quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

Adriana



Tá tudo aceso em mim
tá tudo assim tão claro
tá tudo brilhando em mim
tudo ligado
como se eu fosse um morro iluminado
por um âmbar elétrico
que vazasse dos prédios
e banhasse a Lagoa
até São Conrado
e ganhasse as canoas
aqui do outro lado
tudo plugado
tudo me ardendo
tá tudo assim queimando em mim
como salva de fogos
desde que sim eu vim
morar nos seus olhos.

Âmbar, de Adriana Calcanhotto.
Nem sei como aguentei tantos dias sem postar nada da Adriana.
Foto de Gabriele Barbosa e Andréa Rocha.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Porvir



Depois virão as folhas secas
eu sei
você também
um longo tempo de perguntas
(ou não)
um pisar distraído no cotidiano
tocar nos asuntos tocáveis
fazer direitinho
fazer de conta que não sentimos falta
afinal não foi tão forte assim
preencher espaços é tão fácil
depois virão os dias curtos
as sombras projetadas por acaso
o descaso
o irónico olhar nos peregrinos
que continuam caçando
instantes de glória.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Novos Guernicas


"A arte tem que fazer visível o invisível".



“Não trata-se de arte política. É contra a falta de humanidade”.


Da série do artista colombiano Fernando Botero sobre Abu Ghraib, que foi chamada de "O Guernica de Botero".

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Twyla


A coreografia do filme de Milos Forman é de Twyla Tharp, a mais criativa coreógrafa que eu já vi.




Eis aqui Twyla na cena em que Claude, personagem de John Savage, toma um ácido e alucina um casamento maluco numa igreja psicodélica. E Twyla vem a ser... como eu digo? O padre?
O filme foi proibido na Argentina, pela censura da época. Lógico, imagina se a igreja ia deixar passar essa. Uns anos depois liberaram o filme, mas cortaram a cena inteira.
Eu assisti Hair pela primeira vez na minha primeira vez no Rio de Janeiro, quando o filme ainda era proibido na Argentina. Um dia escrevo essa história toda.

Hair, de novo


"O plano é gente branca enviando gente negra para fazer
a guerra à gente amarela, para defender a terra que eles
roubaram à gente vermelha".


Ainda tem Beverly D'Angelo, divina maravilhosa.


Critica-se a ingenuidade daquela época. Curioso, depois da ingenuidade veio o cinismo.

Hair




She ask him why

why i'm a hairy guy

I'm hairy noon and nighty-night night

My hair is a fright

I'm hairy high and low

But don't ask me why

cuz he don't know

It's not for lack of bread

Like the Grateful Dead, darling

Gimme a head with hair

Long, beautiful hair

Shining, gleaming,Streaming, flaxen, waxen

Give me down to there hair

Shoulder length or longer hair

Here baby, there mama

Everywhere daddy daddy

Hair, hair, hair, hair

Grow it, show it

Long as I can grow it

My hairI let it fly in the breeze

And get caught in the trees

Give a home for the fleas in my hair

A home for fleas

A hive for the buzzin' bees

A nest for birds

There ain't no words

For the beauty, the splendor, the wonder

Of my...Hair, hair, hair, hair,

Grow it, show it

Long as I can grow it

My hair

I want it long, straight, curly, fuzzy

Snaggy, shaggy, ratsy, matsy

Oily, greasy, fleecy

Shining, gleaming, streaming

Flaxen, waxenKnotted, polka-dotted

Twisted, beaded, braided

Powdered, flowered, and confettied

Bangled, tangled, spangled, and spaghettied!

Oh say can you see

My eyes if you can

Then my hair's too short

Down to here

Down to there

Down to where it stops by itself

(No never have to cut it cos it stops by itself)

Oh give me a head with hair

Long, beautiful hair

Shining, gleaming, streaming, flaxen, waxen

Won't you gimme it down to there (hair)

Shoulder length or longer (Hair!)

Here baby, there mama

Everywhere daddy daddy

Hair (hair hair hair)

Grow it

Show it

Long as I can grow it

My hair ( hair hair hair)

Grow it

Show it

Long as I can grow it

My hair ( hair hair hair hair hair hair hair hair hair)

Hair, de Jerome Ragni e James Rado, com música de Galt Mac Dermot. Bons tempos em que o cabelo era um estandarte.

Cartaz do filme prévio ao definitivo, criado por Bob Peak.

