quinta-feira, 30 de outubro de 2008

E um dia a democracia voltou


Quem já atravessou ditaduras sabe que a pior democracia é mil vezes melhor que a melhor ditadura.
Hoje fazem 25 anos da reinstauração da democracia na Argentina.

Foto da Avenida 9 de julio em 30 de outubro de 1983 do jornal La Nación

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Serge Gainsbourg 80



O ano está quase jogando a toalha e na França continuam as homenagens a Serge Gainsbourg. É porque o eterno Gainsbarre teria feito 80 anos em abril desse 2008.
Considerado o artista francês do século vinte por excelência, e por rebeldia, e por atitude e por ser francês até o osso.
No finalzinho de 2007 foi lançado o Dictionnaire Gainsbourg, onde Jean-William Thoury coleta o universo do escritor, cantor, cineasta, ator, poeta e bebum. Já em 2008, o desenhista Joann Sfar anunciou o início das filmagens do biopic Vie heroïque. E na Cité de la Musique, em Paris, com a presênça da amada Jane Birkin e a filha Charlotte, começou a mostra Gainsbourg 2008, o panorama definitivo sobre a vida e a obra do artista que inclui instalações, manuscritos, sons e muitas das melhores fotografias da figura.

Foto de Serge Gainsbourg na banheira de Xavier Martin
Foto de Serge Gainsbourg com câmera de Pierre Terrasson
E finalmente, Serge Gainsbourg convida Whitney Houston pra fazer a porcaria

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Carybé por Amado



Em 1938, há quase quarenta anos, Carybé (Héctor Bernabó), aportou na Bahia, vinha carregado de índios, sombreros, tangos. Na opinião de várias senhoras da zona do Maciel, era um janota elegantíssimo, trajava polainas, colete e paletó lascado atrás, moda audaciosa na época. Um inquieto em busca de sua pátria perdida, do chão de sua sensibilidade, de seu porto de abrigo, de seu lar. Onde a terra verdadeira desse cidadão brasileiro nascido em Buenos Aires, adolescente no Rio, jovem artista na Argentina, aventureiro nos caminhos da Bolívia e do Peru, na selva do Chaco, biscando e buscando-se? Eis que chega à Bahia, a seu sol, a seu mar, a seu azul mágico, à sua mistura. Deslumbrado, descobre o chamego, o dengo, a magia. Nos quarenta anos decorridos a partir do momento solene do encontro do artista com seu chão, com sua pátria, com seu lar, Carybé plantou raízes tão fundas na terra baiana como nenhum cidadão aqui nascido e amamentado. Bebeu avidamente essa verdade e esse mistério, fez da Bahia carne de sua carne, sangue de seu sangue, porque a recriou a cada dia com maior conhecimento e amor incomparável.
Em sua casa de Brotas, existe um quadro antigo pintado por Carybé logo após o desembarque na terra baiana, naqueles idos de 1938. É uma tela de grande beleza -o enterro de uma puta, na zona- onde esplende uma Bahia de súbito revelada mas não possuida em suas entranhas: ei-la misturada de espanholismos, com pedaços de Gardel e cores índias do Altiplano, uma Bahia que o artista apenas antevia na hora comovida da descoberta.
Esse mesmo tema da Bahia popular na hora cruel do enterro da moça meretriz, no instante da dor desatada na ladeira, Carybé o retomou recentemente, num grande quadro hoje de propriedade, se não me engano, do Museu da Manchete: límpida Bahia em sua mistura fundamental, completa e perfeita, despida dos acréscimos que o artista e filho pródigo trouxera em sua jovem alma vária e inquieta. Agora são uma única realidade, a terra e o criador, a inspiração e a obra realizada: nesses quarenta anos Carybé se fez não apenas o grande mestre baiano, mas o cidadão baiano por excelência.
Sua obra nos engrandeceu, deu-nos maioridade artística. A Bahia, ao mesmo tempo, fez dele, o grande mestre do desenho, da pintura, da escultura. Artista principal da Bahia, dela nasce todas as manhãs e todas as manhãs a recria em sua beleza, em seu mistério, em toda sua verdade.
Outro dia um jornalista lhe-perguntou:
- Onde o senhor nasceu, seu Carybé?
- Nas Sete Portas, minha filha -respondeu.
Nasceu ou renasceu, que importa?

