show que o músico argentino radicado no Rio de Janeiro vai fazer amanhã em Buenos Aires.
Podem esperar a versão mais clásica do Waldir Azevedo ou o delírio mais sinistro de João Pernambuco, ou valsas próprias ou misturas de chorinho com milonga. Tudo entra na caixa de Pandora do grande Mintcho. É amanhã.

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Salif Keita


Je t’aime mi amoré menebêff fie
Boi nhat zefiu, ermãos
Ene le arabylyla to much
Boi etud nhiafieu , la paz
Xeritava pá, beru kuyê mobiliko yoi nh
ÊAhaha rilê ene
La munuku mo sô
In deburu ieu kordaine
Sank é noite a namo a cantor
Ê enela mulnuku mo sol
Yo sakenem mo sol

Un tem fé, si un tem fê
No também viver sem medo e confians
Num era mais bisonho
Olhar de nos criança ta a tornar brilhar de inocença
E na mente
CE esvitayada
Temporal talvez ta mainar

Yamore, de Salif Keita (fragmento)
Foto de Jonas Karlsson

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Bijou


The roads are wet,
and I can't remember your face
as I'm driving away in this, in this taxi cab
and the driver said
Are you sure you want to leave him?

Don't I need to get these scars off my face
and I'm bleeding, not just in front of you,
but in every single place
Don't you think that I want to see him in a different way
If he were weaker, And I still loved him
maybe it wouldn't be this way

When I Hated Him (Don't tell me) (fragmento), de Bijou Phillips
Filha do John Phillips do The Mammas & The Papas, aos 15 foi morar sozinha em Nova Iorque e um ano depois foi teen model-escándalo de uma campanha de Calvin Klein.
Atriz, modelo que rejeitou o mundo das modelos, cantora, namorada do Evan Dando e do Sean Lennon, baladeira de plantão junto com a amiga Paris Hilton, musa do cinema quase B mais ou menos sexy trash em filmes como Bully, Havoc e Hostel 2

domingo, 5 de agosto de 2007

Portalea


Foi o maior dançarino de tango que eu já vi. Tive a imensa sorte de conhecer e acompanhar Gerardo Portalea vários dias para uma reportagem de televisão que eu estava produzindo. Chamado de "Bailarín de los silencios", quando ele entrava na pista concentrava todas as atenções e transmitia alguma coisa que ninguém mais conseguia transmitir.
Admirado por Robert Duvall e outras estrelas que chegavam até o clube de bairro onde ele sempre assistiu, El Negro Portalea nunca quis ser um profissional da dança. Continuou trabalhando no cemitério de San Martín, na grande Buenos Aires, até se aposentar.
Morreu em junho. Nem os jornais perceberam.

sábado, 4 de agosto de 2007

A batida do Ataulfo


Vinte e cinco anos eu tenho de samba
e o meu prazer é cantar,
tantos desenganos a vida me traz
mas não deixarei de sambar.

Não vivo sem o meu violão
porque tenho a batida do samba
no lugar do coração.

Jubileu, de Ataulfo Alves

Summer of Love


A esquina de São Francisco que ficou como um dos estandartes do Verão do amor, em 1967, faz quarenta verões.
Ken Kesey, LSD, o salão Avalon onde tocavam The Grateful Dead, Andy Warhol assistindo à primeira gravação da Velvet. A era de Aquário e a utopía do mundo melhor
Foto da Agência Beck

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Fotos suas


Vejo fotos suas
vejo sua cara
cara
embrulhada numa carta
sua cara
vejo você de novo
escuto música
pano de fundo
eu e você
uma noite
versa verso aniversário
recorte do passado
projetado no futuro
nossa outra vida
que é a mesma
mas não será
jamais igual
laboratório não mais
as fotos andam
numa fita
se revelam
na frente dos estranhos
você não faz cópias
você original
originalmente generosa
fica com os negativos
para botar
na boca do envelope
seus positivos
essa boca voraz
que tudo guarda
depositar no avião
cheirar papel
pegar foto velha
numa gaveta
outros momentos que não sei
reinventados num momento
vejo você de novo
nova você de novo
supernova
ursa maior
órion
você descarta
nessa não estou bonita
um outro tempo
que não conhecia
quase que posso tocar
sua cara
você retorna da ilusão

que bom
então nunca foi sonho.

Fotos suas, de Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)

Yusa



Salve Yusa! Bota pra quebrar y que viva Cuba