segunda-feira, 30 de abril de 2007

... E a luta continua




Clara procura sua irmã Victoria

Trinta anos de luta



Madres de Plaza de Mayo
Foto de Eduardo Longoni (1982)

domingo, 29 de abril de 2007

Aristi



manantial de notas
de leche y de miel
hoy me hace falta verte bien
patagonia seca
cuna de mis pies
hoy me hace falta verte bien
calle de relojes
luna de neón
hoy me hace falta verte bien
río de colores
duerme en el mar
hoy me hace falta verte bien
línea de tus ojos
sol de amanecer
hoy me hace falta verte bien
hora de dormirse
apago la luz
y hoy me hizo falta verte bien

Hoy me hace falta verte bien, de Lisandro Aristimuño

sábado, 28 de abril de 2007

Ederlezi



Same amala oro kelena
oro kelena dive kerena
sa o Roma (Amaro dive
Amaro dive, Ederlezi
Ej... ah... )
Sa o Roma, babo, babo
Sa o Roma, o daje
Sa o Roma, babo, babo
Ej, Ederlezi
Sa o Roma, daje

Sa o Roma babo, E bakren cinen.
A me coro, dural besava.
A a daje, amaro dive.
Amaro dive erdelezi.
Ediwado babo, amenge bakro.
Sa o Roma, babo. E bakren cinen.
Eeee...j, Sa o Roma, babo babo, Sa o Roma daje.
Sa o Roma, babo babo, Erdelezi.
Erdelezi, Sa o Roma Daje.
Eeee... Sa o Roma, babo babo, Sa o Roma daje.
Sa o Roma, babo babo,
Eeee...Erdelezi, Erdelezi. Sa o Roma Daje.

Ederlezi, de Goran Bregovic, da trilha sonora do filme Dom za vesanje (No tempo dos ciganos).
Ederlezi é o nome romeno para a festa de São Jorge. Então pra vocês verem as diferentes expressões da fé. No filme há uma cena linda demais que mostra a celebração com as barcas com tochas num rio. Enfim, cinema e emoção não se explicam.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Dom za vesanje






Dom za vesanje (No tempo dos ciganos), de Emir Kusturica.

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Olhos estrangeiros



Eu vi
Elza Soares cantando Fadas
Ronaldinho roçando a glória
na taça penta ave fénix
de joelho destroçado
sorrindo Ronaldinho
só rindo.

Eu vi
Lula lá diploma e mais
caetés de pau de arara
partidões adolescentes
dançando no Leme
vi Benê mostrando a cara
sem mandar bala.

Eu vi
Macau de olhos coloridos
sob a chuva da Rocinha
vi Jamelão cabra da peste
e Bethânia erguendo o braço
deusa encravada de pedras
dona do dom
sob o céu lilás de Copacabana.

Eu vi
camelós irados
jogando pedras
em guardas irritados
eu vi fechar a Linha Vermelha
e o dia abrir vermelho na Ilha
vi centopéias na Central
e abandonados na Cobal

abandonados no Rio das Pedras
na Glória no Borel
no fundo do quintal.
Eu vi Zeca Baleiro
destilar sua ironia
nas meninas dos Jardins
e vi Cassia Eller às portas do céu
cantando Partners para Evandro Lins.

Olhos estrangeiros, de Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Cassia Eller, divulgação.

terça-feira, 24 de abril de 2007

Mariage




Mariage, foto de 1951 de Andre Garban

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Salve Jorge (Benjor)



É dia de Jorge
é dia dele passear
dele passear
no seu cavalo branco
pelo mundo prá ver
como é que tá
de armadura e capa
espada forjada em ouro
gesto nobre
olhar sereno
de cavaleiro, guerreiro justiceiro
imbatível ao extremo
assim é Jorge

E salve Jorge viva viva viva Jorge
pois com sua sabedoria e coragem
mostrou que com uma rosa
e o cantar de um passarinho
nunca nesse mundo se está sozinho

E salve Jorge
E salve Jorge

Domingo 23, de Jorge Benjor.
Eu sei que hoje é segunda e 24, mas continua sendo dia de Jorge, ou então Ogum.

domingo, 22 de abril de 2007

Roque Ferreira



Samba é na casa da minha comadre
terno de reis é com minha comadre
sacode é com minha comadre
festa do divino é com minha comadre.

Jogo do bicho é com minha comadre
briga de galo é com minha comadre
embolada na feira é com minha comadre
rede macia é com minha comadre.

Lá meu carro de boi
não tem atoleiro
não tem onda forte
pra meu saveiro
nem tem mulher nova, comadre
pra levar meu dinheiro.

