segunda-feira, 30 de junho de 2008

Saudades da Casseta Popular


Na mira do Mark


Coluna musical de Mark Chapman

Sai, sai baião:
O conhecido compositor baiano Voraz Bobeira, erradicado do Rio há varios anos, regravaráo grande sucesso do Dorival Cahymen "Eu já vou tarde para Maracangalha eu vou". Trata-se de uma singela homenagem ao velho mestre, autor do grande sucesso "O velho e o mar".

De canudinho:
Bola branca para Narina e Seca Pacotinho, cada vez mais eufóricos com suas brilhantes carreiras. É isso, galera.

No Estaleiro:
Internados esta semana, juntos e ao vivo, o tecladista Wagner Tísico e a cantora Mama Cayndo. Tossindo muito, Wagner me confessou que não tem tido tempo pra cuspir. Enquanto Mama se submetera a uma cirurgia plástica que poderá mudar seu nome.

Muita areia no caminhãozinho:
Nilton Maiscimento e Roberto Menoscal estão acertando as bases para a regravação do hit "Construção". Vai ser de abalar as estruturas da MPB.

Saudosa maloca:
Preso em flagrante na boca da Rocinha, compositor e cantor alagoano Déjàvu. Na caçapa do camburão ele declarou, revoltado: podes crê, amamê, jererê, matinê.

"Ringo não morreu, mas Lennon eu não tenho dúvidas"
Mark Chapman

Publicado em junho de 1988, no número 11 da Almanaque Casseta Popular

Os anos oitenta foram brilhantes para o humor gráfico brasileiro. Hoje encontrei uns exemplares com cheiro de papel velho do Casseta Popular, do Planeta Diário, do Chiclete com Banana e outros mais. Ri muito revisitando aquelas páginas que sobreviveram a muitas mudanças minhas e outras do mundo. Já se passaram mais de vinte anos desde que os Cassetas e os outros daquela geração trouxeram para o Brasil uma nova maneira de fazer humor.
Conheci primeiro o Planeta. Ele foi me apresentado por amigos nas minhas viagens de férias. As coisas boas permanecem. Ainda conservo alguns desses exemplares e quase todos daqueles amigos.

domingo, 29 de junho de 2008

A integridade de Miguel Cantilo


Figura lendária do rock argentino, Miguel Cantilo tem uma virtude que poucos podem exibir nesses tempos de troca-troca: a coerência.
Criador de muitas músicas que fazem parte do imaginário coletivo de várias gerações, algumas delas compostas há mais de trinta anos, são de uma vigência assustadora. Localizado na etiqueta limitativa de "cantores de protesto", primeiro com o duo Pedro y Pablo e depois na sua carreira solo, construiu um exemplo de integridade.
Nos tempos do peace and love falava disso, da volta à vida natural e das mazelas do poder. E hoje que o mundo está mais volúvel ou, para usar um termo na moda, mais líqüido, ele fala de que? Dos mesmos assuntos.
Ontem Miguel depois de mais de um ano sem tocar na cidade, deu um show em Buenos Aires com sua banda povoada de jovens -entre eles dois dos seus filhos- e uma seleção de roqueiros convidados da pesada daqueles tempos: Alejandro Medina, Kubero Díaz -que por sinal tem uma filha carioca da sua fase em Búzios-, Juan Rodríguez e o genial flautista Mono Izarrualde.

Confesso que eu estava lá porque fiz a produção do show, porque as vezes, as coisas queridas que estão nas lembranças, prefiro que fiquem por ali mesmo. Já vi muitos admirados da minha adolescência desabar na decadência. Mas agradeço a oportunidade que o trabalho me deu de poder ter assistido a essa comprovação de uma trajetória sustentada na obra e nos fatos.

Miguel, que ja foi chamado de Enrique Santos Discépolo -poeta mor do tango- do rock, também pode ser chamado de ingénuo pela sentença da história. Mas entre os ingénuos e os que trocaram a ingenuidade pelo cinismo, eu ainda fico com os ingénuos.

A volta dos guerreiros do MIDI


Depois de três anos sem publicar uma obra, o Asian Dub Foundation está de volta. O lançamento de Punkara, gravado em 2007 mas que havia sido lançado só no Japão, tem sua edição europeia anunciada para outubro.
Mestres do dub e do ragga e criadores de um trabalho social sério, longe dos holofotes, eles abriram caminhos para a integração dos imigrantes asiáticos e seus descendentes na Inglaterra. Chamados de "Guerreiros do MIDI", eles não fazem brincadeirinha. Pandit G, um dos fundadores do sound system, rejeitou a Ordem do Império Britânico porque, melhor do que premiar é fazer.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

O sonho de Ibrahim


O projeto do Buena Vista Social Club, criado por Ry Cooder e depois filmado por Wim Wenders, deu projeção internacional para vários artistas cubanos excelentes. O caso emblemático foi o de Ibrahim Ferrer porque ele tinha caído no esquecimento até na ilha.
Cantor de orquestras em casinos e teatros, Ibrahim teve antes de subir a oportunidade de ser conhecido e reconhecido pelo público. Conseguiu gravar seu primeiro disco solo e depois cumprir o velho sonho de gravar um disco só de boleros, ritmo cubano por excelência, com as músicas que ele mais gostava de cantar na noite.
Publicado agora, Mi sueño acabou sendo sua obra póstuma. Ibrahim não assistiu ao resultado, mas o sonho já estava cumprido.

