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sexta-feira, 8 de maio de 2009

A orelha de Van Gogh



Quem cortou a orelha de Van Gogh, não foi ele mesmo num ataque de loucura, foi Paul Gauguin depois de uma briga feroz. Pelo menos isso é o que sustenta uma nova teoria, desenvolvida pelos académicos alemães Rita Wildegans e Hans Kaufmann.
Depois de quinze anos de pesquisa, baseada principalmente em arquivos policiais, eles dizem que Vincent discutiu ferozmente com o amigo Paul na porta de um prostíbulo e, com um movimento certeiro do seu sabre, Gauguin decepou a orelha do colega, o que justificaria também a sua saída rápida de Arles depois do episódio.
Até agora, a história oficial afirmava que a briga existiu, mas que Van Gogh, num ato de demência, tinha se automutilado. Outra versão dizia que não era por causa da briga, que Van Gogh cortou a orelha num ato de desespero e a enviou pelo correio ao irmão Theo, para que este se convencesse do estado dele.
Essa nova tese na verdade não tem uma base factual, ou seja apesar do rigor, poderia não passar de uma fofoca académica. Mas o livro deles já está nas prateleiras europeias: A orelha de Van Gogh, Paul Gauguin e o pacto de silêncio.
A loucura de Van Gogh exerceu sempre um grande fascínio em outros artistas. O talento enorme somado à vida miserável, o cara que vendeu um quadro só enquanto vivo e que deixou antes do suicídio um bilhete com a frase "é o melhor para todos", foram elementos irresistíveis que motivaram desde a admiração até o canibalismo de historiadores e artistas.
Agora mesmo penso nesses historiadores que passam quinze anos atrás da orelha de Van Gogh e penso como a pesquisa histórica não é alheia à futilidade imperante.
Agora mesmo penso porque é que eu estou escrevendo sobre isso e não, por exemplo, sobre a apresentação da versão bilíngüe do Impressões do Carybé nas suas visitas ao Benin, que aconteceu hoje na Feira do Livro de Buenos Aires, com a presênça da viúva e da filha desse outro grande pintor argentino-baiano.
Talvez será porque Carybé fez da vida uma celebração e não cortou a própia orelha. E isso da menos ibope.



Autorretrato com a orelha cortada, de Vincent Van Gogh (1889)
Autorretrato, de Paul Gauguin (1889-1890)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Menos uma para os alemães


Conversava com meu colega e amigo franco-argentino Boris Reith na gravadora Random Records onde os dois trabalhamos. Não lembro bem por onde o papo ia, mas com certeza nas redondezas da música, as viagens, as diferênças culturais, as comidas e as bebidas, quando ele soltou a frase: “Encore une que les boches n’auront pas!”

- E o que é que é isso, broder?
- “Mais uma que os alemães não terão”

A frase passada de geração pra geração na cultura francesa, vem da época da guerra, da França ocupada pelo regime nazista. Boris me contou que muitas pessoas dizem isso ao abrir uma garrafa de vinho ou quando acabam de bebé-la. Esse gesto do cotidiano, que pode parecer mínimo, expressa o sentimento de uma nação na situação limite da guerra. Outras vezes escrevi sobre o assunto e não deixo de ficar impressionado na constatação de que grandes tragédias são maiores nas histórias mínimas.
O significado do vinho na cultura francesa e a possibilidade de arrebatar ao invasor o objeto de pertença, talvez digam mais que todas as armas. A resistência foi exatamente isso. Mostrar ao inimigo nas ações do dia-a-dia o que é a liberdade.
Exemplos como esse estiveram há pouco tempo representados aqui no blog, para dimensionar a ocupação na Geórgia; há dias apenas com o lance da sapatada no Iraque, entre outros casos.
Os artistas do cinema tem criado obras maravilhosas para dimensionar essas tragédias. Sugeri a Boris e abro o jogo aqui para assistir Roma, cidade aberta (Roma, cittá aperta), de Roberto Rossellini (1945), com a fantástica Anna Magnani, e O silêncio do mar (Le silance de la mer), de Jean-Pierre Melville (1949), este baseado no romance escrito na clandestinidade por Jean Bruller sob o pseudônimo de Vercors.
E Boris me contou que ainda hoje a vó dele atravessa a rua quando vem um alemão na direção contrária. O perdão é uma tarefa longa e complicada. Hoje na Espanha, foi retirado um dos últimos monumentos que ainda estava em pé do ditador Franco. E deu confussão entre os partidários dele e os outros. Franco morreu em 75. A Segunda Guerra acabou em 45. São décadas que se passaram, mas há feridas que continuam sangrando. Há de haver o perdão porque nada pode ser reconstruído sem ele. Mas também não pode haver condena para quem atravessou essas experiências e ainda condena, e não consegue perdoar.

