domingo, 31 de dezembro de 2006
A eterna tensão
Nem sonho de valsa
nem toque de Ketu
nem papel de enrolar
nem pedaço de pão
sagrado na divisão
nem Ederlezi
nem vela acessa
mas bela e fera
nem Rio-Ribeira
nem quarta-feira
cinzas ferrugem
nem Jovelina
nem Argentina
nem Mestre André
nem álibi
nem ai de mim
nem invenção
só a eterna tensão
entre esperança
e decepção.
Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Syril Nicolas
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sábado, 30 de dezembro de 2006
Patti faz sesentinha
We waltzed beneath motionless skies
all heaven's glory turned in your eyes
we expressed such sweet vows
oh till death do us part
oh till death do us part
oh-oh
We waltzed beneath God's point of view
knowing no ending to our rendezvous
we expressed such sweet vows
oh till death do us part
oh till death do us part
oh-oh
oh till death do us part
oh till death do us part
oh-oh
We waltzed beneath motionless skies
all heaven's glory turned in your eyes
you pledged me your heart
till death do us part
you pledged me your heart
till death do us part
till death do us part
(My Madrigal, Patti Smith - Luis Resto)
Foto de Robert Mapplethorpe
Foto de Franz Gertsch
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sexta-feira, 29 de dezembro de 2006
Deus em insulfilme
A merda do Dona Marta
vaza na baia
em volta dos veleiros
que ninguém guia
vermelho Pão de Açúcar
gringalegria
no chafariz da Glória
inglória sangria
e nesse tudo vale
aceito vale
olha o rapa
correr pra quê?
“Só Deus é fiel”
em insulfilme
cachorros latem
nas ribanceiras
depois dos tiros
fumaça azul
do churrasquinho
“Santa Izabel
saindo agora!”
e por aí vai
e nesse tudo vale
aceito vale
ninguém merece
fugir pra quê
se o bicho pega
mesmo no pé
no peito e fome
esperapena
na plataforma
uns têm cancela
outros têm... porra
nenhuma senha
nem sonho dorme
vaza na baia
em volta dos veleiros
que ninguém guia
vermelho Pão de Açúcar
gringalegria
no chafariz da Glória
inglória sangria
e nesse tudo vale
aceito vale
olha o rapa
correr pra quê?
“Só Deus é fiel”
em insulfilme
cachorros latem
nas ribanceiras
depois dos tiros
fumaça azul
do churrasquinho
“Santa Izabel
saindo agora!”
e por aí vai
e nesse tudo vale
aceito vale
ninguém merece
fugir pra quê
se o bicho pega
mesmo no pé
no peito e fome
esperapena
na plataforma
uns têm cancela
outros têm... porra
nenhuma senha
nem sonho dorme
e por aí vai...
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quarta-feira, 27 de dezembro de 2006
Pessoas pelas que vale a pena "quemar el cielo" (V)
HOY: MARIANA
Inocente natalina
ela é toda brasileira
ela é toda argentina
ela é toda estrangeira
e de nada ela é toda
não está pra marias ritas
nem pra letras distorcidas
ela é toda Luluzinha
vira a noite
dormem os justos
nos seus cabelos
molhados
raiou o dia
vira
a noite
virou dia
mãos que desenham no ar
tem uma em Las Cañitas
e uma outra Guanabara
Poa por que por acaso
Luluzinha das avencas
delicadas de umidade
era noite
já é dia
teu santo rir amanheça
ela é toda brasileira
ela é toda argentina
ela é toda estrangeira
e de nada ela é toda
não está pra marias ritas
nem pra letras distorcidas
ela é toda Luluzinha
vira a noite
dormem os justos
nos seus cabelos
molhados
raiou o dia
vira
a noite
virou dia
mãos que desenham no ar
tem uma em Las Cañitas
e uma outra Guanabara
Poa por que por acaso
Luluzinha das avencas
delicadas de umidade
era noite
já é dia
teu santo rir amanheça
seja contigo a leveza.
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Jovelina
Deixa comigo, deixa comigo
Eu seguro o pagode e não deixo cair é
Sem vacilar é é
Sem me exibir
Só vim mostrar, é
O que aprendi
Eu sou partideira da pele mais negra
Que venho e que chego para improvisar
Já vi partideiro que nunca vacila
Entrando na fila querendo versar
Mais dou um aviso que o meu improviso
É sério é ciso não é de brincar
Otário com aço eu mando pro espaço
Eu sambo, eu faço o bicho pegar.
Luz do repente (fragmento). Marquinhos PQD, Arlindo e Franco criaram. Jovelina Pérola Negra cantou como ninguém.
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terça-feira, 26 de dezembro de 2006
Stipe
"When you meet a stranger, look at his shoes. Keep your money in your shoes".
Michael Stipe
IGNORELAND
These bastards stole their power from the victims of theUs v. Them years
Wrecking all things virtuous and true
The undermining social democratic downhill slide into abysmal
Lost lamb off the precipice into the trickle down runoff pool
They hypnotized the summer, 1979
Marched into the capital
Brooding duplicitous, wicked and able, media-ready, heartless andlabeled
Super U.S. citizen, super achiever, mega-ultra power dosing
Relax. Defense, defense, defense, defense.
