quarta-feira, 12 de março de 2008

Guilherme Godoy



Samba, melodia que me toca
me protege e acaricia
feito os braços de mulher
desde que a Ciata minha tia
deu início a fidalguia
o samba sabe o que quer
me desculpem tanta nostalgia
mas meu peito não vicia
com este samba que é tocado por aí
me martela o rádio o dia inteiro
só que o samba verdadeiro
foi aquele que aprendi
apreciador de jóia rara
Délcio e Dona Ivone Lara
embalando o sonho meu (eu embalei)
trago fino de Carlos Cachaça
Herivelto e aquela praça
que o Rio jamais esqueceu
tempos idos mas sempre lembrados
gênios homenageados
pelo povo, no fundo do coração
este é que é o bom samba, meu parceiro
velho e novo, brasileiro
que mantém a tradição
samba de Noel, Cartola e Noca
Silas, Geraldo Pereira
de Monarco e Ismael
Wilson, o que Batista e o que é Moreira
Paulinho e João Nogueira
o Martinho lá na aba do meu chapéu
quero ouvir no rádio da vizinha
Chico, Elton, Gonzaguinha
e o Nei Lopes recordando o Andaraí
Beth, Zeca, Roberto Ribeiro
Nelson Sargento guerreiro
e um samba tijucano do Aldir
um delírio meu no bar da esquina
Elizete e Clementina
Clara é a luz de Candeia
Dilermando e Ciro na caixinha
uísque, gelo e o poetinha
Tom Jobim com seu piano na velha Mangueira
vem mais gente que carrega a chama
Dorival, Zé Keti inflama
o peito que não se encerra
Ginga Guinga, Joyce, Clara e Ana
e a Rosa Passos baiana
no samba da minha terra.

O samba sabe o que quer, de Guilherme Godoy e Sérgio Botto


Conheci Guilherme em 1999 em Buenos Aires quando ele veio dar uma palestra sobre samba e fazer um show. Voltamos a nos-encontrar no ano seguinte quando eu já estava com um pá aqui e o outro no Rio.
Em 2001 falamos longamente no telefone, eu precisava voltar para Buenos Aires por questões do visto e essas papeladas interminaveis da estrangeria. Nesse momento ele me disse: "Vamos marcar um encontro em casa pra eu te apresentar um pessoal da área". Um pessoal da área significava do mundo do samba e do jornalismo, mundos que compartilhávamos na época, em diferentes paises.
Aquilo foi coisa de carioca mesmo, ele não fazia isso por querer me agradar nem por querer retribuir a pequena ajuda que eu tinha dado na divulgação do disco dele na Argentina. Foi uma ideia que surgiu da generosidade mesmo.
Um mês depois e depois dessa burocracia toda, voltei pro Rio. Tarde para o nosso encontro, cedo para ele ter partido.
Hoje pensava nos muitos compositores e poetas do samba e da música em geral que são pouco divulgados porque eles são uma das razões desse blog existir. Se alguém descobre aqui algum desses artistas por causa de um google da vida eu já estou satisfeito de dedicar esse tempo a este espaço.
E como a vida é muito louca mesmo, eu lembrei hoje do Guilherme. Fui procurar fotos e descobri que hoje é o dia do aniversário dele.
O único disco que reune as suas letras, também reune Paulão 7 Cordas, Rildo Hora, Nelson Sargento, Delcio Carvalho, Walter Alfaiate, Celia Vaz e Nadinho da Ilha.
No encarte do disco que ele me deu quando a gente se conheceu, Guilherme escreveu: "Juan, que o samba esteja com você". O samba está comigo, companheiro. Sempre.

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