sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Dez grandes gangsters do cinema


Paul Muni aguenta a rajada no Scarface


Christopher Walken, de olho em Nova York


Faye Dunaway e Warren Beatty, inesquecíveis Bonnie and Clyde


Mae Clark recebe a famosa toranjada de James Cagney

1. Vito Corleone (Marlon Brando) em O poderoso Chefão (The Godfather, 1972), de Francis Ford Coppola
2. Tony Camonte (Paul Muni) em Scarface (1932), de Howard Hawks
3. David “Noodles” Aaronson (Robert de Niro) em Era uma vez na América (Once upon a time in America, 1984), de Sergio Leone
4. Frank White (Christopher Walken) em O rei de Nova York (King of New York, 1990), de Abel Ferrara
5. Tom Powers (James Cagney) em Inimigo público (Public enemy, 1931), de William Wellman
6. Bonnie Parker e Clyde Barrow (Faye Dunaway e Warren Beatty) em Bonnie e Clyde, uma rajada de balas (Bonnie and Clyde, 1967), de Arthur Penn
7. Tommy De Vito (Joe Pesci) em Os bons companheiros (Goodfellas, 1990), de Martin Scorsese
8. Vince Stone (Lee Marvin) em Os corruptos (Big Heat, 1953), de Fritz Lang
9. Roy “Mad Dog” Earle (Humphrey Bogart) em Seu último refúgio (High Sierra, 1941), de Raoul Walsh
10. Mr. Blonde - Vic Vega (Michael Madsen) em Cães de aluguel (Reservoir Dogs, 1992), de Quentin Tarantino

Bonus track: Sonny LoSpecchio (Chazz Palminteri) em A Bronx Tale (1993), de Robert De Niro. Esse vai como adiantamento de uma postagem que vou dedicar ao Chazz nos próximos dias

Como sempre, a ordem não indica valor. São só dez entre centenares de vilões maravilhosos que o cinema nos deu. Essa lista, como todas, é completamente arbitrária.

Todas as fotos são reproduções de cenas dos filmes mencionados

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

La piccola Sole



Em meados de 1997, María Soledad Rosas, uma jovem argentina, da classe média-alta, foi pra Europa. Uma viagem iniciática como a que tantos de nós fazemos quando o mundo aparece na nossa frente como uma caixa de Pandora.
Antes havia ficado um tempo no Brasil. Soledad adorava animais e tinha idéias ecologistas. Nesse momento, ela vislumbrava seu futuro em uma praia do norte do Brasil.
Mas a possibilidade da Europa a levou para Turim, na Itália. Poucos dias depois de chegar, achou uma casa ocupada pelos squatters, um movimento na sua maioria formado por jovens que se opõem as regras e convenções do capitalismo, vivem em pequenas comunidades e fazem de prédios e fábricas desocupadas seu lugar de moradia e centro de atividades.
Soledad uniu-se ao grupo, identificada com as idéias deles, em boa parte baseadas no velho anarquismo.
Naquela casa conheceu e se apaixonou por Edoardo Massari, o Baleno (raio), que era dez anos mais velho que ela. O amor e a militância iam juntos. Soledad aprofundou sua participação em atos e distribuição de propaganda dos squatters. Não pareciam um grupo relevante em termos de política.
Mas ao mesmo tempo, outro grupo de squatters, conhecido como Lupi Grigi (Lobos cinzas), estava praticando atentados contra a construção do trem de alta velocidade (TAV), por considerá-lo causa de um futuro desastre ecológico.
Na madrugada de 5 de março de 98, o Digos, uma divisão da polícia secreta italiana criada na época das Brigadas Vermelhas, arrombou a casa e levou Soledad, Edoardo e Silvano Pelissero, amigo do Edoardo que também morava lá.
Com a cumplicidade da mídia que estranhamente nada questionou, os três foram indiciados como os “eco-terroristas” dos atentados. Porém, no momento em que ocorreram os fatos, Soledad estava na Argentina e Edoardo na prisão, pois ele tinha antecedentes por possessão de bombas molotov e pequenos furtos.
Detentos, os dois viraram emblemas do movimento squatter. Soledad foi desde então Sole ou La piccola Sole (a pequena Sole). Passeatas foram organizadas e as notícias ganharam mais espaço na imprensa, que continuou taxando os jovens como terroristas.
Em 27 de março, como um gesto final de protesto contra a injustiça, Edo se enforcou na cela.
Sole conseguiu permissão para assistir ao funeral do companheiro amado. Esse dia -quando foi tomada a foto que ilustra o texto- apareceu com a cabeça raspada e vestindo as roupas dele. E disse: “ce rivedremo presto” (nos reencontraremos logo).
A mãe e a irmã dela foram pra Itália. Depois da morte de Edo concederam a Sole a possibilidade de esperar o juízo em uma granja. O advogado italiano poderia fazer que os processos fossem separados, inclusive que ela voltasse para Argentina. Mas Sole recusou cada um dos benefícios oferecidos.
Na madrugada de 11 de julho, Soledad apareceu enforcada com un lençol no banheiro da casa onde permanecia detenta.
Foi um suicídio. Não houveram motivos para pensar o contrário.