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Por graça recebida



Eu também te extraño miss you sinto falta
faíscas da paixão iscas da dor
eu também estranho
deletei as farpas
por graça recebida furtacor

O mar é um sertão cheio de esperas
O mar é um sertão cheio de esperas

Trovoadas de verão
um pé de fruta-pão.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Todas elas


Não canto mais Babete nem Domingas
Nem Xica nem Tereza, de Benjor;
Nem Drão nem Flora, do baiano Gil;
Nem Ana nem Luiza, do maior;
Já não homenageio Januária,
Joana, Ana, Bárbara, de Chico;
Nem Yoko, a nipônica de Lennon;
Nem a cabocla, de Tinoco e de Tonico;
Nem a tigressa nem a vera gata
Nem a branquinha, de Caetano;
Nem mesmo a linda flor de Luiz Gonzaga,
Rosinha, do sertão pernambucano;
Nem Risoflora, a flor de Chico Science,
Nenhuma continua nos meus planos.
Nem Kátia Flávia, de Fausto Fawcett;
Nem Anna Júlia do Los Hermanos.

Só você,
Hoje eu canto só você;
Só você,
Que eu quero porque quero, por querer.

Não canto de Melô pérola negra;
De Brown e Herbert, uma brasileira;
De Ari, nem a baiana nem Maria,
Nem a Iaiá também, nem minha faceira;
De Dorival, nem Dora nem Marina
Nem a morena de Itapoã;
Divina garota de Ipanema,
Nem Iracema, de Adoniran.
De Jackson do Pandeiro, nem Cremilda;
De Michael Jackson, nem a Billie Jean;
De Jimi Hendrix, nem a doce Angel;
Nem Ângela nem Lígia, de Jobim;
Nem Lia, Lily Braun nem Beatriz,
Das doze deusas de Edu e Chico;
Até das trinta Leilas de Donato,
E de Layla, de Clapton, eu abdico.

Só você,
Canto e toco só você;
Só você,
Que nem você ninguém mais pode haver.

Nem a namoradinha de um amigo
E nem a amada amante de Roberto;
E nem Michelle-ma-belle, do beatle Paul;
Nem Isabel - Bebel - de João Gilberto;
E nem B.B., la femme de Serge Gainsbourg;
Nem, de Totó, na malafemmena;
Nem a Iaiá de Zeca Pagodinho;
Nem a mulata mulatinha de Lalá;
E nem a carioca de Vinícius
E nem a tropicana de Alceu
E nem a escurinha de Geraldo
E nem a pastorinha de Noel
E nem a namorada de Carlinhos
E nem a superstar do Tremendão
E nem a malaguenha de Lecuona
E nem a popozuda do Tigrão

Só você,
Hoje elejo e elogio só você,
Só você,
Que nem você não há nem quem nem quê.

De Haroldo Lobo com Wilson Batista,
De Mário Lago e Ataulfo Alves,
Não canto nem Emília nem Amélia,
Nenhuma tem meus vivas! E meus salves!
E nem Angie, do stone Mick Jagger;
E nem Roxane, de Sting, do Police;
E nem a mina do mamona Dinho
E nem as mina – pá! - do mano Xiz!
Loira de Hervê e loira do É O Tchan,
Lôra de Gabriel, o Pensador;
Laura de Mercer, Laura de Braguinha,
Laura de Daniel, o trovador;
Ana do Rei e Ana de Djavan,
Ana do outro rei, o do baião
Nenhuma delas hoje cantarei:
Só outra reina no meu coração.

Só você,
Rainha aqui é só você,
Só você,
A musa dentre as musas de A a Z.

Se um dia me surgisse uma moça
Dessas que com seus dotes e seus dons,
Inspira parte dos compositores
Na arte das palavras e dos sons,
Tal como Madeleine, de Jacques Brel,
Ou como Madalena, de Martinho;
Ou Maybelene e a sixteen de Chuck Berry,
E a manequim do tímido Paulinho;
Ou como, de Caymmi, a moça prosa
E a musa inspiradora Doralice;
Se me surgisse uma moça dessas
Confesso que eu talvez não resistisse;
Mas, veja bem, meu bem, minha querida;
Isso seria só por uma vez,
Uma vez só em toda a minha vida!
Ou talvez duas... mas não mais que três...