Foto de Julia Pirotte de cidadãos marselheses da resistência escolhendo armas, em 1944

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Adanowsky, el ídolo



Ele aprendeu seus primeiros acordes de guitarra com George Harrison. E James Brown lhe ensinou como tem que mexer as cadeiras um autêntico roqueiro. Tem amigos estranhos, como Marilyn Manson. Um dia decidiu soterrar o piano no jardim da casa.
Nasceu no Chile mas mora desde criancinha em Paris, a terra onde tem seu quartel central o pai dele, o excêntrico cineasta e escritor Alejandro Jodorowsky.
Amanhã no Niceto Club, Adanowsky se apresenta pela primeira vez em Buenos Aires, junto com a banda The Gush.
O irónico crooner decadente se faz chamar de El ídolo. Um dos seus maiores sucessos, a musica Estoy mal (Estou mal) é um insólito hino da angústia existencial que diz: "Estou mal, infinitamente mal. E por que? É um mistério fatal".

Foto de Adanowsky de Sonia Sieff

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Cocteau por Fournol



"Le mystère a ses mystères. Les Dieux possèdent leurs dieux. Nous avons les nôtres, ils ont les leurs. C'est ce qui s'appelle l'infini".

O mistério tem seus próprios mistérios. E há deuses sobre deuses. Nós temos os nossos, eles têm os deles. Isso é o que se chama de infinito.

Jean Cocteau

Foto de Jean Cocteau de Luc Fournol

terça-feira, 25 de novembro de 2008

O pensamento humanista de Lévi-Strauss faz um século



"No longo praço, todo pensador célebre pode estar certo de duas coisas: de morrer e de ser considerado ultrapassado. É uma sorte quando a primeira coisa acontece antes da segunda".

O antropólogo e etnólogo francês Claude Lévi-Strauss estreitamente ligado ao Brasil, vai fazer cem anos no dia 28. E continua espalhando seu pensamento humanista.


Foto de Claude Lévi-Strauss em São Paulo, em 1935, do acervo pessoal
Foto atual de Philippe Caron

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Os medos de Hitchcock


- As pessoas não fazem mais do que perguntar porque me interessa tanto o crime. A verdade é que não me interessa, só me importa na medida em que afeta à minha profissão. Tenho terror da polícia. Eu tenho tanto medo que, em 1939, quando cheguei pela primeira vez nos Estados Unidos, me recusei a dirigir por medo de ser detido e multado. Ficava horrorizado só com a idéia de que me arriscar a dirigir um carro me deixaria exposto a situação semelhante dia após dia. Sou incapaz de suportar o suspense.

Ele deve ter percebido a surpresa no meu rosto, porque se apressou para explicar.

- O que eu quero dizer é que me resulta insuportável quando me toca. As pessoas diziam que talvez poderia transcender o medo da polícia abrindo a porta do meu subconsciente, onde ocultava-se uma psicose adqüirida durante a infância. Futuquei as minhas recordações e abri a porta em questão.
Eu era um pirralho e o meu pai mandou eu ver o delegado com um bilhete. Ele leu, começou a rir, e me trancou na cela por dois minutos. “Isso é para você ver o que acontece com as crianças más”. Essa era a idéia que o meu pai tinha de como me dar uma lição. Depois de ouvir minha história, todo mundo disse “Claro! Por isso você tem medo da polícia”. Infelizmente, o fato de jogar luz no incidente não serviu para me trazer alívio. Continuo me arrepiando de policiais.