Mais de uma década se passou e a história breve de Sole continua me comovendo. A parábola dessa menina educada em colégios particulares que entregou sua vida por uma luta aparentemente menor ou, como disse o pensador Gianni Váttimo, que “não aguentou o peso da vida”.
A lembrança dela está em várias paredes de Turim e nos seus companheiros.
Ninguém sabe se la Sole fez seu último ato por amor ou pelas suas idéias ou por ambas questões. Em qualquer caso, não deixa de ser simbólico que essa história tenha acontecido na década do maior cinismo do século vinte, quando o estandarte era dizer que as ideologias tinham morrido.




Foto de Sole da Agência Ansa (1998)
Reprodução da capa do jornal italiano La Stampa, condenando os detentos antes do processo
Foto de Sole do arquivo da polícia italiana

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Todos traços desumanos



Todos estamos perdidos no caos
todos traços desumanos
andamos roubamos matamos
amamos mal chamamos
para dizer onde estamos
falamos mais do que olhamos
todos traços desumanos
enquanto escapamos
na lama duramos
todos troços por trocados
nossos limites testamos
temos medos atrasados
e outonos adiantados
quem sabe para onde vamos
é o diabo
ele sabe onde jantamos
quantas vezes fornicamos
e onde brincam nossos filhos
nós-achamos filantrópicos
por centavos
ou morremos nos sinais
assaltados pela cria
ou largados de solidão

Todos traços desumanos, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto "The Long walk", de Bernard Fallon

domingo, 25 de janeiro de 2009

El Cher vive!



E só como para tirar um sorriso nessa tarde tristonha, deixo aqui a criação de 2002 do designer inglês Scott King. Involuntária ou não, uma metáfora da antropofagia pop que deglutiu ao Che Guevara.

Reprodução de Pink Cher, de Scott King

Agora foi mesmo



Há uma semana recebi a notícia falaz da morte de Tia Doca, pastora querida da Velha Guarda da Portela. Isso motivou a publicação de um texto homenagem e a retratação que vocês encontram mais abaixo.
Infelizmente, agora virou realidade. Apesar de ter melhorado durante a semana, Doca nos deixou nesta tarde de domingo.

Foto de Tia Doca de Gustavo Stephan

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Os americanos de Robert Frank











No final da década de cinqüenta o comum era retratar os estadounidenses nos seus jardins, sorridentes, o cachorro brincando com as crianças, sempre louras, e o estereótipo da família feliz que mais parecia uma extensão da fotografia publicitária.
Teve que chegar um estrangeiro com seu olhar diferente para exibir um face que parecia oculta. Esse foi Robert Frank, um suíço nascido em 1924, que emigrou para os Estados Unidos em 1947 e achou seu primeiro emprego como fotógrafo de modas na Harper’s Bazaar. Andou pela Europa e a América do Sul e de volta nos states começou a ficar conhecido entre os seus pares.
Ao mesmo tempo, do encantamento inicial pela sociedade industrial e desenvolvida, Frank foi ganho pela perplexidade. Achou uma nação obnubilada pelo consumo que escondia uma grande depressão depois do triunfalismo da posguerra. Esse é o espírito que atravessa o livro The Americans -com prólogo escrito por Jack Kerouac-, publicado na França em 1958 e um ano depois nos Estados Unidos, onde foi primeiramente rejeitado e taxado como um livro anti-americano.
O fotógrafo descobriu cowboys melancólicos, operários cansados, olhares tristes, e os fantasmas da segregação racial (vejam o detalhe do bonde com os brancos na frente e os negros na parte de trás).
Cinqüenta anos depois e depois desse novo estouro da borbulha do conforto, as imagens de Frank mantém a vigência intocada. Ele é provávelmente, junto com Art Shay, além de um dos pais da foto-reportagem, um dos cronistas sociais mais lúcidos que a arte dos Estados Unidos ofereceu.

