quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

New York by Lou




Caught between the twisted stars
the plotted lines the faulty map
that brought Columbus to New York
Betwixt between the East and Wes
the calls on her wearing a leather vest
the earth squeals and shudders to a halt
A diamond crucifix in his ear
is used to help ward off the fear
that he has left his soul in someone's rented car
Inside his pants he hides a mop
to clean the mess that he has dropped
into the life of lithesome Juliette Bell.

And Romeo wanted Juliette
and Juliette wanted Romeo
And Romeo wanted Juliette
and Juliette wanted Romeo.

Romeo Rodriguez squares
his shoulders and curses Jesus
runs a comb through his black pony-tail
He's thinking of his lonely room
the sink that by his bed gives off a stink
then smells her perfume in his eyes
And her voice was like a bell
Outside the street were steaming the crack
dealers were dreaming
of an Uzi someone had just scored
I betcha I could hit that light
with my one good arm behind my back
says little Joey Diaz
Brother give me another tote
those downtown hoods are no damn goodthose
Italians need a lesson to be taught
This cop who died in Harlem
you think they'd get the warnin'
I was dancing when his brains run out on the street.

And Romeo had Juliette
and Juliette had her Romeo
And Romeo had Juliette
and Juliette had her Romeo.

I'll take Manhattan in a garbage bag
with Latin written on it that says
"it's hard to give a shit these days"
Manhattan's sinking like a rock
into the filthy Hudson what a shock
they wrote a book about it
they said it was like ancient Rome
The perfume burned his eyes
holding tightly to her thighs
And something flickered for a minute
and then it vanished and was gone.

Romeo had Juliette, de Lou Reed
A primeira foto é de Robert Mapplethorpe, a segunda é do próprio.

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Vem aí



Rio de ladeiras
civilização encruzilhada
cada ribanceira é uma nação
à sua maneira
com ladrão
lavadeiras, honra, tradição
fronteiras, munição pesada

São Sebastião crivado
nublai minha visão
na noite da grande
fogueira desvairada
Quero ver a Mangueira
Derradeira estação
quero ouvir sua batucada, ai, ai

Rio do lado sem beira
cidadãos inteiramente loucos
com carradas de razão
à sua maneira
de calção
com bandeiras sem explicação
carreiras de paixão danada

São Sebastião crivado
nublai minha visão
na noite da grande
fogueira desvairada
Quero ver a Mangueira
Derradeira estação
Quero ouvir sua batucada, ai, ai.

Estação Derradeira, do senhor Francisco Buarque de Hollanda. Salve a velha Manga.
Foto de Petita

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Partida



Os outros
vão descansar
queridos seres
estranhos
vão descansar
corações forajidos
pulsam
no fundo do mar
nada sabemos
dos objetos
que ficam
no lugar
onde
os corpos estavam
Deus faz girar
o farol
para nos lembrar
os corações
que estão
no fundo do mar
nada sabemos
dos espelhos
do além
enquanto um bamba
passa o dedo
na aba do chapéu
faz do isqueiro
tamborim
sai andando
desce a rua
devagar.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto: Door in the Sky, de Laura KoAn

domingo, 28 de janeiro de 2007

Peter Handke


Quando uma criança era uma criança
Ela andava com seus braços balançando,
queria o córrego pra ser um rio,
o rio pra ser uma torrente,
e uma poça pra ser o mar.
Quando uma criança era uma criança,
não sabia que era uma criança,
tudo era tão cheio de espírito,
e todas as almas eram uma só.
Quando a criança era uma criança
não tinha opinião a respeito de nada,
não tinha hábitos
e sentava-se sempre de pernas cruzadas,
descansando de uma corrida
e tinha o cabelo lambido
e não fazia careta na hora da fotografia.
Quando a criança era uma criança
era a época destas perguntas:
Por que eu sou eu e não você?
Por que estou aqui, e por que não lá?
Quando foi que o tempo começou,
e onde é que o espaço termina?
A vida debaixo do sol não é só um sonho?
Aquilo que eu vejo e escuto e cheiro
não é só uma ilusão de um mundo de antes do mundo?
Considerando-se o mal e as pessoas.
A maldade realmente existe?
Como pode aquilo que sou, quem eu sou,
não ter existido antes que eu viesse a ser,
e que algum dia, eu, quem eu sou,
não serei mais quem eu sou?