Mestre Carybé, de Jorge Amado, do livro Bahia de Todos os Santos - Guia de ruas e mistérios, publicado em 1945


Reprodução do óleo Bahia, de Carybé (1971)
Foto de Pierre Verger, Jorge Amado e Carybé, de Zélia Gattai (Fundação Casa de Jorge Amado)

domingo, 26 de outubro de 2008

O outro lado do lado


A cidade de Bernardo de Irigoyen, na província de Misiones é o extremo oriental da Argentina. Com seus sete mil habitantes é como toda cidade de fronteira, um misto de línguas, culturas e moedas.
Do outro lado, na chamada Fronteira seca, as cidades brasileiras de Barracão, Paraná, e Dionísio Cerqueira, Santa Catarina.
A prosperidade desses últimos anos dos cidadãos de Irigoyen, sustentada pelo câmbio favorável está ameaçada agora pela loteria dos Estados Unidos.
Todos os dias, centenares de brasileiros atravessavam a fronteira para encher os carros de comida e os tanques de gasolina. Com a desvalorização do real a viagem não compensa mais.
Uns e outros estão lascados. De um lado perderam poder de compra e do outro os comerciantes demitem funcionários e olham para a fronteira parados nas portas das lojas, entre o tédio e a angústia, esperando algum milagre acontecer.

Foto de Carlos VP da fronteira entre Argentina e Brasil na cidade de Bernardo de Irigoyen, Misiones. Do lado esquerdo é Brasil, do lado direito, Argentina

sábado, 25 de outubro de 2008

Dez músicas sobre exílio


Cat Stevens


Jaime Roos


Horacio Guarany


Manu Chao


1. Iracema (Chico Buarque)
Uma moça do Ceará que, como tantas, vai atrás do american dream. Exílios modernos que freqüentemente já não são por motivos políticos mas por ilusões, as vezes vãs, de prosperidade financeira. Iracema “lava chão numa casa de chá” enquanto ambiciona estudar canto lírico. Destaque: “Uns dias, afoita,me liga a cobrar: ‘É Iracema da América’ ”.

2.Clandestino (Manu Chao)
Essa música virou hino dos “sem papeis”, a enorme masa de exilados que tem que sobreviver em terra estrangeira fugindo das autoridades. Para quem já esteve em algum lugar pelo menos um dia com o visto vencido faz um significado especial. Destaque: “Soy una raya en el mar, fantasma en la ciudad. Mi vida va prohibida, dice la autoridad”

3.Corrandes d'exili (Quadras do exílio) (Pere Quart-Lluís Llach)
Um catalão da resistência deve atravessar a fronteira com a França nos tempos da ditadura franquista. De uma beleza comovente, como só o Lluís Llach consegue cantar nessa língua. Deixo a versão de Ovidi Montllor (que não é o compositor como diz na tela), num clipe pavoroso Destaque: “Para que nos-perdõe a guerra que a quebra eu me deito e beijo a terra, antes de cruzar a fronteira”

4. Maria Bethânia (Caetano Veloso)
História que o próprio Caetano contou inúmeras vezes. Da época do exílio londrino, quando pediu em forma de canção para a irmã Bethânia que lhe-escrevesse uma carta. Destaque: “Maria Bethânia, please send me a letter I wish to know things are getting better”

5. Foreigner Suite (Cat Stevens)
Uma música de amor e liberdade composta por alguém que sabe bem do que está falando. Lembrei dessa música por causa do belíssimo retrato que Regina escreveu sobre Cat Stevens há poucos dias. O atual Yusuf foi na época pra Jamaica para fazer esse disco que não foi bem recebido pela crítica, com essa suite que durava o lado A inteiro, na época em que o que se esperava dele era belas melodias de três minutos. Destaque: “Why wait until it's your time to die before you learn what you were born to do?”

6. Un español habla de su tierra (Luis Cernuda – Paco Ibáñez)
Maravilhoso poema do grande Luis Cernuda, musicado pelo também grande Paco Ibáñez. A ditadura de Franco, que desterrou a tantos e que pareceu eterna em seus quarenta anos. Destaque: “Amargos son los días de la vida, viviendo sólo una larga espera a fuerza de recuerdos”.

7. Caballo que no galopa (Horacio Guarany)
E assim como muitos espanhóis vieram pra Argentina nos anos de Franco, ná década de setenta foi a vez de muitos argentinos procurarem abrigo na Espanha. O cantor de folclore Horacio Guarany, perseguido e ameaçado de morte, fez várias músicas dolorosamente belas na Espanha, algumas com letra do poeta também perseguido Armando Tejada Gómez. Uma declaração explícita de política de quem opta por estar longe antes do que “vender” seu violão. Destaque: “Soy jinete de la noche, voy galopando hacia el alba, ando lejos de mi tierra por no vender mi guitarra”.

