“Os meus admiradores acreditam que estou curada, mas não é verdade. Apenas virei poeta”. A frase foi pronunciada por Anne Sexton, perto de interromper a própria vida.
Anne tinha descoberto a poesia em um programa de televisão, em 1956. “Até então eu desconhecia se sabia fazer alguma coisa, além de molhos e trocar fraldas. Era uma vítima do sonho americano”.
Foi a psiquiatra dela a primeira que a animou para escrever. Anne era uma filha não desejada, maltratada pelos pais primeiro e pelo marido depois, e que por sua vez maltratava às filhas dela. Anne sofria de transtorno bipolar, que na época era chamado de psicose maníaco-depressiva, e já carregava uma tentativa de suicídio.
Três anos depois daquela revelação televisiva, Anne foi fazer curso com o poeta Robert Lowell, quem -disse- lhe ensinou o mais importante da poesia, que não é o que pôr num poema mas o que tirar nele. Lá conheceu uma jovem de 27 anos que estava por publicar seu primeiro livro e que seria sua estrela-guia no mundo literário e na vida. Anne ficou fascinada pela pessoa e pela poeta Sylvia Plath.
Juntas protagonizaram depois das aulas longas conversas sobre paixões, poesia e suicídio, regadas a Martinis.
No verão de 1962, Sylvia descobriu que era traída pelo seu amado esposo e também poeta Ted Hughes. A mulher carregou os filhos e foi morar no campo na Inglaterra. O inverno foi muito cruel. Sylvia ficou isolada, sem telefone, escrevendo poemas e longas cartas para sua mãe. Por causa do rigor do clima, as vezes faltava luz e transporte.
Na manhã de 11 de fevereiro de 1963, Sylvia acordou, deixou um copo de leite para cada um dos seus filhos na mesinha de cabeceira, foi para a cozinha, trancou a porta, abriu o forno e colocou um pano onde encostou a cabeça para esperar a morte.
Para essa época, Sylvia tinha 30 anos e já contava com uma ampla produção literária, que incluía a sua autobiografia (A redoma de vidro); os Diários e a série Ariel.
Anne Sexton chegou a dizer “essa morte era minha”. Mas ela mesma também decidiu pôr fim a sua vida onze anos depois e depois de outras tentativas, quase sempre teatrais (ela chegou a anunciar por telegrama sua intenção de suicidar).
Foi em 1974, quando Anne já tinha também uma grande reputação como poeta, com assuntos pouco comuns para as mulheres que escreviam poesia, como masturbação, adultério e menstruação.
A identificação de Anne com Sylvia foi até o final, coroada pelo suicídio. Segundo Lowell, que foi mestre das duas “Anne era mais auténtica, mas sabia menos que Sylvia”
As duas estão no paraíso da poesia dos Estados Unidos e no círculo dos poetas suicidas que exercem tanto atração como mistério.
Decisão
Dia nublado: dia cinzento
fico
de mãos bobas
esperando o leiteiro
o gato de uma orelha
lambe a pata cinza
e ardem brasas em chamas
lá fora, vão ficando amarelinhas
as folhas da trepadeira
uma fina fita de leite
embaça garrafas vazias na janela
nenhuma glória provém
duas gotas se equilibram
numa verde envergada
haste da roseira na casa ao lado
ó se arca de espinhos
o gato afia as garras
Anne tinha descoberto a poesia em um programa de televisão, em 1956. “Até então eu desconhecia se sabia fazer alguma coisa, além de molhos e trocar fraldas. Era uma vítima do sonho americano”.
Foi a psiquiatra dela a primeira que a animou para escrever. Anne era uma filha não desejada, maltratada pelos pais primeiro e pelo marido depois, e que por sua vez maltratava às filhas dela. Anne sofria de transtorno bipolar, que na época era chamado de psicose maníaco-depressiva, e já carregava uma tentativa de suicídio.
Três anos depois daquela revelação televisiva, Anne foi fazer curso com o poeta Robert Lowell, quem -disse- lhe ensinou o mais importante da poesia, que não é o que pôr num poema mas o que tirar nele. Lá conheceu uma jovem de 27 anos que estava por publicar seu primeiro livro e que seria sua estrela-guia no mundo literário e na vida. Anne ficou fascinada pela pessoa e pela poeta Sylvia Plath.
Juntas protagonizaram depois das aulas longas conversas sobre paixões, poesia e suicídio, regadas a Martinis.
No verão de 1962, Sylvia descobriu que era traída pelo seu amado esposo e também poeta Ted Hughes. A mulher carregou os filhos e foi morar no campo na Inglaterra. O inverno foi muito cruel. Sylvia ficou isolada, sem telefone, escrevendo poemas e longas cartas para sua mãe. Por causa do rigor do clima, as vezes faltava luz e transporte.
Na manhã de 11 de fevereiro de 1963, Sylvia acordou, deixou um copo de leite para cada um dos seus filhos na mesinha de cabeceira, foi para a cozinha, trancou a porta, abriu o forno e colocou um pano onde encostou a cabeça para esperar a morte.