Foto de Youri Lenquette

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Lembrança de Michel Simon


Fim do dia
pra onde é que vai a vida
minha vida
no fim do dia
será que vem o boi da cara preta
será que não vou mais estar aqui
quando outro dia amanheça
ora se ela for embora agora
fim do dia
o céu está ficando mais escuro
escuto os aviões estão partindo
as árvores mais quietas
do que antes
a pele está mais seca
do que hoje
um cheiro de suor passou na esquina
fim do dia
e as luzes não acendem
fim do dia
pra onde vai a vida
minha vida.

Lembrança de Michel Simon, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto do filme La fin du jour, de Julien Duvivier. Na cena, Michel Simon e Louis Jouvet

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Dez músicas brasileiras que fazem minha vida mais feliz




01. Porque você não vem morar comigo (Chico César)
Arranjo de cordas maravilhoso de Mário Manga para o Quinteto da Paraíba e os versos certeiros de Chico César "dizem que o amor a amizade estraga e esta a este tira-lhe o vigor"

02. Fogueira (Angela Rô Rô)
Notável retrato da espera amorosa, dilacerante na voz da autora

03. Boi de haxixe (Zeca Baleiro)
O nordeste festivo, celebratório em música e letra de Zeca. "Um céu cheio de estrelas feitas com caneta Bic num papel de pão". Uma zecada.

04. Quem vem pra beira do mar (Dorival Caymmi)
Toada de 1954, com essa simplicidade implacável de Caymmi na versão original e que tem uma releitura ótima e auto-referente de Adriana Calcanhotto, gaúcha no exílio carioca que “nunca mais quer voltar”

05. Trocando em miúdos (Chico Buarque – Francis Hime)
Uma das parcerias geniais de Chico com Francis. Essa música faz trinta anos e continua perfeita na encenação do fim do amor: “uma saideira, muita saudade, e a leve impressão de que já vou tarde”

06. Felicidade (Lupicínio Rodrigues)
Uma toada singela de onze versos que mostra a qualidade de compositor de Lupicínio. Thedy Corrêa fez uma versão bacana no seu Loopcinio, co-produzido por ele e Sacha Amback

07. Corcovado (Tom Jobim)
Composta no famoso apartamento da rua Nascimento Silva, 107, só depois de muito tempo fui saber que a imagem do Corcovado que Tom via desde a janela tinha inspirado esses versos “da janela vê-se o Corcovado o Redentor, que lindo". Isso porque quando eu fui ao Rio pela primeira vez fiquei num hotel em Ipanema e tive essa mesma sensação toda vez que chegava na janela, à noite.

08. Marcha da quarta-feira de cinzas (Vinicius de Moraes – Carlos Lyra)
Também relacionada com minha história pessoal com o Rio e aquela primeira viagem, que foi poucos dias apôs a partida do Poetinha. Mas os versos “é preciso cantar e alegrar a cidade” tem a ver com a volta para uma Buenos Aires cinza, na época da ditadura, quando o que imperava nas ruas era o silêncio mesmo.

09. Apelo (Vinicius de Moraes – Baden Powell)
Difícil escolher uma versão dessa música que acompanhou várias das minhas dores de cotovelo adolescentes. Fico com a de Elizeth Cardoso, a de Bethânia, e a de Vinicius-Toquinho com o Soneto da separação no meio, recitado pelo autor. Mais uma da sociedade rica e breve de Vinicius e Baden.

10. Océano (Djavan) Essa já me fez chorar também tanto na versão do Djavan quanto na de Caetano. “Longe de ti tudo parou” e “amar é um deserto e seus temores” são fatais com as roupas dessas harmonias que só Djavan faz.

Começa aqui minha versão das dez mais da música popular brasileira, que como toda seleção pessoal é “caprichosa” e “antojadiza”, ou seja totalmente subjetiva. Esta coletánea será entregue em capítulos porque, lógicamente, são muitas mais de dez.Do resto, o que poderia aparecer como um paradoxo, não é. Uma canção considerada “triste” pode emocionar até o osso. E a qualidade da emoção na música e na palavra cantada é para mim motivo de felicidade. Eis aqui a primeira parte da minha lista impura, pois como disse Torquato Neto "a pureza é um mito".

terça-feira, 24 de junho de 2008

Graffiti Argentina



Está prestes a ser lançado na Europa o livro Graffiti Argentina, que mapeia a produção dessa disciplina artística no pais do Cone Sul.
Organizado pelo cineasta e agitador cultural Maximiliano Ruiz, o livro colhe as diversas expressões e a mistura de influências que marcaram a arte de rua na Argentina, com a colaboração dos designers Pauline Aubry, Jorge Córdoba e Damián Regazzoni.
Eu tive a honra de ser chamado para dar depoimento sobre o graffiti político e as conseqüências que podia acarretar pintar uma legenda em uma parede argentina, na década de setenta.
Mas o bacana é o trabalho dos artistas que estão lá, com suas obras espalhadas pelos muros.
O livro sai pela Thames & Hudson, responsável por outros livros de arte excelentes da série, tais como Graffiti Brasil e Graffiti Planet.