Todas as fotos de Robert Frank, pertencentes ao livro Os americanos (The Americans)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Meu pai



Meu pai era ator, ao estilo de outrora. Ele entrou no palco pela primeira vez ainda na barriga da minha vó. Trabalhou em teatro, circo, rádio, cinema e televisão.
Naquele tempo, os elencos saiam pelo interior. Freqüentemente, tinham que fugir dos hoteis pelos tetos, na manhã seguinte, quando algum produtor vigarista sumia com a arrecadação da noite anterior.
As novelas eram para escutar no rádio a válvula e os técnicos de som eram mestres da invenção que faziam magia: passos andando no corredor com as mãos enfiadas em sapatos sobre a mesa; chuva amassando papel de embrulhar e por aí vai. E aqueles sons, que eu ouvi muitos anos depois em gravações, eram perfeitos para criar o clima.
Não havia duzentas escolas de teatro, os atores aprendiam no palco mesmo e vendo como atuavam os mais velhos e escutando os conselhos dos mestres.
Meu pai tinha todos os livros de Stanislavski mas reclamava da geração dos atores que se chamavam de “atores do método”.
“Eles ficam fazendo exercício de relax meia hora antes e na hora de entrar no palco, cagam de medo”. -dizia-

Meu pai, filho único de mãe solteira que perdeu todo o luxo quando ele nasceu -e conseqüentemente rejeitou o próprio filho a vida inteira-, não tinha completado a primeira série, mas era uma uma enciclopédia. Ele sabia de assuntos tão diversos como filosofia presocrática e os uniformes que usavam os policiais no século XIX. Por isso eu adorava sentar ao lado dele e ouvir as suas histórias das épocas em que televisão era ao vivo porque não existia vídeo-tape.
E como toda família de artista, meus dois irmãos e eu fomos nos trilhos, já desde pequenos começamos a sair na televisão. Puro oportunismo. Eu ia acompanhar meu pai numa gravação e sempre aparecia um produtor “Olha, Mário eu preciso um como ele para gravar amanhã”. Meu pai duvidava, falava com minha mãe e depois liberava. Pra mim era como um jogo, uma brincadeira, mas ele era taxativo se a oferta fosse para vários capítulos. “Ate vocês não completarem seus estudos, nada. Se depois quiserem ser atores, eu não vou impedir”
Os três começamos a fazer cursinhos desde crianças, mas quem pegou a espada fui eu. Isso durou uns quatro anos até que a psicanálise lacaniana me fez interrogar se esse era mesmo meu desejo o eu estava apenas seguindo a linha do sangue.
Na época eu já escrevia, mas fazia tudo que era curso complementar de um ator: dança, canto, expressão corporal, mímica. Ao mesmo tempo, rejeitava sistemáticamente todas as ajudas que o meu pai, que conhecia todos os produtores da televisão, oferecia.
Em troca, eu formava grupos de teatro experimental ou fazia trabalho militante montando peças em bairros pobres do recóncavo de Buenos Aires.

Eu voltava de uma dessas jornadas de teatro e debate na noite em que meu pai morreu. Já tinhamos passado por todas, que em outro texto um dia contarei. Estávamos reconciliados.
Afinal, mesmo que as palavras dele eram “estudem, estudem”, acho que ele no fundo gostava de ter um filho ator.
E eu contei isso das ajudas oferecidas porque quero encerrar esse texto, hoje que ele faria aniversário, com uma dedicatória que escreveu num livro que me deu de presente, sobre o teatro na Alemanha.

"Meu caro filho,
lembre que no teatro existe uma patente invisível. Ela não se vê, mas existe. Respeite isso entre os seus companheiros.
Lembre também que assim que você se respeitar como ator e como ser humano, os outros vão te respeitar.
Finalmente, não se sinta vencido embora estiver vencido.
No palco, seja grande ou pequeno o personagem, o primeiro ator é você.
E não olhe tanto para essa ajuda que vem “de cima”, por toda ajuda de cima, vem outra de mais acima”.




Foto retrato de meu pai de Annemarie Heinrich
Foto de meu pai, de autor desconhecido, na peça Tartufo, de Moliere, no Teatro Municipal General San Martin, circa 1950

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Aquarianos


Gregory Hines


Cesar Romero


Graham Nash


José Martí

Matt Groening

Eles e Charles Dickens, James Dean, Franz Schubert, John Hurt, Charles Darwin, Wolfgang Amadeus Mozart, Paulo Miklos, Gustavo Adolfo Becquer, Julio Verne, Mikhail Baryshnikov, João Ubaldo Ribeiro, John Mc Enroe, Telly Savalas, Arthur Rubinstein, William Burroughs, Michael Jordan, Ray Manzarek, John Travolta, Nick Nolte, Dr. Dre, John Forsythe, Alan Bates, John Schlesinger, Edouard Manet, George Burns, Rubén Darío, Michael Hutchence, Lewis Carroll, Galileo Galilei, Charles Lindbergh, Milos Forman, James Joyce, Jack Lemmon, Norman Rockwell, Peter Gabriel, Brandon Lee, Jack Palance, Bertolt Brecht, Paul Newman, Phil Collins, John Ford, Rutger Hauer, Rubens Corrêa, Leslie Nielsen, Gene Hackman, Carybé, Matt Dillon, John Williams, Alice Cooper, Almirante, Clark Gable, John Barrymore, Bob Marley, John Belushi, Joe Pesci, Christian Dior, Hakeem Olajuwon, Benny Hill, Leonel Brizola, Francis Bacon, Ernest Borgnine, Scott Glenn, Alan Alda, WC Fields, Jimmy Durante, Sergio Mendes, Ice T.
Todos eles nascidos sob o signo de aquário