O mestre do suspense, Alfred Hitchcock, em entrevista com Pete Martin, publicada no The Saturday Evening Post em 1957
Versão para o português de Juan Trasmonte
Foto de Alfred Hitchcock de Luc Fournol
(1955)

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Serge Gainsbourg 80



O ano está quase jogando a toalha e na França continuam as homenagens a Serge Gainsbourg. É porque o eterno Gainsbarre teria feito 80 anos em abril desse 2008.
Considerado o artista francês do século vinte por excelência, e por rebeldia, e por atitude e por ser francês até o osso.
No finalzinho de 2007 foi lançado o Dictionnaire Gainsbourg, onde Jean-William Thoury coleta o universo do escritor, cantor, cineasta, ator, poeta e bebum. Já em 2008, o desenhista Joann Sfar anunciou o início das filmagens do biopic Vie heroïque. E na Cité de la Musique, em Paris, com a presênça da amada Jane Birkin e a filha Charlotte, começou a mostra Gainsbourg 2008, o panorama definitivo sobre a vida e a obra do artista que inclui instalações, manuscritos, sons e muitas das melhores fotografias da figura.

Foto de Serge Gainsbourg na banheira de Xavier Martin
Foto de Serge Gainsbourg com câmera de Pierre Terrasson
E finalmente, Serge Gainsbourg convida Whitney Houston pra fazer a porcaria

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Le Clézio


Durante anos eu não conheci outra coisa que não fosse o pequeno quintal da casa e a voz de Lalla Asma gritando meu nome: «Laila!». Como eu disse, não sei qual é o meu verdadeiro nome, mas tenho me acostumado com o que me pôs minha senhora, como se fosse o que minha mãe escolheu para mim. Mas também penso que algum dia alguém vai me chamar pelo meu verdadeiro nome e que então me estremecerei e o reconhecerei.
Lalla Asma também não era o verdadeiro nome da minha senhora. Ela chamava-se Azzema e era judia espanhola. Quando explodiu a guerra entre os judeus e os árabes, no outro extremo do mundo, ela foi a única que não abandonou o Mellah. Ficou trancada atrás da grande porta azul e se recusou a sair. Até que uma noite eu cheguei e tudo mudou na vida dela.
Eu a chamava as vezes de «senhora» e outras de «vó», porque ela foi quem me ensinou a ler e escrever em francês e em espanhol, me iniciou no cálculo e na geometria e me transmitiu as bases da religião -a dela, na que Deus não tem nome, e a minha, na chama-se Alá-. Ela lia para mim passagens dos seus livros sagrados e me ensinava tudo que eu não devia fazer, como assoprar sobre o que a gente vai comer, por o pão virado ou limpar as partes íntimas com a mão direita. Ela me dizia que há de se dizer sempre a verdade e lavar todos os dias dos pés à cabeça.
Em troca, eu trabalhava para ela da manhã até a noite no quintal, passando a vassoura, cortando lenha para o fogão ou lavando roupa. Eu gostava muito de subir no teto para estender a roupa: de lá eu via a rua, os tetos das casas vizinhas, as pessoas que passavam, os carros e inclusive um pedaço do grande rio azul. Desde lá os ruidos pareciam-me menos terríveis. Eu achava que estava fora do alcance de todos.
Quando ficava muito tempo no teto, Lalla Asma gritava meu nome desde o grande quarto cheio de almofadas onde ela ficava o dia inteiro. Me dava um livro para que eu lesse ou bem fazia ditados e me perguntava coisas das lições anteriores.
Como recompensa, me deixava ficar com ela na sala e colocava os discos dos seus cantores preferidos: Um Kalsum, Said Darwich, Hbiba Misika, e especialmente Fayruz, com voz grave e rouca dele, e a formosa Fayruz Al Halabiyya, que canta Ya Kudsu. Toda vez que ela ouvia o nome Jerusalém, Lalla Asma começava a chorar.

O peixe dourado (Poisson d'or, 1999) (fragmento), de Jean-Marie Gustave Le Clézio, prêmio Nobel de Literatura 2008, escritor do desarraigamento que se diz orgulhosamente metade francês e metade da Ilha Maurício; e que sustenta que o romance é "o melhor sistema para entender o mundo"
Versão para o português de Juan Trasmonte
Foto de Le Clézio da Agência AFP

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sexta-feira non sancta (IX)


O lado menos pensado da pensadora Simone de Beauvoir, em foto roubada por Art Shay em Chicago em 1952, quando o grande Art era apenas um fotógrafo iniciante da Life Magazine. A foto, cobiçada por colecionistas, foi publicada com um escandaloso photoshop no Le Nouvel Observateur em janeiro desse ano. Isso motivou uma crónica de Art para contar a sua verdade da história. Segundo ele, a escritora ouviu os cliques da Leica, mas não se preocupou em cobrir seu corpo. Só disse: "você é um rapaz malvado".