Reprodução da capa com obra de Jazz

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Garbo fala!


A campainha do telefone quebrou o silêncio e o funcionário do hotel acenou para o moço do elevador. Miss Garbo iria receber o jornalista do The New York Times. Logo depois abriu-se de par em par a porta dos aposentos da estrela e, como surgida de um raio de luz, fez a sua entrada a figura da fascinante atriz. Ela cumprimentou o recém chegado com voz grave enquanto os olhos do entrevistador se afastavam fugindo do rosto dela até um buquê de flores que estava em cima da mesa, e depois para o tapete.

- Não quer sentar? perguntou ela.

(...) Luzia um suéter de seda cor de rosa e uma saia curta de veludo preto. Do cigarro que segurava entre os seus longos dedos subiam até o teto linhas azuis de fumaça.
Quando veio aqui pela primeira vez, há três anos e meio, miss Garbo apenas falava inglês, mas tem melhorado bastante e é capaz de expressar-se com certa fluência. Apesar dos ocasionais erros, sempre cativantes, ela me comentou que estava disposta a provar sorte no cinema sonoro em um filme com diálogos.
Eu perguntei que tipo de filme gostaria de fazer. Ela deu umas tragadas, abaixou os cílios e respondeu condescendente

- Joana D’Arc. Embora talvez não iria dar certo. Eu gostaria de fazer alguma coisa diferente, alguma coisa que não tenha feito antes. Não me interessam essas histórias de amor bobas. Quero fazer algo que as outras não façam. Se eu pudesse trabalhar com Von Stroheim! Não seria extraordinário?

Depois Miss Garbo comentou que em Estocolmo gostava de andar pelas ruas olhando as vitrines das pequenas lojas e depois sair pra jantar sem trocar de roupa. Quando eu lhe-perguntei se era reconhecida por muitas pessoas na rua, ela me respondeu como costuma fazer com outras perguntas
- Não sei.
- O que fez na sua primeira noite em Nova York?
- Jantei sozinha.
- Completamente só?
- Totalmente sozinha. Eu adoro olhar os... como se diz? apanha-céus? Não, como é que é? Isso, arranha-céus. São tão bonitos desde a janela.
- E quando você volta para Hollywood?
- Não sei, amanhã talvez.

Continuamos falando de cinema e miss Garbo afirmou
- Se vocês quiserem que eu fale, falarei. Adoraria atuar num filme falado quando sejam melhores, porque por enquanto são horríveis.

Foto de Greta Garbo no filme Anna Christie (1930)
Versão para o português de Juan Trasmonte (Creative Commons)

Em 1929, Mordaunt Hall entrevistou Greta Garbo em Nova York para o The New York Times. O documento tem várias pérolas, a começar pela perplexidade do jornalista perante a beleza da diva, tanta que o leva várias vezes a passar de falar em primeira pessoa a falar em terceira pessoa, curiosidade que decidi manter na tradução. Esta entrevista foi feita um ano antes da carreira dela disparar com o filme Anna Christie, quando pela primeira vez ela trabalhou num filme sonoro. “Me vê um uísque com um ginger ale ao lado. E não seja tacanho” foi seu texto inicial.
Como já é sabido, não foram muitas as estrelas que conseguiram fazer essa passagem do cinema mudo pro falado. Greta Garbo conseguiu e foi um sucesso. A publicidade do filme foi feita em cima do chavão “Garbo fala!”. Uma década depois ela fez Ninotchka e mostrou que também tinha o dom da comédia, e Hollywood grandes publicitários: “Garbo ri!” foi a frase da vez.
A entrevista é brilhante porque exibe três dados fundamentais para retratar Greta Garbo: a estonteante beleza, o humor irônico e o mistério.

sábado, 21 de junho de 2008

Correcto quer dizer a coisa certa


Os programas favoritos para derrotar o tédio de uma cidade cinza como Glascow continuam sendo ir pro pub e montar uma banda de rock com amigos. Correcto nasceu lá como um projeto do compositor e vocalista Danny Saunders com Paul Thomson, o baterista do Franz Ferdinand, o artista plástico Richard Wright e o ex-baixista do The Royal We, Patrick Doyle. Só que a brincadeira virou coisa séria e o primeiro disco deles está aí.
Espírito post-punk que cheira a pop indie, lembra as vezes a primeira época do The Who e outras às guitarras soltas dos Smiths. A música Joni com seu verso surreal "eu comeria um olho de pescado só pra você voltar ao meu lado" da pra sair cantarolando pelas ruas.
O vocalista e autor de todas as músicas, Danny Saunders, batizou a banda em homenagem àquele primo dos irmãos Marx, citado em vários filmes, que sempre estava para chegar mas nunca chegava.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

