sábado, 28 de fevereiro de 2009

Dekasseguis



Os sonhos são o direito humano fundamental, maior que a própria liberdade. As loterias dos especuladores atingem os sonhos individuais e coletivos. E nesses tempos, os migrantes econômicos são os primeiros danificados.
Ninguém pode ser julgado por escolher outra terra para materializar seus sonhos. Porque por tras desse desejo de prosperidade, há sonhos.
No Japão existe uma comunidade de 322.000 brasileiros, os chamados dekasseguis (trabalhadores temporários). Apesar de serem pessoas maiormente qualificadas, a impossibilidade de validar os títulos e a pouca fluência na língua empurra os dekasseguis a fazerem trabalhos duros, geralmente em fábricas de componentes eletrônicos e montadoras de autopeças. E com a tal crise, eles são os primeiros demitidos, os excluídos.
Os que voltam para o Brasil, carregam as conseqüências emocionais de não ter escolhido voltar. Os que ficam, agüentam, do jeito que podem. As vezes sem trabalho e moradia viram fantasmas na rua.
A crise é isso. A destruição por uns poucos dos sonhos de muitos.

Foto de Ricardo Yamamoto , um fotógrafo dekassegui

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O velho Marx tinha razão



"Quanto menos você comer, beber, comprar livros, ir ao teatro, aos bailes ou ao bar e quanto menos você pensar, amar, teorizar, cantar, pintar, praticar a esgrima, etc; mais você poderá economizar e maior será o teu tesouro, que nem cupim, nem a ferrugem poderão estragar: o teu capital".

Karl Marx

Os Estados Unidos passaram a controlar o Citigroup. Mais uma medida do resgate que o Estado faz do sistema bancário privado.
Nas minhas épocas de militáncia quem falava em nacionalizar a banca era aquele barba marxista vermelho que andava com O Capital enfiado no suvaco.
Hoje, o próprio Alan Greenspan (ou "o camarada Greenspan" como sacaneia Paul Krugman) defende a intervenção do Estado no sistema bancário.

É impressão minha? Eu não vejo perplexidade ao meu redor.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Pattie Boyd, musa de Harrison e Clapton





Primeiro é preciso colocar a moldura: meados da década de sessenta em Londres, o tal do Swinging London, o amor livre, o rock. Então, vamos lá.
George Harrison era ninguém menos que um dos Beatles quando conheceu Pattie Boyd, a modelo que foi fazer uma pontinha na cena do trem do filme Os reis do iê iê iê (A Hard Day’s Night). George tinha 22 anos e Pattie, 21.
Quase na brincadeira George perguntou:

- Você quer casar comigo?

Eles se apaixonaram e pediram licença a Brian Epstein para casar mesmo, o que aconteceu em 1966, pois já tinham juntado os trapinhos.
Em 1969, no meio de uma conversa cotidiana, George disse a Pattie que tinha composto uma canção pra ela. Na verdade, ele tomou emprestados os primeiros versos de uma música do então ignoto James Taylor. Os versos diziam assim:

Something in the way she moves...

E George acrescentou:

Attracts me like no other lover...

Assim nasceu Something, a primeira música que teve Pattie como musa inspiradora.
Na época, Eric Clapton já era um dos guitarristas mais respeitados do rock, protagonista de bandas essenciais como The Yarbirds, Cream e Blind Faith. No subúrbio de Londres era comum achar o grafite: Clapton é Deus.
Em Harrison e Clapton se juntaram várias afinidades: os dois eram tímidos, introvertidos, e amavam guitarras. Quando Eric presenteou George com uma Gibson Les Paul Gold Top ficaram amigos e depois Harrison convidou Slowhand para gravar o solo de While my Guitar Gentle Weeps.
Na casa de George ou onde pintar compartilhavam longas festas ao estilo da época, cheias de excessos. Eric primeiro começou a namorar Paula, uma das irmãs de Pattie, até que se reconheceu completamente apaixonado por Pattie.
Ele bem poderia ter cantado “estou amando loucamente a namoradinha de um amigo meu”, mas aconteceu que Clapton não conhecia Roberto Carlos e que Pattie não era apenas “a namoradinha” de um dos seus melhores amigos, mas a esposa dele.

Outra prática comum na época, na procura de novos caminhos, era o orientalismo. Em 1968, John Lennon, Yoko Ono e George se aproximaram ao Hare Krishna e conheceram o guru Maharishi na famosa viagem à India.
Na volta, George ficou mais voltado para si mesmo, passava as horas meditando ou então trancado no estúdio. E Clapton dava a Pattie toda a atenção que em casa não tinha. Escrevia para ela longas cartas de amor. Foi nesse tempo que lhe-dedicou Layla, baseada numa história persa de um homem apaixonado por uma mulher casada.
Mas essa paixão que podia brotar na arte, também desbotava num sofrimento horroroso para Clapton. Um dia ele deu uma de psicopata e apareceu na casa de Pattie com um saco de heroína:

- Se você não ficar comigo, eu vou usar isso.

E ele cumpriu com a sua palavra. No entanto, apesar de ver como seu casamento afundava, Pattie sustentou o lar.
Enquanto isso, Eric sumiu e atravessou uma das suas piores fases. Anos depois ele contou em entrevista:

- Eu botava pontas de cigarros na pele, para esquecer da dor da alma.

