terça-feira, 21 de outubro de 2008

Carta de amor de Fidel Castro



Janeiro 31 de 1954

Minha cara Natty:
Tuas cartas breves são também muito bonitas, e como elas vêm com mais freqüência eu as prefiro. A alegria de uma carta não consiste só no conteúdo quando a gente está preso, mas também na chegada de um envelopinho conhecido que esperamos com carinho e impaciência.
Todas as tuas cartas são sempre amenas, interessantes e gratas; incansavelmente prazerosas. As formas delas são variadas como essas estrelinhas que parecem brilhar com uma luz diferente a cada dia. Mas se você escrevesse um mesmo parágrafo cem vezes, eu gostaria do mesmo jeito da última do que da primeira.
Olha, já que eu falei de estrelas: qual a diferênça entre um raio de luz e um outro raio de luz? Nenhuma. Porém, neles sempre há uma cor diferente. Um beijo é igual a um outro beijo, mas os amantes não cansam nunca. Há frases que são beijos, há um mel que jamais enjoa. Esse é o segredo das tuas cartas.
Fazia dias que eu estava por te pedir para que de vez em quando deixasses a máquina e escrevesses à mão. Você pode fazer com as mais curtinhas para não levar muito tempo. Adoro os traços da tua letra delicada, feminina, inconfundível (...).
Não interessa que eu demore mais em te dar um abraço apertadíssimo, tão forte que eu te esprema como uma flor entre as mãos, não foi preciso te ver para que agora eu deseje mais do que faz meses, tão só através da maravilhosa graça e o aceso carinho das tuas cartas, breves ou longas.

Carta de Fidel Castro a Natty Revuelta
Versão para o português de Juan Trasmonte
Foto de Fidel preso do arquivo Bettmann/Corbis
Foto de Natalia Revuelta e a filha Alina de autor desconhecido


Quando ainda era um jovem com idéias revolucionárias, Fidel Castro viveu uma grande paixão com Natalia Revuelta, conhecida como Natty. A história foi secreta, pois Fidel estava preso após a tentativa frustrada de assalto ao Moncada e Natty estava casada com um membro da burguesia cubana.
Com uma escrita poética, ao gosto de Che Guevara, ou seja, "sin perder la ternura jamás", o futuro comandante expressa o seu amor através de metáforas sobre o comprimento das cartas e o estilo da letra da mulher amada.
Do relacionamento nasceu em 1953 Alina Fernández Revuelta, que depois virou inimiga do pai e foi para Miami. Natty continua morando na ilha.

7 comentários:

regina claudia brandão disse...

e o seu resgate??? fudidaço!!!
sou apaixonada por aquele quarteto nipônico ... eu era cliente de uma locadora, cujo dono era prestimoso e de muito bom gosto. escolhia os filmes pra comprar, com todo cuidado. ai, nos finais de semana quando os trouxas pegavam os filmes de ponta e a locadora ficava desfalcada dos american movies babacas. ele então mandava a gerente abastecer com filmes de pouca, ou nenhuma procura. vi cada coisa que vc nem acredita ... dentre eles, os noir do akira kurosawa etc etc etc .....

regina claudia brandão disse...

mesmo que não estivessem na prateleira, nos finais de semana, se eu fosse durante a semana eu ia atrás do balcão ou num deposito, pra escolher os filmes boooooons!!!

beijo.

vou melhorar aquela foto .... dar um banho de adobe nela .... sabe que vc tem razão???? tb achei!!!! rsrsr

Marcio Sarge disse...

É por isso que adoro fuçar no passado, por vezes trás essas ótimas surpresas.

Daniela Figueiredo disse...

Juan:
Fidel é um galanteador! Até desejei receber uma carta assim, hahaha. Adorei o post, surpreendentemente encantador!
Beijos.

Janaina Amado disse...

Juan,
Grata supresa, esta carta de amor, tão terna e bem escrita, de "el comandante". Não conhecia, obrigada!

Anônimo disse...

Acho que Fidel escribe ao amor mais que a nenhuma pessoa. E isso. Bj

Juan Trasmonte disse...

Agradeço todos os comentários. Além desse lado romântico de Fidel, é interessante o momento histórico, com ele no cárcere, antes da revolução.