Foto de Simone de Beauvoir (sem photoshop) de Art Shay

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Os dez mais da Geração Paissandu


Jeanne Moreau, belle em Jules e Jim


Inesquecível Gian Maria Volonté


Plus belle Jean Seberg em Acossado


Jean-Luc Godard, o cara


Cinzas e diamantes, obra capital de Wajda

1. Cinzas e diamantes (Popiól i diament), de Andrzej Wajda (1958)
2. Acossado (À bout de souffle), de Jean-Luc Godard (1959)
3. O ano passado em Marienbad (L'Année derniere à Marienbad), de Alain Resnais (1961)
4. Jules e Jim, uma mulher para dois (Jules et Jim), de François Truffaut (1961)
5. Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha (1964)
6. Alphaville, de Jean-Luc Godard (1965)
7. O demônio das onze horas (Pierrot le fou), de Jean-Luc Godard (1965)
8. A chinesa (Le chinoise), de Jean-Luc Godard (1967)
9. Weekend à francesa (Weekend), de Jean-Luc Godard (1968)
10. A classe operária vai ao paraíso (La classe operaia va in paradiso), de Elio Petri (1971)

Segundo consta no livro Geração Paissandu (Editora Relume Dumará, 1996), do jornalista Rogério Durst, esses são os dez títulos preferidos pelo público do agora desaparecido cinema do bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. O autor define aquele local como um "ninho de moços ávidos por informação e socialização", cujo apogeu se deu no espaço entre ditaduras, que foi de 1964 a 1968, nas épocas em que bastava com uma idéia e a câmera na mão. A única exceção da lista é o filme italiano de Petri.
Vocês encontram aqui meu texto sobre o fechamento do Cine Paissandu.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Por falar em verso


As palavras
por enquanto
são o único que eu tenho
nem uma webcam eu tenho
pra não ter que adivinhar
seu olhar
ah, verdade
a distância
também eu tenho
mas no fundo
da pele da carne
da vela da pouça
do pouso
as palavras
são o único que eu tenho

por tanto
que te dói
por tanto
te dou
tudo o que tenho.

Por falar em verso, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto de
Jean François Bauret

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Para a vida inteira


O seu amor não era
para a vida inteira

agora vale tudo agora
tremedeira bebedeira
carnaval já era quarta-feira
fim de noite quinta-feira
fim de feira
porque

o seu amor não era
para a vida inteira.

Para a vida inteira, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto de Yves G. Noir

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Centenário de Cartier-Bresson


Olhe, observe, não respire, aperte o disparador e continue andando.


Me dar tempo foi o único luxo que eu me permiti na vida. As pessoas apressadas são miseráveis.


Eu vejo o que os outros não vêem. Eu olho e olho. Escutar para mim é difícil, mas nunca deixo de olhar.


Minhas fotos refletem o caráter universal da natureza humana. Uma das grandes vantagens do talento e da experiência é atingir a simpleza, essa sabedoria que se afasta do pedantismo para chegar no essencial.


Eu gosto de rostos, do que significam, pois tudo está escrito neles.

Hoje é o centenário do nascimento do fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson. Reporter fotográfico do século vinte, ele desenvolveu o conceito do "instante decisivo" em que uma foto é tirada, aquele em que, segundo ele, o coração, a cabeça e o olho estão na mesma linha.
A primeira foto mostra três homens olhando por cima do Muro de Berlim. A segunda é a sua famosa instantânea do campo de concentração de Dassau, na Alemanha; a terceira mostra o rezo de mulheres na India pela morte de Gandhi, o mahatma; a quarta é toda uma definição da revolução sexual dos anos sessenta, com o advento da minisaia.
Agora que o universo digital democratizou as imagens, é bom parar um momento e valorizar o "instante decisivo".




quarta-feira, 30 de julho de 2008

Os sessentinha de Jean Reno


"Eu não faço publicidade nem filme pornô"
Essa foi a frase pronunciada pelo ator francês da origem espanhola Jean Reno quando foi chamado para o seu primeiro papel no cinema, em 1979. Só que quem estava do outro lado era o diretor Costa Gavras!
Nascido em Casablanca, Marrocos, onde seus pais espanhóis tinham se exilado por causa da ditadura franquista, seu nome de batismo é Juan Moreno Herrera Jiménez.
Depois daquelas pontinhas, ele conheceu Luc Besson e virou seu ator fetiche. Com mais de cinqüenta filmes realizados, hoje é provavelmente junto com Depardieu o ator francês mais popular no mundo.
Se bem ele fez há pouco tempo uma publicidade de cigarros pro Japão, ele continua firme nas suas convicções: diz que o ator é uma ferramenta dos diretores, que não quer virar um produto e que o lugar onde os atores vivem é nos olhos do público.
O grande Jean hoje faz sessentinha.