Salve a comadre
Deus benza
e Deus guarde a comadre.

Casa da minha comadre, de Roque Ferreira e Jorge Agrião.
Pois é, samba é com minha comadre e samba de roda é com Roque.

Funk na Mangueira



Está rolando um funk na Mangueira
pintou por lá um rapper
que vem de Laranjeiras
barracas e milho quente no ar
desce um Cuti Sarqui aí
vambora gente não dá
bota o Manu Chao no toca-fita
vamo descolar um samba em Irajá
velocidade cheiro luzes brilhos
(outros brilhos)
há uma sensação de nada
aqui no bolso
a noite está encerrada.

Funk na Mangueira, de Juan Trasmonte
Foto de Lorenzo Moscia

sexta-feira, 20 de abril de 2007

Luiz Carlos Batera



Perdemos ontem Luiz Carlos Batera, grande baterista da Banda Black Rio, um dos criadores da fusão do ritmo binário do samba com o funk, que também tocou no grupo Abolição, e com Luiz Melodia, Tim Maia, Gil e tantos outros. Luiz Carlos Batera tinha nascido em Vila Isabel, bairro de bambas.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

A suite do estrangeiro



There are no words, I can use
because the meaning still leaves for you to choose
and I couldn't stand to let them be abused, by you.
Dreams I had just last night

Made me scared, white with fright
but I'm over to that Sunnyside Road
over to that Sunnyside Road
fortunes come and fortunes go
but things get better babe, that's one thing I know

And I'm over to that Sunnyside Road
over to that Sunnyside Road
I have a friend that I have met
Who gives me love and a certain respect

Just a little respect, everybody needs just a little respect
that means you. . .you...
And in a little while our love will spread to you
ain't no matter who inside this world you know

There'll he someone who will love you just for who you are
really are
dreams I had just last night
made me worried to face up to the light

But I'm over to that Sunnyside Road
over to that Sunnyside Road
come on now it's freedom calling
Come on over and find yourself

Come on now it's freedom calling
Come on in and remind yourself

Oh darling, you see my face
but it's in my heart that's where it's taking place
and I couldn't stand to let it go to waste
Can you ...Oh love, sweet blue love

No man can ever get enough
but maybe one day we'll all die in love
Will you . ..

Oh love, sweet love, my... love
Oh babe, understand
Take my love that's all I have at hand
Please say you will ...
Don't say you can't
Oh Will you Will you Will you

The moment you walked inside my door
I knew' that I need not look no more
I've seen many other girls before, ah but darling
heaven must've programmed you

The moment you fell inside my dreams
I realised all I had not seen
I've seen many other girls before, ah hot darling
heaven must've programmed you

You can live in the largest house
and eleven apartments too
Run your own private plane
and a boat in Malibu
but 'till you know' deep down what inside you really need

Well I love you baby, Ooh my dear
and I think about you sometimes
but when you're with me boy it chokes my mind
come on now it's freedom calling
Come on over and find yourself

Come on now it's freedom calling
Come on in and remind yourself
Man must fight for freedom sure that's what most other people would say
Look for a body to lead them but there's too many to lead them away.

Why wait until it's your time to die before you learn what you were born to do'?
Come on now it's freedom calling but there's only one freedom for you.

Love, love boy...
And I can't wait to be with you tomorrow night.
Won't you give me your word that you won't laugh
cos you've been a saving grace to me
and I'd hate to face a day without you around

My life would be without sound
Love, love, love, love must've made you on a Sunday
cos you taste to me as good as God made honey taste babe
and the sky all glistens with gold
When you're talking to me
and the whirling wind turns to song

Why it sets my soul free
Love, love, love,
love must've made you on a Sunday

There are no words
I can use
because the meaning still leaves for you to choose
and I couldn't stand to let them be abused, by you.

The Foreigner Suite, do artista de origem grega que ficou famoso com o nome Cat Stevens e um dia consagrou-se ao Islã e virou Yusuf. Em 1973 o ainda Cat largou tudo e foi pra Jamaica onde gravou o disco Foreigner, do qual essa suite de vinte minutos faz parte.

A força de uma



Fotografia de Oded Balilty, da Associated Press, ganhadora do Pulitzer 2007, que mostra a uma colona, sozinha, segurando às tropas policiais israelenses nos assentamentos da Faixa de Gaza, na Cisjordânia.

terça-feira, 17 de abril de 2007

Cambiare casa e donna


E di nuovo cambio casa di nuovo cambiano le cose
e di nuovo cambio luna e quartiere
come cambia l'orizzonte, il tempo, il modo di vedere
cambio posto e chiedo scusa ma qui non c'e' nessuno come me.