Yeah, yeah, yeahYeah, yeah, yeah
Ignoreland
Yeah, yeah, yeah
Ignoreland
The information nation took their clues from all the sound-bitegluttons
1980, 84, 88, 92, too. Too
How to be what you can be
Jump jam junking your energies
How to walk in dignity with throw up on your shoes
They amplified the autumn, 1979
Calculate the capital
Up the republic, my skinny ass, T.V. tells a million lies
The paper’s terrified to report anything that isn’t handed on apresidential spoon
I’m just profoundly frustrated by all this
So, fuck you man (Fuck ‘em)
Yeah, yeah, yeah
Ignoreland
Yeah, yeah, yeah
Ignoreland
If they weren’t there, we would have created them
Maybe it is true
But I’m resentful all the same
Someone’s got to take the blame
I know that this is vitriol
No solution, spleen-venting
But I feel better having screamed, don’t you?
They desecrated winter, 1979
Capital collateral
Brooding duplicitous, wicked and able, media-ready, heartless andlabeled
Super U.S. citizen, super achiever, mega-ultra power dosing
Relax. Defense, defense, defense, defense.
Yeah, yeah, yeah
Yeah, yeah, yeah
Ignoreland
Yeah, yeah, yeah
Ignoreland
yeah, yeah, yeah
Ignoreland
Yeah, yeah, yeah
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Futuro Presentíssimo
Irei saber um dia
serei arquivo serei companhia
envelhecer verei darei vigília
terei virilidade sem intrigas
tal e qual velho vinho sentarei
o bom do meu segredo cultivado
irei saber um dia
onde tremeu olhar que me desfia
isso será um dia
más nada tira o ato o agora
desse hoje
seu presentismo esse nesse instante
que os braços abre até explodir as veias
que estica meu expande e meu abrange espalha
que é mais presente do que todos os ponteiros
mais esperanço do que os meus peregrinos
agradarei não sei se saberei agradecer
agarrarei seus graus temperatura sua
serei arquivo serei companhia
envelhecer verei darei vigília
terei virilidade sem intrigas
tal e qual velho vinho sentarei
o bom do meu segredo cultivado
irei saber um dia
onde tremeu olhar que me desfia
isso será um dia
más nada tira o ato o agora
desse hoje
seu presentismo esse nesse instante
que os braços abre até explodir as veias
que estica meu expande e meu abrange espalha
que é mais presente do que todos os ponteiros
mais esperanço do que os meus peregrinos
agradarei não sei se saberei agradecer
agarrarei seus graus temperatura sua
irei saber um dia aonde irei parar.
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Foto de Sérgio P.
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Eterno Miguel
Miguel Hernández, poeta e soldado republicano, morto na Guerra Civil da Espanha. Ante la vida, sereno em versão bilíngüe. Pois é, tive a ousadia de traduzir.
ESPANHOL
Ante la vida, sereno
y ante la muerte, mayor;
si me matan, bueno:
si vivo, mejor.
No soy la flor del centeno
que tiembla al viento menor.
Si me matan bueno:
si vivo, mejor.
Aquí estoy, vivo y moreno,
de mi estirpe defensor.
Si me matan, bueno:
si vivo, mejor.
Ni al relámpago ni al trueno
puedo tenerles temor.
Si me matan, bueno:
si vivo, mejor.
Traidores me echan veneno
y yo les echo valor.
Si me matan, bueno:
si vivo,mejor.
El corazón traigo lleno
de un alegre resplandor.
Si me matan, bueno:
si vivo, mejor.
PORTUGUÊS
Diante da vida, sereno
e diante da morte, maior;
se me matarem, bom:
se eu viver, melhor.
Não sou a flor do centeio
que treme ao vento menor.
Se me matarem, bom:
se eu viver, melhor.
Aqui estou, vivo e moreno,
de minha estirpe defensor.
Se me matarem, bom:
se eu viver, melhor.
Nem do relâmpago nem do trovão
posso ter temor.
Se me matarem, bom:
se eu viver, melhor.
Traidores me jogam veneno
e eu lhes jogo valor.
Se me matarem, bom:
se eu viver, melhor.
O coração trago cheio
de um alegre resplandor.
Se me matarem, bom:
se eu viver, melhor.
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segunda-feira, 25 de dezembro de 2006
Saudades do Itamar
na sala numa fruteira
a natureza está morta
laranjas, maçãs e pêras
bananas, figos de cera
decoram a noite torta
sob a janela do quarto
a cama dorme vazia
encaro nosso retrato
sorrindo sobre o criado
no meio da noite fria
está pingando o chuveiro
que banho mais apressado
molhado caíste fora
no espelho minh'alma chora
lá fora está tão gelado
sozinho nesta cozinha
em pé eu tomo um café
na pia a louça suja
me lembra da roupa suja
no tanque que a vida é.
Noite torta, de Itamar Assumpção
Noite torta, de Itamar Assumpção
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No meio
Por onde entra coxa sai desejo
por onde entra medo sai tremor
por onde entra bala sai vermelho
por onde entra lira sai cantor
por onde entra massa sai biscoito
por onde entra soul sai Ed Motta
por onde entra taco bola oito
por onde entra negro sai a cota
por onde entra pau sai ser humano
milagre mandarim manjericão
miragem sai entra motor cigano
mistério do delírio piração
por onde entra noivo sai marido
por onde entra dor sai oração
por onde faz de conta sai sentido
por onde entra amor sai ilusão.