Foto de Gregory Hines de Ken Duncan
Foto de Graham Nash de Graham Nash
Foto de Matt Groening de David Sillitoe

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Okê arô, meu pai



Oxóssi, filho de Iemanjá
Divindade do clã de Ogum
É Ibualama, é Inlé
Que Oxum levou no rio
E nasceu Logunedé!
Sua natureza é da lua
Na lua Oxóssi é Odé
Odé-Odé, Odé-Odé
Rei de Keto
Caboclo da mata Odé-Odé.
Quinta-feira é seu ossé
Axoxó, feijão preto, camarão e amendoim
Azul e verde, suas cores
Calça branca rendada
Saia curta estampada
Ojá e couraça prateada
Na mão ofá, iluquerê

Okê okê, okê arô, okê .
A jurema é a árvore sagrada
Okê arô, Oxóssi, okê okê

Na Bahia é São Jorge
No Rio, São Sebastião
Oxóssi é quem manda
Na banda do meu coração.

Oxóssi, de Roque Ferreira e Paulo César Pinheiro
Foto de
Rapadura Design

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Aquarianas


Kim Novak


Ellen Degeneres


Toni Morrison


Carole King


Anna Pavlova

Elas e Vanessa Redgrave, Virginia Woolf, Mia Farrow, Jennifer Aniston, Yoko Ono, Geena Davis, Gertrude Stein, Molly Ringwald, Roberta Flack, Nasstasja Kinski, Sherilyn Fenn, Marília Pera, Christina Ricci, Jennifer Jason Leigh, Diane Lane, Lana Turner, Rene Russo, Jeanne Moreau, Sheryl Crow, Minnie Driver, Mischa Barton, Angela Davis, Bridget Fonda, Colette, Katharine Ross, Jean Simmons, Barbara Hershey, Carmen Miranda, Laura Dern.
Todas elas aquarianas.



Foto de Ellen Degeneres de Michael Thompson
Foto de Toni Morrison de Gregg Elman
Foto de Carole King de divulgação da ex CBS
Foto de Anna Pavlova de Madame d'Ora (circa 1916)

domingo, 18 de janeiro de 2009

Sobre imediatez, maldade e rigor



Hoje ao meio-dia li nos jornais on line sobre a internação da Tia Doca, lendária pastora da Velha Guarda da Portela.
Quando acabei de ler os jornais brasileiros e argentinos, uma rotina dos domingos para mim, abri o e-mail e me deparei com uma mensagem de uma querida amiga anunciando o falecimento da artista. Como ela é uma pessoa íntima da escola de Madureira e abalado como eu estava, nem me preocupei por checar a notícia.
Escrevi um texto curto e postei um link para a revista Zé Pereira, que contém uma entrevista com Anna Azevedo, que também dirigiu o documentário Batuque na cozinha sobre a intimidade das pastoras Doca, Eunice e Surica com samba e culinária.
Porém depois de enviar o texto pro blog, pro ar... pra não sei onde, pra onde é que vão as coisas que a gente enfia na internet? Depois disso enfim, voltei aos jornais, aos sites de samba, às comunidades do Orkut. Ninguém dizia nada. Sobre os jornais on line nem achei tão estranho. O Globo costuma colocar no seu site na sexta-feira notícias que o domingo continuam lá.
Mas quando vi que lugar nenhum confirmava a morte de Tia Doca, resolvi retirar a postagem e apagar os links dos agregadores de notícias, pois a manchete já estava neles.
Pouco tempo depois, recebi outra mensagem da minha amiga dizendo que tudo foi um maldoso boato, que começou ontem à noite no ensaio técnico da escola e correu como fogo no pavio. Ela e outros tantos e eu por conseqüência fomos vítimas desse trote.
Trabalhei muitos anos da minha vida exercendo a profissão de jornalista. Sempre fui muito rigoroso com a máxima de checar a fonte. Vivendo e aprendendo. Nesses tempos da internet é preciso dobrar os cuidados. Esse velocino de falso ouro da imediatez com que tudo acontece na rede pode nos causar dores na alma e na cabeça ao mesmo tempo.
A boa notícia -e verdadeira- é que Tia Doca está lá, lutando. Peço desculpas pelo involuntário mal momento que posso ter causado.

Foto de Tia Doca de Michael Ende

sábado, 17 de janeiro de 2009

Borges txt (Terceira parte)



1. Uma jornalista chilena consulta Jorge Luis Borges sobre o conflito limítrofe que a Argentina e o Chile mantinham no final da década de setenta pelas ilhas Picton, Lennox e Nueva, no Canal de Beagle. Era um momento de grande tensão onde os dois países estavam à beira de uma guerra ridícula. Borges responde:

- A Argentina e o Chile bem que poderiam ser generosos e oferecer essas três ilhas perdidas à Bolívia, que ainda não tem saída para o mar.