E stasera do a lavare il mio vestito per l'amore
cambio donna e cambio umore stasera
e stasera voglio uscire che mi facciano parlare
voglio ridere voglio bere, io stasera cambio amore, tutto qui.

Ma sapere dove andare e' come sapere cosa dire,
come sapere dove mettere le mani.
Io non so nemmeno se ho capito quando t'ho perduta
qui fioriscono le rose ma dentro casa e' inverno e fuori no.

E vendo casa per un motore la soluzione e' la migliore,
un motore certamente puo' tirare
La mia fantasia un po' danneggiata da troppo tempo parcheggiata
e poi cambiare casa come cambiano le cose cosi'.

E gira gira gira gira si torna ancora in primavera
e mi trova che non ho concluso niente,
Io l'amore l'avevo in mente ma ho conosciuto solo gente
e posso poco andare avanti fintanto che nessuno e' con me.

E gira gira gira gira si torna ancora a primavera
e scopro che non ho capito niente.
E allora io stasera do a lavare il mio vestito per l'amore,
cambio donna e cambio umore cambio numero e quartiere
fintanto che nessuno e' con me.

E di nuovo cambio casa, de Ivano Fossati.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

É tudo verdade


Episódio dedicado ao samba do filme Tudo é verdade, o projeto inacabado do diretor Orson Welles no Brasil.


Rara foto do diretor em Itabirito, Minas Gerais

domingo, 15 de abril de 2007

Adeus



Agora
a distância se fez agora
de novo
queria estar por perto
para querer ficar longe
queria eu e você
para querer ser ninguém
queria seu silêncio seu descaso
o dia-a-dia mais desinteressante
os segundos de leveza os risos bobos
dos desenhos animados
nosso quarto que nunca foi nosso
nem meu nem teu nem quarto
tudo que é nosso
esse não querer saber
essa tensão que vem do osso
agora o que é que eu digo
agora o que é que eu falo
a angústia do teu corpo solto
preso na rodoviária
os grilos que do mesmo jeito cantam
a mão na minha cara
para lembrar que esqueci
de quando eu fiz a barba
sirene ululante longe
corre atrás de outras dores
a solidão bucólica do golfe
o cheiro do seu cabelo
em minha mão
o mesmo cheiro que eu
nunca guardei
o mesmo que você
nunca abriu
todos os meus olhares
procuram tua presença
amor raiva e piedade
desencontro
luz sereno píer branco.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Francesca Dotta

sábado, 14 de abril de 2007

São Sebastião


São Sebastião
sua cidade tem as curvas
quais as curvas de um nobre violão
não será razão
de tanta música bonita
ter-se feito em sua mão
Ó, pai Ode, protege as matas
que circundam esse altar
que da maré vazante e cheia
já se ocupa Iemanjá.

São Sebastião do Rio flechado
em seu peito atravessado
pelas setas dos seus filhos
queira Deus que os meninos
achem a trilha nos seus trilhos
inspirados na beleza de seu verde, seu anil
e mereçam a cidade estandarte do Brasil
e que outros mil poetas
venham te cantar meu Rio.

São Sebastião
sua cidade cor-de-rosa
fez da prosa um belo samba de Noel
se eu fosse Gardel
cantaria um tango pelo tanto
dos encantos de Isabel
Ó, meu São Tomé, se alguém duvida
passe os olhos pela Urca e o Sumaré
onde a Imperatriz beijou a flor
porta-bandeira da cidade mais feliz.

São Sebastião do Rio flertado
ribeirão puro e encantado
só no casco dos navios
te naveguem as mais belas
e os mais belos dos bravios
nessas águas que fizeram de Machado
suas letras imortais
entre copas de Salgueiros
e Mangueiras tropicais
e que novas musas venham
em ti pousar seus ais.

São Sebastião, de Totonho Villeroy
Reprodução de "O Rio de Janeiro" (c. 1941), de Cándido Portinari

sexta-feira, 13 de abril de 2007

El Flaco



Aguas claras de Olimpo,
que la diosa guarda
los caballos del día.
Que la diosa guarda
los caballos del día,
sudan de golpe frente a mí,
temblando de carreras.

Sombras inútiles del parque.
Los que llamaba no aparecieron.
Todo gigante muere cansado
de que lo observen los de afuera.

Hoy el viento baila así
como junto al fuego,
y los luceros enormes
como junto al fuego
los luceros enormes
toda la noche gritarán
tentando a la colina.

¿Cómo hacer que este valle de huecos
no suba más por mí?
No tengo más Dios.

Unas ramas nacidas
del viejo monte
están siempre brotando.
Del viejo monte
están siempre brotando
yo ya no las puedo controlar
cruzando la tormenta.