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Foto de Kris Laudato
por onde entra medo sai tremor
por onde entra bala sai vermelho
por onde entra lira sai cantor
por onde entra massa sai biscoito
por onde entra soul sai Ed Motta
por onde entra taco bola oito
por onde entra negro sai a cota
por onde entra pau sai ser humano
milagre mandarim manjericão
miragem sai entra motor cigano
mistério do delírio piração
por onde entra noivo sai marido
por onde entra dor sai oração
por onde faz de conta sai sentido
por onde entra amor sai ilusão.
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Foto de Kris Laudato
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Juliette
Estou apaixonado por Juliette Binoche desde que vi Mauvais sang, em 1987.
Ela tem a capacidade de abrir o sorriso mais luminoso sem exibir um dente e, quinze segundos depois, cobrir seu rosto de melancolia.
Ela tem a capacidade de abrir o sorriso mais luminoso sem exibir um dente e, quinze segundos depois, cobrir seu rosto de melancolia.
E ela nunca perde a elegância. Até pra morrer ela é elegante.
É, estou apaixonado por Juliette Binoche. Só que ela ainda não sabe.
É, estou apaixonado por Juliette Binoche. Só que ela ainda não sabe.
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Juliette Binoche
Mutismo
Não diga nada
nem isso nem aquilo
até pensar abrir a boca
pode mas não diga amor
nem por acidente
não diga tire essa palavra
seja prudente prove silente
pode falar bobagem besteira
separar lábio vibrar dente
botar a língua pra fora palavra
instalar ar arrumar arrepio
barquinho vela navio estaleiro
cuidado cale pecado punido
não diga agora nem fale depois
não chega basta segure mutismo
essa palavra amor que maltrata
maldigo diga bendito ditado
acalme tudo teu gelo sagrado
piedade pele peleja paciência
não nunca nada nem abre censure
pelo amor de Deus do Dalí do dadá
por favor rogado favor por favor.
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Foto de Gabina
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Música para pastillas
Flacas gimnastas de América.
Secas, austeras soviéticas,
muchachitas fatales
en blancos zoquetes chinos.
Son todas joyas, patricias de amor.
La más hermosa niña del mundo
puede dar sólo lo que tiene para dar.
Música para pastillas (¡rápido!)
y mucha cuchillería.
¡Pará, mi amor, esto está muy Shangai!
Roqueros bonitos, educaditos.
Con grandes gastos, educaditos.
Emboquen el tiro libre,
que los buenos volvieron,
y están rodando cine de terror.
Música para pastillas, de Indio Solari
Música para pastillas, de Indio Solari
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Musa minha
Minha musa
sem você
a taça está vazia
musa misa mousse
chocolate na boca
efímera maçã
pobre alma oca
casa sem asa
pobre pedreiro
sem massa
musa minha
sem você
nessa folha
nada passa
toque de medusa
musa minha
andorinha.
Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Emma Laroche
sem você
a taça está vazia
musa misa mousse
chocolate na boca
efímera maçã
pobre alma oca
casa sem asa
pobre pedreiro
sem massa
musa minha
sem você
nessa folha
nada passa
toque de medusa
musa minha
andorinha.
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Foto de Emma Laroche
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Pessoas pelas que vale a pena "quemar el cielo" (IV)
HOJE: BIA
Tia Bia do samba, do Mengão, do Rio... Tia Bia da Portela, do Beco da cirrose e do sorriso.
Sandino
Con un gesto suave se sacó de encima a ese cuerpo blanquecino sudoroso, a ese rostro enrojecido por la excitación que torpemente se hundía en su cuello moreno. La cama dejó de crujir. El polvo de los caminos ardió en su nariz con el movimiento de las sábanas desentramadas por tantas piernas.
El gringo se vistió con sus ropas de marine y antes de calzarse las botas, sacó unos dólares arrugados del bolsillo. Pero esta vez ella no quiso dinero, pidió un fusil de recuerdo. “Uno de los nuestros” le dijo con sonrisa compradora. Y fingida.
Cargó el viejo fusil y una ristra de municiones y fue al encuentro de las demás. Otras putas de Puerto Cabezas que habían hecho lo mismo. Entre las sombras de la noche y la alborada fueron a buscar a los hombres que venían de San Albino para entregarles las armas.
Eran treinta mal trazados y tan humilde era su estampa de soldados como lo era la de esas muchachas para ofrecer su cuerpo. El jefe se abrió paso entre la tropa, enjuto, mirada firme, sombrero de ala ancha, rostro aindiado…
Volvió a agradecer y les pidió que se apuraran, que andaban los milicos de Chamorro.
Los hombres se perdieron en la espesura y las mujeres volvieron andando a ritmo sostenido y cuchicheando…
- ¿Cómo dijo que se llamaba?
- Sandino. Augusto César Sandino.
