segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Camarón, el de la Isla


Custou a vida mesmo gravar Potro de rabia y miel, Camarón por momentos ficava inconsciente e não havia quem o fizesse reagir. O cantaor ia pro estúdio sem saber o que tinha que cantar, colocavam uma folha na frente dele com uma estrofe escrita em letras bem grandes e ele tentava memorizar.
- Vamos fazer um breque, né? -pedia o cantaor-. Descansavam um pouco, fumavam, tentavam inútilmente relaxar e a tortura recomeçava.
No último disco, chegaram a gravar os versos finais por separado e depois os uniram ao resto da música. Gravavam um o, ele cantava aquele oooooooo e depois misturavam com o resto da bulería.

Paco (de Lucía) repetia vinte vezes as bases da canção e vinte vezes Camarón errava. "Mais uma, Camarón" -pediam e mais uma ele errava. Quando todos, os técnicos do som, os irmãos Lucía, os músicos e até os faxineiros do estúdio achavam que Camarón não fosse conseguir, ele soltava um tom que não era o que Paco nem Pepe tinham lhe-mostrado, mas ultrapassava todos em beleza e tensão rítmica.

Do livro "Camarón de la Isla, El dolor de un príncipe", de Francisco Peregil.
Versão para o português de Juan Trasmonte
Foto das mãos de Camarón de Jean-Marie Tinarrage

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