Ter um irmão mais velho é fundamental na formação musical da gente. Quando eu era criança, ao mesmo tempo que ouvia aquelas musiquinhas bobas que as crianças ouvem, também começava a conhecer a música que, não fosse por ele, só iria descobrir muito tempo depois.
Irmão mais velho é tudo, menos na hora da briga, onde a desigualdade de forças fica evidente.
Em casa a disputa pelo aparelho de som durou até que eu comecei e perceber que os discos que o meu irmão colocava eram bem mais legais que os meus. O paso seguinte foi passar a pedir emprestados aqueles discos que era o mesmo que testar a paciência dele. Mas ele, como qualquer melómano, era fiel e obsessivo. Eu só podia deixar que ele colocasse e pedir pra ele virar de lado quando chegava ao fim. Porque, claro, com vinil era assim, lado A e lado B e nada de controle remoto.
Meu irmão também usava parte da sua mesada para comprar a revista Pelo (em espanhol, cabelo), que era a leitura obrigatória de todos os amantes do rock. Aliás, por muito tempo foi a única revista especializada. Um dia eu escrevo um texto só para falar daquela revista, mas o caso é que eu devorava a Pelo, também emprestada. Nem pensar em ter direito aos posters que com ela vinham.
E assim foi como, ainda criança, conheci esses artistas maravilhosos da década de setenta. Mas essa longa introdução o que tem a ver com o sujeito da foto acima? Tudo. Porque quando Peter Frampton estourou com Baby, I love your way e Show me the way, eu já conhecia a figura, ele era o ótimo guitarista do Humble Pie de Steve Marriott.
E a questão não é ressalvar que eu seja um visionário ou coisa parecida mas fazer uma diferênça, porque esse sucesso do Frampton estava mais associado a uma estrela pop do que a um roqueiro. O disco Frampton Comes Alive chegou aqui em 1977, um ano depois do estrondo que começou nos Estados Unidos. Sim, porque na época, quase todas as novidades musicais demoravam pelo menos um ano para chegar a esse quintal da civilização que é a América Latina, como se elas viessem de navio. E isso se a gente tinha sorte, porque muita coisa boa ficava perdida no oceano.
Quando eu, já menos criança, comprei o compacto do Baby, I love your way, o artista com sua baby face, aparecia nas revistas femininas para adolescentes. Era a estrelinha da hora. A questão então foi ir atrás do disco duplo. E lá estava o ótimo guitarrista do Humble Pie que a revista Pelo anunciara.
Nesse disco fundamental, Peter Frampton estava acompanhado pelo baterista John Siomos, o guitarrista e tecladista Bob Mayo (os dois já subiram) e Stanley Sheldon no baixo. O trabalho está atravessado por músicas amigáveis ao ouvido e a guitarra fantástica do inglês, que ainda trazia a novidade do talk-box. Na época, com os colegas, diziamos que Frampton “faz a guitarra falar”.
Com quinze milhões de cópias faturadas, Frampton Comes Alive continua entre os discos ao vivo mais vendidos da história. O título acabou sendo premonitório, pois Peter virou um sobrevivente nos anos seguintes: Perdeu quase tudo nas mãos do seu manager. Depois descobriu que a namorada dele gastava uma porção de grana em festas onde ele não era convidado. Na dor do (des)amor saiu pelas ruas da ilha de Nassau onde morava e bateu seu carro contra um muro. Foi salvo por um milagre e por um trabalho de engenharia para colocar de novo os ossos no lugar. Depois investiu na bolsa e em uma dessas jogatinas perdeu tudo de novo. David Bowie o resgatou, levando-o com ele na primeira guitarra para um tour mundial.
Peter Frampton não desistiu nunca, seu sucesso foi feito na base da unha na guitarra e do pé na estrada. Virou cidadão dos Estados Unidos onde sempre foi melhor recebido (bom, ninguém é perfeito) e foi até personagem de um capítulo genial dos Simpsons. Por acaso, ou não, seu mais novo disco, só instrumental, chama-se Premonition.
Ah, sim, na terça-feira vai votar em Obama.
Foto de Peter Frampton nos tempos do maior sucesso. Se alguém conhecer o autor, faça o favor de avisar.
Reprodução da capa do Frampton Comes Alive (1976)
Irmão mais velho é tudo, menos na hora da briga, onde a desigualdade de forças fica evidente.
Em casa a disputa pelo aparelho de som durou até que eu comecei e perceber que os discos que o meu irmão colocava eram bem mais legais que os meus. O paso seguinte foi passar a pedir emprestados aqueles discos que era o mesmo que testar a paciência dele. Mas ele, como qualquer melómano, era fiel e obsessivo. Eu só podia deixar que ele colocasse e pedir pra ele virar de lado quando chegava ao fim. Porque, claro, com vinil era assim, lado A e lado B e nada de controle remoto.