8. Exile (Geoffrey Oryema)
A obra toda do cantor e compositor ugandês Geoffrey Oryema está atravessada pela dor do exílio. A Uganda do Idi Amin cobrou, entre muitas, a vida do próprio pai de Geoffrey. Foi o início de um longo desarraigamento. Destaque: Bom, se tiver algum ugandês na área que ajude a traduzir a letra, eu agradeço.

9. Los olímpicos (Jaime Roos)
Como todo pais pequeno, o Uruguai tem destino de criar seus filhos e vê-los irem embora. Essa belíssima música de murga carnavalesca, que identifica a tantos uruguaios que moram no estrangeiro, está focada perto das festas do final do ano, datas especialmente difícis para exilados. Já com a perspectiva dos ensaios do carnaval o autor se interroga sobre onde foram parar tantos uruguaios. A música destaca também essa zona cinza onde já nem voltar nem ficar fazem sentido. Destaque: “Volver no tiene sentido, Tampoco vivir allí, El que se fue no es tan vivo, El que se fue no es tan gil”

10. Cuando me acuerdo de mi país (Patricio Manns)
Depois da queda de Salvador Allende, o Chile suportou a mais cruenta ditadura da sua história. Patricio Manns foi um dos artistas populares que melhor expressou essa mistura de dor e raiva que está no dia-a-dia dos exilados por motivos políticos. Versão belíssima de Mercedes Sosa, que mudou na gravação do disco o verso “desperto fuzil” por “desperto cravo”. Destaque: “Cuando me acuerdo de mi país me muero de pan, me nublo y me doy”.

Bonus track: Volver (Carlos Gardel-Alfredo Lepera)
No final do filme El día que me quieras, Gardel canta Volver. O filme foi lançado em 1935, pouco depois da trágica morte do cantor. Os lindos versos de Lepera -responsável pelas letras de muitos sucessos de Gardel- refletem a dor de quem volta para constatar que nada será como antes. O verso “veinte años no es nada” ficou no imaginário popular argentino a até hoje é dito como metáfora da rapidez do passar do tempo.

Vocês sabem que o que eu chamo de vida estrangeira é um dos assuntos centrais desse blog. Então aqui uma lista com algumas músicas que expressam os sentimentos de tantas pessoas que cada dia abandonam a terrinha. Se alguém precisar de tradução para as frases em espanhol, é só gritar. Como eu sempre digo, a ordem das músicas listadas não indica valor.

Foto de Cat Stevens do arquivo da revista Rolling Stone
Foto de Jaime Roos do jornal El País
Foto de Horacio Guarany do jornal Clarín (maldito costume que têm esses jornais de não colocar o autor da foto)
Foto de Manu Chao de Alexa Brunet

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O lado Afro da Argentina


Entre 26 e 28 de outubro serão realizadas pela segunda vez em Buenos Aires as jornadas culturais Argentina también es Afro.
O encontro começa com uma clínica de tambores ministrada pelo Ilê-Aiyê e um toque pelo bairro de San Telmo, que concentrou no passado a maioria de habitantes de raça negra da cidade. Haverá palestras sobre a influência afro na cultura argentina, racismo, história e religiosidade. Além do tradicional bloco baiano estarão presentes também o professor Nilo Rosa dos Santos e a licenciada Lindinalva Amaro Barbosa, omorixá oyá do Terreiro do Cobre da Nação Ketu.
Acontece no Centro Cultural Caras y Caretas, na rua Venezuela 370 e no Museo Juan Domingo Perón, na rua Austria 2593.

Foto de baiana do Ilê-Aiyê de Adenor Gondim

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Aos pés do congar


Não é que eu não percebo as coisas
eu percebo as coisas
mas deixo acontecer
vejo os dentes derruídos
o canibal mexicano
as mãos apertadas
o demónio no olhar
Babilônia tá bombando
Mãe de Aruanda
estou aos pés do congar
porque eu percebo as coisas
vejo culpa porque vejo
vejo sangue olho cego
vejo flash férula fé
um deserto em Mauritânia
eu não mereço você.

Aos pés do congar, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto minha do congar da sala, onde meu pai Oxossi cuida do Poetinha e de Dorival

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Nick Walker, mestre do stencil








Surgiu na revulsiva cena artística de Bristol, na Inglaterra de Margaret Thatcher do começo dos anos oitenta. Os graffitis provocadores do britânico Nick Walker foram da rua para os museus. Especializou-se na técnica do stencil e embora suas obras já são vendidas por fortunas, ele continua realizando intervenções -as vezes modificando as próprias obras na linha da arte evolutiva- e deixando sua marca na arte de rua, como ele gosta, à beira do vandalismo.

