sábado, 27 de setembro de 2008

Um poster de Paul Newman


Sempre tão discreta, minha mãe jamais exteriorizava sentimentos por outros homens que não fossem meu pai. Mas como toda regra tem a sua exceção, ela perdia o juízo por Paul Newman, Jean Paul Belmondo e Alain Delon. Quando ela via uma foto de algum deles fazia como se desmaiasse. Esse lado fã da minha bem comportada mãe me deixava intrigado e um pouco ciumento por causa do meu pai que, logicamente, levava na brincadeira.
Um coleguinha do bairro, de futebol de rua, de brincar de esconde-esconde e roubar frutas da àrvore, era filho de um operário da industria gráfica. Um dia, estando na casa dele, me disse como por acaso:
- Pega uns posters daí.

Para mim, poster era tudo. A parede do meu quarto me identificava. Eu dividia a minha parede com o meu irmão Jorge, pois meu irmão mais velho, Aníbal, tinha uma parede para ele só. Eu fui separando posters pra levar pra casa: um dos Beatles, vestidos de cavaleiros ingleses, um do Hugo Gatti, goleiro do Boca, cabeludo, que usava faixa na época em que nenhum jogador era tão moderno assim nem existia o marketing da imagem. De repente, enfiado nos posters que cheiravam tinta como se estivesse numa loja de doces, me deparei com um do rosto de Paul Newman e com a cor dos seus olhos que hoje eu definiria como da cor de Chico Buarque.
- Vou levar esse pra minha mãe -eu disse pro meu amigo-

Cheguei em casa, larguei os posters no meu quarto e dei pra mãe o de Paul Newman. Ela fez aquela brincadeira de desmaiar, me deu um beijo e me olhou com aquele olhar amoroso. Depois enrolou o poster, que ficou guardado para sempre num canto do armário.

Paul Newman (1925-2008)
Foto de 1958 de Paul Newman e Joanne Woodward de Sid Avery

7 comentários:

Consultor Previdenciário disse...

Os artistas transcendem as telas e criam fantasias em nossa imaginação.
Vim retribuir sua visita e agradecer suas palavras deixadas no meu blog.

Mara* disse...

Que linda crônica! Eu simulo um desmaio quando vejo os olhos cor azul-violeta da eterna Cleópatra, Liz Taylor, que infelizmente, segundo notícias, também logo se fecharão, mas ficarão, tanto quanto os de Newman, tatuados eternamente em nossas retinas. Um dia triste!

beijão e boa semana.

Anônimo disse...

Que mãe linda...

Bia Alves.

Bernardo Guimarães disse...

...e assim era com Paul Newman: as mulheres o amavam; os homens queriam ser ele.

Anônimo disse...

estou admirada de não haver bilhetado antes. Fui morar em Sunpálo, na porta de meu quarto ficou o poster de Paul Newman. Minha mãe numa carta me disse, ia dormir em meu quarto para esquecer as saudades e sendo velada por aquele "pão".
(nos anos 60 um homem mais que lindo era um "pão")
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Juan, recebeu a foto do e-mail?

Daniela Figueiredo disse...

Gostei muito do teu blog, achei lindas as fotografias que postaste e as crônicas são muito boas. Parabéns! Beijos.

Juan Trasmonte disse...

Agradeço a todos os comentários. Pois é, perdemos um do lado de cá.
Abraços e beijos