E nesse turbilhão, George não se privava de outras aventuras. Nessas, foi pra Espanha com Krissie, a mulher do Ronnie Wood, que também eram amigos do casal. Mas a gota d’água foi a descoberta de um caso que George teve com Maureen, a mulher de Ringo Starr.
Depois disso, Pattie fez as malas e foi embora. Quem passou a sofrer foi George. Contam que um dos motivos que levou o casal ao declínio foi o fato de não conseguirem ter um filho, impossibilidade assumida públicamente por George, mas que de fato era um problema dela, o que no contexto da época também era pesado.
E no meio todas as lendas.
Existiu sim a confissão de Eric pro George:

- Eu tenho que te contar, amigo. Estou apaixonado por sua esposa.

Mas não é verdade que eles, bébados, se disputassem Pattie num duelo de guitarras, como ela mesma acha lembrar e assim o escreveu no seu livro Wonderful Tonight: George Harrison, Eric Clapton and Me. Isso foi desmentido pelo próprio Eric, que também assinou a história da sua vida: Clapton, The Autobiography.
Clapton casou com Pattie em 1979, dois anos depois de escrever Wonderful Tonight, a música que completa a trilogia de canções dedicadas a ela. Em 1988 se divorciaram.
George casou em 1978 com Olivia Arias e tiveram o desejado filho, Dhani.
Talvez seja Pattie Boyd quem melhor possa definir essa história e encerrar esta crônica:

- O que havia sentido por George foi um grande e profundo amor. Com Eric tinhamos uma paixão poderosa e intoxicante. Com Eric éramos companheiros, mas com George, éramos almas gêmeas.

Foto de George Harrison e Pattie Boyd de Getty Images
Foto de Eric Clapton e Pattie Boyd de AP

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Buenos Aires carnaval



Houve uma vez um carnaval. Eu quase nem lembro, mas lembro. Eu tive que representar uma vez na televisão -teria lá uns seis anos- um componente de uma murga (a tradução mais parecida, vulgar e rápida seria a de um bloco). Os integrantes das murgas iam fantasiados e repetiam uma música parente da marchinha e sempre satírica, com descrição de alguma situação da política ou apelo erótico, apelo alias que hoje seria de uma inocência supina.
Na Avenida de Mayo, uma das principais do centro da cidade (sim, como se fosse a Rio Branco de outrora) passava o corso. E uma multidão assistia ao vivo. Mas sobre isso não guardo nenhuma lembrança, apenas umas poucas imagens em sépia, sem conexão, como um filme inconcluso.
Também eram muito populares os bailes de carnaval que se faziam nos clubes. Desses eu lembro especialmente os cartazes de rua coloridos e a quantidade de artistas concentrados numa noite só. E só. Magina se eu tinha idade de pensar em assistir a um baile.
A prova de que houve uma vez um carnaval é o tango Por cuatro días locos:

Por cuatro días locos
que vamos a vivir
por cuatro días locos
te tenés que divertir

Tango que ficou famoso na voz de Alberto Castillo, um ginecologista que virou cantor do povo no final da década de quarenta e na seguinte. Castillo não tinha aquela voz, mas resalvava o caráter dançante do tango. Os mauricinhos da época, que bailavam o boogie-boogie, detestavam Castillo, que estava claramente identificado com o bairro e ia pro centro pra cantar “Así se baila el tango!” na cara dos moços distinguidos. Dizem que muitas vezes, esses bailes acabavam em brigas monumentais.
Mas o fato é que a tradição do carnaval foi se perdendo. E em 1976, os militares deram o golpe de Estado e o golpe de graça à folia. Com esse senso ridículo da disciplina que eles têm, derrubaram do calendário os feriados de carnaval. O povo precisava mais era de trabalhar. E os murguistas, como tantos, passaram à clandestinidade.
Sempre digo que o melhor que fizeram os militares -e o pior para todos nós- foi a destrução dos laços de solidariedade. E o carnaval perdido em Buenos Aires é outra prova disso. Porque o carnaval por definição nasceu como uma reação à ordem estabelecida e é uma celebração em que o sujeito se iguala ao outro.
Lá se foi como se foram outras festas populares.
Minha relação com carnaval, ou então, aquelas breves lembranças da infância, foram reparadas na medida em que cresceu minha história no Brasil.
É muito estranho agora passar o carnaval em Buenos Aires como este ano aconteceu, mesmo que dessa vez tinha sido uma escolha minha tirar férias em janeiro. Não tem jeito, agora nem a Globo tem aqui para acompanhar o desfile. Ou eu boto um sambão e fico abrindo os braços numa imaginária Marquês de Sapucaí no meio da sala, ou eu “disfarço e choro”, ou faço parte desse ambiente em que nada para.
Nesse vai-e-vem, escrevi umas linhas na segunda-feira. Ficam aqui na quarta, enquanto andamos sobre as cinzas.

Do silêncio aos barulhos ordinários
a cidade amanhece sem lixeiros
mas é greve é cansaço é sindicato
a cidade amanhece
e nem sombra de feriado
rola a escada rolante do metrô
e não há fantasia que atrapalhe
a engrenagem do rolo cotidiano
vejo o bloco dos normais todo apressado
e não há samba-enredo nessa loja
nem ressaca nem te roubei um beijo
Buenos Aires é um eterno zero a zero
e eu a andar de novo estrangeiro
não preciso ligar pra seu ninguém
e lá em casa não preciso apanhar gelo
o meu velho chapéu azul e branco
anoitece atrás da porta pendurado.