Para essa época, Sylvia tinha 30 anos e já contava com uma ampla produção literária, que incluía a sua autobiografia (A redoma de vidro); os Diários e a série Ariel.
Anne Sexton chegou a dizer “essa morte era minha”. Mas ela mesma também decidiu pôr fim a sua vida onze anos depois e depois de outras tentativas, quase sempre teatrais (ela chegou a anunciar por telegrama sua intenção de suicidar).
Foi em 1974, quando Anne já tinha também uma grande reputação como poeta, com assuntos pouco comuns para as mulheres que escreviam poesia, como masturbação, adultério e menstruação.
A identificação de Anne com Sylvia foi até o final, coroada pelo suicídio. Segundo Lowell, que foi mestre das duas “Anne era mais auténtica, mas sabia menos que Sylvia”
As duas estão no paraíso da poesia dos Estados Unidos e no círculo dos poetas suicidas que exercem tanto atração como mistério.
Decisão
Dia nublado: dia cinzento
fico
de mãos bobas
esperando o leiteiro
o gato de uma orelha
lambe a pata cinza
e ardem brasas em chamas
lá fora, vão ficando amarelinhas
as folhas da trepadeira
uma fina fita de leite
embaça garrafas vazias na janela
nenhuma glória provém
duas gotas se equilibram
numa verde envergada
haste da roseira na casa ao lado
ó se arca de espinhos
o gato afia as garras
o mundo gira
hoje
hoje não irei
desiludir meus doze engalanados examinadores
nem cerrarei meu punho
na ironia do vento.
Para Sylvia Plath
Oh Sylvia, Sylvia!
com uma caixa morta de colheres e pedras
com dois filhos, duas estrelas fugazes
errantes na pequena sala de jogos
com tua boca no lençol
na trave do teto, na nécia oração (...)
Texto escrito com informações colhidas em textos de Robert Lowell e Helen McCormack
Decisão (Resolve), de Sylvia Plath, versão para o português de Elson Frões
Para Sylvia Plath, fragmento de A morte de Sylvia (Sylvia’s death), de Anne Sexton, versão para o português de Juan Trasmonte
Foto de Sylvia Plath de Mortimer Rare Book Room (1956)
Foto de Anne Sexton da Agência AP (1967)
hoje
hoje não irei
desiludir meus doze engalanados examinadores
nem cerrarei meu punho
na ironia do vento.
Para Sylvia Plath
Oh Sylvia, Sylvia!
com uma caixa morta de colheres e pedras
com dois filhos, duas estrelas fugazes
errantes na pequena sala de jogos
com tua boca no lençol
na trave do teto, na nécia oração (...)
Texto escrito com informações colhidas em textos de Robert Lowell e Helen McCormack
Decisão (Resolve), de Sylvia Plath, versão para o português de Elson Frões
Para Sylvia Plath, fragmento de A morte de Sylvia (Sylvia’s death), de Anne Sexton, versão para o português de Juan Trasmonte
Foto de Sylvia Plath de Mortimer Rare Book Room (1956)
Foto de Anne Sexton da Agência AP (1967)
5 comentários:
Muito interessante a história de vida de alguns poetas, são tão sensíveis a ponto de darfim à própria vida,ou então viverem infelizes, à luz da solidão. Falta-lhes compreensão à aspereza da vida,ou então,nós é que não os compreendemos. Transtorno bipolar é realmente triste, tantopara quem vive,como para quem está à volta. Bejos, Juan, adorei o post! Arrasou!
Estimado amigo, vim aqui agradecer seu comentário e lamentar que lhe deixei com fome!!! rssss Vc sempre é tão agradável.
Para a minha surpresa li este fantástico texto, aliás, como é bom ler assuntos diferentes, não é mesmo? De maneira que aprendi mais, conheci um pouco da vida de duas poetisas. Eu voltei a escrever poesias, amigo, flui tão bem, mas felizmente, não compactuo com as idéias daquelas duas! rssss
Adorei lhe reencontrar, estava com saudades. Bjsssss
Também adorei o post! Acho que os poetas compreendem em demasia a "aspereza da vida", por isso criam o próprio fim.
Sylvia Plath, que li pouco, ainda assim me faz lembrar de uma outra poeta, Ana Cristina César. Expressões diferentes de um sentimento do mundo coincidente.
Depois vou lá buscar alguma coisa da Ana.
Oi, Juan, poderia me dizer se há edição brasileira do livro Life or die, da Anne Sexton? E tendo ou não, sabe dizer onde posso comprar o original mesmo? Não estou achando...
Legal o seu texto. Pena que as pessoas têm uma idéia tão equivocada do suicídio... Acham sempre tratar-se de uma ato de covardia etc... Não se trata de covardia ou coragem, mas de um movimento, um movimento de desespero, contrário àquilo que se está vivendo... O mesmo se deu com a dramaturga Sarah Kane... Não são pessoas que devem ser atacadas, que têm culpa por alguma coisa... São pessoas que precisavam de ajuda... Abraço. Henrique Wagner
Meu e-mail:henriquepwagner@hotmail.com
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