Só você...
Mais que tudo é só você;
Só você...
As coisas mais queridas você é:

Você pra mim é o sol da minha noite;
É como a Rosa, luz de Pixinguinha;
É como a estrela pura aparecida,
A estrela a refulgir, do Poetinha;
Você, ó flor, é como a nuvem calma
No céu da Alma de Luiz Vieira;
Você é como a luz do sol da vida
De Stevie Wonder, ó minha parceira.
Você é pra mim o meu amor,
Crescendo como mato em campos vastos,
Mais que a gatinha para Erasmo Carlos;
Mais que a cigana pra Ronaldo Bastos;
Mais que a divina dama pra Cartola;
Que a donna pra Ventadorn, Bernard;
Que a honey baby pra Waly Salomão
E a funny Valentine pra Lorenz Hart.

Só você,
Mais que tudo e todas,
é só você;
Só você,
Que é todas elas juntas num só ser.


Todas elas juntas num só ser, de Lenine e Carlos Rennó.
Foto de Marcelo Min -como ele mesmo se encarregou de assinar quase estragando a maravilha da foto.

Além da beleza comovente, é uma boa oportunidade pra testar seus conhecimentos de música popular brasileira. Quantas dessas você já cantou?

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Abd Al Malik




Moi, moi quand j'étais petit, j'avais mal.
C'était l'état de mon esprit, je suis né malade.
Sur l'échelle de Richter d'la misère, malade ça vaut bien 6,
Quelques degrés en-d'ssous d'là où c'est gradué « fou ».

Refrain
Les autres, les autres c'est pas moi c'est les autres,
Les autres …

J'étais voleur et avant d'aller voler je priais.
Je demandais à Dieu de n'pas m'faire attraper.
J'lui demandais qu'la pêche soit bonne,
Qu'à la fin d'la journée le liquide déborde de mes poches.
Bien souvent j'ai failli m'noyer, j'ai été à sec, aussi, souvent …
Quand j'croisais papa l'matin aller travailler avec sa 102 bleu
En rentrant l'matin d'soirée j'me disais « c'est un bonhomme mon vieux ! ».
Ensuite j'me faufilais dans mes couvertures et j'dormais toute la journée,
Le style vampire : dormir la journée et roder une fois l'soleil couché.
L'genre d'prédateur à l'envers, le genre qui à la vue d'un poulet meurt de peur.
Je n'me suis jamais fait prendre et si …
Et si j'avais été pris, aux keufs j'aurais dit …

Refrain
Les autres, les autres c'est pas moi c'est les autres,
Les autres …

J'étais beau parleur et j'souriais aux filles en jean avec des grosses ceintures.
Celles qu'aiment bien l'odeur que dégagent les gars qu'ont la réputation d'être des ordures.
Le genre à jurer sur la vie d'sa mère dès qu'il ouvre la bouche,
Rêve de BMW pour asseoir à la place du mort celles qui couchent.
Dans mon monde un mec comme moi c'est l'top,
J'aurais été une fille, on m'aurait traité d'sale …
Quand j'croisais ma sœur avec ses copines dans l'quartier,
Moi qu'allais en soirée, j'lui disais « rentre à la baraque, va faire à bouffer ! »
Ensuite j'allais rejoindre mes copines, celles qui m'faisaient bien délirer,
Celles qui comme moi avaient un père, une mère, p't-être bien des frères et sœurs,
qui sait … Mais moi, du genre beau parleur à l'endroit sans foi ni loi
Mais c'était pas moi l'chien, mais …

Refrain
Les autres, les autres c'est pas moi c'est les autres,
Les autres …

Et puis du jour au lendemain j'ai viré prêcheur.
Promettant des flammes aux pêcheurs et des femmes aux bons adorateurs,
Comme si Dieu avait b'soin d'ça pour mériter qu'on l'aime.
Mais moi pour que les autres m'aiment, moi j'en ai dit des choses pas belles.
Et j'en ai acceptées aussi, on m'a dit « t'es noir !
Tu veux t'marier avec elle mais t'es noir ! »
Les autres i' disaient comme ça qu'elle était trop bien pour moi.
Donc moi, j'faisais d'la peine à voir, moi.
Moi j'continuais ma parodie, mon escroquerie spirituelle
Sauf que … j'me carottais moi-même.
J'étais dev'nu un mensonge sur patte qui saoule grave
Et qui sait même pas c'qu'i' dit,
Qui voit même pas qu'c'est un malade et qui dit comme ça … tout l'temps i' dit …

Refrain
Les autres, les autres c'est pas moi c'est les autres,
Les autres …

Et je vous dit Monsieur, je vous dit Monsieur
Quand je pense à tout ça, Monsieur, je pleure, je pleure.