El gringo se vistió con sus ropas de marine y antes de calzarse las botas, sacó unos dólares arrugados del bolsillo. Pero esta vez ella no quiso dinero, pidió un fusil de recuerdo. “Uno de los nuestros” le dijo con sonrisa compradora. Y fingida.
Cargó el viejo fusil y una ristra de municiones y fue al encuentro de las demás. Otras putas de Puerto Cabezas que habían hecho lo mismo. Entre las sombras de la noche y la alborada fueron a buscar a los hombres que venían de San Albino para entregarles las armas.
Eran treinta mal trazados y tan humilde era su estampa de soldados como lo era la de esas muchachas para ofrecer su cuerpo. El jefe se abrió paso entre la tropa, enjuto, mirada firme, sombrero de ala ancha, rostro aindiado…
Volvió a agradecer y les pidió que se apuraran, que andaban los milicos de Chamorro.
Los hombres se perdieron en la espesura y las mujeres volvieron andando a ritmo sostenido y cuchicheando…
- ¿Cómo dijo que se llamaba?
- Sandino. Augusto César Sandino.
Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Texto sobre o início em 1926 da luta armada de Augusto César Sandino em Nicaragua, escrito em 2000 para o programa de rádio Doble Equis
Reconvexo
Eu sou a chuva que lança a areia no Saara
Sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança, a destemida Iara
Água e folha da Amazônia
Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra
Você não me pega, você nem chega a me ver
Meu som te cega, careta, quem é você?
Que não sentiu o suingue de Henri Salvador
Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não, que não, e nem disse que não
Eu sou o preto norte-americano forte com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música,
A mais velha e mais nova espada e seu corte
Eu sou o cheiro dos livros desesperados, sou Gitá gogoya
Seu olho me olha, mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãosinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo.
Sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança, a destemida Iara
Água e folha da Amazônia
Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra
Você não me pega, você nem chega a me ver
Meu som te cega, careta, quem é você?
Que não sentiu o suingue de Henri Salvador
Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não, que não, e nem disse que não
Eu sou o preto norte-americano forte com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música,
A mais velha e mais nova espada e seu corte
Eu sou o cheiro dos livros desesperados, sou Gitá gogoya
Seu olho me olha, mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãosinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô
Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo.
Caetano Veloso
Foto de Bob Portugal
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Maria Bethânia
Língua estrangeira
Como eu digo
vontade de comer
como eu digo
desejo de matar
como eu digo
atração pelo sexo
chamado de oposto
como eu digo
adriana calcanhotto
barca vital brazil
como eu digo
corrente no pescoço
ninguém quer te ouvir
ferreiro espeto de pau
caminhando contra o vento
e otras cositas más
como eu digo
cadê o fim do tunel
dor de dente de repente
como eu falo
labirinto menstruação
um dia tive uma idéia
como eu digo
as pedras de São Conrado
deserto na geladeira
blecaute no iluminismo
beira da beira do abismo.
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vontade de comer
como eu digo
desejo de matar
como eu digo
atração pelo sexo
chamado de oposto
como eu digo
adriana calcanhotto
barca vital brazil
como eu digo
corrente no pescoço
ninguém quer te ouvir
ferreiro espeto de pau
caminhando contra o vento
e otras cositas más
como eu digo
cadê o fim do tunel
dor de dente de repente
como eu falo
labirinto menstruação
um dia tive uma idéia
como eu digo
as pedras de São Conrado
deserto na geladeira
blecaute no iluminismo
beira da beira do abismo.
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Vida estrangeira
Bonga... e viva Angola
MULENGA XANGOLA
Kassanzu uá bixila
Menekenu mukuenu
Kubanza kuá muxima
Menekenu kubata
É mulemba Xangola
Ai-ué mulemba xangola
Ai-ué luanda
Ai-ué N'gola
Ai-ué Bahia
Etu Mudietu
É mulemba Xangola
Ai-ué mulemba xangola
Mulembeira milenar
Da magia kalundu
Angola ritual
Africanos olodum
É mulemba Xangola
Ai-ué mulemba xangola
Salvador da tradição
Mulemba Xangola
Unidas nações
Saudai-vos agora
É mulemba Xangola
Ai-ué mulemba xangolas
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Pé na Africa
El sueño de la razón produce monstruos
Soñando que soñaba me encontré
al lado de un extraño personaje,
un viejo entre el Capricho y el Desastre
fundido a una paleta y a un pincel.
Pintaba, ensimismado, en la pared
un fresco con los locos más infames
revueltos en un sórdido aquelarre
a modo de ensalada Baudelaire.
Quinta del sordo,
casa de locos,
el sueño de la razón
produce monstruos.
En medio de la insólita reunión
batíase el de la Triste Figura
en duelo contra un órgano que Schumann
tocaba con la oreja de Van Gogh.
Bailaba junto al fuego Maldoror
un vals con Luis II de Baviera
debajo de los pétalos que Ofelia
regaba desde un éxtasis de Artaud.
Quinta del sordo,
casa de locos,
el sueño de la razón
produce montruos.
Sufría una alucinación Rimbaud
y en ella se le aparecía Hamlet
montado a lomos del Marqués de Sade
tirado por Calígula y Nerón.