2. O escritor recebe a notícia de que a mulher que ele ama vai casar com outro homem. Na hora, resolve ir ao dentista para um conserto de três dentes que ele estava adiando. Borges pede ao dentista para tirar os três dentes. Juntos. Depois segue para o seu escritório na Biblioteca Nacional. O subdiretor da biblioteca, José Edmundo Clemente vê Borges entrando na sala com um lenço manchado de sangue na boca.

- Que foi, Borges? -pergunta-
- Pedi para o dentista tirar o dente sem anestesia. Estou triste porque uma mulher me abandonou. Queria esquecer a dor, Clemente, mas não consigo... Não consigo.

3. Outubro de 67. Borges está ministrando aula na sua cátedra de literatura inglesa quando entra um aluno para anunciar a morte de Che Guevara e dizer que a aula deve ser cancelada em homenagem ao revolucionário. O professor diz que a homenagem com certeza pode esperar até a finalização da aula. O estudante responde: “Tem que ser agora e o senhor vai embora”. Borges levanta a voz. “Eu não vou, e se o senhor é tão homem venha me tirar daqui!” O estudante diz então que vai cortar a luz da sala de aula. Vem a resposta de Borges:

- Eu tomei a precaução de ser cego esperando este momento.

4. De viagem pela Espanha, o autor vai para Palma de Mallorca, um lugar querido para ele na sua juventude. O dono de uma livraria lhe mostra uma relíquia, um livro com 16 poemas escritos pelo jovem Borges. Nervoso, ele vira para sua assistente e companheira, María Kodama:

- Rasgue esse livro imediatamente!

Maria lhe explica que a edição é boa e que tem uma bonita foto dele na capa. Sem duvidar, Borges diz:

- Então guarde a foto e rasgue o resto.

5. Em 1984, para comemorar a edição das Obras Completas, Borges vai jantar com um grupo de amigos em um restaurante do bairro portenho de Congreso. O escritor pede seu puré de batata, um dos seus pratos preferidos. Enquanto esperam, os amigos bebem vinho, comem pão com manteiga e jogam conversa fora. A comida demora. De repente, se faz um silêncio e Borges diz:

- Mas que bom jejum tem nesse restaurante!


Terceira parte da série sobre histórias, frases e anedotas geniais do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). Tem mais nos links:
Borges txt
Borges txt (Segunda parte)

Foto da placa da rua Jorge Luis Borges, no bairro de Palermo, em Buenos Aires (ele teria achado abominável só a ideia de ver seu nome assim)

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Cinco olhares para Keith Richards












Embora não coloquei no título, essa postagem poderia fazer parte da série Sexta-feira non sancta aqui no blog.
O británico Keith Richards, heroi da guitarra e de tantos clássicos dos Rolling Stones, com seu rosto de tantas batalhas, é um prato feito para qualquer fotógrafo. Aqui estão algumas das minhas preferidas, incluída uma que fez Bill Wyman, seu ex companheiro na banda.
Dez olhos, cinco olhares para Keith.

Foto 1 de Gottfried Helnwein, de 1991
Foto 2 de
Robert Altman, de 1972
Foto 3 de
Annie Leibovitz , de 2008
Foto 4 de
Bill Wyman, de 1966
Foto 5 de
Michael Lavine, de 1997

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O que restou



O contorno do teu corpo
contra as pedras portuguesas
desenhado com giz
o teu corpo ainda morno
quieto fudido quebrado
bateu com um seco som
de surdo desafinado
de ti pouco restou
só lembranças
a geladeria vazia
e um papel para o juiz.

O que restou, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto de autor japonês desconhecido

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Boban & Marko Markovic Orkestar



Na Sérvia existe uma tradição que já tem quase cinqüenta anos e que nem as guerras e secessões conseguiram derrubar: é o festival Dragacevski Sabor, na cidade sulina de Guca. Lá concorrem anualmente os que pretendem ser consagrados como “os maiores sopros do mundo”.
A Boban Markovic Orkestar, se apresentou lá na frente de um auditório de 300.000 pessoas, ganhou todos os prêmios possíveis e nunca mais voltou.
Também originária do sul da Sérvia, da pequena Vladicin Han, a banda começou a mostrar a sua arte nas festas e enterros no final da década de oitenta. Seu fundador, Boban Markovic, sabe tudo sobre trompete e foi o responsável pela introdução do violino nas bandas dos Balcás.
Seu filho Marko entrou no grupo de doze componentes com 15 anos e agora que tem 21, já recebeu oficialmente a chave da herança, tanto que o mais recente disco chama-se Go Marko Go!. Ele compõe, faz os arranjos de sopros e mostra um virtuosismo que evidentemente traz no sangue. Marko também foi coprodutor do Disco Partizani, de Shantel -que já citamos aqui- e protagonizou o filme Gucha! The Distant trumpet, um hilário Romeu e Julieta dos Balcás em que o jovem trompetista cigano, que encarna Marko, se apaixona por uma moça sérvia branca, para complicar, filha de um trompetista rival. O link é para o trailer, vejam o garoto em ação, ele é um gênio.
Para completar o time da pesada, em 2000 entrou para a agrupação o sax de Jovica Ajdarevic, que já era famoso liderando a sua própria banda. Os shows da agora chamada Boban & Marko Markovic Orkestar são festas intermináveis onde é impossível se abstrair. Eles já fizeram atrasar meia hora um show do Oasis. O público achou bem mais divertida a banda de raiz rom que o mal humor britt-pop dos irmãos Gallagher.