A última paixão de Henry Miller



E agora um homem de 87 anos, loucamente apaixonado por uma mulher jovem que me escreve as mais extraordinárias cartas, que me ama até morrer, que me mantém vivo e apaixonado (um perfeito amor pela primeira vez), que me escreve tão profundas e emocionantes reflexões, que me sinto feliz e confuso como só um adolescente poderia.
Mas acima de tudo, agradecido, e afortunado. Mereço eu realmente tão lindos elogios como você me dedica? Você faz que me pergunte quem eu sou exatamente, se eu me conheço na realidade e o que sou. Você me tem sobrenadando no mistério. Por essa razão eu te amo mais ainda. Caio de joelhos e rezo por você, te bendigo com a pouca santidade que há em mim. Viaje feliz, minha queridíssima Brenda e não lamente nunca esta paixão pela metade da tua jovem vida. Os dos fomos abençoados. Não somos deste mundo. Somos as estrelas e o universo do além. Longa vida a Brenda Venus. Deus lhe conceda felicidade, plenitude e amor eterno!

Carta de Henry Miller a Brenda Venus, versão para o português de Juan Trasmonte

Em 27 de novembro de 1980 um Henry Miller extasiado escreveu esta, uma das quatro mil cartas que ele dedicou a Brenda Venus, sua última grande paixão. O autor de Nexus, que morreu nesse mesmo ano, dobrava em idade à sua amante.
Depois Brenda virou uma conselheira sexual, os livros dela são best-seller e as cartas foram publicadas em 1986, no livro Dear, Dear Brenda.



quinta-feira, 19 de junho de 2008

A diáspora africana na Argentina


Com uma série de atividades tais como palestras, debates, shows, clínicas e oficinas começa amanhã em Buenos Aires a feira La Diáspora Africana en Movimiento. O encontro, que continua e fecha no sábado será no Centro Cultural del Sur, que fica na Avenida Caseros 1750, em Buenos Aires. Uma troca necessária e rica, em coincidência com o Dia Mundial dos Refugiados.

Brilho e Destruição




Com um show em Phoenix, Arizona, ontem Tom Waits começou o Glitter & Doom Tour. Por enquanto ele vai se apresentar em várias cidades do sul dos Estados Unidos, e em outras na Europa, mas não é aquela agenda exaustiva. O detalhe do tour está no site do artista. O resto dos mortais temos que esperar para ver se ele decide dar uma esticadinha e trazer sua parafernália de megafones, maracas e canções imbatíveis.

Fotos de Joe Odea, publicadas no Pitchfork

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Paixão pela saudade


A oferta do Suter acabou
agora tem um Lavaque
por um e noventa e nove
é um sinal
eu sei
o que estava não está
sou devoto de sinais
caminhos atalhos
qualquer coisa
que explique
o mistério
não sei
se quero mais você
ou sua saudade
nesse exato momento
o ônibus que te leva
deve estar passando no Aeroparque
a uns metros daqui
aliás, comprei lenços de papel
para botar no banheiro.

Paixão pela saudade, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto de Leila Makarius

terça-feira, 17 de junho de 2008

Leonardo Favio, esse poeta da imagem



O retorno do diretor argentino Leonardo Favio é sempre motivo de celebração. Estação obrigada na viagem pelo cinema dos últimos quarenta anos desse país, Favio é, antes de tudo, um poeta da imagem e esse deve ser o ponto de partida para a abordagem da sua obra. E faço questão de colocar o marcador "poeta" nesse post, embora esteja dedicado a um diretor de cinema.
Com uma trajetória irregular na produção, que chegou a ter um hiato de vinte anos entre um filme e outro, o padrão de qualidade é sempre altíssimo.
Desde os filmes iniciais em preto e branco até o flamante Aniceto, o cineasta bebeu sempre das fontes populares. Entenda-se isso como mitos e lendas do coletivo cultural e também fenómenos da sociopolítica argentina.
Ficou distante do neorrealismo, pois seus pobres também podem ser crueis. Mostrou a dor como poucos, mas foi além do retrato, essa dor estava no vazio, na ausência e na espera. Sempre realista mas jamais naturalista.

A estreia de Aniceto é uma retomada do conto El Cenizo, escrito por Zuhair Jury, o irmão dele, que já tinha inspirado El Romance del Aniceto y la Francisca, Está repressentado como um balé sinfônico filmado, com destaques para a música de Iván Wyszogrod e a direção de arte de Andrés Echeveste.
Ninguém consegue sair indene apôs assistir um filme de Leonardo Favio.