Les Autres, de Abd Al Malik
Foto de Bernard Benant

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Piedade



Piedade
entre as mãos feridas
piedade
cheia és desgraça
o que tenho por escrito
no olhar
não posso disfarçar
serei talvez um pacote de palavras
e a língua mais estranha
do que estrangeira
l'art pour l'art
um canto
no estómago da fera.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Mosi

terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Ninguém no carnaval



ninguém no carnaval
ninguém é de ninguém
no meio do mundo
todo mundo é todo mundo

Ninguém no carnaval, de Liminha e Arnaldo Antunes.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Las Llamadas



Barrio sur casas pintadas
de colores diferentes
hoy entré a tu conventillo
donde habita tanta gente
alegrías por doquier
aunque se ve la pobreza
son morenos de grandezas
que viven para sufrir
su alegría permanente
el chas chas del tamboril.

Siento hervir en mi la sangre
salgo ya pa' las llamadas
nunca estuve entreverado
ahora de grande me llaman
calentando tamboriles
y ensayando la comparsa
los morenos por las calles
van llevando su añoranza
de los años ya pasados
de los parches también rotos
de los blancos que bailando
se quedaron con nosotros.

Barrio Sur este es mi canto
es mi sueño hecho canción
conventillo te saluda
quien no se olvida de vos.

Balconea la morena
con su moreno de enfrente
Mama vieja gramillero
es el candombe y se viene
la historia del conventillo
de nuestro Montevideo
puerta abierta para todos
invitación de morenos.

Se me duerme el barrio entero
atrapao por las sombras
los morenos por las calles
van guardando ya sus lonjas
y aunque nadie me lo diga
yo me acuerdo los otros
morenos que desde el cielo
repicaron con nosotros.

Barrio sur este es mi canto
es mi sueño hecho canción
conventillo te saluda
quien no se olvida de vos.

Por si vuelvo, de Jorge do Prado. Homenagem a Las Llamadas, parte fundamental da tradição afro-uruguaia.

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Presente


Era bem cedo no sambódromo. O público das arquibancadas estava chegando e nos camarotes só havia preparativos.
Foi então que vi a figura do Jamelão atravessando, sozinho, a avenida no sentido da concentração, com o andar devagar de quem já viveu muitos carnavais. A figura daquele senhor contrastava com a imagem do homem que umas horas depois fez vibrar a Sapucaí com só encostar a boca no microfone, "pisando um chão de esmeraldas".
Jamais esquecerei daquele momento.
Hoje quando o surdo bater e o tambor rufar, o nosso Jamelão estará mais presente que nunca nos corações verde e rosa.

sábado, 17 de fevereiro de 2007

Não toquei na água que bebeste




Uma gota do vinho de ontem
da quarta-feira da terça sei lá
secou sobre a sacola dos discos
não toquei na água que bebeste
e botei pra fora outros vestígios.

Você está perdida nas estradas

você está perdida

o atardecer traz um clamor popular
vou pegar o trem da linha de Adrogué
sábado de carnaval em Buenos Aires
Zeca segura o pagode
vejo o Rio de Janeiro.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Cristina Penteado.

Lembre-se dos conselhos de sua mãe


- Beba bastante líquido.

- Não ande por ruas escuras e desertas.

- Tome seu engov direitinho.

- Beije na boca.

- Não deixe sua carteira no bolso de trás da mochila.

- Use camisinha.

- Não dê mole que ano que vem tem mais!



E bom carnaval pra todo mundo!
Se até o Zeca consegue beber um' agüinha no meio.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Oração ao Santo Cartola




Pessoas passam
nunca pousam
nunca ficam
passam e passam
pela esquina
pela avenida
never olham
outras caras
outras vidas
pessoas pingam
gotas de sangue
guerras perdidas
mas dor não mostram
estão feridas
mas dor não mostram
pessoas pulsam
mas não percebem
mas não distinguem
uma barata
de um Adonis
Santo Cartola
ora pro nobis.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Clement Gourdin