Moona Lisa, intervenção em rua de Los Angeles (2007) e The morning after, obras de Nick Walker

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Carta de amor de Fidel Castro



Janeiro 31 de 1954

Minha cara Natty:
Tuas cartas breves são também muito bonitas, e como elas vêm com mais freqüência eu as prefiro. A alegria de uma carta não consiste só no conteúdo quando a gente está preso, mas também na chegada de um envelopinho conhecido que esperamos com carinho e impaciência.
Todas as tuas cartas são sempre amenas, interessantes e gratas; incansavelmente prazerosas. As formas delas são variadas como essas estrelinhas que parecem brilhar com uma luz diferente a cada dia. Mas se você escrevesse um mesmo parágrafo cem vezes, eu gostaria do mesmo jeito da última do que da primeira.
Olha, já que eu falei de estrelas: qual a diferênça entre um raio de luz e um outro raio de luz? Nenhuma. Porém, neles sempre há uma cor diferente. Um beijo é igual a um outro beijo, mas os amantes não cansam nunca. Há frases que são beijos, há um mel que jamais enjoa. Esse é o segredo das tuas cartas.
Fazia dias que eu estava por te pedir para que de vez em quando deixasses a máquina e escrevesses à mão. Você pode fazer com as mais curtinhas para não levar muito tempo. Adoro os traços da tua letra delicada, feminina, inconfundível (...).
Não interessa que eu demore mais em te dar um abraço apertadíssimo, tão forte que eu te esprema como uma flor entre as mãos, não foi preciso te ver para que agora eu deseje mais do que faz meses, tão só através da maravilhosa graça e o aceso carinho das tuas cartas, breves ou longas.

Carta de Fidel Castro a Natty Revuelta
Versão para o português de Juan Trasmonte
Foto de Fidel preso do arquivo Bettmann/Corbis
Foto de Natalia Revuelta e a filha Alina de autor desconhecido


Quando ainda era um jovem com idéias revolucionárias, Fidel Castro viveu uma grande paixão com Natalia Revuelta, conhecida como Natty. A história foi secreta, pois Fidel estava preso após a tentativa frustrada de assalto ao Moncada e Natty estava casada com um membro da burguesia cubana.
Com uma escrita poética, ao gosto de Che Guevara, ou seja, "sin perder la ternura jamás", o futuro comandante expressa o seu amor através de metáforas sobre o comprimento das cartas e o estilo da letra da mulher amada.
Do relacionamento nasceu em 1953 Alina Fernández Revuelta, que depois virou inimiga do pai e foi para Miami. Natty continua morando na ilha.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Luiz Carlos da Vila



Luiz Carlos da Vila (1949-2008)


Um dia, meus olhos ainda hão de ver
Na luz do olhar do amanhecer
Sorrir o dia de graça
Poesias, brindando essa manhã feliz
Do mal cortado na raiz
Do jeito que o mestre sonhava

O não chorar
E o não sofrer se alastrando
No céu da vida, o amor brilhando
A paz reinando em santa paz

Em cada palma de mão, cada palmo de chão
Semente de felicidade
O fim de toda a opressão, o cantar com emoção
Raiou a liberdade

Chegou o áureo tempo de justiça
Ao esplendor, do preservar a natureza
Respeito a todos os artistas
A porta aberta ao irmão
De qualquer chão, de qualquer raça
O povo todo em louvação
Por esse dia de graça.

Por um dia de graça, de Luiz Carlos da Vila
Foto de Oskar Sjostedt

Hoje é um dia tristíssimo

domingo, 19 de outubro de 2008

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sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sexta-feira non sancta (X)



Eu estou sumindo do Google

Reprodução da obra Adão e Eva expulsos do paraíso, de Benjamin West

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Unza time!