Foto de Juan Carlos Villarreal

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Nem lei nem morte conseguem deter imigrantes


A velha Europa mostra as fraturas do Estado de Bem-Estar que a Comunidade anuncia. Dois naufrágios em poucos dias, um em águas da Líbia, o outro em Malta, são a prova clara de que o desespero como motor da esperança de uma vida melhor é muito mais poderoso que qualquer lei que possa regular a entrada dos sem papéis na Europa.
Pelos menos quarenta morreram e mais de cem estão desaparecidos depois que uma frágil barca carregada de egípcios afundou tentando atingir a ilha italiana de Lampedusa. Cada um deles tinha pago entre 360 y 930 dólares para fazer a viagem.
Por estas horas a Guarda Costeira espanhola patrulha as águas de Tenerife, onde tem chegado novas barcas, favorecidas pelo bom tempo nas costas africanas.
Ontem, em Malta, outra barca com somalis a bordo, inclusive crianças, quebrou-se literalmente. Seis deles morreram.
Outras notícias de hoje colocam em pauta o grau de complexidade que possui a questão da imigração. Na Espanha, um grupo de artistas argentinos foram espancados pela polícia que irrompeu ao grito de “¡Fuera sudacas!” O mais curioso é que os atores acabavam de se apresentar na ExpoZaragoza, feira para a que foram convidados.
Enquanto isso, na França, a Academia de Letras afirmou que “as línguas regionais atentam contra a identidade nacional”, em referência ao pedido dos deputados para que línguas como o bretão, o catalão e o euzkera, faladas em algumas regiões da França, fossem incluídas na constituição desse país.
A onda de nacionalismo e as posições mais duras da Comunidade Europeia não conseguem deter o efeito do modelo económico instaurado pelos próprios países da Europa. O fenómeno mostra também uma rede de exploração laboral que tem aliciadores nas nações de origem, a procura de mão de obra barata dos próprios europeus e a necessidade de manter os padrões de alta qualidade dos serviços públicos para os naturais da Comunidade.
Porém, os dados exibem outra realidade. La Moncloa elaborou um relatório em 2006 que revelou que os imigrantes na Espanha consomem apenas o 5,4 % do gasto público. Eles utilizam o 4,6% em saúde e o 6,6% em educação. Mas a contribuição deles chega aos 6,7%. Ou seja, a presênça deles na Espanha produz um benefício de 5.000 milhões de euros anuais.A conclusão é que o imigrante põe muito mais do que leva. As fendas estão na estrutura económica da Comunidade e no sistema de exclusão que começou na década de oitenta. Enquanto isso, acumulados nas barcas, morrendo no mar, recebidos nos portos como se fossem o demónio e amontoados nos centros de internamento, estão os imigrantes.

Texto de Juan Trasmonte (Creative Commons)

domingo, 15 de junho de 2008

O Maio Francês segundo The New York Times


"É proibido proibir"; "Permite-se fumar... maconha". Com frases desse tom nas paredes e bandeiras vermelhas nos telhados La Sorbonne continua ocupada pelos estudantes. A revolta se espalhou por nove universidades.
O sistema de educação superior se encontra em completo caos, com estudantes dando aulas em lugar de assisti-las. As autoridades universitárias perderam o controle sobre os alunos e, em alguns casos, sobre os prédios. Estudantes e professores discutem uma reforma universitária sobre bases totalmente novas.
Enquanto isso, o governo francês enfrenta uma enérgica moção de censura no parlamento, que produzirá um forte impacto no regime de De Gaulle.
Universitários extremistas lançaram a idéia de acabar com o sistema de provas e franquear aos operários todas as unviersidades.
Os programas seriam decididos pelos estudantes e os trabalhadores.
As provas que devem ser aplicadas daquí a pouco terão de ser adiadas, pois junto com a reforma universitárias os estudantes exigem a demissão do Chefe da Polícia de Paris, e dos ministros da Educação e do Interior.
O Teatro Odeon, um dos principais de Paris, foi fechado pelos estudantes, que colocaram um cartaz na porta: “Nas circunstâncias atuais o Odeon está fechado aos espectadores burgueses”.
Os dirigentes da ala extremista estudantil se comprometeram para levar a revolta às casas e às fábricas “até que uma revolução permanente consiga destruir a opulenta sociedade francesa”.
Nenhuma destas organizações parece ter vínculos com o comunismo convencional. O verdadeiro estandarte que preocupa hoje à Europa é a bandeira preta do anarquismo.

Escrito em 1968 por C.L. Suzberger, correspondente em Paris do jornal The New York Times, versão para o português de Juan Trasmonte.



Mostra dos famosos graffitis escritos pelos estudantes franceses

- Todo mundo quer respirar e não pode. Muitos dizem vou respirar depois. Muitos não morrem porque já estão mortos.
- Eu declaro o permanente estado de felicidade.
- É proibido proibir
- Não queremos um mundo onde a certeza de não morrer de fome traga o risco de morrer de tédio.
- Corre camarada, o velho mundo te persegue.
- Debaixo do asfalto está a praia.
- Não mudemos de chefe. Mudemos de vida.
- A poesia está na rua

Na primeira foto, um dos muitos confrontos dos estudantes com a polícia. Na segunda foto, de Jacques Haillot, o líder do movimento, Daniel Cohn-Bendit.

sábado, 14 de junho de 2008

Adeus de Jamelão encerra uma época




A longa despedida do Jamelão encerra também uma época de sambistas arquetípicos. Como tantos outros, a Voz da Mangueira era de origem humilde, daqueles que já desde crianças fazem bicos ou vendem jornais; aqueles que aprenderam sua arte nas ruas olhando os mais velhos; aqueles que eram muitas vezes explorados por empresários e produtores espertinhos; e que no fim dos dias quase sempre recebem homenagens, mas raramente são reconhecidos nas suas necessidades financeiras. Todo mundo adora tirar fotos com eles e passar a mão nas costas, mas poucos se preocupam pelo bem-estar deles.
Eu já tinha escrito meu texto de adeus ao intérprete (jamais puxador!) da Mangueira, em fevereiro do ano passado, no primeiro carnaval depois de muitos em que o Jamelão não pôde entrar na avenida com a Verde e Rosa.