Sombras inútiles del parque.
Los que llamaba no aparecieron.
Todo gigante termina exhausto
de que lo observen los de afuera.

Miro ya los relojes
entre la neblina
y las luces primeras
entre la neblina
y las luces primeras
ya empezaron a desperezar
gorriones en la leña.

¿Cómo hacer que este valle de truenos
no suba más por mí?
No tengo más Dios.

Sombras inútiles
las de este parque.
Los que llamaba
no aparecieron.
Todo gigante muere cansado
de devorar a los de abajo.

Cristálida, de Luis Alberto Spinetta, o poeta mor do rock argentino

quarta-feira, 11 de abril de 2007

Velho profeta



"A ideia de que alguém pode usar drogas e evitar um destino horrível é um anatema para esses idiotas. Predigo que no futuro próximo, os da direita vão usar a histeria da droga como pretexto para estabelecer um aparelho internacional de polícia".

William Burroughs, no filme Drugstore Cowboy, de 1988.
Foto de Gottfried Helnwein

terça-feira, 10 de abril de 2007

A Terra é redonda (mas nem tanto)



A Terra é redonda
mas nem tanto
na parte de baixo
faz frio muito frio
e faz frio também
lá bem no alto
é um frio tão imenso
que tudo está gelado
as àrvores bigodes
os bichos e os mares.

A Terra é redonda
mas nem tanto
um dia alguém sonhou
que todos poderiam
falar em esperanto
o ovo de Colombo
viquingues Galileu
muitas pessoas acharam
que a Terra descansasse
sobre enormes tartarugas
se você abrir um buraco
e continuar a cavar
um dia vai dar na China.

A Terra é redonda
mas nem tanto
e se você se jogar
da ponta lá de cima
na Antárctica vai parar
e na parte do meio
faz calor muito calor
é um calor tão intenso
que a gente anda pelada
muitas pessoas acharam
que a Terra fosse chata
e as vezes ela é.

E na parte do sul
mas nem tanto
há uma coisa chamada Brasil
Brasil se escreve com esse
se escreve com esse e aquele
e com eu e com você
João Cabral de Melo Neto
Augusto dos Anjos Aldir
Cachaça Carlos Cartola
anônimos dos anônimos
anônimos dos anônimos.

E se você começar
a escrever uma oração
e se você não parar
um dia chega no ponto.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto satelital, gentileza da NASA, que escreve Brasil com Z e olha por nós mais que o próprio Deus.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Sempre fogueira



Por que queimar minha fogueira?
e destruir a companheira
por que sangrar do meu amor assim?
Não penses ter a vida inteira
para esconder teu coração
mais breve que o tempo passa
vem de galope o meu perdão.

Por que temer a minha fêmea?
Se a possuis como ninguém
a cada bem do mal do amor em mim
não penses ter a vida inteira
para roubar meu coração
cada vez é a primeira
do teu também serás ladrão

Deixa eu cantar
aquela velha história, amor
deixa eu penar, a liberdade está na dor

Eu vivo a vida a vida inteira
a descobrir o que é o amor
leve pulsar do sol a me queimar
não penso ter a vida inteira
para guiar meu coração
sei que a vida é passageira
mas o amor que eu tenho não!

Quero ofertar
a minha outra face à dor
Deixa eu sonhar
com a tua outra face, amor.


Fogueira, de Angela Rô Rô, sempre acertando no milênio. Difícil ouvir essa música sem encher os olhos d'água.

domingo, 8 de abril de 2007

Eu te amo... eu também não



- Je t’aime je t’aime
Oh oui je t’aime
- Moi non plus
- Oh mon amour
- Comme la vague irrésolue
Je vais, je vais et je viens
Entre tes reins
Je vais et je viens
Entre tes reins
Et je me retiens

- Je t’aime je t’aime
Oh oui je t’aime
- Moi non plus
- Oh mon amour
Tu es la vague, moi l’île nue
Tu vas, tu vas et tu viens
Entre mes reins
Tu vas et tu viens
Entre mes reins
Et je te rejoins

- Je t’aime je t’aime
Oh oui je t’aime
- Moi non plus
- Oh mon amour
- L’amour physique est sans issue
Je vais je vais et je viens
Entre tes reins
Je vais et je viens
Je me retiens
- Non! maintenant viens...