Foto da Boban & Marko Markovic Orkestar de Miguel Dietrich
Foto de Marko e Boban Markovic de Marcus Kirchgessner

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A traidora gringuice foragida


Aos poucos dias de chegar ao Rio de Janeiro pela octogéssima vez, quando já foi pra ficar mesmo, fui convidado para uma festa, aquelas do estilo “amiga da amiga da amiga” que estava voltando pro Rio depois de morar em Londres por uma década.
Em certa hora, coincidimos na varanda o expatriado e a repatriada. Estava eu com uisquinho na mão quando ela soltou assim, como de passagem, a seguinte pérola:

- É horrível ser estrangeiro, porque você vai ser estrangeiro sempre.

Ela disse isso com toda naturalidade, mas eu odiei aquela mulher nessa hora, achei tão pouco gentil. A esperança de todo estrangeiro novo, exceto uns poucos que só querem ficar no gueto, é integrar-se à nova sociedade, ser um entre os outros.
Ainda minha arrogância achava que meus conhecimentos da língua portuguesa e da cultura brasileira iam fazer toda a diferênça. E o carinho dos amigos ajudava nessa construção. Eles me diziam frases do tipo: “você sabe mais de música brasileira que a maioria dos brasileiros”.
Passou um tempo até eu entender que, na verdade, o que era mais valorizado em mim, pelo menos no mundo do trabalho, era o que havia de diferente em mim e não o que havia em comum.

Tempos depois estava eu num churrasco com amigos, esses outros, das minhas primeiras viagens, amizades que já beiravam as duas décadas. De repente, a conversa nos levou para a infância e aí o pessoal começou a lembrar dos personagens do Sítio do Picapau Amarelo, aquela obra fundamental de Monteiro Lobato que a meninada curtiu através do programa de televisão. Era Emília pra lá e Pedrinho pra cá.
Nesse instante de luz compreendi a frase sem maldade daquela mulher que tanto tinha me agoniado. Não houve na minha infância Sítio do Picapau, eu cresci assistindo o programa de Gaby, Fofó y Miliki, três palhaços espanhois que tinham um show de muito sucesso na televisão argentina.
A condição de estrangeiro é isso, a ausência de história comum. O que eu sei de 1968 é o que eu li, o que me contaram, as músicas que ouvi, as fotos que vi, mas o meu 68 foi outro, sem passeata dos Cem Mil, sem festivais, sem AI-5. Tudo bem, eu era um moleque na época, mas o exemplo serve para significar a diferênça.

Assumir minha condição de gringo só me trouxe alívio. Tanto que resolvi ser um estrangeiro permanente, um estrangeiro de profissão. A obsessão do sotaque, como outras, ficou pra trás, certamente substituída por outras novas. De volta para a Argentina, passou a fase esquizofrénica de ficar dividido entre duas terras, de sentir a eterna saudade por uma quando estou na outra, e cheguei ao presente jubiloso de saber que há pelo menos dois cantos no mundo onde eu serei bem recebido, onde eu posso me fazer entender para pedir um copo d’água e um prato de arroz. Isso é um privilégio.

Depois dessa introdução que mais parece um oceano, vou explicar a razão desta postagem. Uma pessoa que eu não conheço, divulgou no Orkut um texto meu do blog sobre declarações de Maria Kodama, a viúva do escritor Jorge Luis Borges, que revelou que o mestre não gostava nem um pouco de Carlos Gardel, mas em troca ouvia o rock progressivo de Pink Floyd.
Por causa disso as visitas vindas do Orkut cresceram notávelmente, então resolvi pesquisar qual era a fonte desse aumento.
Achei o link em uma comunidade do Pink Floyd e várias respostas, e entre elas uma que dizia -achando que quem postou era o dono do blog-

- Meu amigo, “Nem vem que não tem” pq teu blog já caiu no meu conceito só em vc escrever no teu título foraGida com J...