Quando a criança era uma criança,
mastigava espinafre, ervilhas, bolinhos de arroz,
e couve-flor cozida,
e comia tudo isto não somente porque precisava comer.

Quando a criança era uma criança,
Uma vez acordou numa cama estranha,
e agora faz isso de novo e de novo.
Muitas pessoas, então, pareciam lindas
e agora só algumas parecem, com alguma sorte.
Visualizava uma clara imagem do Paraíso,
e agora no máximo consegue só imaginá-lo,
não podia conceber o vazio absoluto,
que hoje estremece no seu pensamento.

Quando uma criança era uma criança,
brincava com entusiasmo,
e agora tem tanta excitação como tinha,
porém só quando pensa em trabalho.

Quando uma criança era uma criança,
Era suficiente comer uma maçã, uma laranja, pão,
E agora é a mesma coisa

.……………..
………………..
Quando uma criança era criança,
amoras enchiam sua mão como somente as amoras conseguem,
e também fazem agora,
avelãs frescas machucavam sua língua,
parecido com o que fazem agora,
tinha, em cada cume de montanha,
a busca por uma montanha ainda mais alta,
e em cada cidade, a busca por uma cidade ainda maior,
e ainda é assim,
alcançava cerejas nos galhos mais altos das árvorescomo,
com algum orgulho, ainda consegue fazer hoje,
tinha uma timidez na frente de estranhos,
como ainda tem.
Esperava a primeira neve,
como ainda espera até agora.

Quando a criança era criança,
Arremessou um bastão como se fosse uma lança contra uma árvore,
E ela ainda está lá, chacoalhando, até hoje.

Poema de Peter Handke

Bring the Boys Back Home




Susan Sarandon, Sean Penn e Jane Fonda, na passeata que juntou cem mil ontem em Washington






Bring the boys back home
Bring the boys back home
Don't leave the children on their own, no, no
Bring the boys back home
Bring the boys back home
Don't leave the children on their own, no no
Bring the boys back home.


Bring the Boys Back Home, de Roger Waters

sábado, 27 de janeiro de 2007

Ares do Rio



Teus seios,
os vi numa festa entre copos e luzes,
pessoas, olhares, sorrisos
são seios,
são seios pontudos, os bicos acesos,
Ares de Pão de Açúcar, de Cara de Cão
São Salvador, São Sebastião Glória! Glória! Glória!
Os brilhos,
eu via de longe e até hoje me lambem teus mares
batendo, batendo.
São brilhos,
são filhos das águas que entram na barra
lavam o Pão de Açúcar e o Cara de Cão
São Salvador, São Sebastião Glória! Glória! Glória!
Glória! Glória! Glória!
Eu vim de barca cantareira da ilusão
Pr'essa chapada te amar, timbrar meu coração
timbrar meu coração
e a claridade, que faz dessa cidade meu chão,
é meu mais puro devaneio, meu samba pauleiro
é o meu Rio de Janeiro
é o meu Rio de Janeiro
meu Rio.

Ares do Rio, de Paulo Baiano e Marcos Sacramento
Glória, pintura de Eduard Hildebrandt

sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

O erro da carne



Minha mão desvairada
desastrada descabida
tinta-dependente
independente
do decente
pela frente
pelo avesso
minha mão presa
no excesso
procurada resposta
no começo
minha mão
cão sem dono
pinga sangue
chama carne
no meu corpo
único pedaço
de carne
que não posso
governar.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Stephane Réthóre

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Um pouco de Gentileza




Seguramente muitos do Rio se lembram daquela figura singular de cabelos longos, barbas brancas, vestindo uma bata alvíssima com apliques cheios de mensagens, um estandarte na mão com muitos dizeres em vermelho, que a partir dos inícios de 1970 até a sua morte em 1996 percorria toda a cidade, viajava nas barcas Rio-Niterói, entrava nos trens e ônibus para fazer a sua pregação. A partir de 1980 encheu as 55 pilastras do viaduto do Caju, perto da Rodoviária, com inscrições em verde-amarelo propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar de nossa civilização. Não era louco como parecia, mas um profeta da têmpera dos profetas bíblicos, como Amós ou Oséias.


