Artifex vitae artifex sui
Muy cerca de mi ocaso, yo te bendigo, Vida,
porque nunca me diste ni esperanza fallida,
ni trabajos injustos, ni pena inmerecida;
porque veo al final de mi rudo camino
que yo fui el arquitecto de mi propio destino;
que si extraje la miel o la hiel de las cosas,
fue porque en ellas puse hiel o mieles sabrosas:
cuando planté rosales coseché siempre rosas.
Cierto, a mis lozanías va a seguir el invierno:
¡mas tú no me dijiste que mayo fuese eterno!
Hallé sin duda largas noches de mis penas;
mas no me prometiste tan sólo noches buenas;
y en cambio tuve algunas santamente serenas...
Amé, fui amado, el sol acarició mi faz.
¡Vida, nada me debes! ¡Vida, estamos en paz!
Versão em português
Artifex vitae artifex sui
Perto do meu ocaso, eu te bendigo, ó Vida,
porque nunca me deste esperança falida
nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.
Porque vejo no fim de meu rude caminho
que fui eu o arquiteto de meu próprio destino;
que se os méis ou o fel eu extraí das coisas
foi que nelas pus mel ou biles amargosas:
quando plantei roseiras, não colhi senão rosas.
Às minhas louçanias vai suceder o inverno;
mas tu não me disseste que maio fosse eterno!
Julguei sem fim as longas noites de minhas penas;
mas não me prometeste noites boas apenas,
e, afinal, tive algumas santamente serenas...
Amei e fui amado, o sol beijou-me a face.
Vida, nada me deves! Vida, estamos em paz!
En paz, de Amado Nervo
Versão para o português de Anderson Braga Horta
Associado ao modernismo, o poeta mexicano Amado Nervo tinha porém um traço místico, originado na sua adolescência de convicções religiosas, que o afastou do padrão modernista. Jornalista e poeta, foi pra Paris no auge do movimento, onde conheceu Wilde e fez amizade com Rubén Darío, voltou pro México e passou os seus últimos anos como embaixador em Argentina, Uruguai e Paraguai. Na época não havia um embaixador só para cada nação. Escreveu esse, seu poema mais célebre, em 1917, dois anos antes de subir. Ficou no seu estilo simples e admirativo como o mais belo exemplo de acerto de contas com a vida.
Relatam os livros que quando morreu em Montevidéu, o navio que levava seu corpo foi escoltado por outros navios argentinos, brasileiros e uruguaios, e que demorou meses em chegar no México porque todos os povos da América queriam prestar homenagens.
Bons tempos em que poetas eram cultuados pelos povos.
Muy cerca de mi ocaso, yo te bendigo, Vida,
porque nunca me diste ni esperanza fallida,
ni trabajos injustos, ni pena inmerecida;
porque veo al final de mi rudo camino
que yo fui el arquitecto de mi propio destino;
que si extraje la miel o la hiel de las cosas,
fue porque en ellas puse hiel o mieles sabrosas:
cuando planté rosales coseché siempre rosas.
Cierto, a mis lozanías va a seguir el invierno:
¡mas tú no me dijiste que mayo fuese eterno!
Hallé sin duda largas noches de mis penas;
mas no me prometiste tan sólo noches buenas;
y en cambio tuve algunas santamente serenas...
Amé, fui amado, el sol acarició mi faz.
¡Vida, nada me debes! ¡Vida, estamos en paz!
Versão em português
Artifex vitae artifex sui
Perto do meu ocaso, eu te bendigo, ó Vida,
porque nunca me deste esperança falida
nem trabalhos injustos, nem pena imerecida.
Porque vejo no fim de meu rude caminho
que fui eu o arquiteto de meu próprio destino;
que se os méis ou o fel eu extraí das coisas
foi que nelas pus mel ou biles amargosas:
quando plantei roseiras, não colhi senão rosas.
Às minhas louçanias vai suceder o inverno;
mas tu não me disseste que maio fosse eterno!
Julguei sem fim as longas noites de minhas penas;
mas não me prometeste noites boas apenas,
e, afinal, tive algumas santamente serenas...
Amei e fui amado, o sol beijou-me a face.
Vida, nada me deves! Vida, estamos em paz!
En paz, de Amado Nervo
Versão para o português de Anderson Braga Horta
Associado ao modernismo, o poeta mexicano Amado Nervo tinha porém um traço místico, originado na sua adolescência de convicções religiosas, que o afastou do padrão modernista. Jornalista e poeta, foi pra Paris no auge do movimento, onde conheceu Wilde e fez amizade com Rubén Darío, voltou pro México e passou os seus últimos anos como embaixador em Argentina, Uruguai e Paraguai. Na época não havia um embaixador só para cada nação. Escreveu esse, seu poema mais célebre, em 1917, dois anos antes de subir. Ficou no seu estilo simples e admirativo como o mais belo exemplo de acerto de contas com a vida.
Relatam os livros que quando morreu em Montevidéu, o navio que levava seu corpo foi escoltado por outros navios argentinos, brasileiros e uruguaios, e que demorou meses em chegar no México porque todos os povos da América queriam prestar homenagens.
Bons tempos em que poetas eram cultuados pelos povos.
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