Que vergonha eu senti! Foi um erro grosso que estava lá no comecinho do blog. Isso foi da época em que o Google, sem mais, me mandou pra berlinda e, entre vários conselhos para tentar solucionar o mistério, um deles dizia para eu acrescentar no cabeçalho algumas palavras sobre o assunto do blog. Então eu coloquei essa definição que já existia desde que eu tive que cadastrar o blog e algum lugar e mandei isso.
A explicação lingüística define esse tipo de erro como interferência, quando alguém falando ou escrevendo uma segunda língua enfia uma palavra da língua em que foi alfabetizado, pois em espanhol foragida é forajida, e eu que não vivo sem o meu Aurelião, jamais cheguei perto de duvidar sobre a grafia dessa palavra.
E vocês, amigos que vem aqui com freqüencia, imagino que por gentileza ou piedade, nunca me disseram nada.
Mas a gringuice é assim, por muito que eu possa disfarçar, ela aparece. E ela aparece para me lembrar a minha condição. E isso é muito legal porque também me faz manter esse olhar carinhoso e ao mesmo tempo distante.
Então, caros amigos, se vocês acharem um outro desses erros grosseiros, sejam crueis comigo. Aceito frases do tipo “seu gringo burro etc”.
Mas juro que daqui pra frente jamais vou esquecer como se escreve foragida em português.

Foto da minha pessoa tentando (e no conseguindo) disfarçar a sua gringuice no cafofo da Surica, com Paulão Sete Cordas e Teresa Cristina

domingo, 11 de janeiro de 2009

Quem vem lá sou eu



Quem vem lá sou eu
quem vem lá sou eu
a cancela bateu
cavaleiro, sou eu...


E para completar uma semana de despedidas, Edith Oliveira, Dona Edith do Prato, subiu no mesmo dia em que foi Casemiro da Cuíca.
Guardiã do samba de roda baiano, mãe de leite de Caetano Veloso, que a levou pro estúdio em 1973, quando gravou o belo Araçá azul, que a crítica chamou de "experimental" porque não conseguia classificar. A voz de Edith abre o disco, acompanhando-se com prato de louça e faca: "Vamo embora pro sertão, oh viola meu bem, viola..."
Dona Edith só foi gravar seu primeiro disco com 86 anos. Já era uma jóia, agora é um documento invalorável, nascido também por gestão da família Velloso.
A foto maravilhosa foi feita pela querida Maria Guimarães Sampaio em 1975, e mostra Dona Edith, com a matriarca dos Veloso, Dona Canô e Mabel Velloso, em uma cena do cotidiano, improvisando um samba na cozinha.
Outras fotos lindas criadas por Maria da grande artista de Santo Amaro da Purificação -que não se dizia artista- estão no Continhos para cão dormir.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Casemiro da Cuíca



Não não deixe que a tentação
Venha modificar o nosso viver
Alimento uma ilusão
E só você sabe o porquê
Na tristeza que me invade
Só é Deus é que sabe
O que eu sinto por você
Procuro encontrar uma solução
Mas não posso governar o coração
Que sofre por te amar em vão.

Tentação, de Casemiro da Cuíca e Ramon Russo

Semana desgraçada essa, hein? Mais um que vai para trupe do céu. Casemiro da Cuíca, o mais velho integrante da Velha Guarda da Portela, que iria fazer 90 anos em abril, partiu ontem.
Aqui tem um fragmento precioso de Paulinho da Viola encontrando a Velha Guarda na casa da minha querida Surica. Lá está o Casemiro que, no estilo antigo, continuava usando querosene para molhar o pano da cuíca.
Ainda bem que essa aristocracia da escola de Oswaldo Cruz vai passando testemunha para as outras gerações. Estão aí Cristina Buarque, Teresa Cristina e outros para provar.

Foto de Casemiro da Cuíca de Serra Azul, em show de apresentação do documentário O mistério do samba, em São Paulo, em agosto de 2008

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Xangô da Mangueira nos deixa mais sozinhos


Há exatos dois anos, escrevi aqui pela primeira vez sobre Mestre Xangô da Mangueira. Quando em 2005 fizemos o documentário Samba no pé, na hora de escolher os entrevistados que pudessem representar o pensamento e o sentir das Velhas Guardas, não tive dúvidas, seriam Surica, pastora da Portela, e Olivério Ferreira, nosso Xangô da Mangueira.
O encontro com o baluarte foi marcado no Terreirão do Samba. Até ali chegamos com a equipe. O céu estava cinza, ótimo para o diretor de fotografia. E o Terreirão vazio ao lado da silenciosa Marquês de Sapucaí inspirava pelo oposto a majestosidade do carnaval.
Xangô desceu do taxi com a mesma elegância com que andava pela avenida, impecável, de calça e sapatos brancos e com a camisa cor de rosa, uma das cores da nossa escola de coração.Quem fora compositor de mais 150 sambas, intérprete e diretor de harmonia da Estação Primeira, falou de tudo, das velhas épocas da Mangueira quando “Cartola era génio, mas quem cantava era eu” até a sensação quase inexplicável na hora de entrar na passarela.
Quando a entrevista acabou, pedimos para Xangô andar um pouco pelo Terreirão, o que é de praxe, ter umas cenas que sempre ajudam na hora de editar e para dar um ar nas longas tomadas dos depoimentos.
Jamais vou esquecer esse momento dele andando, com as mãos atrás do corpo, que mesmo ocupando um espaço breve no filme, foi um dos momentos mais emocionantes de toda a filmagem.
Há umas horas recebi a notícia da partida do mestre Xangô, um dos maiores partideiros que o samba nos deu. Vai ser muito dificil esse ano ver a velha Manga sem Jamelão e sem Xangô. É uma tristeza que só a voz dele que vem da caixa de som, disfarça.
Só disfarça.