Buenos Aires carnaval, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto de pessoas se preparando para o carnaval em Buenos Aires em 1930, do arquivo do jornal La Nación
Foto do Corso da Avenida de Mayo em 1969, do arquivo do jornal Clarín

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Debaixo do meu cêrebro



Debaixo do meu cêrebro está
a Biblioteca Nacional
a Rio Branco com seu cheiro de óleo queimado
e seus recantos de esplendor
de antiga capital
berlindas e guirlandas
e azuis de lampadinhas
para a Portela passar.
Debaixo do meu cêrebro está
o armazém do esquecimento
não quero sal na manteiga
e pode dispensar o limão
no meu sanduíche de carne assada
o verbo não está à venda
o amor tem ponto final.
Debaixo de meu cêrebro os caídos
os sonhos que não voltam mais
os presos na garganta do diabo
e goteiras químicas no sertão do cansaço
ruelas ribanceiras de sangue no mormaço
e códigos de acesso denegados.
Debaixo do meu cêrebro a língua
onde o mundo finda e o mundo começa.

Debaixo do meu cêrebro, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto "Step by Step", de
Andreea Chiru

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Centenário de Oscar Alemán



De tanto falar em Oscar, quase esqueci do Oscar esencial.
Ontem foi o centenário do nascimento de Oscar Alemán, o violonista argentino criado no Brasil, quem eu considero o maior violonista não brasileiro de música brasileira. Outra história que me toca porque mistura as duas terras que amo.
Em março do ano passado fiz um retrato dele, o homem que encantou Josephine Baker, Django Reinhardt e Duke Ellington. Para quem não leu ou ainda não acompanhava o blog, está aqui: Oscar Alemán
E para quem quiser ver Oscar, eis aqui uma pérola do Youtube.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Dez frases inesquecíveis do Oscar


Bob Hope, o maior apresentador que o Oscar já teve


Michael Moore alfinetou Bush... e foi vaiado


O rei do mundo e dos megalômanos: James Cameron


Vanessa Redgrave contra os fascistas


1. “Muitos dos meus amigos o receberam, mas é a primeira vez que eu tenho um nas mãos”
(Steven Spielberg, em 1993 depois de anos de frustrações)

2. “Parece com meu tio Oscar”
(Margaret Herrick, funcionária da biblioteca da Academia, olhando para a estatueta . Foi em 1931. Ela sem querer batizou o prêmio para sempre)

3. “Assim termina esse simulacro de justiça. Lembramos aos perdedores que Laurence Olivier e eu tambén não ganhamos um Oscar”
(Bob Hope, 1961)

4. “Oh my god! It’s George C. Scott!”
(Goldie Hawn, em 1971, depois de abrir o envelope e descobrir que o vencedor era Scott, que tinha recusado a indicação uns dias antes)

5. "Que vergonha, senhor Bush!"
(Michael Moore em 2003, depois de receber o prêmio de melhor documentário e três dias depois das tropas dos Estados Unidos invadirem Iraque)

6. “Eu sou o rei do mundo!”
(James Cameron, 1998, depois da avalanche de prêmios para Titanic)

7. "Eu os homenageio por não se deixarem intimidar diante das ameaças de um grupo de valentões sionistas, cujo comportamento é um insulto à verdadeira altura dos judeus de todo o mundo. Prometo-lhes, que seguirei lutando contra o antisemitismo, a opressão e o fascismo"
(Vanessa Redgrave, 1978, depois de receber o Oscar pelo filme Julia e em resposta aos ataques sofridos por um setor dos judeus, por ter apoiado a causa palestina)

8. "Muito obrigado, Billy Wilder. Para mim o senhor é Deus"
(O diretor espanhol Fernando Trueba em 1993, agradecendo ao diretor estadunidense, o deus particular dele)

9. "Eu queria ser Júpiter e raptar todo mundo. E fazer amor com todo mundo no chão porque... não sei dizer, isto é algo que tem a ver com amor"
(Roberto Benigni, em 1998, depois de pular por em cima da plateia para receber o Oscar para A vida é bela)

10. “A melhor atuação desta noite vai correr por conta dos perdedores”
(Bob Hope, 1959)


Foto de Bob Hope da Agência AP
Fotos de Michael Moore e James Cameron, reprodução da imagem televisiva
Foto de Vanessa Redgrave da Agência Bettman/Corbis

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Piscianas


Queen Latifah


Ursula Andress


Patricia Hearst


Barbara Feldon


Elke Maravilha


Elas e Drew Barrymore, Kiri Te Kanawa, Regina Casé, Erikah Badu, Jean Harlow, Aracy Balabanian, Liza Minnelli, Sara Montiel, Miriam Makeba, Sharon Stone, Elizabeth Taylor, Débora Falabella, Cindy Crawford, Rihanna, Irene Papas, Nina Simone, Glenn Close, Anais Nin, Ornella Muti, Joanne Woodward, Lili Taylor, Linda Fiorentino, Jennifer O’Neill, Tracy Chapman, Gloria Vanderbilt, Tetê Espíndola, Vanesa Williams, Miranda Richardson, Juliette Binoche, Elis Regina, Holly Hunter...
Todas elas nascidas sob o signo de Peixes

