quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Uma mulher, duas canções


1

Eu sou apenas um velho baiano
um fulano, um caetano, um mano qualquer.
Vou contra a via, canto contra a melodia,
nado contra a maré.
Que é que tu vê, que é que tu quer,
tu que é tão rainha?
Branquinha,
carioca de luz própria, luz.
Só minha
quando todos os seus rosas nus,
todinha
Carnação da canção que compus
quem conduz
vem, seduz.
Este mulato franzino, menino,
destino de nunca ser homem, não.
Este macaco complexo,
este sexo equívoco
este mico-leão.
Namorando a lua e repetindo:
A lua é minha.
Branquinha,
Pororoquinha, guerreiro é.
Rainha
de janeiro, do Rio, do onde é
sozinha,
mão no leme, pé no furacão,
meu irmão
neste mundo vão.
Branquinha,
Pororoquinha, guerreiro é.
Rainha
de janeiro, do Rio, do onde é
sozinha,
mão no leme, pé no carnaval,
meu igual
neste mundo mau.


2

Eu não me arrependo de você
cê não me devia maldizer assim
vi você crescer
fiz você crescer
vi cê me fazer crescer também
pra além de mim.

Não, nada irá nesse mundo
apagar o desenho que temos aqui
nem o maior dos seus erros,
meus erros, remorsos, o farão sumir
vejo essas novas pessoas
que nós engendramos em nós
e de nós.
Nada, nem que a gente morra,
desmente o que agora
chega à minha voz.

Branquinha (1989) e Não me arrependo (2006), de Caetano Veloso
Foto de Daigo Oliva
Uma mulher, duas canções e nada a (mal)dizer. Pois é, bicho. O amor é foda.

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