sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A cantora Saba traz a diáspora africana na voz


A casa de Saba, de grandes janelas, dava para o mar e tinha um morro nas costas. Era uma pequena vila em Somália. Ela lembra que atrás do morro começava o deserto de terra vermelha e que havia palmeiras na praia.
Quando a maré baixava ela saia com sua mãe e sua irmã caçula para andar na areia. Saba era nascida em Mogadíscio e a mãe que lhe contava histórias no luar, em Etiópia.
O pai de Saba era um italiano que tinha por lá uma agência de turismo. Ela tinha cinco anos quando a coisa ficou feia. Somália era uma colónia italiana e por ciclos não se dava bem com Etiópia.
Um italiano casado com uma etíope na Somália? Só podiam ser espiões, ele dos Estados Unidos e ela da Etiópia. Uma noite foram pegar ele na casa. Apesar de que só tinha cinco anos, Saba lembra muito bem da angústia dessas horas. O pai foi solto, mas o casal e as duas filhas tiveram dois dias para abandonar Somália e ir pra Itália.
As pessoas são o resultado da própria trajetória. Saba compõe e canta suas músicas na língua materna, um dialeto somali falado num setor de Mogadíscio. A obra dela está atravessada pelo choque e pelo encontro cultural entre a Africa e a Europa.
Seu álbum Jidka (The line) é definido por ela como a linha que divide seu ventre em dois partes, uma clara e outra escura. Mas é impossível não associar à palavra ao seu outro significado, que é fronteira. Porque Saba, essencialmente, pratica um retorno à terra da sua infância e mescla isso com os sons que vieram depois. Vejam que lindo.

Foto de Saba no estúdio com seu antigo parceiro, o camaronês Tatè Nsongan, que também tem um historial de trabalho musical na busca de conexão entre culturas

2 comentários:

Carolina Z disse...

Juan! Obrigada pela excelente dica oferecida na bandeja de prata de suas palavras! Vou atrás dela! Abraco, Carolina.

Juan Trasmonte disse...

Eu te agradeço a visita, Carolina!
Beijos