Como todo profeta, sentiu também ele um chamamento divino que veio através de um acontecimento de grande densidade trágica: o incêndio do circo norte-americano em Niterói, no dia 17 de dezembro de 1961, no qual foram calcinadas cerca de 400 pessoas. Era um empresário de transporte de cargas em Guadalupe e sentiu-se chamado para ser o consolador das famílias dessas vítimas. Deixou tudo para trás, tomou um de seus caminhões e colocou sobre ele duas pipas de 100 litros de vinho e, lá junto às barcas, em Niterói, distribuía-o em pequenos copos de plástico, dizendo: ''Quem quiser tomar vinho, não precisa pagar nada, é só pedir por gentileza, é só dizer agradecido''.
De José da Trino, esse era seu nome, começou a se chamar José Agradecido ou Profeta Gentileza. Interpretou a queima do circo como um metáfora da queima do mundo assim como está organizado, como um circo, pelo ''capeta-capital, que vende tudo, destrói tudo, destruindo a própria humanidade''. Segundo ele, devemos construir outro mundo a partir da gentileza, o que ele fez em miniatura, transformando o local num belíssimo jardim, chamado ''Paraíso Gentileza''. O quarto aplique de sua bata dizia: ''Gentileza é o remédio de todos os males, amor e liberdade''. E fundamentava assim: ''Deus-Pai é Gentileza que gera o Filho por Gentileza. Por isso, Gentileza gera Gentileza''. Ensinava com insistência: em lugar de ''muito obrigado'', devemos dizer ''agradecido'', e ao invés de ''por favor'', devemos usar ''por gentileza'' ,porque ninguém é obrigado a nada e devemos ser gentis uns para com os outros e relacionarmo-nos por amor e não por favor.


Não é exatamente disso que o Rio de Janeiro está precisando? Já dissemos nesta coluna que, junto com o princípio de geometria, a gentileza funda um princípio civilizatório, princípio descurado pela modernidade e hoje de extrema importância se quisermos humanizar as relações demasiadamente funcionais e marcadas pela violência.

A crítica da modernidade não é monopólio dos mestres do pensamento acadêmico, como Freud com seu O mal estar da civilização ou a Escola de Frankfurt, Horkheimer com seu O eclipse da razão e Habermas com o seu Conhecimento e interesse ou mesmo toda a produção filosófica do Heidegger tardio. O Profeta Gentileza, representante do pensamento popular e cordial, chegou à mesma conclusão que aqueles mestres. Mas foi mais certeiro que eles ao propor a alternativa: a gentileza como irradiação do cuidado e da ternura essencial. Esse paradigma tem mais chance de nos humanizar do que aquele que ardeu no circo de Niterói: o espírito de geometria, o saber como poder e o poder como dominação sobre os outros e a natureza.



Texto de Leonardo Boff para o Jornal do Brasil.
Eu tinha vinte anos e era a primeira vez que ia sozinho pro Rio. Viajava de carro com os meus amigos cariocas e atravessando o centro da cidade, um dos meus amigos falou "olha o Gentileza aí". O Fernando que ia dirigindo disse "você precisa conhecer o Gentileza". Parou o carro e fomos ao seu encontro. Ele me deu a mão e falou pra gente: "Usem gentileza". Um dos amigos falou, quando voltávamos pro carro "Esse é um velho maluco que anda pregando pelas ruas". Naquele momento, com a minha capacidade de assimilação no limite, pensei que fosse mesmo mais uma das figuras que a gente pode encontrar numa esquina qualquer do Rio.
Pois é, faz falta um pouco de Gentileza.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Arnaldo



o girino é o peixinho do sapo
o silêncio é o começo do papo
o bigode é a antena do gato
o cavalo é pasto do carrapato

o cabrito é o cordeiro da cabra
o pescoço é a barriga da cobra
o leitão é um porquinho mais novo
a galinha é um pouquinho do ovo

o desejo é o começo do corpo
engordar é a tarefa do porco
a cegonha é a girafa do ganso
o cachorro é um lobo mais manso

o escuro é a metade da zebra
as raízes são as veias da seiva
o camelo é um cavalo sem sede
tartaruga por dentro é parede

o potrinho é o bezerro da égua
a batalha é o começo da trégua
papagaio é um dragão miniatura
bactérias num meio é cultura

