domingo, 10 de fevereiro de 2008

Dicionário da saudade


Longe Penha e Madureira
longe vivo a céu aberto
longe está o Flamengo
e os olhos cintilantes
das mulheres da Marquês
um chão de mar desperta
com seus peixes
que traçam diagonais
nas brincadeiras
longe daqui as desencantadas
vaidades de Ipanema
e as cantadas rodoviárias
dos caminhonheiros
os trocados perdidos
os temperos ganhos
aquí é uma imensidão azul
que nunca viu o Rio de Janeiro
só as nuvens talvez
sejam levadas
para virar pancadas
no Canal do Mangue
passaram os instantes
poucos mansos
e o que era chão e palco
voltou pro dicionário da saudade
cheiros e santos fortes
carros e adereços
silenciosos
estacionados na concentração
placas de rua
suspensas nos mistérios das esquinas
longe pierrô e colombina
e todos os pudores
que as máscaras minimizam
assim com cada véu
sumiu o espanto
aqui outro tempo azul
uma cadeira no espaço
e a ensolarada pista de dança
para encarar de novo
as folhas de papel de arroz
do velho dicionário da saudade.

Dicionário da saudade, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto do meu pé e a calçada do Bar Picote, no Flamengo

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