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Negro amor




vá, se mande, junte tudo que você puder pegar
ande, tudo que parece seu, é bom que agarre já
seu filho feio e louco, ficou só
chorando feito fogo à luz do sol

os alquimistas já estão no corredor
e não tem mais nada negro amor

a estrada é pra você, e o jogo? e a indecência?
junte tudo que você conseguiu por coincidência
e o pintor de rua que anda só
desenha maluquice em seu lençol

sob seus pés, o céu também rachou
e não tem mais nada negro amor

seus marinheiros mareados abandonam o mar
seus soldados desarmados não vão mais lutar
seu namorado já vai dando o fora
levando os cobertores, e agora?

até o tapete sem você voou
e não tem mais nada negro amor

as pedras do caminho, deixe para traz
esqueça os mortos que eles não levantam mais
um vagabundo esmola pela rua
vestindo a mesma roupa que foi sua

risque outro fósforo, outra vida, outra luz, outra cor
e não tem mais nada negro amor.


Negro amor, de Bob Dylan, versão para o português de Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti, da música It's all over now (Baby Blue). Com licença do mestre Bob, essa versão ficou ótima.
As vezes -só as vezes- tradução funciona.
A foto de Péricles é de Rui Mendes.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

A velha pele da mesma cerimônia



And who by fire,
who by water, who in the sunshine,
who in the night time,
who by high ordeal,
who by common trial,
who in your merry merry month of may,
who by very slow decay,
and who shall I say is calling?

And who in her lonely slip,
who by barbiturate,
who in these realms of love,
who by something blunt,
and who by avalanche,
who by powder,
who for his greed,
who for his hunger,
and who shall I say is calling?

And who by brave assent,
who by accident,
who in solitude, who in this mirror,
who by his lady's command,
who by his own hand,
who in mortal chains,
who in power,
and who shall I say is calling?

Who by Fire, de Leonard Cohen.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Cartolas e Goyeneches



Velhos cantos
dos velhos
lume
ponto de onde viemos
ponte para onde vamos
esses cantos
dentes fracos
dores gravadas
nas gargantas
Cartolas e Goyeneches
Bolas de Nieve Chinos Garcés
Cohens Lágrimas Ríos
Jovelinas
Clementinas
tão Suricas
mapa do palco do mundo
arte na pele que seca
pele que nutre
fútil megafone
arranhacéu
fútil você
fútil eu.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Cartola e Dona Zica, de Walter Firmo. Foto de Goyeneche sem crédito.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Família Suvaquense


Alô burguesia de Ipanema!




A cidade é nossa em fevereiro
e convida o mundo inteiro
(vem sambar)
Rio rima sol com alegria
e abençoa nossos dias
oh, meu Cristo Redentor
praia, um pagode no terreiro
no meu Rio de Janeiro
Simpatia é quase amor
quando você passa
sorrindo tanta graça
me conquistou
um chope gelado
um amor inesperado
(inesperado amor).

E vai o sol, vem a lua
e o nosso bloco na rua
vem cá, vem cá brincar
vem num gingado sambar
como o balanço do mar
vem cá, vem cá, vem cá.

E apesar desse céu,
do luar e do mar
tudo vai acabar
quem dera,
no meu Rio de Janeiro
sempre fosse fevereiro
permanente carnaval.

Vem num sorriso sedutor
eu também vou
se você for
eu quero vê-la sambar
quando meu bloco passar
Simpatia é quase amor.



No meu Rio de fevereiro... Simpatia é quase amor, de Eduardo Medrado, Kleber Rodrigues, Elias Lajes, Sandro Márcio e Valmir Ribeiro. Samba do Simpatia é quase amor de 1997. A foto do estandarte é de Jussara R.

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Ciúmes



Oh how wrong can you be?
Oh to fall in love was my very first mistake
How was I to know
I was far too much in love to see?

Oh jealousy look at me now
Jealousy you got me somehow
You gave me no warning
Took me by surprise
Jealousy you led me on

You couldn't lose you couldn't fail
You had suspicion on my trail
How how how all my jealousy
I wasn't man enough to let you hurt my pride
Now I'm only left with my own jealousy

Oh how strong can you be
With matters of the heart?
Life is much too short
To while away with tears

If only you could see just what you do to me
Oh jealousy you tripped me up
Jealousy you brought me down
You bring me sorrow you cause me pain
Jealousy when will you let go?

Gotta hold of my possessive mind
Turned me into a jealous kind
How how how all my jealousy
I wasn't man enough to let you hurt my pride
Now I'm only left with my own jealousy

But now it matters not if I should live or die
'Cause I'm only left with my own jealousy.