Atada por el Capitán Ahab
dejábase violar Juana la Loca
por Hölderlin y Nietzche en plena euforia,
un poco más allá del bien y el mal.
Quinta del sordo,
casa de locos,
el Sueño de la Razón
produce monstruos.
Transido por aquella bacanal
de reyes, criminales y poetas
caí desvanecido en la quimera
del otro lado de la realidad.
De pronto aquella orgía se esfumó
y al despertar me vi mirando a Goya
dormido bajo el Reino de las Sombras
del sueño que soñaba mi razón.
Quinta del sordo,
casa de locos,
el sueño de la razón
produce monstruos.
Luis Eduardo Aute
Grabado de Goya, El sueño de la razón produce monstruos
Grabado de Goya, El sueño de la razón produce monstruos
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Luis Eduardo Aute
Caligrafia carioca
Luis de Góngora
Esqueci espanhol
de tanto falar sozinho
de tanto cantar Caetano
de muito escrever assim
caligrafia carioca
nas tuas costas
escureci Quevedo
desvaneci Dom Luis
por força de ler teus lábios
ainda filho do latim
eu já fui uma língua
que não sou.
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Nick in the mercy seat
I don't believe in an interventionist God
But I know darling that you do
But if I did I would kneel down and ask Him
Not to intervene when it came to you
Not to touch your hair on your head
But to leave you as you are
And if He felt He had to direct you
Then direct you into my arms
Into my arms oh Lord
Into my arms oh Lord
Into my arms oh Lord
Into my arms
I don't believe in the existance of angels
But looking at you I wonder if that's true
And if I did I would summon them together
And ask them to watch over you
To each light a candle for you
To make bright and clear your path
And to walk like Christ in grace and love
And guide you into my arms
Into my arms oh Lord
Into my arms oh Lord
Into my arms oh Lord
Into my arms
But I believe in love
And I know that you do too
And I believe in some kind of path
That we can walk down me and you
So keep your candle burning
Make a journey bright and pure
That you'll keep returning always and evermore
Into my arms oh Lord
Into my arms oh Lord
Into my arms oh Lord
Into my arms.
Into my arms, de Nick Cave
Exposição de amores
Amores absurdos
sem limite sem sentido
linha de trem
pra lugar nenhum
possuir ninguém
carne viva
chaga pele
amores retocáveis
intocáveis
incontados
amores sem destino
vermelha cor
rasga coração
pressos na garganta
e na veia motim
amores sem fim
com princípio
e quem sabe
quem sabe
quem sabe.
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Foto de Anton Solomoukha
sem limite sem sentido
linha de trem
pra lugar nenhum
possuir ninguém
carne viva
chaga pele
amores retocáveis
intocáveis
incontados
amores sem destino
vermelha cor
rasga coração
pressos na garganta
e na veia motim
amores sem fim
com princípio
e quem sabe
quem sabe
quem sabe.
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Foto de Anton Solomoukha
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Aldir
Meu coração tropical
está coberto de neve mas
ferve em seu cofre gelado
e à voz vibra e a mão escreve mar
bendita lâmina grave
que fere a parede e traz
as febres loucas e breves
que mancham o silêncio e o cais
roserais
Nova Granada de Espanha
por você eu teu corsário preso
vou partir na geleira azul da solidão
e buscar a mão do mar
me arrastar até o mar
procurar o mar
Mesmo que eu mande em garrafas
mensagens por todo o mar
meu coração tropical partirá esse gelo e irá
com as garrafas de náufrago e as rosas partindo o ar
Nova Granada de Espanha
e as rosas partindo o ar.
Corsário, de Aldir Blanc e João Bosco
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Poetas
Sinéad
In this heart
lies for you
A lark born
only for you
Who sings
only to you
My love
My love
My love
I am waiting for you
For only to adore you
My heart is for you
My love
My love
My love
This is my grief for you
For only the loss of you
The hurting of you
My love
My love
My love
There are rays on the weather
Soon these tears will have cried
All loneliness have died
My love
My love
My love
I will have you with me
In my arms only
For you are only
My love
My love
My love.
In this Heart, de Sinéad O'Connor
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El tacazo
Un curda fileteando la vereda
un perro relamiendo el vendaval
los curas revoleando la moneda
para elegir tu arco celestial.
Un pibe saca lustre a su pobreza
un cielo vende luz artificial
dos ojos van paseando su belleza
por días de dolor tradicional.
El humo subre sobre las cabezas
las sillas se cansaron de sentar
las vidas que ya nadie endereza
los sueños que ya no pueden soñar.
Quién junta los olores de la pena
qué bandoneón retuerce la verdad
qué bola de billar la luna llena
que el tacazo la vuelve realidad.
(Esse era um poema chamado Endotango, que depois ganhou música de Marcelo Saraceni, virou um valsecito e foi gravado, rebatizado El tacazo)
Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
un perro relamiendo el vendaval
los curas revoleando la moneda
para elegir tu arco celestial.
Un pibe saca lustre a su pobreza
un cielo vende luz artificial
dos ojos van paseando su belleza
por días de dolor tradicional.
El humo subre sobre las cabezas
las sillas se cansaron de sentar
las vidas que ya nadie endereza
los sueños que ya no pueden soñar.