Foto de Jamelão de MarcusRG

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Revalorizar Gonzaguinha


Viver essa longa avenida de gás neon
Portas de ouro e prata
Falsos sonhos nessas noites de verão
Faces coloridas, farsas de alegria
Beijo sem sabor
Gestos clandestinos tontos e sedentos de amor
Espinhos, rosas, risos, pranto e tanto desamor
Corte, cicatrizes, gritos engasgados
Lágrimas de dor
Máscaras no rosto, continua a festa
No sorriso o sal
a orquestra geme as dores do palhaço
Triste marginal
Ai de quem mergulhar nesse mar de veneno
Nessa lama enfeitada, nesse sangue das taças
Temendo sofrer
Ai de quem quer negar esse mar de veneno
Mil vezes maldito na inconsciência
Das vidas à margem há de ser.

Gás Neon, de Luiz Gonzaga Junior

Freqüentemente a obra de Luiz Gonzaga Jr, o Gonzaguinha, foi etiquetada injustamente de depressiva, quando na verdade ela é densa. E essa é uma grande diferênça. Maria Bethânia compreendeu isso melhor e antes que ninguém. É o perigo de confundir lamento de corno com desamor. Gonzaguinha expressou o fim do amor como poucos na sua geração da música popular brasileira e, as vezes, essas dores estavam encravadas no contexto político hostil, como é o caso de Gás Neon, gravada no álbum Plano de Vôo, de 1975.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Freud e o mal-estar da civilização


- As vezes me pergunto -eu lhe disse- se não seriamos mais felizes sabendo menos dos processos que dão forma aos nossos pensamentos e emoções. A psicanálise despoja à vida dos seus últimos encantos ao vincular cada sentimento ao punhado de complexos que o originam. Descobrer que todos nós guardamos no coração um selvagem, um criminal, uma besta, não nos-faz mais felizes.
- E o que tem o senhor contra as bestas? -inquiriu Freud- Eu prefiro muito mais a companhia dos animais do que a das pessoas.
- Por que?
- Porque eles são muito mais simples. Não tem uma personalidade dividida, não sofrem com a desintegração do ego que surge da tentativa do homem de se adaptar a uns padrões de civilização enaltecidos demais para os seus mecanismos intelectuais e psíquicos.
O selvagem, como a besta, é cruel, mas ele está isento da mesquinhez própria do ser civilizado.
A mesquinhez é o modo que tem o homem de se vingar da sociedade pelas restrições que esta lhe-impõe. É o sentimento de vingança que anima o reformista e o fofoqueiro. Um selvagem pode cortar nossa cabeça, devorar-nos, torturar-nos mais ele vai nos poupar dos pequenos e constantes picadas que as vezes fazem com que a vida numa comunidade civilizada resulte quase intolerável.
Os hábitos e as idiossincrasias mais desagradáveis do homem, a sua falsidade, covardia e falta de respeito, são engendros de uma adaptação incompleta a uma civilização complexa. São o ressultado do conflito entre os nossos instintos e a nossa cultura.

Entre as entrevistas de G. Sylvester Viereck constam Roosevelt, Hindenburg, Briand e George Bernard Shaw entre muitos outros. Em 1930 ele entrevistou para o Glimpses of the Great ao professor Sigmund Freud na sua residência de verão nos Alpes austríacos. Viereck mantém um diálogo imperdível com o pai da psicanálise, definido pelo jornalista como "O Colombo do cêrebro humano".
Já afetado pelo tumor no queijo, Freud se mostra as vezes na beira do pesimismo, mas resgata os pequenos prazeres como ficar com a família e cuidar das plantas muito mais do que virar imortal. "Os meus setenta anos tem me ensinado a aceitar a vida com jubilosa humildade". Mas ele é implacável na hora de descorrer o véu das misérias humanas. Por isso escolhi a foto dele com seu cachorro.
Pois é. Freud explica.