Foto de Queen Latifah de Michael Thompson
Foto de Patricia Hearst da Agência UPI
Foto de Elke Maravilha de Antonio Guerreiro

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Piscianos


Roberto Gómez Bolaños, o Chespirito


O escritor Mickey Spillane


O músico Nikolai Rimsky-Korsakov


O membro fundador dos Rolling Stones, Brian Jones


O cartunista Henfil


Eles e Harry Belafonte, Alexander Graham Bell, Djalma Santos, John Updike, Michelangelo Buonarroti, Nacho Cano, José María Cano, Robert Altman, Enrico Caruso, Glauber Rocha, Frédéric Chopin, Heitor Villa-Lobos, Dean Stockwell, Turibio Santos, Andrzej Wajda, David Duchovny, Albert Einstein, David Geffen, Steve Jobs, Peter Fonda, Zico, Alan Rickman, Gabriel García Márquez, George Harrison, Quincy Jones, Carlos Heitor Cony, Astor Piazzolla, Rex Harrison, Ruy Castro, Victor Hugo, Alfredo Landa, Jerry Lewis, David Niven, Rudolf Nureyev, Fito Páez, Sydney Poitier, Jards Macalé, Roger Daltrey, Spike Lee, Francisco Rabal, Al Jarreau, Juca de Oliveira, Shemp Howard, Zero Mostel, Branco Mello, John Steinbeck, George Washington, Anthony Burgess, Zeppo Marx, Bruce Willis, Thomas Wolfe, Wilson Simonal, Lou Costello, Javier Bardem, Bezerra da Silva, Jack Kerouac, Sam Peckinpah, Bussunda, Lee Marvin, João Goulart (Jango), Kurt Cobain, Johnny Winter, Mikhail Gorbachov, James Taylor, Michael Caine, Billy Cristal, Lou Reed, Nat King Cole, Kurt Russell, William Hurt, Yuri Gagarin, Ayrton Senna, Bernardo Bertolucci, Wilson Pickett, Maurice Ravel, Johann Sebastian Bach, Paul Auster, Castro Alves, John Travolta, Danilo Caymmi, Andrés Segovia, Rob Reiner, Auguste Renoir, Lucio Costa, Federico Luppi, Samuel Eto, Levi Strauss, Jackie Gleason, Copérnico, Fats Domino, Benicio del Toro, Gabriel O Pensador, Chris Squire, Johannes Gutenberg, David Gilmour, Bobby Fischer, Michel Legrand, Pablo Milanés, Luis Buñuel, José de San Martín, Galileo Galilei, Edward James Olmos, Raúl Julia, Brad Dourif, Nijinski, Dennis Farina, Burt Lancaster, Albert Camus, Sandro Boticelli, Antonio Vivaldi, Julius Erving (Dr J), John Byron, Johnny Cash, Julio Bocca, José Luis López Vázquez.
Todos eles nascidos sob o signo de Peixes.

Foto de Mickey Spillane de Laurie Roberts
Foto de Nikolai Rimsky Korsakov de V.A. Zerov
Foto de Brian Jones de John Hoppy Hopkins

Foto de Henfil do jornal Zero Hora

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Vinte curiosidades da história do Oscar


Alfred Hitchcock jamais ganhou o Oscar


Charles Chaplin também não


O homem que atravessou nu o palco enquanto
David Niven e Liz Taylor apresentavam
o prêmio de melhor filme


Era para Marlon Brando receber. Foi um escândalo.


O Oscar, assim como o Grammy, é uma celebração da auto-referência. A indústria premia à indústria. Para quem não entende inglês é difícil acompanhar, pois a tradução simultânea atrapalha mais do que ajuda. E uma premiação longa e tediosa. Porém, a cada ano é uma das transmissões televisivas de maior ibope, a festa é assistida por milhões de espectadores.
Antes de uma nova edição, deixo aqui uma seleção de pérolas, curiosidades, omissões e escândalos.

1. Cidadão Kane (1941, de Orson Welles), considerado pela maioria dos críticos e estudosos do cinema como o melhor filme da história, apenas ganhou o Oscar de melhor roteiro.

2. A primeira festa foi em maio de 1929 e durou... sete minutos! Os ganhadores já haviam sido anunciados em fevereiro e as radios apenas noticiaram o evento. Já em 1985, a duração foi de três horas e quarenta minutos.

3. Em 1943, a atriz vencedora Greer Carson fez um discurso de uma hora para pedir contribuições financeiras dos artistas para a guerra. Desde então, os discursos dos triunfadores foram limitados pela organização. Atualmente, se passarem de 45 segundos, acende uma luz vermelha na frente deles.

4. Em 1944, Ingrid Bergman não foi indicada por Casablanca e sim por Por quem os sinos dobram. Mesmo assim o Oscar foi para Jennifer Jones. A música do filme, a hoje clássica As time goes by, também foi ignorada.

5. Esses são alguns dos grandes nomes que jamais receberam o Oscar: Alfred Hitchcock, D.W. Griffith, Charles Chaplin, Greta Garbo, Buster Keaton. Com o passar do tempo, a Academia inventou o Oscar de honra para reparar as omissões.

6. A famosa música de Mikis Theodorakis do filme Zorba perdeu para Chim-Chim-Cher-E-E, do Mary Poppins. Foi em 1964. Pior sorte teve Mrs. Robinson, de Simon and Garfunkel para o filme homônimo (No Brasil, A primeira noite de um homem): nem foi indicada em 1967. Ganhou Talk to the Animals, do Doutor Dolittle.