Outros textos do Nemvem Quenaotem que citam mestre Xangô
Fragmento do documentário
Samba no pé com Tia Surica e Xangô da Mangueira

A inquietante arte de Mark Ryden







O artista estadounidense Mark Ryden saiu do underground para as grandes galerias de arte. Suas obras carregadas de simbologias diversas, mostram elementos do surrealismo, o Renascimento e o universo infantil que vai de Lewis Carroll até Sailor Moon.
Carne, sangue, santos, crianças de olhar adulto, árvores animados e Abraham Lincoln são algumas das presênças habituais nas suas pinturas, esculturas e desenhos.
Mark Ryden também é conhecido pelos seus designs para discos. Embora muita gente não conhece o rosto do artista, lá estão suas peças para Michael Jackson, Ringo Starr, Reo Speedwagon, Jeff Beck, 4 Non Blondes e Red Hot Chili Peppers, entre outros.
O talento para sintetizar a multiplicidade de referéncias -traço típico da posmodernidade- e o estilo fizeram de Mark Ryden um dos artistas mais destacados da arte pop da década de noventa.

Reprodução das obras The Ecstacy of Cecelia e Jimi Hendrix
Reprodução da arte de capa do CD Dangerous, de Michael Jackson
Todas as obras de
Mark Ryden
Foto de Mark Ryden de Ann Elliott Cutting

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O velho e bom café


Iggy Pop e Tom Waits tomando cafezão


Mestre Tom Jobim tomando cafezinho


Che Guevara tomando cafezinho


Chico Buarque tomando cafezinho em Paris


Meu amor meu amor
Me faz um cafezinho
Com aroma e com carinho
Meu amor meu amor
Me dá um cafezinho
Com açúcar e com beijinhos
Café!
O preto que virou ouro
Nas terras do Salgueiro
Em 1727 um nobre
Chamado Palheta
Trouxe a cultura do café
Para o Brasil
Depois vieram os barões
do café
Um cartel que mandava
Queimava, jogava fora
Mas não dava

Meu amor meu amor
Me faz um cafezinho
Com aroma e com carinho
Meu amor meu amor
Me dá um cafezinho
Com açúcar e com beijinhos
Café!
O preto que virou ouro
Nas terras do Salgueiro
Uma infusão feita com a semente
Torrada e moída
Contém cafeína e proteína
Planta maravilhosa e
Originária da Etiópia
E abissínia Abissínia
Etiópia Etiópia
Quem vai querer
Quem vai querer
Quem vai querer
Café

Café, de Jorge Ben Jor

Não sei se foi de novo a ilusão de ver os Reis Magos ou minha tendência natural notívaga, mas dormi mais tarde que sempre, que já é tarde, e hoje de manhã foi um suplício.
Sai disparado e só comecei a entender o mundo, ou o pouco que dá pra entender dele, depois de tomar um café na gravadora.
As vezes vilão, as vezes legal, dependendo do "segundo cientistas" ou o "estudos mostram" da hora. E as pessoas que têm preguiça de ler entrelinhas costumam não se interrogar: quais cientistas? quais estudos? Aí depois saem afirmando com ar doutoral que o café é bom pra isso e ruim pra aquilo.
O caso é que eu não consigo separar o verbo acordar da palavra café.
O bom amigo Boris voltou ontem do Rio, onde foi passar o reveillon com a família que mora lá. Ele trouxe uma contribuição para meu contrabando de café brasileiro. Ele sabe, tem que ser Pilão mesmo, nada de café chique, não, é aquele mesmo que eu tomava todos os dias quando morava no Brasil.
Olha por onde eu venho descobrir que café também pode ser uma tradução da palavra saudade.

Foto de Iggy Pop e Tom Waits do filme Coffee and Cigarettes, de Jim Jarmusch
Foto de Chico Buarque, reprodução do DVD À flor da pele, de Roberto Oliveira
Não achei os autores das outras duas fotos. Se alguém souber, agradeço.