quarta-feira, 4 de junho de 2008

Roger Wolfe, capitão dos desencantados


Me asomo a la terraza.
Una mujer se arregla el pelo
delante de un espejo
en el edificio de enfrente
de mi casa.
Estaba leyendo
a Dostoyevski. Cierro el libro,
lo dejo encima de la mesa,
me siento y abro
otra cerveza. Qué aburrido,
Dostoyevski, la cerveza,
las mujeres, los libros,
los espejos. Qué aburrido
sentarse y esperar la muerte
mientras la gente fornica,
come, trabaja o se solaza
bajo el sol sucio de septiembre,
y uno sabe, positivamente,
que nada va a ocurrir.

Versão em português

Assomo no terraço.
Uma mulher ajeita seu cabelo
na frente do espelho
no prédio da frente
da minha casa.
Estava lendo
Dostoievski. Fecho o livro,
o deixo em cima da mesa,
sento e abro
outra cerveja. Que tédio
sentar e esperar a morte
enquanto as pessoas trepam,
comem, trabalham ou se divertem
debaixo do sol sujo de setembro,
e a gente sabe, positivamente,
que nada vai acontecer.

El extranjero, de Roger Wolfe
O estrangeiro, de Roger Wolfe, versão para o português de Juan Trasmonte
Foto de Roger Wolfe de Thomas Canet


Británico de Kent, criado na Espanha, Roger Wolfe é a maior expressão entre os escritores da geração de oitenta na Espanha, aqueles desencantados do pós-franquismo, no sentido de terem desencantado mesmo depois do deslumbramento inicial da liberdade.
Feito um Bukovski solto na península ibérica, a poesia de Wolfe -escrita originalmente em espanhol, a sua segunda língua- as vezes está mais perto do pensamento filosófico do que do texto poético convencional. Convicto de que a poesia consiste em enxergar naquilo que já foi muito enxergado, Wolfe pode ser, em poucas palavras, belo e dilacerante.

Um comentário:

Anônimo disse...

Conheço pouco da obra dele, mas fiquei interessado em conhecer mais, por causa da poesia que voce colocou, principalmente porque adoro poemas em espanhol