7. Em 1971, depois de rejeitar a sua candidatura, George C. Scott não se apresentou para receber o Oscar pelo filme Patton.

8. Em 1973, enquanto David Niven apresentava os candidatos de uma categoria, um nudista passou por tras dele. A cena foi vista por televisão no mundo inteiro.

9. Em 1977, com Pasqualino Sete belezas, a diretora italiana Lina Wertmüller consegue ser a primeira mulher indicada ao Oscar de melhor direção.

10. Em 1957, o prêmio de melhor argumento vai para Robert Rich por O menino e o touro, mas ninguém foi receber a estatueta. Poucos dias depois, soube-se que o tal Rich era na verdade Dalton Trumbo, o grande escritor incluído nas célebres listas negras.

11. Em 1969, o assassinato de Martin Luther King obrigou a adiar 48 horas a festa dos Oscar.

12. Em 1973, Marlon Brando não foi receber o prêmio correspondente ao filme O poderoso Chefão. No lugar dele, envia uma representante dos povos indígenas, que discursa em protesto pelo maltrato aos seus pares. Anos depois, soube-se que a “índia” era na verdade uma atriz chamada María Cruz.

13. Em 1978, o filme Momento de decisão foi indicado em onze categorias. Não ganhou nenhuma. Voltou a acontecer em 86, com A cor púrpura, de Steven Spielberg.

14. Katharine Hepburn, com quatro estatuetas, é até hoje a campeã no quesito melhor atriz principal.

15. Em 1984, o roteirista Robert Towne, revoltado com as mudanças introduzidas no seu texto para Greystoke, decidiu assinar o roteiro com o nome do seu cachorro: P.H. Vazak. Consta como a primeira e única vez que um cachorro foi indicado ao Oscar.

16. A Bela e a Fera foi o primeiro longa de desenhos animados indicado na categoría melhor filme. Foi em 1991.

17. Woody Allen conseguiu em 1977 o que só Orson Welles tinha conseguido: ser indicado nos itens ator protagónico, diretor e roteiro. Mas na noite da premiação ele preferiu ir tocar o clarinete com sua banda de jazz.

18. Com sua interpretação de um reporter anão no O ano em que vivemos em perigo, Linda Hunt foi a primeira atriz a ganhar um Oscar fazendo um personagem do sexo oposto.

19. Em 1986, a Academia premiou pela primeira vez um personagem homossexual: foi William Hurt por O beijo da mulher aranha.

20. Em 1931 o western Cimarron recebe o Oscar de melhor filme. Se passaram mais de 60 anos até que outro faroeste foi honrado com o prêmio: foi Los imperdonables, de Clint Eastwood.

Foto da atriz María Cruz da Agência Corbis

sábado, 14 de fevereiro de 2009

São Valentim



Por razões obvias, histórias cruzadas de Brasil e Argentina exercem forte atração sobre mim. Por isso hoje, que o mundo anglo-saxão comemora São Valentim -e vários países latinos também por conseqüência da colonização cultural- vou fazer uma parada na figura de Paulo Valentim, craque brasileiro que brilhou na década de sessenta no Botafogo e no Boca Juniors da Argentina. E que foi protagonista de uma bela e ao mesmo tempo amarga história de amor com ninguém menos que Hilda Furacão.
Contam os historiadores do futebol que Valentim já era figura no Atlético Mineiro mas não tinha um tostão, chegando a dormir debaixo da arquibancada. Nessa época, na área conhecida como Polo Norte, Paulo, amigo da noite, encontrou Hilda pela primeira vez.
Chamada de Furacão, Hilda era uma mulher baixinha, pernambucana migrante, que fazia programas nos bares e boates da zona.
A diretoria do Atlético, logicamente, não via com bons olhos o relacionamento, pensando que não passava de uma paixão breve, mas que enquanto ardia tirava o fólego do craque no gramado.
Pela mediação de João Saldanha, o carioca Paulo voltou pra sua terra para estrear no Botafogo vitorioso que tinha Garrincha e Didi.
Em 1957, entrou para a história do alvinegro depois de marcar cinco vezes na decisão do estadual no 6 a 2 em cima do Fluminense.
Em 1959, o Sul-Americano foi jogado em Buenos Aires. Valentim virou estrela nacional ao lavar a honra brasileira, quando fez três gols no jogo contra Uruguai. O público argentino ficou maravilhado pela destreza e pela raça do jogador. E a diretoria do Boca Juniors não perdeu o tempo e contratou Paulinho.
Antes de mudar para Buenos Aires, Valentim resolveu casar com Hilda, o que jogou por terra a história da paixão passageira. Contou Saldanha que na ceremônia o padre fez referências explícitas ao passado de Hilda e que Paulo só não foi pra cima do religioso porque os amigos o acalmaram.
Na Argentina, Paulo Valentim viveu quatro anos de esplendor. Formou o ataque xeneize com Ernesto Grillo e José Sanfilippo. O Boca foi campeão em 1962 e 1964 e ele foi artilheiro dos torneios de 61, 62 e 64. Paulinho entrou rápido no coração dos torcedores, o Jugador Número 12. Logo no primeiro clássico com o eterno rival River Plate, faturou duas vezes para a vitória 3 a 1, iniciando também um histórico duelo com o grande goleiro riverplatense Amadeo Carrizo. E a torcida criou um canto que dizia “Tim, tim, tim, gol de Valentim”. Vocês vêem como naquela época eram inocentes os gritos de guerra das torcidas.
Em Buenos Aires, além da glória esportiva, ninguém conhecia o passado de Hilda, aqui ela era “la señora de Valentín” (o sobrenome de Paulinho foi freqüentemente espanholizado na Argentina). Ninguém sabe o pelo menos ninguém disse porque eles voltaram para o Brasil no final de 64. Pode ter sido por saudades, por ofertas que não vingaram ou pelo final de um ciclo, mas o certo foi que ali começou o declínio do astro.
À beira dos quarenta foram pro México. Naqueles anos os jogadores de futebol não ganhavam essas fortunas que hoje os poucos eleitos já têm aos vinte. Valentim acabou trabalhando no cais do porto e Hilda pensou na solução de voltar à velha profissão, mas ele rejeitou tal possibilidade. Assim mesmo Hilda não ficou quieta. Ligou para os contatos que ainda tinha no Boca e conseguiu um contrato para que Valentim possa trabalhar nas divisões de base do clube argentino.
O casal abandonou a modesta pensão do bairro do Flamengo e voltou pra Buenos Aires, talvez atrás do sonho de reviver os tempos felizes.
Paulo Valentim morreu na cidade portenha em 1984. Diversas lendas foram tecidas ao redor de Hilda. Ela virou até minissérie da Globo. Mas não há uma história oficial sobre o destino dela.
Até hoje, Valentim, ídolo de duas torcidas, precoce destrutor de preconceitos entre Argentina e Brasil, é o máximo anotador nas decisões dos estaduais brasileiros e o maior artilheiro do Boca em frente do River.
Não é uma bela história de São Valentim?