Foto de Jean Reno no filme de 2004 L'empire des loups

sexta-feira, 27 de junho de 2008

O sonho de Ibrahim


O projeto do Buena Vista Social Club, criado por Ry Cooder e depois filmado por Wim Wenders, deu projeção internacional para vários artistas cubanos excelentes. O caso emblemático foi o de Ibrahim Ferrer porque ele tinha caído no esquecimento até na ilha.
Cantor de orquestras em casinos e teatros, Ibrahim teve antes de subir a oportunidade de ser conhecido e reconhecido pelo público. Conseguiu gravar seu primeiro disco solo e depois cumprir o velho sonho de gravar um disco só de boleros, ritmo cubano por excelência, com as músicas que ele mais gostava de cantar na noite.
Publicado agora, Mi sueño acabou sendo sua obra póstuma. Ibrahim não assistiu ao resultado, mas o sonho já estava cumprido.

Foto de Youri Lenquette

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Lembrança de Michel Simon


Fim do dia
pra onde é que vai a vida
minha vida
no fim do dia
será que vem o boi da cara preta
será que não vou mais estar aqui
quando outro dia amanheça
ora se ela for embora agora
fim do dia
o céu está ficando mais escuro
escuto os aviões estão partindo
as árvores mais quietas
do que antes
a pele está mais seca
do que hoje
um cheiro de suor passou na esquina
fim do dia
e as luzes não acendem
fim do dia
pra onde vai a vida
minha vida.

Lembrança de Michel Simon, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto do filme La fin du jour, de Julien Duvivier. Na cena, Michel Simon e Louis Jouvet

domingo, 15 de junho de 2008

O Maio Francês segundo The New York Times


"É proibido proibir"; "Permite-se fumar... maconha". Com frases desse tom nas paredes e bandeiras vermelhas nos telhados La Sorbonne continua ocupada pelos estudantes. A revolta se espalhou por nove universidades.
O sistema de educação superior se encontra em completo caos, com estudantes dando aulas em lugar de assisti-las. As autoridades universitárias perderam o controle sobre os alunos e, em alguns casos, sobre os prédios. Estudantes e professores discutem uma reforma universitária sobre bases totalmente novas.
Enquanto isso, o governo francês enfrenta uma enérgica moção de censura no parlamento, que produzirá um forte impacto no regime de De Gaulle.
Universitários extremistas lançaram a idéia de acabar com o sistema de provas e franquear aos operários todas as unviersidades.
Os programas seriam decididos pelos estudantes e os trabalhadores.
As provas que devem ser aplicadas daquí a pouco terão de ser adiadas, pois junto com a reforma universitárias os estudantes exigem a demissão do Chefe da Polícia de Paris, e dos ministros da Educação e do Interior.
O Teatro Odeon, um dos principais de Paris, foi fechado pelos estudantes, que colocaram um cartaz na porta: “Nas circunstâncias atuais o Odeon está fechado aos espectadores burgueses”.
Os dirigentes da ala extremista estudantil se comprometeram para levar a revolta às casas e às fábricas “até que uma revolução permanente consiga destruir a opulenta sociedade francesa”.
Nenhuma destas organizações parece ter vínculos com o comunismo convencional. O verdadeiro estandarte que preocupa hoje à Europa é a bandeira preta do anarquismo.

Escrito em 1968 por C.L. Suzberger, correspondente em Paris do jornal The New York Times, versão para o português de Juan Trasmonte.



