A tecnologia digital, como qualquer outra tecnologia ligada à era do consumismo, precisa ser pensada como uma matriz finita, e bem limitada, de um número de itens que você pode permutar em outros. É notório que Henry Ford insistiu em pintar todos os seus Ford T de preto, ele ainda estava inserido na “era das coisas sólidas”, que acreditava que os produtos são feitos para satisfazer firmes e imutáveis necessidades. Ford achava que seus carros serviam apenas para o óbvio ir e vir. Não é Henry Ford, e sim Alfred Sloane, da General Motors, que merece ganhar os créditos de profeta precursor do consumismo líquido moderno - graças à sua concepção de que os carros devem servir para inúmeras necessidades. Necessidades que a maioria das pessoas nem imaginava que existia - como, por exemplo, ganhar distinção social, impressionar e humilhar amigos e vizinhos ou ganhar popularidade com o sexo oposto... Com o enfraquecimento e a quebra dos laços sociais e a diminuição da duração das posições sociais, “identidade individual” se tornou a preocupação diária para um número cada vez maior de pessoas, e quaisquer necessidades a serem satisfeitas ou qualquer produto a ser consumido deve realizar o desejo por individualidade - o que agrega valor ao que for consumido. Identidade individual, como qualquer sonho humano, precisa estar disponível nas lojas, o que de fato tem ocorrido.
Zygmunt Bauman, que aos 83 anos continua curioso com seu olhar agudo sobre as asneiras humanas, fragmento de entrevista em 2005
Zygmunt Bauman, que aos 83 anos continua curioso com seu olhar agudo sobre as asneiras humanas, fragmento de entrevista em 2005
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