terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Mulher chuva



No tránsito entre a sala e a varanda
num trecho entre a cozinha e o banheiro
num ponto da poltrona
onde encostei a mão
aberta por completo e completamente aberta
nasceu a mulher chuva
na garoa num instante
que virou vazamento e gota antes da idéia
a gente não controla
o que tem mais escondido
a lágrima o suor o passado tenebroso
o vento arrasta tudo
bate forte na janela
os filhos vão embora e o verde apodrece
palavra por palavra
meu amor foi contornado
acaso no trajeto de um som até o peito
acaso no silêncio de uma tarde forajida.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Ilustração de Ellen Weinstein

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