Versão para o português de Juan Trasmonte
Foto de Sigmund Freud de Marie Bonaparte

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Os ciganos perdem sua maior voz


Com a morte de Saban Bajramovic, no domingo passado aos 72 anos, os servios, a música dos balcãs e o povo cigano todo perdem sua maior voz.
O cantor e compositor nasceu e viveu em Nis (Servia) e teve uma vida de lenda. Foi preso por fugir do exército por um amor, montou uma banda de jazz no cárcere, teve muitas amantes até ficar com aquela que o esperou em casa toda vez que ele foi embora. Teve muitos filhos que estão agora espalhados pelo mundo, do mesmo jeito que as suas músicas, que nunca se preocupou demais por proteger. De fato, várias que o mundo conheceu adaptadas por Goran Bregovic nos filmes de Kusturica, como Djeli Mara, que virou Mesecina no Underground. Bajramovic compôs quase setecentas mas só gravou uns vinte discos ao todo.
Com suas influências do soul, das melodias hispánicas do sul ele criou obras fantásticas do universo roma. Para eles, Saban é a voz que os expressou na alegria e nas tristezas. Na vida, sempre nômade.
Foi enterrado hoje de manhã em sua Nis. Não faltou música.

terça-feira, 10 de junho de 2008

O quando


O quando olha no olho
saiu de embaixo da cama
não tem mais medo do escuro
se for amanhã
talvez
se não for fazer o quê
se já foi já era
afoxê jato e couro
se será não sei dizer
mas o quando
sanguessuga do no entanto
acossador do enquanto
enquanto isso e aquilo
não pode viver mais
atrás da porta
como se fosse chapéu
bengala guardachuva.

O quando, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto: "Pimientos", da série Bella Naturaleza Muerta, de Cayetano Arcidiacono

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O que deixou Dino Risi




Foi um cinema que confirmou que os italianos foram os grandes mestres do costumismo. Essa geração que em parte vinha do neorrealismo e que foi se juntar com os que surgiram depois, como Monicelli e Scola, teve em Dino Risi um fiel representante.
Cultor da commedia all'italiana, Risi tinha o dom de expor as sombras da sociedade num contexto de absurdo. Eram aqueles filmes em que a gente ficava rindo até ficar sem graça da própria risada porque o contexto, de repente, tinha virado patético. Poveri ma belli, Caro papá, Il sorpasso e Una vita difícile são exemplos desse cinema cheio de entrelinhas e ao mesmo tempo popular que permitiu o luzimento de atores como Vittorio Gassman e Alberto Sordi.
O velho Dino morreu com 91 anos. Dirigiu 80 filmes, o último aos 88 anos.

Foto do diretor Dino Risi no set. Na segunda foto, cena de Il Sorpasso (1962), com Vittorio Gassman e Jean-Louis Trintignant

domingo, 8 de junho de 2008

Bethânia-me Omara-me


Ontem à noite Maria Bethânia e Omara Portuondo deram um único show em Buenos Aires como parte das apresentações ao vivo do disco que fizeram juntas, partindo do encontro humano que aconteceu num almoço no Copacabana Palace.
Pouco vi do show porque estava trabalhando, mas perto do final, bem do lado esquerdo do palco, cheguei a enxergar o olhar amoroso da cantora bahiana para a cantora cubana e, pouco depois, o jeito com que Omara entregou-se ao abraço de Bethânia.
Foi suficiente. Assisti muitos shows de Bethânia que sempre são encenados com rigor no detalhe, e com as músicas inseridas num conjunto, de maneira tal que não deve ser facil pra ela dividir o palco. Que nada, como afirmei outras vezes, a arte aconteceu no encontro. Faz todo o sentido a adaptação feita na letra do bolero Havana-me, de Paulo César Pinheiro e Joyce. A cantora brasileira acrescentou os versos "Bahiana-me", "Bethânia-me" e "Omara-me". E todos nos sentimos embalados, abraçados no abraço delas.

Foto de Nelson Perez

sábado, 7 de junho de 2008

Filho de uma mãe






O filme de 1997, Some mother's son (segundo as várias traduções ruins Mães em luta e Em nome do filho) reproduz a luta das mães irlandesas que começou em 1979, quando um grupo de jovens liderados por Bobby Sands -interpretado no filme por John Lynch- decidiram fazer greve de fome para serem considerados presos políticos enquanto o governo Thatcher recusava essa condição, que seria legitimar a condição política da luta pela independência da Irlanda da Inglaterra. O roteiro foi escrito a quatro mãos por Jim Sheridan e Terry George -na última foto-, que também dirigiu o fime. A dupla também assinou o mais conhecido In the name of the father, no caso dirigido por Sheridan.
Além das questões políticas -que estão plantadas e muito bem, longe da propaganda- a questão brilhante do filme é a colocação do olhar feminino de este e todos os conflictos, representado por Helen Mirren e Fionnula Flanagan que, aliás, dão uma aula de interpretação. Uma versão irlandesa das Madres de Plaza de Mayo.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Chéri Samba





Bouche dans la rue e Lutte pour rajeunir l'Afrique, de Chéri Samba


Grande artista nascido na República do Congo que começou fazendo quadrinhos na adolescência e ainda guarda traços do comic nos seus acrílicos. Hoje morando entre Kinshasa e Paris, seu trabalho mostra para o mundo o olhar africano, as vezes nos costumes e lendas, as vezes denunciando -inclusive com textos que fazem parte das obras- as mazelas e a exploração vinda do mundo chamado desenvolvido.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Maestro Armando Manzanero


Es que, amaneció muy fría y lluviosa la mañana
es que, anoche no hubo una estrella que brillara
es que, hoy me llegó la cuenta de la luz muy alta
es que, quise hablarte y no había línea en el teléfono
es que, muy temprano vino el tío de la renta
es que, mi automóvil no hubo forma de arrancarlo
es que, hace frío, mucho frío en esta casa
es que, lo que ocurra yo le encuentro siempre un
“es que...”