Cultura, de Arnaldo Antunes
Foto do arquivo pessoal

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Mulher chuva



No tránsito entre a sala e a varanda
num trecho entre a cozinha e o banheiro
num ponto da poltrona
onde encostei a mão
aberta por completo e completamente aberta
nasceu a mulher chuva
na garoa num instante
que virou vazamento e gota antes da idéia
a gente não controla
o que tem mais escondido
a lágrima o suor o passado tenebroso
o vento arrasta tudo
bate forte na janela
os filhos vão embora e o verde apodrece
palavra por palavra
meu amor foi contornado
acaso no trajeto de um som até o peito
acaso no silêncio de uma tarde forajida.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Ilustração de Ellen Weinstein

Pessoas pelas que vale a pena "quemar el cielo" (VI)


HOJE: GISELE


Quando o mundo virtual vai pro espaço ficamos como uma criança depois que o sorvete caiu no chão. Eu não poderia escrever de novo o que já escrevi sobre Gi. Poderia escrever outro texto recheado de palavras bonitas para que todos os fuçadores do mundo soubessem o que ela significa pra mim, todas as gotas que criaram o océano da nossa história. Ainda bem que no mundo real não há discos tão rígidos assim que possam apagar tudo, nem hackers que possam roubar o que esta gravado nas nossas almas. Nem há carteiros que possam furtar nossas palavras nem tempo que possa descolorir nossas fotos.
Graças a Deus e todos os orixás, nesse meu océano a Gisele é e por sempre será marinheira.
Isso nem mundo virtual desvirtua nem dilúvio universal destroi.

Juan Trasmonte (Depoimento escrito para o orkut de Gisele)
Feliz aniversário, Gi.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Esse Tom



Procuro as mesmas coisas, as coisas que não desaparecem com o tempo, as que não ficam soterradas, as que sempre vão estar aqui…

Tom Waits, em 2006

Aquele Tom





Well I hope that I don't fall in love with you
'Cause falling in love just makes me blue,
Well the music plays and you display
your heart for me to see,
I had a beer and now I hear you
calling out for me
And I hope that I don't fall in love with you.

Well the room is crowded, people everywhere
And I wonder, should I offer you a chair?
Well if you sit down with this old clown,
take that frown and break it,
Before the evening's gone away,
I think that we could make it,
And I hope that I don't fall in love with you.

Well the night does funny things inside a man
These old tom-cat feelings you don't understand,
Well I turn around to look at you,
you light a cigarette,
I wish I had the guts to bum one,
but we've never met,
And I hope that I don't fall in love with you.

I can see that you are lonesome just like me,
and it being late, you'd like some some company,
Well I turn around to look at you,
and you look back at me,
The guy you're with has up and split,
the chair next to you's free,
And I hope that you don't fall in love with me.

Now it's closing time, the music's fading out
Last call for drinks, I'll have another stout.
Well I turn around to look at you,
you're nowhere to be found,
I search the place for your lost face,
guess I'll have another round
And I think that I just fell in love with you.

I Hope That I Don't Fall in Love With You, primeira música do primeiro disco do Tom Waits, Closing Time, de 1973.

sábado, 20 de janeiro de 2007

Lixo industrial




Um dia é recorte de jornal
ou então um pedacinho de papel
usado pra virar de lado e escrever
caneta sem tinta dá pra sublinhar
garrafa de coca pode prestar
pra encher com água da pia
e botar pra gelar
relógio sem pilha comprado ao chinês
foto da amante de sorriso criminal
cd que ganhou e nunca vai escutar
tesoura que não corta ruinosa calça jeans
caderno da escola cartão de vereador
receita de cozinha pontilha de creiom
tábua de lavar máquina de costurar
palitinho usado guardanapo de papel
anjo de gesso quebrado que alguém colou
revista da net de um ano que passou
remédio pro nariz do ano trinta e três
tomate mofado calcinha da ex.

Um dia eu pego isso
e jogo fora.
Um dia eu pego isso
e jogo fora.



Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Loic Peoch

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

25 anos sem Elis


A barra do amor é que ele é meio ermo
A barra da morte é que ela não tem meio-termo.