Quién junta los olores de la pena
qué bandoneón retuerce la verdad
qué bola de billar la luna llena
que el tacazo la vuelve realidad.
(Esse era um poema chamado Endotango, que depois ganhou música de Marcelo Saraceni, virou um valsecito e foi gravado, rebatizado El tacazo)
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Esses círculos nossos
Pobres círculos nossos
fechados
pobres gados sem campo
sem rumo
eu não sei o que dizer
mas eu sei
porque quero e mais quero
mas duvido e silêncio
eu não sei o que fazer
com as mãos
eu as vezes coloco
algum cerco de arame
ao redor
toco fogo no campo
e procuro a saída
ainda
antes de entrar
pobres círculos nossos
maravilhosos
todos cheios de mar
amorosos
eu andei no abismo
de tênis
porque vou até o fim
ou nem parto
esses círculos nossos
esses sambas de roda
labirintos rituais
dimissões e fogueiras
de domingo à segunda
e depois terça-feira
esses jeitos de ser
quiromantes e prezes
hare-krishna naná
tai-chi chuan divã
divismo coração
um vai ter que se abrir
para o outro fechar
porrada inquisição
lençóis conspiração
trans piração
fechados
pobres gados sem campo
sem rumo
eu não sei o que dizer
mas eu sei
porque quero e mais quero
mas duvido e silêncio
eu não sei o que fazer
com as mãos
eu as vezes coloco
algum cerco de arame
ao redor
toco fogo no campo
e procuro a saída
ainda
antes de entrar
pobres círculos nossos
maravilhosos
todos cheios de mar
amorosos
eu andei no abismo
de tênis
porque vou até o fim
ou nem parto
esses círculos nossos
esses sambas de roda
labirintos rituais
dimissões e fogueiras
de domingo à segunda
e depois terça-feira
esses jeitos de ser
quiromantes e prezes
hare-krishna naná
tai-chi chuan divã
divismo coração
um vai ter que se abrir
para o outro fechar
porrada inquisição
lençóis conspiração
trans piração
poeira punição
penetras do perdão
círculo de giz
contramão
andamos em círculos
no jardim botánico
tonto vagalume
olho no cardume
desenhamos círculos
na areia da vida
que o mar vai levar
um vai ter que se abrir
para o outro fechar.
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Foto de Brassaï
penetras do perdão
círculo de giz
contramão
andamos em círculos
no jardim botánico
tonto vagalume
olho no cardume
desenhamos círculos
na areia da vida
que o mar vai levar
um vai ter que se abrir
para o outro fechar.
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Foto de Brassaï
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Remoção não!
Favela
Numa vasta extensão
Numa vasta extensão
onde não há plantação
nem ninguém morando lá
cada um pobre que passa por ali
só pensa em construir seu lar
e quando o primeiro começa
os outros depressa procuram marcar
seu pedacinho de terra prá morar.
É aí que a região
sofre modificação
fica sendo chamada de nova aquarela.
É aí que o lugar então passa a se chamar
favela.
(Jorginho Pessanha e Padeirinho, 1966)
(Jorginho Pessanha e Padeirinho, 1966)
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Escuro
Estou chovendo aí?
Brilhando estou?
Eu só quero saber
sou muito escuro pra você?
Tá tudo meio assim
te-brilho vem me-ver
uns dias estou Gardel
sorriso perfeição
uns dias não sei não
tô negro quieto no canto
uns dias canto baixinho
bossa nova acalanto
digo doce no ouvido
outros dias nem consigo
latir para te afastar
te chovo te raio sol
estou assim Miracema
cavalo de Troia andor.
Brilhando estou?
Eu só quero saber
sou muito escuro pra você?
Tá tudo meio assim
te-brilho vem me-ver
uns dias estou Gardel
sorriso perfeição
uns dias não sei não
tô negro quieto no canto
uns dias canto baixinho
bossa nova acalanto
digo doce no ouvido
outros dias nem consigo
latir para te afastar
te chovo te raio sol
estou assim Miracema
cavalo de Troia andor.
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Dor no tempo
A dor quando é do outro
dói no osso
no osso que quebrou e fez barulho
no osso que é fraco e já foi duro
a dor quando ela passa deixa marca
e deixa um cansaço de estação
a dor um dia para e vem alívio
o tempo é que não para de doer
o tempo é que não para de passar
parece um abajur feito na China
que gira gira gira gira gira gira
a gente fica olhando hipnotizado
uma fragilidade de papel
semelha o tempo
eu quis sentar no corredor
e abraçar à espera
mas qual é a maneira de conter a dor
porque a dor não tem horário de visita.
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Foto de Guy Le Querrec
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Self-Picture
Para continuar o espírito da entrada anterior
-e para aproveitar a foto que, naquele momento, inspirou o texto-
SELF-PICTURE
Self-picture
de você
autoreferência da referência
preto e branco
olho no olho
objetivo
e além quem sabe
quem sabe além
do teu olho.
Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
-e para aproveitar a foto que, naquele momento, inspirou o texto-
SELF-PICTURE
Self-picture
de você
autoreferência da referência
preto e branco
olho no olho
objetivo
e além quem sabe
quem sabe além
do teu olho.