Es que todo, es que nada,
es que río, cuando lloro
y es que duermo cuando sueño
es bque muero cuando vivo
y es que me haces mucha falta,
igual que ayer.

Es que, de Armando Manzanero

Só os gênios conseguem fazer simples a complexíssima arte de compor cancões. O mexicano Armando Manzanero é um deles. Conhecido no Brasil pelas versões de Yo te recuerdo, gravada por Roberto Carlos, e Me vuelves loco, gravada por Elis, ele é um dos máximos referentes da canção romántica do século vinte. Aliás, ele sustentou as bandeiras do romantismo por décadas, inclusive quando aqueles que colocavam a palavra amor numa letra eram mal vistos.
Então fica aqui uma música do Master Class, sua última obra até hoje, no que já é uma série dedicada a grandes compositores tidos por bregas.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Roger Wolfe, capitão dos desencantados


Me asomo a la terraza.
Una mujer se arregla el pelo
delante de un espejo
en el edificio de enfrente
de mi casa.
Estaba leyendo
a Dostoyevski. Cierro el libro,
lo dejo encima de la mesa,
me siento y abro
otra cerveza. Qué aburrido,
Dostoyevski, la cerveza,
las mujeres, los libros,
los espejos. Qué aburrido
sentarse y esperar la muerte
mientras la gente fornica,
come, trabaja o se solaza
bajo el sol sucio de septiembre,
y uno sabe, positivamente,
que nada va a ocurrir.

Versão em português

Assomo no terraço.
Uma mulher ajeita seu cabelo
na frente do espelho
no prédio da frente
da minha casa.
Estava lendo
Dostoievski. Fecho o livro,
o deixo em cima da mesa,
sento e abro
outra cerveja. Que tédio
sentar e esperar a morte
enquanto as pessoas trepam,
comem, trabalham ou se divertem
debaixo do sol sujo de setembro,
e a gente sabe, positivamente,
que nada vai acontecer.

El extranjero, de Roger Wolfe
O estrangeiro, de Roger Wolfe, versão para o português de Juan Trasmonte
Foto de Roger Wolfe de Thomas Canet


Británico de Kent, criado na Espanha, Roger Wolfe é a maior expressão entre os escritores da geração de oitenta na Espanha, aqueles desencantados do pós-franquismo, no sentido de terem desencantado mesmo depois do deslumbramento inicial da liberdade.
Feito um Bukovski solto na península ibérica, a poesia de Wolfe -escrita originalmente em espanhol, a sua segunda língua- as vezes está mais perto do pensamento filosófico do que do texto poético convencional. Convicto de que a poesia consiste em enxergar naquilo que já foi muito enxergado, Wolfe pode ser, em poucas palavras, belo e dilacerante.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Nos breus


Pai nosso
que estás nos breus
esse deus
não ouve as risadas
nos recantos da escada
esse deus
a cada dia mais longe
que não para de me olhar
como as pessoas machucam
outras pessoas
já são duas três e quinze
cinco horas
a baba do diabo
abala

a esperança
nublada na bala.

Nos breus, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto de Balazs Borocz

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Abraço Tribalista


A cena linda -qual cena poderia ser melhor do que a de um abraço?- foi registrada na gravação do cd e do dvd Arnaldo Antunes Ao Vivo no Estúdio.
Na ocasião o compositor e poeta expõe seus rostos mais conhecidos da carreira musical. O lado Titãs, na versão de Não vou me adaptar, com Nando Reis, e Eu não sou da sua rua, com Branco Mello, que Arnaldo só gravou agora mas que compôs na década de oitenta. O lado solo, com muitas músicas do Qualquer e releituras -trata-se do Arnaldo, botem releitura nisso- de Socorro, Judiaria e O silêncio, entre outras. Aparece por aí o colega Edgard Scandurra para sintetizar essa fase do artista. E o final é Tribalista, com Carlinhos Brown e Marisa Monte -e Dadi que é o quarto Tribalista- entoando Um a um e Velha infância, e que deixa esse abraço da imagem pra perpetuidade.
Ainda tem as raridades da clásica marcha Bandeira branca misturada com O buraco do espelho e Qualquer coisa, que junto com Gente são as músicas mais antúnicas do Caetano.
O dvd é um must, realizado por Tadeu Jungle em rigoroso preto e branco, cheio de contrastes nas luzes e sombras, que tem tudo a ver com o conteúdo.

Foto de Fernando Laszlo

domingo, 1 de junho de 2008

Inspirações







As capas de Hot Space, do Queen; The Best of Blur e Pop, dos U2. Obra da inspiração, a homenagem, o acaso ou a malandragem?