Meio-termo (fragmento), de Lourenço Baeta e Cacaso.
Foto de Amicucci Gallo

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Beth




God knows how I adore life
When the wind turns on the shores lies another day
I cannot ask for more

When the time bell blows my heart
And I have scored a better day
Well nobody made this war of mine

And the moments that I enjoy
A place of love and mystery
I'll be there anytime

Oh mysteries of love
Where war is no more
I'll be there anytime

When the time bell blows my heart
And I have scored a better day
Well nobody made this war of mine

And the moments that I enjoy
A place of love and mystery
I'll be there anytime

Mysteries of love
Where war is no more
I'll be there anytime.

Mysteries, de Beth Gibbons.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Amor branco



Agora é branco
agora não é mais branco
branco nosso amor
e o silêncio teu
amor branco persegue pureza
eu não toco você por ausência
amor branco esconde matizes
lados negros e cinzas
ruido branco se faz no silêncio
amor branco disfarça essa farsa
é um branco mais branco que a morte
é um branco que brada na barca
que vagueia entre as ondas do mar
sem tinta nem pinta nem traço
alvorada dos cegos que tramam
a vingança das cores perdidas
era branco é luz é mais nada
saltimbanco das linhas da mão.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Hague

Carlos Gorriarena (1925-2007)


Este vacío, acrílico de Carlos Gorriarena


"Un cuadro tiene que romper la pared".

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Almir



Sinhá manda saia por causa da baia matou curió
Ninguem teve dó..
eh... ninguém teve dó

Jacaré de outro mundo já virou ganguriti
Criança pequena baba porque não sabe cuspir
Extra extra extra extra
Notícia beleza vocês vão gostar
Mandrake tomando Cachaça
Ficou muito doido e brigou com othar

Sinha manda saia...
Sei que sou bamba no samba
Pois trago na veia o sangue brasileiro
O mundo já me conhece, sabe que sou pagodeiro
Confusão lá no Salgueiro,
você tinha era que ver
Otário foi fazer pedido
Entrou na pancada teve que correr

Sinha manda saia...
Dona da casa porque chora da criança
Chora de barriga cheia somente pra aperrear
Por isso mesmo que eu me chamo lutojairo
Sou preto mas sou sério na batida do ganzá.
Você que vive mentindo que é a fera do samba
És apenas um boneco, eu dou corda e você anda.

Sinha manda saia...
Eh... num vai fazê, tu num fez o manel do cadeado
Foi pagar o imposto na ponte quase morreu afogado
Se você fosse cachorro seria muito bacana
Pendurado na coleira na mão das madame de Copacabana.

Sinha manda saia, de Almir Guineto e Luverci.

Tijucano, Almir do Salgueiro, Almir do Cacique, Almir do Fundo de Quintal, dos Originais. Fera que introduziu o banjo no samba, bamba que introduziu tantos sambas.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Instruções para teu suicídio




Bota catchup na banheira
enche ela da substância
tire a roupa devagar
peça por peça
não peça perdão nem clemência peça
talvez seja cênico acender uma vela
esqueça a tentação devassadora
entre no óvalo lentamente
com ar catatônico e movimento elegante
desenhe com batom e traço firme
duas marquinhas vermelhas
nos pulsos.

Faça você mesma
ligue já!

Pode se-matar
mas só um pouquinho.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)

domingo, 14 de janeiro de 2007

Deus, quero o velho Cash de volta!!




I was a highwayman. Along the coach roads I did ride
With sword and pistol by my side
Many a young maid lost her baubles to my trade
Many a soldier shed his lifeblood on my blade
The bastards hung me in the spring of twenty-five
But I am still alive.

I was a sailor. I was born upon the tide
And with the sea I did abide.
I sailed a schooner round the Horn to Mexico
I went aloft and furled the mainsail in a blow
And when the yards broke off they said that I got killed
But I am living still.

I was a dam builder across the river deep and wide
Where steel and water did collide
A place called Boulder on the wild Colorado
I slipped and fell into the wet concrete below
They buried me in that great tomb that knows no sound
But I am still around..I'll always be around..and around and around and
around and around

I fly a starship across the Universe divide
And when I reach the other side
I'll find a place to rest my spirit if I can
Perhaps I may become a highwayman again
Or I may simply be a single drop of rain
But I will remain
And I'll be back again, and again and again and again and again...





