segunda-feira, 14 de maio de 2007

Augusto dos Anjos



No meu peito arde em chamas abrasada
a pira da vingança reprimida,
e em centelhas de raiva ensurdecida
a vingança suprema e concentrada.

E espuma e ruge a cólera entranhada,
como no mar a vaga embravecida
vai bater-se na rocha empedernida,
espumando e rugindo em marulhada.

Mas se das minhas dores ao calvário,
eu subo na atitude dolorida
de um Cristo a redimir um mundo vário,

em luta co’a natura sempiterna,
já que do mundo não vinguei-me em vida,
a morte me será vingança eterna.

Soneto de Augusto dos Anjos

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