sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O longo crepúsculo de F. Scott Fitzgerald


Hoje em dia, o remédio habitual para alguém que está no fundo do poço é pensar naqueles que estão na indigência ou sofrem de padecimentos físicos. Tem uma ação balsámica contra a melancolia no geral e é um conselho razoavelmente saudável para qualquer um no decorrer do dia, mas às três horas da madrugada essa cura não serve pra nada. E em uma noite realmente escura da alma, sempre são as três da madrugada, dia apôs dia. Nessas horas a tendência é recusarmos a enfrentar a realidade, retirarmo-nos a um sono infantil do que continuamente nos arranca, exaltados, o contato com o mundo.
(...) Um escritor como eu irá ter uma profunda confiança em si próprio, uma imensa fé na sua boa estrela. É um sentimento quase místico, uma sensação de que nada pode lhe acontecer. Thomas Wolfe tem isso y o Ernest Hemingway o tinha. Eu tive isso uma vez, mas depois de uma série de desastres, muitos deles por responsabilidade minha, alguma coisa acontecei com esse sentimento e perdi o pé.

Fragmento da entrevista de F. Scott Fitzgerald com Michel Mok, publicada no jornal The New York Post em 1936
Foto do arquivo da George Eastman House

Grande retratista do lado escuro da aristocracia, F Scott Fitzgerald passou seus últimos anos como uma sombra dele mesmo. O longo declínio do autor dos romances O Grande Gatsby e Suave é a noite, começou com seu próprio abuso do álcool como reflexo da insatisfação e da tragédia pessoal desde que sua mulher Zelda se jogou nos trilhos ao passo do trem e foi internada num hospício.O jornalista Michel Mok descreve Fitzgerald na entrevista de onde publico esse fragmento como um homem trémulo, bebendo de uma garrafa que tinha escondida na gaveta e à beira do desespero.O escritor que foi um dos máximos referentes da chamada geração perdida, terminou seus dias decadente, como um personagem dos seus livros.

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