Highwayman, de Johnny Cash.
Deus, o acordo era assim, você levava o Pinochet e trazia o Johnny Cash de volta. Já levou o Pinochet e entregou pro capeta, agora devolva o Johnny Cash pelamordevocê!

sábado, 13 de janeiro de 2007

A Amazônia é groove


Se beat quero bombar, se deleite,
Beat iú, beat iú!

Ondas do mar, pitiú de peixe
Impregna o toque do verequete.

Dance with me, mama,
Dance with me, mama,
Dance with me,
No toque do trio manari.

Dance with me, mama,
Dance with me,
Dj de londres,
Do sul maravilha,
That's a chance
Com tempero daqui!

Ondas de amor, trelelê de jambu
Tenho certeza que eleva tu..!

Se liga no tremor da língua,
Se liga no tremor da língua,
Não migra, meu pai, não migra,
Se liga no tremor da língua!!!

Beat iú, de Marco André. É um som que desce do Pará, desce e merece encher o Brasil com seu carimbó plugado, bangué eletrobras, brega'n'bass, lundu pai de todos os sambas, beat iú, pitiú, beat you.
Procurem conhecer a arte de Marco André. Porque a Amazônia é groove.

Eu as vezes de mim me canso um pouco


Eu as vezes
de mim me canso um pouco
de ver passar as horas em quietude
daquela marmelada de incertezas
de objetivar o caos subjuntivo
de procurar um oráculo no meu umbigo
as vezes eu
de mim me canso um pouco.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Autumm Sonnichsen

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

O mundo que foi (II)



Buenos Aires. A Corrientes, circa 1936
Foto do mestre Horacio Cóppola

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Lhasa




Desde que no hay maldad,
Que no hay ni hambre,
Ni miedo, ni soledad,
No hay nadie que me ame
En toda esa ciudad...

Desde que no hay dolor,
No hay nadie que sufra
Por un amor,
Nadie más que yo.
No, no quiero olvidar...

¡ Ay ! Ya no se canta
Como se cantaba ayer.
Ahora dicen : "Ven, tomamos un café
Besamos en Français".
No, ya no se canta:
"Sin tu amor me moriré".
No se grita ya:
"No aguanto ese sufrir...
Quiero vivir...". Linda canción.

Desde que no hay maldad,
Todo el mundo se ríe
De mi ansiedad.
Yo lo llamo "poesía",
Le dicen "Vanidad"...

Desde que no hay traición,
Mi vida se desnuda
Ya sin pasión,
Y no sé para qué
Sirve mi corazón...

¡ Ay ! Ya no se canta
Como se cantaba ayer.
Ahora dicen : "Ven, tomamos un café
Besamos en Français".
No, ya no se canta:
"Sin tu amor me moriré"
No se grita ya:
"No aguanto ese sufrir...
Quiero vivir..." - Linda canción.

¡ Ay ! Ya no se canta
Como se cantaba ayer.
Ahora dicen : "Ven, tomamos un café
Besamos en Français".
No, ya no se canta:
"Sin tu amor me moriré"
No se grita ya
"No aguanto ese reir...
Quiero sufrir..." - Linda canción.



Mi vanidad, de Lhasa. Todos os homens e mulheres do Bem merecem ouvir Lhasa, pelo menos uma vez na vida.

Foto de Oliver Gutfleisch

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Pão de Açúcar





Não havia Avenida Central
não havia cameló nem Unibanco
já havia Pão de Açúcar

Não havia Paço Imperial
Não havia metrô nem Gloria de tamanco
já havia Pão de Açúcar

Não havia Garotinho
nem Belmonte, tua cara
não havia Fino da Bossa
nem putas em Copacabana
porque não havia Copacabana
Não havia AI-5, os Cem mil
as curvas de Niemeyer
cantoras do rádio
cheiro de bronzeador
gays suiços no Arpoador
tuas pernas, Vitamina
São Conrado Fashion Mall
nem as marchas do Braguinha
nem os dribles do Garrincha
nem Kelly Key turbinada
nem Luma fotografada
sem calcinha
Não havia teu sorriso
nem o Cristo Mendigo
não havia picolé nem Macalé
não havia Henfil
nem sonhava Aldir
com a volta do irmão do Henfil
porque não havia Brasil

Já havia Pão de Açúcar.



Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto antiga de Marc Ferrez

terça-feira, 9 de janeiro de 2007

Waly Salomão




Minha boca saliva porque eu tenho fome
E essa fome é uma gula voraz que me traz cativa
Atrás do genuíno grão da alegria
que destrói o tédio e restaura o sol
No coração do meu corpo um porto jóia existe
dentro dele um talismã sem par
que anula o mesquinho o feio e o triste
mas que nunca resiste a quem bem o souber burilar
Sim, quem dentre todos vocês minha sorte quer comigo gozar?
Minha sede não é qualquer copo d'água que mata
essa sede é uma sede que é sede do próprio mar
essa sede é uma sede que só se desata
se minha língua passeia sobre a pele bruta da areia
sonho colher a flor da maré cheia vasta
eu mergulho e não é ilusão, não , não é ilusão
pois da flor de coral trago no colo a marca
quando volto triunfante com a fronte coarada de sargaço e sal
Sim, quem dentre todos vocês minha sorte quer comigo gozar?
Sim, quem dentre todos vocês minha sorte quer comigo gozar?


Talismã, de Waly Salomão, aquele que dizia "Eu faço versos como quem talha, a facão"

Foto de Xandô Pereira

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Mestre Xangô da Mangueira


Como Mestre Xangô diz:


Batendo na mão
partido alto é batendo na mão...

sábado, 6 de janeiro de 2007

Sistema nervoso central



Não serei um pasalix
um estímulo qualquer
que chega do exterior
não cobaia no baião
gaiola em laboratório
bicho no observatório
ninguém será como eu
a todos serei igual
sistema nervoso central
simpático é meu inferno
não serei um pasalix
já sou minha própria droga
e outros químicos também
graffitis éticos
prazeres sintéticos
cafeína pra subir
clonazepam pra descer
notícia pra distrair
caneta pra entender
eu presso da sedução
pílula da felicidade
utopia da piedade
meu predio químico
meu ónibus pra esquecer
doce de consolação
meu simulacro interior
deixa o mundo mais bonito
sistema nervoso central
serei a todos igual.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)

Lluís



Si em dius adéu,
vull que el dia sigui net i clar,
que cap ocell
trenqui l'harmonia del seu cant.

Que tinguis sort
i que trobis el que t'ha mancat
en mi.

Si em dius "et vull",
que el sol faci el dia molt més llarg,
i així, robar
temps al temps d'un rellotge aturat.

Que tinguem sort,
que trobem tot el que ens va mancar
ahir.

I així pren tot el fruit que et pugui donar
el camí que, a poc a poc, escrius
per a demà.

Què demà
mancarà el fruit de cada pas;
per això, malgrat la boira, cal caminar.

Si véns amb mi,
no demanis un camí planer,
ni estels d'argent,
ni un demà ple de promeses, sols

un poc de sort,
i que la vida ens doni un camí
ben llarg.

Que Tinguem Sort, de Lluís Llach, cantor e compositor catalão

Foto de Juan Miguel Morales

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

Sua língua é minha pátria



Perto da língua
sua língua
grave aguda
esdrúxula
sua língua é minha pátria
língua molhada
na Guanabara
no pentagrama
sou sua língua cantada
língua sua nua
na minha orelha
sua de suar
sua de você
alfabetizada
doce bê-á-bá
subjuntiva subjetiva
dor de parto oral
voz da língua viva
céu da boca trama
vez vocabulário.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

Pan y leche


Yo quiero estar contente
Eu e toda minha gente
Yo quiero
Pan y leche

Que se possa ir pra frente
Ser bonito inteligente
(sempre)
Pan y leche

E que apesar do presidente
Tenha casa, escola e dente
Fartamente
Pan y leche

E que numa noite quente
Por acaso chova e vente
(Legal)
Pan e leche

Bem agora de repente
Ter você na minha frente
Rente
Pan y leche

E que quando a gente deite
Sonhe sossegadamente
Que nos somos
Pan y leche

Tchau tchau tchau arrivederci
Yo me voy tranquilamente
Sente
Pan y leche

Anticonstitucionalissimamente
Queremos
Pan y leche.


O Mauricio Pereira é outro da pesada. Ele formou com o Abu os Mulheres Negras e está fazendo uma carreira solo que é de tirar chapéu. Seu disco Mergulhar na surpresa é um must. O Pereira tem um aleph onde convivem rock, folk-bras, samba, pop, Paolo Conte e música erudita. Faz da mistura sua raiz e possui uma rara sensibilidade.

Enquanto ele mixa seu novo trabalho -que traz também parcerias com o Arthur que está aqui embaixo- deixo aqui a belíssima Pan y Leche.

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Vamos fazer um filho






Vamos fazer um filho
sangue dos nossos sangues
pele da tua pele
um filho cheio de pêlo
os nossos interrogantes
filho mãe matriz filial
o nome dele será livro
nosso filho subjetivo
filho sem preservativo
sem adoçante sem cloro
tira a blusa musa
o sutiã o tédio a camisa
Venus não precisa
o nosso filho sem filtro
já virá de olhos abertos
com olhos do seu olhar
já vai nascer sabendo
quem matou Odete Roitman
será meu e teu e nosso
mas será bem mais dos outros
filho das letras vermelhas
de pão lágrima espanto
de eu mais tu será um
tira a blusa musa
más a calcinha fica
pra eu tirar devagar
pra eu poder contemplar
o instante prévio louco
antes da gente juntar
e da gente religar
carne com carne violão
finalmente o som perfeito
dos nossos corpos abertos
nosso filho imperfeito
com pecado concebido
assassino das distâncias
filho de todas as guerras
pulso de todas as terras
nosso pequeno estrangeiro
nosso grande inconformista
vamos ter um terrorista
de zeppelins e adrianas.

Vamos fazer um filho
vamos gritar de calar
vamos chorar de rir
vamos suar de amar
vamos nos-encontrar.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

Breve oração de virada do ano



Deus por favor

não mais permita que os cachorros

me dirijam olhares tristes

por trás das grades do jardim das casas.

Deus, poupe-me também

dos olhares tristonhos das empregadas

que contemplam a cidade apoiadas

nas sacadas dos prédios.

Tira, por favor, de todos os asilos,

os adesivos do Ecco Salva

afixados nas paredes.

Que as vastas platéias de cinema

sejam sempre ocupadas

por uma única pessoa,

e que na saída do filme

chova invariávelmente.

Bota fim, deus,

a esse constrangimento injustificado

que faz com que as pessoas

desistam de trepar e dar abraços

mesmo quando elas sabem

que isto seria necessário.

Convence a todos da impossibilidade do amor,

e observa enquanto descobrem o amor

como a única possibilidade.

Quanto aos pecados capitais

peço que tornes

a Gula compatível com a Vaidade,

a Preguiça compatível com a Avareça,

a Ira compatível com a Inveja,

e que a Luxúria soterre todas as anteriores.

Acabe com a Aids, Deus.

Que todos tenham plena consciência

de que vão morrer definitivamente,

e que na hora da morte não possam evitar

um breve sorriso de desobediência infantil.

Conserva os dentes dentro de nossas bocas,

para que apodreçam conosco.

E que persista no tempo apenas

aquilo que fomos capazes de criar.

Peço que amanhã de manhã, Deus,

eu seja acordado com o peso familiar

de um certo corpo em cima do meu.

Que o sol invada minha barraca brando, resignado.

Então será 2000, e não será diferença.



(Arthur de Faria, sobre poema de Daniel Galera). Até poderiamos trocar o 00 pelo 07 " e não será diferença."

Quem não conhecer Arthur, pare de ser preguiçoso e ficar ouvindo só o que as rádios querem que a gente ouça. Procure "Música para bater pezinho" que é tudo de bom. Acesse www.seuconjunto.com.br

Como os marketeiros de Roliúde gostam dizer: "Assista o filme, leia o livro, " etc...



segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Esos ciegos que te gustan a vos


Um dia estava tocando uma música de Amadou et Mariam no rádio. Aí um colega do trabalho virou pra mim e disse: "olha aí esses cegos que você gosta".


Les dimanches à Bamako c'est les jours de mariage

C'est les jours de mariage

Les djembés et les n'doulous résonnent partout

Les baras et les n'tamas résonnent partout

La kora et le n'goni sont aussi au rendez-vous...


Beau dimanche (fragmento)