terça-feira, 29 de abril de 2008

Wilde entrevista Wilde


- A que coisa atribui o senhor o fato de que tão poucos homens de letras estejam escrevendo peças para serem apresentadas ao público?

- Em primeiro lugar à existência da censura irresponsável. Que a minha Salomé não possa ser representada é prova suficiente da insensatez de semelhante instituição. (...)
Em segundo lugar ao boato persistentemente difundido fora do pais pelos jornalistas nos últimos trinta anos, no sentido de que o dever do autor teatral é agradar o público. A arte tem como objetivo tanto procurar prazer quanto dor. O objeto da arte é ser arte. Como tenho dito em alguma ocasião, a obra de arte deve dominar o espectador e não o espectador à arte.
- O senhor não admite exceção nenhuma?
- Admito sim. Os circos, onde aparentemente os desejos do público ficam razoavelmente satisfeitos.

Grande criador de frases -poderia colocar aqui uma a cada dia- Oscar Wilde é lembrado por muita gente mais por essa condição do que pelo conhecimento da sua obra.
Em 1895 ele escreveu junto com seu assistente Robert Ross uma entrevista a si mesmo, que foi publicada no Saint Jame's Gazette. No texto inteiro ele sacaneia os jornalistas ingleses com essa facilidade infinita que tinha para provocar. Inclusive Wilde elogia aos jornalistas franceses só pra chatear. Deixo aqui um fragmento dessa entrevista, onde o irlandês ensaia mais uma definição da arte.
Esse foi o ano em que Wilde caiu em desgraça: sua peça Salomé foi traduzida por ele ao francês quando a estreia foi proibida no território britânico por "indecente". Depois a história conehcida, foi processado pelo Marquês de Queensberry, pai do jovem amante dele, enviado à prisão por dois anos. O escritor viveu seus últimos tempos no exílio parisino.

Foto de Napoleon Sarony

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