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Pessoas pelas que vale a pena "quemar el cielo" (III)
HOJE: SAN
En tu silencio habita el mío
Y en alguna parte de mi cuerpo habitó
Un trozo de tu olor,
En tu silencio habita el mío
Y en alguna parte de mis ojos habitó
Un trozo de dolor.
Ahora estás aquí,
Ahora estoy aquí,
Abrázame para que piense alguna vez en ti.
(Com versos emprestados por Bebe)
(Com versos emprestados por Bebe)
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Frank Zappa
Deitada on the sofa
você vem me pede pra que eu não sofra
se você não vacila
eu já aprendi de vez a ler sua cartilha
agora eu sou vampiro negra é minha capa
pescoço nenhum do meu canino escapa
você era princesa hoje é sapa
devolve o meu disco de frank zappa
agora eu sou bandido um michê da lapa
resolvo disavenças na base do tapa
se você quer perdão que vá pedir pro papa
devolve o meu disco de frank zappa
(Essa é das menos conhecidas do Zeca Baleiro e nunca foi gravada por ele)
Foto de Cartier Bresson
Agora
Agora
Agora já não sinto nada agora
depois eu já senti isso aqui agora
o antes e o depois estão por fora
sem antes não tem unha pêlo agora
ressaca relva e ralé estão na moda
depois está na moda o que está na moda agora
notícia já foi antes mas só é notícia agora
nudez com roupa acima é nudez a toda hora
não pode ser antes da hora
mas também não é depois da hora
as vezes o ausente é sinónimo de agora
faxina dor de dente esnobismo gravadora
agosto agorafobia antes e depois agora.
Depois eu já senti isso aqui agora.
Depois eu já senti isso aqui agora.
Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
(Foto de Robert Mapplethorpe)
Agora já não sinto nada agora
depois eu já senti isso aqui agora
o antes e o depois estão por fora
sem antes não tem unha pêlo agora
ressaca relva e ralé estão na moda
depois está na moda o que está na moda agora
notícia já foi antes mas só é notícia agora
nudez com roupa acima é nudez a toda hora
não pode ser antes da hora
mas também não é depois da hora
as vezes o ausente é sinónimo de agora
faxina dor de dente esnobismo gravadora
agosto agorafobia antes e depois agora.
Depois eu já senti isso aqui agora.
Depois eu já senti isso aqui agora.
Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
(Foto de Robert Mapplethorpe)
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Pessoas pelas que vale a pena "quemar el cielo" (II)
HOJE: ALESSANDRA
Se meu mundo cair, então
caia devagar
não que eu queira assistir sem saber evitar
cai por cima de mim
quem vai se machucar
ou surfar sobre a dor até o fim
cola em mim até ouvir
coração no coração
o umbigo tem frio e arrepio de sentir
o que fica pra trás
até perder o chão
ter o mundo na mão
sem ter mais onde se segurar
se meu mundo cair
eu que aprenda a levitar.
(Com versos emprestados por Zé Miguel Wisnik)
caia devagar
não que eu queira assistir sem saber evitar
cai por cima de mim
quem vai se machucar
ou surfar sobre a dor até o fim
cola em mim até ouvir
coração no coração
o umbigo tem frio e arrepio de sentir
o que fica pra trás
até perder o chão
ter o mundo na mão
sem ter mais onde se segurar
se meu mundo cair
eu que aprenda a levitar.
(Com versos emprestados por Zé Miguel Wisnik)
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Os milagres da primavera
A UN OLMO SECO
Al olmo viejo, hendido por el rayo
y en su mitad podrido,
con las lluvias de abril y el sol de mayo
algunas hojas verdes le han salido.
El olmo centenario en la colina
que lame el Duero un musgo amarillado
le mancha la corteza blanquecina
al tronco carcomido y polvoriento.
No será, cual los álamos cantores
que guardan el camino y la ribera
habitados pardos ruiseñores
ejército de hormigas en hilera
va trepando por él y en sus entrañas
urden sus telas grises las arañas.
Antes que te derribe, olmo del Duero
con su hacha el leñador y el carpintero
te convierta en melena de campana
lanza de carro o yugo de carreta.
Antes que rojo en el hogar, mañana,
ardas de alguna mísera caseta.
Al borde de un camino
antes que te descuaje un torbellino
y tronche el soplo de las sirenas blancas.
Antes de que el río hasta la mar te empuje
por valles y barrancos
olmo, quiero quiero anotar en mi cartera
la gracia de tu rama verdecida
mi corazón espera también,
hacia la luz y hacia la vida
otro milagro de la primavera.
(O poeta espanhol Antonio Machado escreveu isso ao ver um broto num velho olmeiro, na esperança de que sua mulher Leonor, muito doente, não morresse).
(O poeta espanhol Antonio Machado escreveu isso ao ver um broto num velho olmeiro, na esperança de que sua mulher Leonor, muito doente, não morresse).
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domingo, 24 de dezembro de 2006
Calendário
Pensei abril
pensei luz branca
padaria
rezei fevereiro
julho eu daria
o que não tenho
surfei agosto
você na crista
sonhei Dublin
samba de roda
surtei março
língua de cobra
anjo Berlim
piripaquei
te paquerei
vejo dezembro
toco rosto
não mais lembro.