Jealousy, de Freddie Mercury.


Ciúmes. Astronautas também sentem

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

As palavras que medo te davam




Depois
ficarei falando
sozinho
no meu costumeiro português
frases breves
do tipo
“tá vendo”
“que frio é esse”

juntando restos de você
para jogar no lixo
maços de cigarro
etiquetas de roupas
e as palavras que medo te davam
fizeram-se um homem
que não arde
e que nem tocas
e as palavras que nunca te deixaram
indiferente
encarnaram em isso
que não pode nome.

Estranha na intimidade
osso meu na estranheza
pedaço de mim
que arranco e desconheço
e ainda assim
teima em pulsar na mão.

Então
o nosso filho
ficará para outro dia.
Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Michele Lamanna.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Kassin é o cara



Quando eu penso em viagens espaciais
e nos amigos deliais
fico tonto sem saber como que vai dar pra entender
o genoma e os neurônios saltitantes
clones humanos e implantes
o futuro até parece uma brincadeira delirante
Mas se você quiser meditar, no futurismo
e tudo o que deixamos passar, sem se importar
parece que perdemos o senso de humanismo
e agora a água pode acabar

"Existem milhões de neurônios em nossos cérebros. Desses milhões de neurônios, uns poucos, só alguns poucos, são neurônios saltitantes. Conseguem captar as características mais novas, dentro do cérebro da mãe e do pai, que serão transmitidas aos seus filhos e filhas."

Quando penso nos amores virtuais
nas maquinhinhas digitais
fico sem saber como fazer pra me convencer
o genoma e os neurônios saltitantes
ficam alegres e falantes
o futuro até parece com uma patada de elefante
e a natureza serve só para combustível
e tudo o que deixamos queimar,
sem se importar
parece que perdemos o senso e o juízo
e agora o mundo vai se esquentar.

Futurismo, de Domenico e Kassin, do álbum homônimo do Kassin+2. O trecho do meio é uma fala que gravou Jorge Mautner. Na foto, Domenico, Kassin e Moreno na Lagoa.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Bebe



Como quien tira de una cuerda
que se romperá,
tirar, tirar, tirar, tirar, tirar...
Como sin darse cuenta rozar un poco más,
los ojos aún cerrados para no afrontar
que el aire es de cristal, que puede estallar,
que aunque parezca extraño, te quiero devorar.
Que el aire es de cristal, que puede estallar,
que aunque parezca extraño, te quiero devorar.

En una esquina de su boca se dejó estrellar,
como la ola que se entrega a la roca,
perdida en el abismo de unas manos sin final,
tan grandes que abrazaban todo su planeta.
Ahora no estás aquí, ahora no estoy aquí,
pero el silenció es la más elocuente forma de mentir.
Ahora no estás aquí, ahora no estoy aquí,
pero el silenció es la más elocuente forma de mentir.

En tu silencio habita el mío
y en alguna parte de mi cuerpo habitó
un trozo de tu olor,
en tu silencio habita el mío
y en alguna parte de mis ojos habitó
un trozo de dolor.
Ahora estás aquí, ahora estoy aquí,
abrázame para que piense alguna vez en ti.
Ahora estás aquí, ahora estoy aquí,
abrázame para que piense alguna vez en ti.

En tu silencio habita el mío
y en alguna parte de mi cuerpo habitó
un trozo de tu olor,
en tu silencio habita el mío
y en alguna parte de mis ojos habitó
un trozo de dolor.
En tu silencio habita el mío
y en alguna parte de mi cuerpo habitó
un trozo de tu olor,
en tu silencio habita el mío
y en alguna parte de mis ojos habitó
un trozo de dolor.

Que el aire es de cristal, que puede estallar,
que aunque mis labios no hablen,
te quiero devorar.

Tu silencio, de Bebe. Essa mulher é coisa séria.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Amor Quasimodo



Amor morno
é quase mor
é quase amor
e quase morto
esse amor Quasimodo
morto no morno
é questão de horas
dias talvez
morno nó morto
mas que palavra é essa
palavra amor
gosto de sangue não veio
veia de morto não jorra
morno in the morning
amor morno não sabe
que está no forno
que não fornica
nem xinga
mas que palavra é essa
fronteira para quem precisa
barreira
que palavra é essa
se não aquece nem esquenta
nem incendeia.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Auroonda

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Também sou Suburbano





Luiz Carlos da Vila, Afonsinho, Nei Conceição e majestade
tia Bia, Rainha do Bloco dos Suburbanistas, ontem em
Brás de Pina.