Texto escrito com dados do arquivo próprio, de jornais argentinos e brasileiros e do blog de Roberto Porto

Foto de Paulo Valentim no Boca Juniors, gentileza especial para o Nemvem Quenaotem do arquivo do
Diario Olé
Foto de Paulo Valentim no Botafogo e de Paulo Valentim e Hilda Furacão no apartamento de Buenos Aires, sem crédito conhecido.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Voltou The Prodigy: Me levem pro hospital!



Está marcado para segunda-feira o lançamento mundial de Invaders Must Die, novo trabalho da banda británica The Prodigy. Depois de cinco anos sem entrar oficialmente nos estúdios, o já balzaquiano trio formado por Liam Howlett, Kent Flint e Maxim mostrou que está em ótimo estado.
Reis da cena rave no início da década de noventa com um misto de eletrônica, hardcore e punk, os três estavam mais voltados para projetos pessoais e no conforto das suas mansões de Essex.
Em Londres, a divulgação da novidade foi com uma ambulância delirante alugada para o propósito: Além do título de uma faixa, Take Me To The Hospital também é o nome do selo próprio que a banda inaugura.
O espírito punk deles permanece inalterado, com essa rara virtude de ser ao mesmo tempo dançante.
Destaque para Run With The Wolves, com a participação na bateria do Dave Grohl, do Nirvana e Foo Fighters; Warrior Dance e a faixa-título, Invaders Must Die, que junto com Omen, a outra música de trabalho do album, já receberam mais de um milhão de visitas no Youtube.

Foto de The Prodigy de Paul Dugdale

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Red Hand Day, contra as crianças-soldado





Hoje é comemorado no mundo inteiro o Red Hand Day (Dia da mão vermelha), ação internacional para deter o uso de crianças-soldado.
Crianças ex-combatentes e outras apresentaram hoje na ONU milhares de mãos vermelhas colhidas nos diferentes países no último ano.
Desde 12 de fevereiro de 2002 existe uma resolução das Nações Unidas que proíbe o uso de crianças nas guerras, porém em mais de vinte países, continuam sendo recrutadas crianças, submetidas a todo tipo de abusos e obrigadas a atravessar involuntariamente pela pior experiência que um ser humano pode viver.
O compromisso dos líderes internacionais para acabar com este horror continua sendo muito fraco.
Há uns meses escrevi aqui a história de China Keitetsi, que simboliza essa luta.
Infelizmente, o único país da América Latina que sumou-se ao evento foi Colombia. Pois é, lá sabem sobre isso.



Mais informação no site da Red Hand Day Organization

Foto da comemoração do Red Hand Day na Alemanha
Foto de criança-soldado em Sudão da Agência AFP

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Cachaíto López



Na década de sessenta havia dias em que ele tirava o black-tie da Orquestra Sinfônica e meia hora depois estava num outro palco tocando seus danzones e rumbas. Essa dualidade para pulsar tanto a corda académica quanto a popular, fez de Orlando Cachaíto López -que morreu ontem em Havana com 76 anos- um músico único.
Conhecido internacionalmente como parte do Buena Vista Social Club, ele foi muito mais que isso. Membro de uma dinastia familiar liderada pelo seu tío Israel, o Cachao, e seu pai Orestes, Cachaíto foi um mestre do contrabaixo que foi testemunha e protagonista das mudanças e da evolução da música cubana.
Ele era um garoto ainda e já tinha intimidade com o chamado ritmo nuevo, que trazia à música africana e o jazz para ritmos como o danzón e o mambo.
Seria tedioso listar aqui todos os discos em que tocou, as bandas que ele integrou e os encontros de palco que protagonizou.
"Eu já contei 17 membros da família que tocam contrabaixo", dizia sorrindo. Pois é, está escrito hoje na maioria dos jornais que com a morte de Cachaíto chega o fim da dinastia. Eu não sei. Até a neta dele já encara o instrumento.
Mas com certeza esse Buena Vista do andar de cima deve estar ficando cheio de sabor. Já estão lá Compay Segundo, Ibrahim Ferrer, Pío Leyva, Rubén González e agora Cachaíto.



