Às oito horas da manhã em ponto explode a fagulha, abrem-se as portas do curral e os touros -em média 600 kilos- ganham as ruas de paralelepípedos. Não demoram mais do que três minutos, em geral, em percorrer os 850 metros que os separam das areias onde uma multidão saúda com salvas de palmas fervorosas o final do encierro. Resulta difícil de acreditar que um espetáculo tão curto possa chamar tanto à atenção. Quem não consegue assistir ao vivo aos encierros das festas de San Fermín pode conferir através da excelente transmissão da televisão espanhola.
A tradição remonta à Idade Média, quando os pastores aproveitavam os primeiros clarões de luz para levar às reses até a Plaza Mayor. Eles faziam nessa hora para não atrapalhar o normal desenvolvimento das atividades. Assim nasceram os encierros que hoje são a principal atração sanferminera e atraem uma multidão de espanhóis e estrangeiros entre o 7 e o 14 de julho. TVE televisa o acontecimento desde 1981 com um nível de excelência que permite envolver o espectador que está longe, aquele para quem pode ser difícil comprender a raiz desse ritual. Se enxergar sem preconceito, sem cair no facilismo da brutalidade, os sanfermines são um espetáculo único, fascinante.
O narrador Javier Solano, que sabe tudo sobre a cultura dos touros faz silêncio pra gente ouvir os moços pedindo a proteção do santo, com os jornais enrolados nas mãos. Cada um desses três cânticos culmina com as vivas ao San Fermín, em espanho e em euskera.
E quando o encierro começa o narrador fica calado, ficando só o som direto e as imagens captadas por quinze câmeras distribuídas ao longo do percurso. Depois é só adrenalina pura, com os chifrudos avançando sobre uma massa humana que inclui grandes corredores, temerários corpos desastrados pelo álcool e desajeitados turistas lançados à rua, os principais candidatos a levar uma chifrada. O que eles chamam de “fator touro” é o que provoca essa tensão. O risco constante de ser atingido pelo touro. A cena temida e esperada.
É um verdadeiro milagre de San Fermín que a soma de mortos na história seja só de quinze pessoas, muitos deles estrangeiros que pagaram cara a falta de experiência. Depois vem a reprise com a descrição minuciosa de Javier Solano. Ele diz onde está a atenção, quais as caraterísticas de criação desses touros e o que as pessoas devem e não devem fazer para completar uma bela corrida. Mesmo que pareça a representação do caos, o encierro tem normas. Uma delas é parar de correr quando os touros passam pelo corredor.
Talvez seja difícil entender o que o touro significa na cultura espanhola há séculos, o desafio de forças, a procura do limite, mas esse seria assunto para outra história.
Corre touro, ao mar, investe, nada
e a um toureiro de espuma, sal e areia,
já que tentas ferir, fere à morte.
(Fragmento do poema De verte e no verte, de Rafael Alberti)
Texto de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Fotos da Agência EFE
A tradição remonta à Idade Média, quando os pastores aproveitavam os primeiros clarões de luz para levar às reses até a Plaza Mayor. Eles faziam nessa hora para não atrapalhar o normal desenvolvimento das atividades. Assim nasceram os encierros que hoje são a principal atração sanferminera e atraem uma multidão de espanhóis e estrangeiros entre o 7 e o 14 de julho. TVE televisa o acontecimento desde 1981 com um nível de excelência que permite envolver o espectador que está longe, aquele para quem pode ser difícil comprender a raiz desse ritual. Se enxergar sem preconceito, sem cair no facilismo da brutalidade, os sanfermines são um espetáculo único, fascinante.
O narrador Javier Solano, que sabe tudo sobre a cultura dos touros faz silêncio pra gente ouvir os moços pedindo a proteção do santo, com os jornais enrolados nas mãos. Cada um desses três cânticos culmina com as vivas ao San Fermín, em espanho e em euskera.
E quando o encierro começa o narrador fica calado, ficando só o som direto e as imagens captadas por quinze câmeras distribuídas ao longo do percurso. Depois é só adrenalina pura, com os chifrudos avançando sobre uma massa humana que inclui grandes corredores, temerários corpos desastrados pelo álcool e desajeitados turistas lançados à rua, os principais candidatos a levar uma chifrada. O que eles chamam de “fator touro” é o que provoca essa tensão. O risco constante de ser atingido pelo touro. A cena temida e esperada.
É um verdadeiro milagre de San Fermín que a soma de mortos na história seja só de quinze pessoas, muitos deles estrangeiros que pagaram cara a falta de experiência. Depois vem a reprise com a descrição minuciosa de Javier Solano. Ele diz onde está a atenção, quais as caraterísticas de criação desses touros e o que as pessoas devem e não devem fazer para completar uma bela corrida. Mesmo que pareça a representação do caos, o encierro tem normas. Uma delas é parar de correr quando os touros passam pelo corredor.
Talvez seja difícil entender o que o touro significa na cultura espanhola há séculos, o desafio de forças, a procura do limite, mas esse seria assunto para outra história.
Corre touro, ao mar, investe, nada
e a um toureiro de espuma, sal e areia,
já que tentas ferir, fere à morte.
(Fragmento do poema De verte e no verte, de Rafael Alberti)
Texto de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Fotos da Agência EFE
Nenhum comentário:
Postar um comentário