sábado, 19 de abril de 2008

O método Zola


Nunca preparo uma trama. Não posso faze-lo. As vezes tenho dedicado horas a meditar sobre o assunto. Enterro a cabeça nas mãos, fecho os olhos e penso nele até enlouquecer, mas não tem jeito. Finalmente eu entrego os pontos.
O que faço são três tipos de anotações para cada romance. Ao primeiro eu chamo de esboço: fixo a idéia principal do livro e os elementos necessários para desenvolver a idéia em questão. Estabeleço também certas conexões lógicas entre uma séria de fatos e a outra.
O seguinte dossier contém um estudo do caráter de cada personagem. No caso do protagonista vou inclusive além: pesquiso o caráter do pai, da mãe, a vida dele, a influência dos seus relacionamentos no temperamento do filho. Continuo com os modos com que ele foi educado, sua fase escolar, seu ambiente e as amizades até o momento em que o introduço na minha obra. Eu me mantenho, na medida do possível, próximo à natureza, inclusive levo em consideração a aparência dele, o estado de sáude e a herança biológica.
Minha terceira preocupação é o estudo do ámbito em que pretendo localizar os meus personagens, o lugar exato onde pode transcorrer uma certa parte da ação. Investigo os costumes, as maneiras, o caráter, a linguagem e aprendo inclusive o jargão dos moradores desses locais.
Freqüentemente eu faço bosquejos com lápis e calculo as dimensões dos quartos. Eu sei exatamente onde ficam colocados os móveis. Finalmente, procuro ter intimidade com esses ambientes de dia e de noite.Depois de coletar laboriosamente essa informação toda começo a trabalhar regularmente todas as manhãs e nunca escrevo mais de três páginas diárias.

Émile Zola explicou seu método de trabalho em entrevista com V.R. Mooney, publicada em junho de 1893 na revista literária inglesa The Idler.
Versão para o português de Juan Trasmonte

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