Vídeo de improvisação de Cachaíto com Angá Díaz nos estúdios Egrem de Cuba
Fotos de Cachaíto López de divulgação do selo World Circuit Records

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Oitenta anos de antropofagia



É curioso. Tarsila do Amaral teve a sua obra exposta em Paris pela primeira vez em 1926, mas só agora ganhou uma mostra individual em Madri. A Fundación Juan March expõe até o 3 de maio uma retrospectiva da artista paulista que vai desde os anos vinte até 1931, quando Tarsila foi para a União Soviética.
São cinqüenta obras da época em que ela com o Grupo dos Cinco (que completavam Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Mário de Andrade e seu então companheiro Oswald de Andrade) fez tremer as academias.
A mostra espanhola acontece no ano em que duas obras capitais dela fazem oitenta anos: Cartão postal e Antropofagia, que por sua vez cita as também clássicas Abaporu e A negra.



"Eu invento tudo na minha pintura. E o que eu vi ou senti, eu estilizo"


Reprodução de Antropofagia, de Tarsila do Amaral
Foto de Tarsila do Amaral, sem crédito do autor, do livro Grandes Artistas Brasileiros (Art Editora)

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Poster Boy no xadrez


Intervenção em cartaz de filme


Intervenção em porta do metrô ("Não encoste nos pobres")

Quem anda de metrô por Nova York não está interessado nas publicidades tanto quanto nas intervenções que nelas faz o artista urbano Poster Boy (talvez chamado Henry Matyjewicz).
Pesadelo da política de tolerância zero da polícia da Grande Maçã, o artista intervém cartazes publicitários nas estações, e só com um canivete, cria peças que manifestam sua mensagem anti-consumo e política. E ele faz isso em minutos apenas, usando maiormente os mesmos elementos originais do cartaz. Assim, por exemplo, um cartaz do filme Ironman vira uma mensagem anti-bélica que diz Iran=Nam (Irã=Vietnã) ou o musical da MTV, The American Mall vira The American Fall (A queda da América).
Poster Boy tem 26 anos e uma carreira que consta de mais de 200 cartazes criados, contra os protestos das agências de publicidade e a ira das autoridades. O metrô transformou-se na sua galeria. Desde a época dos graffiteiros, pre-Rudolph Giuliani, que ninguém conseguia incomodar tanto a ordem estabelecida.
A acusação formal que pesa sobre ele é a figura legal de “vandalismo”, mas o artista se defende dizendo que “tomar o entorno nas mãos e fazer dele o que você quiser, sem ferir ninguém, não pode ser crime”.
Na semana passada a polícia prendeu Poster Boy, mas não foi num covil, ele foi pego em uma galeria de arte do Soho. Agora, uma mensagem anônima diz que Henry não é o tal e que Poster Boy é um movimento.
As fotos das suas obras, que ele mesmo faz antes de sair de fininho, estão no seu flickr. E também pode se ver o artista-vándalo-bandido-criminoso em ação no Youtube.
Paradoxos da vida moderna.



Fotos das obras de Poster Boy de Poster Boy
Foto de Poster Boy de Christopher Anderson

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sexta-feira non sancta (XII)



Von Victor é um artista brasileiro nascido em Taubaté (SP) cujas imagens estão ecoando pelo mundo fora.
Devedor da cultura japonesa, o anime, os Pin-Up Toons, o rock, o cinema B, e artistas vários, de Art Frahm a Alberto Breccia, ele é na atualidade uma das mais atrativas figuras da arte pop brasileira, digno herdeiro de Carlos Zéfiro.
No site de Von Victor podem conferir uma síntese do seu trabalho. Aviso às pessoas "sensíveis" que o site contém imagens de arte pornô.



Reprodução de "Rocket", ilustração de Von Victor para a Dinamo Filmes

Dona Zica



"Cartola e eu nos conhecíamos desde crianças, vivíamos ali no morro. Ele saía num bloco e eu em outro. Depois ele fundou a Mangueira e eu comecei a sair nela. Cartola casou-se com uma moça e eu também casei com outro rapaz. Saí do morro e ficamos muito tempo longe um do outro. Mais tarde eu fiquei viúva, ele também. Um dia nos reencontramos na casa da minha irmã. Ele jogou aquele papinho dele, eu também estava à toa, e daí estamos juntos até hoje".

Dona Zica, figura ilustríssima da Estação Primeira de Mangueira, resumiu assim em 1973, sua longa história de amor com o compositor Cartola.
Zica nascera em 6 de fevereiro de 1913. Hoje é seu aniversário. Ficou fora da postagem sobre aquarianas. Ela merecia esta só pra ela.

