sábado, 12 de abril de 2008

Bauman no mundo líqüido


A tecnologia digital, como qualquer outra tecnologia ligada à era do consumismo, precisa ser pensada como uma matriz finita, e bem limitada, de um número de itens que você pode permutar em outros. É notório que Henry Ford insistiu em pintar todos os seus Ford T de preto, ele ainda estava inserido na “era das coisas sólidas”, que acreditava que os produtos são feitos para satisfazer firmes e imutáveis necessidades. Ford achava que seus carros serviam apenas para o óbvio ir e vir. Não é Henry Ford, e sim Alfred Sloane, da General Motors, que merece ganhar os créditos de profeta precursor do consumismo líquido moderno - graças à sua concepção de que os carros devem servir para inúmeras necessidades. Necessidades que a maioria das pessoas nem imaginava que existia - como, por exemplo, ganhar distinção social, impressionar e humilhar amigos e vizinhos ou ganhar popularidade com o sexo oposto... Com o enfraquecimento e a quebra dos laços sociais e a diminuição da duração das posições sociais, “identidade individual” se tornou a preocupação diária para um número cada vez maior de pessoas, e quaisquer necessidades a serem satisfeitas ou qualquer produto a ser consumido deve realizar o desejo por individualidade - o que agrega valor ao que for consumido. Identidade individual, como qualquer sonho humano, precisa estar disponível nas lojas, o que de fato tem ocorrido.

Zygmunt Bauman, que aos 83 anos continua curioso com seu olhar agudo sobre as asneiras humanas, fragmento de entrevista em 2005

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