quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Pattie Boyd, musa de Harrison e Clapton





Primeiro é preciso colocar a moldura: meados da década de sessenta em Londres, o tal do Swinging London, o amor livre, o rock. Então, vamos lá.
George Harrison era ninguém menos que um dos Beatles quando conheceu Pattie Boyd, a modelo que foi fazer uma pontinha na cena do trem do filme Os reis do iê iê iê (A Hard Day’s Night). George tinha 22 anos e Pattie, 21.
Quase na brincadeira George perguntou:

- Você quer casar comigo?

Eles se apaixonaram e pediram licença a Brian Epstein para casar mesmo, o que aconteceu em 1966, pois já tinham juntado os trapinhos.
Em 1969, no meio de uma conversa cotidiana, George disse a Pattie que tinha composto uma canção pra ela. Na verdade, ele tomou emprestados os primeiros versos de uma música do então ignoto James Taylor. Os versos diziam assim:

Something in the way she moves...

E George acrescentou:

Attracts me like no other lover...

Assim nasceu Something, a primeira música que teve Pattie como musa inspiradora.
Na época, Eric Clapton já era um dos guitarristas mais respeitados do rock, protagonista de bandas essenciais como The Yarbirds, Cream e Blind Faith. No subúrbio de Londres era comum achar o grafite: Clapton é Deus.
Em Harrison e Clapton se juntaram várias afinidades: os dois eram tímidos, introvertidos, e amavam guitarras. Quando Eric presenteou George com uma Gibson Les Paul Gold Top ficaram amigos e depois Harrison convidou Slowhand para gravar o solo de While my Guitar Gentle Weeps.
Na casa de George ou onde pintar compartilhavam longas festas ao estilo da época, cheias de excessos. Eric primeiro começou a namorar Paula, uma das irmãs de Pattie, até que se reconheceu completamente apaixonado por Pattie.
Ele bem poderia ter cantado “estou amando loucamente a namoradinha de um amigo meu”, mas aconteceu que Clapton não conhecia Roberto Carlos e que Pattie não era apenas “a namoradinha” de um dos seus melhores amigos, mas a esposa dele.

Outra prática comum na época, na procura de novos caminhos, era o orientalismo. Em 1968, John Lennon, Yoko Ono e George se aproximaram ao Hare Krishna e conheceram o guru Maharishi na famosa viagem à India.
Na volta, George ficou mais voltado para si mesmo, passava as horas meditando ou então trancado no estúdio. E Clapton dava a Pattie toda a atenção que em casa não tinha. Escrevia para ela longas cartas de amor. Foi nesse tempo que lhe-dedicou Layla, baseada numa história persa de um homem apaixonado por uma mulher casada.
Mas essa paixão que podia brotar na arte, também desbotava num sofrimento horroroso para Clapton. Um dia ele deu uma de psicopata e apareceu na casa de Pattie com um saco de heroína:

- Se você não ficar comigo, eu vou usar isso.

E ele cumpriu com a sua palavra. No entanto, apesar de ver como seu casamento afundava, Pattie sustentou o lar.
Enquanto isso, Eric sumiu e atravessou uma das suas piores fases. Anos depois ele contou em entrevista:

- Eu botava pontas de cigarros na pele, para esquecer da dor da alma.

E nesse turbilhão, George não se privava de outras aventuras. Nessas, foi pra Espanha com Krissie, a mulher do Ronnie Wood, que também eram amigos do casal. Mas a gota d’água foi a descoberta de um caso que George teve com Maureen, a mulher de Ringo Starr.
Depois disso, Pattie fez as malas e foi embora. Quem passou a sofrer foi George. Contam que um dos motivos que levou o casal ao declínio foi o fato de não conseguirem ter um filho, impossibilidade assumida públicamente por George, mas que de fato era um problema dela, o que no contexto da época também era pesado.
E no meio todas as lendas.
Existiu sim a confissão de Eric pro George:

- Eu tenho que te contar, amigo. Estou apaixonado por sua esposa.

Mas não é verdade que eles, bébados, se disputassem Pattie num duelo de guitarras, como ela mesma acha lembrar e assim o escreveu no seu livro Wonderful Tonight: George Harrison, Eric Clapton and Me. Isso foi desmentido pelo próprio Eric, que também assinou a história da sua vida: Clapton, The Autobiography.
Clapton casou com Pattie em 1979, dois anos depois de escrever Wonderful Tonight, a música que completa a trilogia de canções dedicadas a ela. Em 1988 se divorciaram.
George casou em 1978 com Olivia Arias e tiveram o desejado filho, Dhani.
Talvez seja Pattie Boyd quem melhor possa definir essa história e encerrar esta crônica:

- O que havia sentido por George foi um grande e profundo amor. Com Eric tinhamos uma paixão poderosa e intoxicante. Com Eric éramos companheiros, mas com George, éramos almas gêmeas.

Foto de George Harrison e Pattie Boyd de Getty Images
Foto de Eric Clapton e Pattie Boyd de AP

6 comentários:

Anônimo disse...

Clapton é Deus!

O cara é incrível. Tipo, coisas que já ouvi: Eric Clapton é o guitarrista branco mais negro que existe!

Ele é o cara!

Mas essa história aí heim?

Acho que para a época eles pegaram até leve, mas o Clapton que pagou o pato né não?

Valeu Juan, ótimo texto! Um abraço!

Anônimo disse...

Puxa, que linda história (ou histórias)... O amor, tenha final feliz ou não, tem sempre uma bela história. E vale a pena vivê-lo, experimentar todas as suas dores e delícias.


Bom final de semna, Juan!

Beijos!

Juan Trasmonte disse...

É isso aí, Tico. Ele é Deus mesmo, por isso o último livro foi o dele. Afinal, é Deus que tem a última palavra rsss
Valeu!

Muito Obrigado, Lu, bom final de semana pra ti também
bjs

Livro de Autor disse...

Você sabe em detalhes toda a história, hein Juan? Acompanhou tudo na época, ou só leu o livro da Pattie?

Mayara disse...

Puxa, mas que tristeza...

George e Pattie formavam um belo casal. Uma pena mesmo não ter dado certo. Quem conhece os detalhezinhos mesmo, sabe que é cada coisa de chorar... sem falar do que ele disse pra ela pouco antes de morrer... tendo ouvido algo assim, mesmo tantos anos depois do casamento e da separação, só dá pra fazer mesmo o que ela fez: chorar.

Vivi disse...

Eu tenho um post muito parecido, do inicio de 2008, olha que legal: http://viviantorres.blogspot.com/2008/03/amor-e-guitarras.html

beijocas e viva o rock n roll!