Nilza e Régia. Povo do Bem!





Cantam Luiza Dionísio e Dorina com coro impagável da
família Silas de Oliveira.

Supercarioca



O por do sol
vai renovar brilhar de novo o seu sorriso
e libertar
da areia preta e do arco-íris cor de sangue
cor de sangue, cor de sangue, cor de sangue

O beijo meu
vem com melado decorado cor de rosa
O sonho seu
vem dos lugares mais distantes, terras dos gigantes
Super-homem, super-mosca, super-carioca, super-eu, super-eu

Deixa tudo em forma, é melhor não ser
não tem mais perigo, digo já nem sei
ela está comigo, digo só não sei

O sol não adivinha, baby é magrelinha
o sol não adivinha, baby é magrelinha
no coração do Brasil.

Magrelinha, de Luiz Melodia.

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Suor



Eu suo sete mares
Amazonas São Francisco
Pinheiros marginal
Jardim de Allah
eu suo Paraná
Paraíba para amar
é suor persistente
por todos os meus braços
água água água sal
embora estou no sul
mais sul do que já era
um hemisfério sul
ainda mais eu suo
embora frio na água
degelo lã defesa
eu suo suo suo
por tudo que é gente
água água água sal
pecados purifico
água água água sai
para o meu pão ganhar
eu suo de manhã
e suo ao deitar
eu suo suo suo
só suo e eu sou suo
sou suo il suo uomo
entregue em água e sal.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de José Goulão

sábado, 3 de fevereiro de 2007

Tia Surica




David no pandeiro
Casemiro na cuíca
olha a festa já vai começar
no cafofo da Surica

Seu Osmar do cavaco
puxou um partido
com mestre Casquinha
que versou com Argemiro
lembrando dos tempos
lá da Portelinha

Velha Guarda no samba
conduz a emoção
de quem plantou semente
da flor da canção
a solidão ninguém sabe
onde é que fica
porque a festa já vai começar
no cafofo da Surica

Um samba do Monarco
com Doca e Eunice
sambando no chão
é samba da Portela
olha a Áurea chegando
e batendo com a mão
Guaracy 7 cordas
tem seu violão
Cabelinho no surdo
só na marcação

e o tamborim
Seu Jair, como é que fica?
porque a festa já vai começar
no cafofo da Surica.

Cafofo da Surica, de Teresa Cristina em homenagem a Tia Surica, pastora da Portela. Em entrevista para o documentário Samba no pé, Surica, que agora eu chamo carinhosamente de "Rainha das baixinhas", me disse: "Eu trago no sangue o micróbio do samba".
Agradeço à vida por ter conhecido Surica, e as maravilhosas amigas do Povo do Bem que por ela conheci. Agora que outro carnaval está chegando e eu estou longe, é bom lembrar dos artistas que respiram samba e que todos os dias escrevem sua história.
Salve Surica, salve Teresa Cristina, salve a Velha Guarda da Portela.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Inaê



Tudo branco manjar branco
alfazema
sete velas
odoiá odoiá omio dô
Dê bom tempo
Inaê
nesse oceano de esperas.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Katsuko

Festa no mar


Quando se for
esse fim de som,
doida canção
que não fui eu que fiz;
verde luz, verde cor
de arrebentação.
Sargaco mar, sargaço ar
deusa do amor, deusa do mar
vou me atirar, beber o mar
alucinado, desesperar
querer morrer para viver
com Yemanjá;

Yemanjá odoiá
Yemanjá odoiá
Yemanjá odoiá.

Sargaço mar, de Dorival Caymmi


Linda como nenhuma outra deusa ou mulher, de longos cabelos verdes, sua sedução é também sexual, e os negros que a temem, também a desejam. Dizem que os marinheiros valentes que morrem, dormem com Janaína, no fundo do mar.

Texto de Dorival Caymmi

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Umbigo



Acordei cedo de manhã
reguei minha cabeça com água das plantas
cantarolando cantigas medievais
tampei o sol com a peneira
passei café
duas xícaras servi
duas xícaras bebi
acenei pros carros enguiçados
nas enchentes de ontem
sentei a ler Picabia
enquanto ouvia
os gritos derradeiros dos motoristas afogados

respirei fundo
e continuei a ler

porque eu também tenho umbigo.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Rayanna Maciel