Meu irmão também usava parte da sua mesada para comprar a revista Pelo (em espanhol, cabelo), que era a leitura obrigatória de todos os amantes do rock. Aliás, por muito tempo foi a única revista especializada. Um dia eu escrevo um texto só para falar daquela revista, mas o caso é que eu devorava a Pelo, também emprestada. Nem pensar em ter direito aos posters que com ela vinham.
E assim foi como, ainda criança, conheci esses artistas maravilhosos da década de setenta. Mas essa longa introdução o que tem a ver com o sujeito da foto acima? Tudo. Porque quando Peter Frampton estourou com Baby, I love your way e Show me the way, eu já conhecia a figura, ele era o ótimo guitarista do Humble Pie de Steve Marriott.
E a questão não é ressalvar que eu seja um visionário ou coisa parecida mas fazer uma diferênça, porque esse sucesso do Frampton estava mais associado a uma estrela pop do que a um roqueiro. O disco Frampton Comes Alive chegou aqui em 1977, um ano depois do estrondo que começou nos Estados Unidos. Sim, porque na época, quase todas as novidades musicais demoravam pelo menos um ano para chegar a esse quintal da civilização que é a América Latina, como se elas viessem de navio. E isso se a gente tinha sorte, porque muita coisa boa ficava perdida no oceano.
Quando eu, já menos criança, comprei o compacto do Baby, I love your way, o artista com sua baby face, aparecia nas revistas femininas para adolescentes. Era a estrelinha da hora. A questão então foi ir atrás do disco duplo. E lá estava o ótimo guitarrista do Humble Pie que a revista Pelo anunciara.
Nesse disco fundamental, Peter Frampton estava acompanhado pelo baterista John Siomos, o guitarrista e tecladista Bob Mayo (os dois já subiram) e Stanley Sheldon no baixo. O trabalho está atravessado por músicas amigáveis ao ouvido e a guitarra fantástica do inglês, que ainda trazia a novidade do talk-box. Na época, com os colegas, diziamos que Frampton “faz a guitarra falar”.
Com quinze milhões de cópias faturadas, Frampton Comes Alive continua entre os discos ao vivo mais vendidos da história. O título acabou sendo premonitório, pois Peter virou um sobrevivente nos anos seguintes: Perdeu quase tudo nas mãos do seu manager. Depois descobriu que a namorada dele gastava uma porção de grana em festas onde ele não era convidado. Na dor do (des)amor saiu pelas ruas da ilha de Nassau onde morava e bateu seu carro contra um muro. Foi salvo por um milagre e por um trabalho de engenharia para colocar de novo os ossos no lugar. Depois investiu na bolsa e em uma dessas jogatinas perdeu tudo de novo. David Bowie o resgatou, levando-o com ele na primeira guitarra para um tour mundial.
Peter Frampton não desistiu nunca, seu sucesso foi feito na base da unha na guitarra e do pé na estrada. Virou cidadão dos Estados Unidos onde sempre foi melhor recebido (bom, ninguém é perfeito) e foi até personagem de um capítulo genial dos Simpsons. Por acaso, ou não, seu mais novo disco, só instrumental, chama-se Premonition.
Ah, sim, na terça-feira vai votar em Obama.
Foto de Peter Frampton nos tempos do maior sucesso. Se alguém conhecer o autor, faça o favor de avisar.
Reprodução da capa do Frampton Comes Alive (1976)
6 comentários:
um gênio. dois hinos. 'breaking all the rules' minha predileta.
"But to me it's a sad, sad affair..." Amo essa música! I'm in you tb tá no topo e como ele era lindo, louro, dourado, parecia um sol! Eu tinha meus 4, cinco e sim, irmão é fundamental nessas horas. No caso do Peter, foram minhas primas. No caso do irmão, foram o Kiss, o Black Sabbath, Queen e por aí vai, que máximo, né amigão? Meu irmão me emprestava os discos dele à força, então eu comecei a pedir os meus de presente para quem desse.
Adorei relembrar essas coisas.
Besotes, amore!
Juan,gracias, siempre me sorprendés en tu hábil manejo de la máquina del tiempo,estaba en London´76 cuando ví pasar un bus con la publicidad del concierto Frampton comes Alive... que decir, (Weena,una eloí)cafuuuuuu
Cafuuuuuuuu !!!
Estuve por llamarte toda la semana. Mirá dónde apareciste.
besos
vc é meu orgulho, seu gringo de uma figa!!!!!! beijo.
Ah, amiga, eu sabia que vc ia gostar dessa rsss
beijos e muito obrigado
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