sexta-feira, 13 de junho de 2008

Revalorizar Gonzaguinha


Viver essa longa avenida de gás neon
Portas de ouro e prata
Falsos sonhos nessas noites de verão
Faces coloridas, farsas de alegria
Beijo sem sabor
Gestos clandestinos tontos e sedentos de amor
Espinhos, rosas, risos, pranto e tanto desamor
Corte, cicatrizes, gritos engasgados
Lágrimas de dor
Máscaras no rosto, continua a festa
No sorriso o sal
a orquestra geme as dores do palhaço
Triste marginal
Ai de quem mergulhar nesse mar de veneno
Nessa lama enfeitada, nesse sangue das taças
Temendo sofrer
Ai de quem quer negar esse mar de veneno
Mil vezes maldito na inconsciência
Das vidas à margem há de ser.

Gás Neon, de Luiz Gonzaga Junior

Freqüentemente a obra de Luiz Gonzaga Jr, o Gonzaguinha, foi etiquetada injustamente de depressiva, quando na verdade ela é densa. E essa é uma grande diferênça. Maria Bethânia compreendeu isso melhor e antes que ninguém. É o perigo de confundir lamento de corno com desamor. Gonzaguinha expressou o fim do amor como poucos na sua geração da música popular brasileira e, as vezes, essas dores estavam encravadas no contexto político hostil, como é o caso de Gás Neon, gravada no álbum Plano de Vôo, de 1975.

2 comentários:

Anônimo disse...

É verdade, na maioria das vezes mal interpretado, mas isso não me assusta muito, já fiquei até anestesiada pelas más interpretações das pessoas em relação a grandes artistas que se expressam de uma forma "densa" não depressiva de fato. Isso é um mal que acompanha o século XXI, e talvez seja até justificável: hoje ninguém presta mais a atenção no que ouve, lê, visita; simplesmente quer ouvir, ler, visitar; só pra dizer eu fui, eu vi eu li;

Mais coisas em menos tempo, acredito que seja esse o mal das más interpretações.


Parabéns pelo blog, este post me fez refletir bastante. Muito boa observação

Juan Trasmonte disse...

Você foi no ponto, Monique. Essa superficialidade é uma marca desse tempo.
Obrigado pela visita, a casa é sua.
Abs.