quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Oneida



Algo está acontecendo
a bordo do Oneida
Chaplin corre na coberta
o vendaval desperta
o som matará
centenares de estrelas silentes
Marion não consegue parar de beber
e de gaguejar
a poucos metros do crack
não há luxo sobre a Terra
que possa iludir a decadência.

Oneida, de Juan Trasmonte (Creative commons)

Não costumo explicar poemas mas, enfim, esse tem uma história atrás. Diz a lenda que em 1924 o magnata da mídia William Randolph Hearst matou o produtor Thomas Ince tentando acertar Charles Chaplin, a quem acabava de flagrar em posições incontestáveis com a sua amante, a atriz do cinema mudo Marion Davies. Todos estavam embarcados no iate de Hearst, o Oneida, para comemorar o aniversário de Ince. E Chaplin tinha assistido especialmente pra tentar que Hearst dessistisse da ideia de que ele e Davies eram amantes.
Diz a lenda que a morte de Ince passou como acidental. Hearst, que era oficialmente casado, continuou tentando fazer de Davies uma estrela, com a força dos seus vinte e dois jornais, mas o cinema falado -que segundo Noel Rosa é o grande culpado- devorou à atriz, que tinha problemas de dicção e problemas com o álcool, além das próprias limitações artísticas.
Charles Chaplin casou poucos dias depois com a adolescente Lita Grey, que estava grávida.
Escrevi esse poema há uns três anos. Para mim sempre foi um retrato do declínio americano que iria se manifestar cinco anos depois com o crack.

Na primeira foto, Marion Davies recebe Thomas Ince no Oneida; na segunda foto Marion com Hearst; depois Thomas Ince e Charles Chaplin

Nenhum comentário: