domingo, 29 de junho de 2008

A integridade de Miguel Cantilo


Figura lendária do rock argentino, Miguel Cantilo tem uma virtude que poucos podem exibir nesses tempos de troca-troca: a coerência.
Criador de muitas músicas que fazem parte do imaginário coletivo de várias gerações, algumas delas compostas há mais de trinta anos, são de uma vigência assustadora. Localizado na etiqueta limitativa de "cantores de protesto", primeiro com o duo Pedro y Pablo e depois na sua carreira solo, construiu um exemplo de integridade.
Nos tempos do peace and love falava disso, da volta à vida natural e das mazelas do poder. E hoje que o mundo está mais volúvel ou, para usar um termo na moda, mais líqüido, ele fala de que? Dos mesmos assuntos.
Ontem Miguel depois de mais de um ano sem tocar na cidade, deu um show em Buenos Aires com sua banda povoada de jovens -entre eles dois dos seus filhos- e uma seleção de roqueiros convidados da pesada daqueles tempos: Alejandro Medina, Kubero Díaz -que por sinal tem uma filha carioca da sua fase em Búzios-, Juan Rodríguez e o genial flautista Mono Izarrualde.

Confesso que eu estava lá porque fiz a produção do show, porque as vezes, as coisas queridas que estão nas lembranças, prefiro que fiquem por ali mesmo. Já vi muitos admirados da minha adolescência desabar na decadência. Mas agradeço a oportunidade que o trabalho me deu de poder ter assistido a essa comprovação de uma trajetória sustentada na obra e nos fatos.

Miguel, que ja foi chamado de Enrique Santos Discépolo -poeta mor do tango- do rock, também pode ser chamado de ingénuo pela sentença da história. Mas entre os ingénuos e os que trocaram a ingenuidade pelo cinismo, eu ainda fico com os ingénuos.

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