Foto do arquivo da Folha de São Paulo

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O trágico destino de Sylvia Plath e Anne Sexton



“Os meus admiradores acreditam que estou curada, mas não é verdade. Apenas virei poeta”. A frase foi pronunciada por Anne Sexton, perto de interromper a própria vida.
Anne tinha descoberto a poesia em um programa de televisão, em 1956. “Até então eu desconhecia se sabia fazer alguma coisa, além de molhos e trocar fraldas. Era uma vítima do sonho americano”.
Foi a psiquiatra dela a primeira que a animou para escrever. Anne era uma filha não desejada, maltratada pelos pais primeiro e pelo marido depois, e que por sua vez maltratava às filhas dela. Anne sofria de transtorno bipolar, que na época era chamado de psicose maníaco-depressiva, e já carregava uma tentativa de suicídio.
Três anos depois daquela revelação televisiva, Anne foi fazer curso com o poeta Robert Lowell, quem -disse- lhe ensinou o mais importante da poesia, que não é o que pôr num poema mas o que tirar nele. Lá conheceu uma jovem de 27 anos que estava por publicar seu primeiro livro e que seria sua estrela-guia no mundo literário e na vida. Anne ficou fascinada pela pessoa e pela poeta Sylvia Plath.
Juntas protagonizaram depois das aulas longas conversas sobre paixões, poesia e suicídio, regadas a Martinis.
No verão de 1962, Sylvia descobriu que era traída pelo seu amado esposo e também poeta Ted Hughes. A mulher carregou os filhos e foi morar no campo na Inglaterra. O inverno foi muito cruel. Sylvia ficou isolada, sem telefone, escrevendo poemas e longas cartas para sua mãe. Por causa do rigor do clima, as vezes faltava luz e transporte.
Na manhã de 11 de fevereiro de 1963, Sylvia acordou, deixou um copo de leite para cada um dos seus filhos na mesinha de cabeceira, foi para a cozinha, trancou a porta, abriu o forno e colocou um pano onde encostou a cabeça para esperar a morte.
Para essa época, Sylvia tinha 30 anos e já contava com uma ampla produção literária, que incluía a sua autobiografia (A redoma de vidro); os Diários e a série Ariel.
Anne Sexton chegou a dizer “essa morte era minha”. Mas ela mesma também decidiu pôr fim a sua vida onze anos depois e depois de outras tentativas, quase sempre teatrais (ela chegou a anunciar por telegrama sua intenção de suicidar).
Foi em 1974, quando Anne já tinha também uma grande reputação como poeta, com assuntos pouco comuns para as mulheres que escreviam poesia, como masturbação, adultério e menstruação.
A identificação de Anne com Sylvia foi até o final, coroada pelo suicídio. Segundo Lowell, que foi mestre das duas “Anne era mais auténtica, mas sabia menos que Sylvia
As duas estão no paraíso da poesia dos Estados Unidos e no círculo dos poetas suicidas que exercem tanto atração como mistério.

Decisão

Dia nublado: dia cinzento

fico
de mãos bobas
esperando o leiteiro

o gato de uma orelha
lambe a pata cinza

e ardem brasas em chamas

lá fora, vão ficando amarelinhas
as folhas da trepadeira
uma fina fita de leite
embaça garrafas vazias na janela

nenhuma glória provém

duas gotas se equilibram
numa verde envergada
haste da roseira na casa ao lado

ó se arca de espinhos

o gato afia as garras


o mundo gira

hoje

hoje não irei
desiludir meus doze engalanados examinadores
nem cerrarei meu punho
na ironia do vento.



Para Sylvia Plath

Oh Sylvia, Sylvia!
com uma caixa morta de colheres e pedras
com dois filhos, duas estrelas fugazes
errantes na pequena sala de jogos
com tua boca no lençol
na trave do teto, na nécia oração (...)


Texto escrito com informações colhidas em textos de Robert Lowell e Helen McCormack
Decisão (Resolve), de Sylvia Plath, versão para o português de Elson Frões
Para Sylvia Plath, fragmento de A morte de Sylvia (Sylvia’s death), de Anne Sexton, versão para o português de Juan Trasmonte
Foto de Sylvia Plath de Mortimer Rare Book Room (1956)
Foto de Anne Sexton da Agência AP (1967)

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Quando Sinéad canta



Quando Sinéad canta, fecha os olhos com a cabeça voltada para o chão. As vezes ela os abre e troca breves olhares cúmplices com os músicos e ensaia leves sorrisos, um movimento apenas das comissuras dos lábios que desenha dois buraquinhos nas bochechas dela.
Depois, volta a fechar os olhos e abaixar a cabeça.
Outras vezes, ela encara o auditório e o seu olhar aparece no conjunto de sobrancelhas, cílios, brilho e significantes. Se for uma música como Fire on Babylon ou The last day of our acquaintance, melhor não ser o objeto olhado. Não devem existir muitos seres capazes de sustentarem indenes um olhar desses.
As vezes, ela faz uns passos de dança, pequenos. Tudo é económico nela, menos a voz.
Outras vezes ela usa a palma da mão esquerda em alto para sustentar uma nota, como se quisesse acompanhar o ar ou como se quisesse deter o peso da canção. Porque quando Sinéad canta o que nasce ou renasce é o peso da canção. Ela traz no corpo e no corpo que a voz é, fantasmas ancestrais; chagas próprias e de outros seres; sedes; sedimentos e sentimentos sem tempo, em estado puro.
Quando Sinéad canta a vida é como ela é, no maior esplendor da sua beleza, no maior desalento da sua dor.

Foto de Sinéad O'Connor de Thomas Canet