segunda-feira, 27 de abril de 2009

O incapaz



Conheço a nova ordem
que esse calor revela
pitanga bagaço favela
Guimarães Rosa
e as pessoas continuam
regando as plantas
no final do dia

posso ser assaltado na esquina
sentir a febre nas bordas
da pele
conheço a padaria Santo Amaro
o veneno que os humanos
inoculam
posso ter esquecido o caminho
sentir que já vou tarde pra viver
delírio
posso um conjunto de
banalidade
e duas ou três coisas vitais

mas não posso te amar todos os dias
como se fosse o primeiro dia
como se fosse o primeiro homem
e a tempestade fosse mentira
mas não posso te lembrar
entre os instantes
e muito menos te alegrar
todas as horas
eu sou o incapaz que à noite abraça
e vira caçador na alvorada.

O incapaz, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto detalhe do Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, sem crédito do autor. Por essas ruas, nasceram os primeiros versos desse poema

5 comentários:

lafayette hohagen disse...

Parabéns!Muito bom!

Muadiê Maria disse...

Belo.

Bernardo Guimarães disse...

pra mim vc já é um grande poeta argentino de lingua portuguesa!

Anônimo disse...

Essas ruas inspiraram tantos outros poetas, e todos com uma doce melodia como esta, em forma de versos... Bela composição!

Juan Trasmonte disse...

Muito obrigado!