Mostra dos famosos graffitis escritos pelos estudantes franceses

- Todo mundo quer respirar e não pode. Muitos dizem vou respirar depois. Muitos não morrem porque já estão mortos.
- Eu declaro o permanente estado de felicidade.
- É proibido proibir
- Não queremos um mundo onde a certeza de não morrer de fome traga o risco de morrer de tédio.
- Corre camarada, o velho mundo te persegue.
- Debaixo do asfalto está a praia.
- Não mudemos de chefe. Mudemos de vida.
- A poesia está na rua

Na primeira foto, um dos muitos confrontos dos estudantes com a polícia. Na segunda foto, de Jacques Haillot, o líder do movimento, Daniel Cohn-Bendit.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O que deixou Dino Risi




Foi um cinema que confirmou que os italianos foram os grandes mestres do costumismo. Essa geração que em parte vinha do neorrealismo e que foi se juntar com os que surgiram depois, como Monicelli e Scola, teve em Dino Risi um fiel representante.
Cultor da commedia all'italiana, Risi tinha o dom de expor as sombras da sociedade num contexto de absurdo. Eram aqueles filmes em que a gente ficava rindo até ficar sem graça da própria risada porque o contexto, de repente, tinha virado patético. Poveri ma belli, Caro papá, Il sorpasso e Una vita difícile são exemplos desse cinema cheio de entrelinhas e ao mesmo tempo popular que permitiu o luzimento de atores como Vittorio Gassman e Alberto Sordi.
O velho Dino morreu com 91 anos. Dirigiu 80 filmes, o último aos 88 anos.

Foto do diretor Dino Risi no set. Na segunda foto, cena de Il Sorpasso (1962), com Vittorio Gassman e Jean-Louis Trintignant

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Jehro



I woke up this morning
Hunger was gnawing my soul
But the preacher man's sermon
Won't put no food in my bowl

Abidjan to Monrovia
Looking for food and a home
Instead I found factions and armies
In the middle of a combat zone

I want love, I need love
I want loveI want love,
I need love,
And a little food in my bowl

Here in this tribal warfare
For food you need money or a gun
I signed up - whose side I don't care
At least now I'm someone

At parade time the grown-ups are cruel
And all of the soldiers are small
Commanders and captains and colonels
All kids with their backs to the wall

I want love, I need love
I want loveI want love,
I need love,
And a little food in my bowl

They told me I'm joining a family
But here I ain't nobody's son
My brothers are right here beside me
We share our hunger and we share our gun

Tomorrow we start the offensive
Been drinking palm wine all day
Grigrimen can keep us from bullets
But hash won't keep hunger at bay

I want love, I need love
I want loveI want love,
I need love,
And a little food in my bowl

When it's time the small soldiers march forward
When one falls the next takes his gun
Four to one AK47
I was number three but now I'm gone

Our future is dying right here
Children only ten years old
In this tribal colonial nightmare
We're reaping the seeds you have sown
We're reaping the seeds you have sown

We want love, we need love
All of us want love
We want love, we need love
And a little food in my bowl

I want love, de Jake Bailey e Jehro

Nascido Jérôme Cotta, de padre francês e mãe mistura de grega com italiana com corsa, o cantor e compositor Jehro atravessou a poça d'água e foi parar em Hammersmith, o bairro de Londres que reune à boemia e os artistas. Aí aprendeu reggae do bom com os jamaicanos e ritmos do Caribe com os hispánicos. Esse seu último album, que leva seu nome, gravado em inglês e com duas músicas em espanhol, não tem um acorde nem uma vírgula a mais. Redondo em letra e música é daqueles poucos que ainda você coloca e ouve do começo ao fim, aqueles que ainda ressistem à ansiedade do pulo.

sábado, 3 de maio de 2008

Malik e Jaime nas alturas


O tour de apresentação do album Altiplano foi encerrado na quinta-feira em Buenos Aires. Vivemos momentos de muita emoção pela satisfação do dever cumprido. Não é simples fazer parte de um projeto que involucra Jaime Torres, o mestre do charango, um músico argentino de folclore; Magic Malik, um flautista de free jazz francês de origem africana e Minino Garay, um percussionista argentino radicado na França há duas décadas.
E a empresa foi gravar na França, fazer show em París, viajar todo mundo pra Argentina, fazer show em Buenos e mais seis cidades daqui e voltar a Buenos Aires pra fechar o show. Enquanto isso, o disco devia estar pronto e distribuído nas datas certas, na França e aqui.
Deu tudo certo mas, como essa foto que tirei desde o palco mostra, tudo volta ao começo: na gênese está o encontro humano em comunhão artística.