A concentração do artista tem sido danificada -disse Stefan Zweig e bateu no peito com a mão esquerda-. Como é que vão captar a nossa atenção os velhos assuntos? Um homem e uma mulher se conhecem, se apaixonam, eles têm uma aventura. Em uma outra época isso foi uma história. Voltará a ser daqui a um tempo, mas como viver com entusiasmo num mundo tão trivial como o de hoje?
Os últimos meses têm sido fatais para a produção literária europeia. A norma básica para todo trabalho criativo continua sendo a concentração e jamais tem sido tão difícil de atingir para os artistas na Europa. Como se concentrar no meio de um terremoto moral? Na Europa a maioria dos escritores está fazendo um tipo ou outro de trabalho bélico. Outros tiveram que fugir dos países deles e moram no exílio desvairando daqui pra lá. Inclusive os contados autores que podem continuar trabalhando nas suas próprias mesas são incapazes de fugir da turbulência dos nossos tempos.
A reclusão já não é possível enquanto o nosso mundo está em chamas. A “torre de marfim” da estética não é à prova de bombas, como já disse Irwin Edman. De uma hora para a outra a gente espera as notícias. A gente não pode evitar ler os jornais, ouvir o rádio e, ao mesmo tempo, se sentir oprimido pela preocupação por parentes e amigos. Um foge do seu lar na área ocupada, outros foram presos e pedem pela sua liberdade. Tem quem vai de um consulado para outro procurando um país que o possa acolher. Todos os que tivemos a sorte de achar abrigo somos assaltados dia apôs dia desde todos os lados por cartas e telegramas que solicitam a nossa ajuda. Cada um de nós vive a vida de outros cem, além da nossa própria vida.
Stefan Zweig, em fragmento da entrevista concedida a Robert Van Gelder, publicada em 1940 no The New York Times.
Versão para o português de Juan Trasmonte
Esse depoimento doloroso e amargurado do escritor austríaco Stefan Zweig antecipa sua viagem ao Brasil, onde se refugiou e onde decidiu suicidar-se junto com sua esposa Lotte.
Um ano depois dessa entrevista, já radicado em Petrópolis, o autor escreveu Brasil, o país do futuro. Na época, o livro não foi bem recebido pela classe intelectual brasileira, na convicção de que desde o título já era um panfleto de propaganda do governo Vargas. Na verdade, Zweig descobriu no Brasil, apesar de certo olhar etnocéntrico, uma esperança que na Europa estava sendo derrubada pelas bombas e o ódio. Como afirma seu biógrafo Alberto Dines, o escritor ficou isolado e mais deprimido ainda. Morava na serra humildemente embora era uma pessoa rica. O clima não ajudava à sua mulher asmática e o cotidiano ficou mais duro ainda. Nesse momento, ninguém comprendeu que o futuro que Zweig referia já não era o futuro dele mas o de todos nós.
Os últimos meses têm sido fatais para a produção literária europeia. A norma básica para todo trabalho criativo continua sendo a concentração e jamais tem sido tão difícil de atingir para os artistas na Europa. Como se concentrar no meio de um terremoto moral? Na Europa a maioria dos escritores está fazendo um tipo ou outro de trabalho bélico. Outros tiveram que fugir dos países deles e moram no exílio desvairando daqui pra lá. Inclusive os contados autores que podem continuar trabalhando nas suas próprias mesas são incapazes de fugir da turbulência dos nossos tempos.
A reclusão já não é possível enquanto o nosso mundo está em chamas. A “torre de marfim” da estética não é à prova de bombas, como já disse Irwin Edman. De uma hora para a outra a gente espera as notícias. A gente não pode evitar ler os jornais, ouvir o rádio e, ao mesmo tempo, se sentir oprimido pela preocupação por parentes e amigos. Um foge do seu lar na área ocupada, outros foram presos e pedem pela sua liberdade. Tem quem vai de um consulado para outro procurando um país que o possa acolher. Todos os que tivemos a sorte de achar abrigo somos assaltados dia apôs dia desde todos os lados por cartas e telegramas que solicitam a nossa ajuda. Cada um de nós vive a vida de outros cem, além da nossa própria vida.
Stefan Zweig, em fragmento da entrevista concedida a Robert Van Gelder, publicada em 1940 no The New York Times.
Versão para o português de Juan Trasmonte
Esse depoimento doloroso e amargurado do escritor austríaco Stefan Zweig antecipa sua viagem ao Brasil, onde se refugiou e onde decidiu suicidar-se junto com sua esposa Lotte.
Um ano depois dessa entrevista, já radicado em Petrópolis, o autor escreveu Brasil, o país do futuro. Na época, o livro não foi bem recebido pela classe intelectual brasileira, na convicção de que desde o título já era um panfleto de propaganda do governo Vargas. Na verdade, Zweig descobriu no Brasil, apesar de certo olhar etnocéntrico, uma esperança que na Europa estava sendo derrubada pelas bombas e o ódio. Como afirma seu biógrafo Alberto Dines, o escritor ficou isolado e mais deprimido ainda. Morava na serra humildemente embora era uma pessoa rica. O clima não ajudava à sua mulher asmática e o cotidiano ficou mais duro ainda. Nesse momento, ninguém comprendeu que o futuro que Zweig referia já não era o futuro dele mas o de todos nós.
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