1. Iracema (Chico Buarque)Uma moça do Ceará que, como tantas, vai atrás do american dream. Exílios modernos que freqüentemente já não são por motivos políticos mas por ilusões, as vezes vãs, de prosperidade financeira. Iracema “lava chão numa casa de chá” enquanto ambiciona estudar canto lírico. Destaque: “Uns dias, afoita,me liga a cobrar: ‘É Iracema da América’ ”.
2.Clandestino (Manu Chao)Essa música virou hino dos “sem papeis”, a enorme masa de exilados que tem que sobreviver em terra estrangeira fugindo das autoridades. Para quem já esteve em algum lugar pelo menos um dia com o visto vencido faz um significado especial. Destaque: “Soy una raya en el mar, fantasma en la ciudad. Mi vida va prohibida, dice la autoridad”
3.Corrandes d'exili (Quadras do exílio) (Pere Quart-Lluís Llach)Um catalão da resistência deve atravessar a fronteira com a França nos tempos da ditadura franquista. De uma beleza comovente, como só o Lluís Llach consegue cantar nessa língua. Deixo a versão de Ovidi Montllor (que não é o compositor como diz na tela), num
clipe pavoroso Destaque: “Para que nos-perdõe a guerra que a quebra eu me deito e beijo a terra, antes de cruzar a fronteira”
4. Maria Bethânia (Caetano Veloso)História que o próprio Caetano contou inúmeras vezes. Da época do exílio londrino, quando pediu em forma de canção para a irmã Bethânia que lhe-escrevesse uma carta. Destaque: “Maria Bethânia, please send me a letter I wish to know things are getting better”
5. Foreigner Suite (Cat Stevens)Uma música de amor e liberdade composta por alguém que sabe bem do que está falando. Lembrei dessa música por causa do belíssimo retrato que
Regina escreveu sobre Cat Stevens há poucos dias. O atual Yusuf foi na época pra Jamaica para fazer esse disco que não foi bem recebido pela crítica, com essa suite que durava o lado A inteiro, na época em que o que se esperava dele era belas melodias de três minutos. Destaque: “Why wait until it's your time to die before you learn what you were born to do?”
6. Un español habla de su tierra (Luis Cernuda – Paco Ibáñez)Maravilhoso poema do grande Luis Cernuda, musicado pelo também grande Paco Ibáñez. A ditadura de Franco, que desterrou a tantos e que pareceu eterna em seus quarenta anos. Destaque:
“Amargos son los días de la vida, viviendo sólo una larga espera a fuerza de recuerdos”.7. Caballo que no galopa (Horacio Guarany)
E assim como muitos espanhóis vieram pra Argentina nos anos de Franco, ná década de setenta foi a vez de muitos argentinos procurarem abrigo na Espanha. O cantor de folclore Horacio Guarany, perseguido e ameaçado de morte, fez várias músicas dolorosamente belas na Espanha, algumas com letra do poeta também perseguido Armando Tejada Gómez. Uma declaração explícita de política de quem opta por estar longe antes do que “vender” seu violão. Destaque: “Soy jinete de la noche, voy galopando hacia el alba, ando lejos de mi tierra por no vender mi guitarra”.
8. Exile (Geoffrey Oryema)A obra toda do cantor e compositor ugandês Geoffrey Oryema está atravessada pela dor do exílio. A Uganda do Idi Amin cobrou, entre muitas, a vida do próprio pai de Geoffrey. Foi o início de um longo desarraigamento. Destaque: Bom, se tiver algum ugandês na área que ajude a traduzir a letra, eu agradeço.
9. Los olímpicos (Jaime Roos)Como todo pais pequeno, o Uruguai tem destino de criar seus filhos e vê-los irem embora. Essa belíssima música de murga carnavalesca, que identifica a tantos uruguaios que moram no estrangeiro, está focada perto das festas do final do ano, datas especialmente difícis para exilados. Já com a perspectiva dos ensaios do carnaval o autor se interroga sobre onde foram parar tantos uruguaios. A música destaca também essa zona cinza onde já nem voltar nem ficar fazem sentido. Destaque: “Volver no tiene sentido, Tampoco vivir allí, El que se fue no es tan vivo, El que se fue no es tan gil”
10. Cuando me acuerdo de mi país (Patricio Manns)Depois da queda de Salvador Allende, o Chile suportou a mais cruenta ditadura da sua história. Patricio Manns foi um dos artistas populares que melhor expressou essa mistura de dor e raiva que está no dia-a-dia dos exilados por motivos políticos. Versão belíssima de
Mercedes Sosa, que mudou na gravação do disco o verso “desperto fuzil” por “desperto cravo”. Destaque: “Cuando me acuerdo de mi país me muero de pan, me nublo y me doy”.
Bonus track: Volver (Carlos Gardel-Alfredo Lepera)No final do filme El día que me quieras, Gardel canta
Volver. O filme foi lançado em 1935, pouco depois da trágica morte do cantor. Os lindos versos de Lepera -responsável pelas letras de muitos sucessos de Gardel- refletem a dor de quem volta para constatar que nada será como antes. O verso “veinte años no es nada” ficou no imaginário popular argentino a até hoje é dito como metáfora da rapidez do passar do tempo.
Vocês sabem que o que eu chamo de vida estrangeira é um dos assuntos centrais desse blog. Então aqui uma lista com algumas músicas que expressam os sentimentos de tantas pessoas que cada dia abandonam a terrinha. Se alguém precisar de tradução para as frases em espanhol, é só gritar. Como eu sempre digo, a ordem das músicas listadas não indica valor.Foto de Cat Stevens do arquivo da revista Rolling Stone
Foto de Jaime Roos do jornal El País
Foto de Horacio Guarany do jornal Clarín (maldito costume que têm esses jornais de não colocar o autor da foto)
Foto de Manu Chao de Alexa Brunet