Je t'aime... Moi non plus, de Serge Gainsbourg,
gravada por ele e Jane Birkin. Infelizmente, esta belíssima foto deles não tinha crédito.

sábado, 7 de abril de 2007

Sábado de glória



Líbano, 1958, soldados dos Estados Unidos recebem a eucaristia no front.

sexta-feira, 6 de abril de 2007

A dor do outro



A dor
do outro
é o lugar mais inóspito
o lado mais desabrigado
só a mão que aperta a mão
só o abraço que encerra

o outro quando dói
é o sumo
da nossa fragilidade
a dor ancestral do outro
revela-se no corpo
a qualquer momento

e nos o quê fazemos
e nos o quê faremos Senhor
com a dor do outro.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Telémaco Pissarro

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Ultima ceia



Foto de Marithé e François Girbaud.

Dias de providência



Ave Maria
dos teus andores
rogai por nós
os pecadores.
Abençoai estas terras morenas
seus rios, seus campos.
e as noites serenas.
Abençoai as cascatas
e as borboletas que enfeitam as matas.

Ave Maria
cremos em vós
Virgem Maria
rogai por nós.
Ouvi as preces, murmúrios de luz
que aos céus ascendem
e o vento conduz, conduz a vós
Virgem Maria
rogai por nós.

Ave Maria, de Vicente Paiva e Jayme Redondo
Foto de Pinto, tirada no dia seguinte ao desabamento na Providência, em 30 de dezembro de 1968.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Quarta-feira santa




Maurino,Dada e Zeca, ô,
embarcaram de manhã
era quarta-feira santa,
dia de pescar e de pescador
quarta-feira santa,
dia de pescador

Se sabe que muda o tempo,
sabe que o tempo vira,
ai o tempo virou
Maurino que é de guentar, guentou,
Dada que é de labutar, labutou
Zeca esse nem falou

Era só jogar a rede e puxar, a rede,
só jogar a rede e puxar, a rede,
Era só jogar a rede e puxar

Milagre, de Dorival Caymmi
Foto de Eduardo Nogueira

terça-feira, 3 de abril de 2007

Imigrantes (II)


segunda-feira, 2 de abril de 2007

A Misia dos fados



Será todo este sentir o de uma estrangeirada? Ser estrangeirada não terá porventura um verso e um reverso, uma ida e volta, incorporando também o privilégio e a capacidade de transportar connosco, ainda que para muito longe, o imaginário cultural do nosso país representado num ambulante palco interior? Sou mais portuguesa quando, distante, tenho saudades de sabores e cheiros daqui, e menos portuguesa quando em Portugal invento um "petit Paris" a poucos quilómetros de Lisboa? Estar sempre em trânsito pelo mundo e continuar a ser daqui, a "estar aqui" na espaciosidade do espaço íntimo do meu coração, não é isso um penhor seguro, mais talvez que aquele de que não dispõe quem jamais confrontado com a miragem da distância, desconhece como essa realidade o transformaria? É preciso ser cuidadoso, as evidências raramente traduzem o essencial das questões. O facto de eu assimilar os signos de outras culturas (chamo-lhe o meu sindroma Wenceslau de Moraes) far-me-á porventura menos portuguesa? Uma coisa será excluinte ou acentuará a outra neste país de tantos viajantes lendários e anónimos? Tenho muitas respostas, seguramente demasiadas ou nenhuma certa.
(-----)
Apesar de reverenciar com humildade o seu aspecto mais local e com ele tentar aprender todos os dias, através dos anos compreendi que o que me levava a cantar o Fado era a universalidade. No Fado encontro implícitas todas as músicas e literaturas do mundo, os sentimentos mais universais e intemporais. Os seus signos podem ser compreendidos na Nova Zelândia e em Matosinhos (só comparável com a entrada de Orfeu nos infernos) sendo mais importante para quem ouve - na minha opinião - sentir a intensidade emocional do ritual que é uma "forma", do que perceber a língua ou o significado exacto das palavras. Isto sim, é indispensável para uma "autoria" da interpretação, considerada a palavra como a "casa do ser".


Texto de Misia (fragmento)
Fotos de CB Aragão
Filha de mãe catalã e pai português, Misia de todos os fados, para entender de que falamos quando falamos de olhar estrangeiro.

domingo, 1 de abril de 2007

Domingo maçã



Agora os carros passam
na praia do Flamengo
o cinco sete dois
e os taxis amarelos
agora os urubus
na estrada do Galeão
agora uma barata
caiu do meio-fio
agora uma bala
perdida em tua boca
dissolve maçã oca
saliva descendente
nesse exato agora
pendulam sentimentos
esbarram entre extremos
de gozos e lamentos
agora um ministro
de Deus faz descarrego
teu messenger não cheira
teu mail não desafina
voltar foi tão difícil
e andar desassossego
agora é domingo
no Rio de Janeiro.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Lili Vieira de Carvalho