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Foto de Chema Madoz
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Pessoas pelas que vale a pena "quemar el cielo" (I)
HOJE: ALMA
La era está pariendo un corazón,
no puede más, se muere de dolor
y hay que acudir corriendo
pues se cae el porvenir
en cualquier selva del mundo,
en cualquier calle.
Debo dejar la casa y el sillón,
la madre vive hasta que muere el sol,
y hay que quemar el cielo si es preciso por vivir,
por cualquier hombre del mundo, por cualquier casa.
(Versos emprestados por Silvio Rodríguez)
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Pé do meu samba
Dez na maneira e no tom
Você é o cheiro bom
Da madeira do meu violão
Você é a festa da Penha,
A feira de São Cristovão,
É a Pedra do Sal
Você é a Intrépida Trupe
A Lona de Guadalupe
Você é o Leme e o Pontal
Nunca me deixa na mão
Você é a canção que consigo
Escrever afinal
Você é o Buraco Quente
A Casa da Mãe Joana
É a Vila Isabel,
Você é o Largo do Estácio,
Curva de Copacabana
Tudo que o Rio me deu!
Pé do meu samba
Chão do meu terreiro
Mão do meu carinho
Glória em meu Outeiro
Tudo para o coração
De um brasileiro.
(Um dia Caetano deu de presente pra filha de Martinho e Anália)
(Um dia Caetano deu de presente pra filha de Martinho e Anália)
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Rio de Janeiro
Clementina, Rainha Quelê
Clementina de Jesus
É minha mãe
Minha Santa Clementina
É minha mãe
Clementina Milagrosa
É minha mãe
Com a saia verde e rosa
É minha mãe
A benção mãe Clementina
É minha mãe
Rogai por nós Clementina
É minha mãe
Cantando tu és divina meu amor
Qual uma flor
Na umbanda tu és
de Deus nosso Senhor
É minha mãe
Salve os teus Orixás,
o teu povo baiano
O teu candomblé,
o teu povo africano
Tua criançada, teu anjo da guarda
Que assim seja
Ó mãe!
Salve a cruz da nossa igreja
Em teus passos salve seu guia de luz
Em teus braços dorme menino Jesus
(Zé Kéti)
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Zé Keti
Tem que pentear às crianças
En ella y sólo en ella están ahora
los patios y jardines.
(Adrogué, Jorge Luis Borges)
Tem que pentear às meninas
que o dia chama verão
que a tarde cheira rua
tem que pentear às meninas
eu molharei seus cabelos
tu buscarás vestidos de algodão
perfumados de soneca e sabão
que o dia chama verão
e o verão é tão curto
a água lava e disfarça
qualquer lágrima forajida
o pente imagina a caricia
que o passado não devolve
mas vai
acorde já
tem que pentear às meninas.
(Juan Trasmonte) Todos os direitos reservados
(Adrogué, Jorge Luis Borges)
Tem que pentear às meninas
que o dia chama verão
que a tarde cheira rua
tem que pentear às meninas
eu molharei seus cabelos
tu buscarás vestidos de algodão
perfumados de soneca e sabão
que o dia chama verão
e o verão é tão curto
a água lava e disfarça
qualquer lágrima forajida
o pente imagina a caricia
que o passado não devolve
mas vai
acorde já
tem que pentear às meninas.
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Ninguém escuta Smiths nessa comarca
Será que ela
será aquela
será que alguém escuta Smiths nessa comarca
eu sou o inocente estrangeiro
acredito em vento forte
tapa na cara
mas meu olho está ferido
de miséria humana
irei por caminhos tortos
em busca da minha árvore
(pode ser uma araucaria)
enquanto ouço melodias diferentes
porque ninguém escuta Smiths nessa comarca
treparei na minha árvore
e sentarei a esperar
a chegada da hora.
(Juan Trasmonte) Todos os direitos reservados
será aquela
será que alguém escuta Smiths nessa comarca
eu sou o inocente estrangeiro
acredito em vento forte
tapa na cara
mas meu olho está ferido
de miséria humana
irei por caminhos tortos
em busca da minha árvore
(pode ser uma araucaria)
enquanto ouço melodias diferentes
porque ninguém escuta Smiths nessa comarca
treparei na minha árvore
e sentarei a esperar
a chegada da hora.
(Juan Trasmonte) Todos os direitos reservados
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The Smiths
Viva Candeia!
MORA NA FILOSOFIA
Pra cantar samba
não preciso de razão,
pois a razão
está sempre com dois lados.
Amor é tema tão falado,
mas ninguém
seguiu nem cumpriu a grande lei:
cada qual ama a si próprio,
"liberdade e igualdade",
onde estão,
não sei.
Mora na filosofia,
morou, Maria...
Morou, Maria?
Morou, Maria!
Pra cantar samba
veja o tema na lembrança:
Cego é quem vê
só aonde a vista alcança.
Mandei meu dicionário às favas:
mudo é quem
só se comunica com palavras.
Se o dia nasce,
renasce o samba.
Se o dia morre,
revive o samba.
Mora na filosofia,
morou, Maria...
Morou, Maria?
Morou, Maria!
(Candeia)
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