Ontem à noite, Buenos Aires voltou a viver a festa de Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra. O diretor sérvio criou uma forte identificação com a Argentina, materializada entre outras viagens no dvd Live is a miracle in Buenos Aires e no documentário Maradona by Kusturica.
A banda gipsy-punk fundada há anos sob o nome Zabranjeno Pusenje pelo carismático cantor Dr. Nele Krajlic repetiu mais ou menos o mesmo ritual de 2005. A maioria das músicas que criaram o pogo instantáneo -todo mundo pulando de lá pra cá- são de um disco que já tem oito anos. Mas ninguém pareceu se importar muito com isso. O que vale é o ritual mesmo. Dr. Nele, vestido primeiro com roupas vermelhas de clown e depois com a camisa do Excursionistas, um clube da terceira divisão argentina, dirigiu à multidão a vontade, sustentado pela percussão, a inconfundível marca dos metais dos Balcãs e duas feras como são Dejan Sparavalo, no violino, e Nenad Petrovic, no sax.
Pela sua parte, o genial diretor de Vida Cigana (ou No tempo dos ciganos ou Dom za vesanje), fica em um discreto segundo plano, com a sua guitarra e seu charuto na boca.
É uma mistura misteriosa que deu certo, o terceiro mundo da Europa encontrando o terceiro mundo da America do Sul com espírito celebratório, em um arco que admite desde uma porteña se jogando do palco pra multidão até três moças agitando frenéticamente uma bandeira sérvia. Ritual é isso, não é para explicar, é para se viver.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Blog Action Day 2008 - Fome




O estômago vazio
não tem carne nem feijão nem nada
coca-light incenso alegria goiabada
o estômago vazio
é um buraco maior
que todos os buracos
qualquer dor é superior
no estômago vazio
pois nenhum sorriso vinga
naquele abismo negro
o surdo quando bate produz uma fisgada
a carne quando falta produz uma anemia
o amor quando vem forte parece uma pedrada
é uma cesta básica sem base nem sustento
um gesto generoso que se apagou no vento
a máquina que já não mais escreve ninguém usa
se não usar o estômago apodrece mofa fede
o estômago funciona movido na paixão
na música ou comida mas com ideias não.

Estômago vazio, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Prematurity, foto de Brian Smistek


Hoje é o Blog Action Day 2008. Blogueiros do mundo todo fazemos postagens com um mesmo assunto de interesse comum.
É bom também lembrar hoje o brasileiro Josué de Castro no ano do seu centenário. O pernambucano médico, antropólogo e economista consagrou sua vida ao estudo das causas endémicas da fome no Brasil e no mundo. Seus livros Geografia da fome (1946) e O livro negro da fome (1957), foram pioneiros na matéria. Infelizmente, as palavras dele estão vigentes ainda hoje.

Só através de uma estratégia global de desenvolvimento, capaz de movilizar todos os fatores da produção em favor da coletividade, poderemos eliminar o sub-desenvolvimento e a fome da face da terra.

Josué de Castro

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Dez grandes psicopatas do cinema


Harvey Keitel como Frankie Thorn em Bad Lieutenant


O iluminado Jack Nicholson


Magistral Michael Rooker em cena de Henry


Anthony Perkins, o dono do Bates Motel

1. Norman Bates (Anthony Perkins), em Psicose (Psycho), de Alfred Hitchcock (1960)
2. Alex DeLarge (Malcolm McDowell), em Laranja Mecânica (The Clockwork Orange), de Stanley Kubrick (1971)
3. Henry (Michael Rooker), em Retrato de um assassino(Henry, Portrait of a serious killer), de John McNaughton (1986)
4. Anne Marie Wilkes (Kathy Bates), em Louca obsessão (Misery), de Rob Reiner (1990)
5. Hannibal Lecter (Anthony Hopkins), em O silêncio dos inocentes (The Silence of the lambs), de Jonathan Demme(1991)
6. Juliet Marion Hulme e Melanie Lynskey(Kate Winslet e Paulina Yvonne Parker), em Almas Gêmeas (Heavenly creatures), de Peter Jackson (1994)
7. Leatherface (Gunnar Hansen), em O massacre da serra elêtrica (The Texas Chainsaw massacre), de Tobe Hooper (1974)
8. Tommy DeVito (Joe Pesci), em Os bons companheiros (Goodfellas), de Martin Scorsese (1990)
9. Frank Booth (Dennis Hopper), em Veludo azul (Blue velvet), de David Lynch (1996)
10. Jack Torrance (Jack Nicholson), em O iluminado (The Shinning), de Stanley Kubrick (1980)

Bonus track: Lieutenant Leuy (Harvey Keitel), em Vício frenético (Bad Lieutenant), de Abel Ferrara (1992)

Os críticos catalães Jordi Batet e Rafael Dalmau acabam de publicar o livro Psicópatas en serie, onde fazem uma coletânea dos cinqüenta maiores psicopatas do cinema.
Antes de procurar maiores informações sobre o livro, resolvi fazer o meu próprio top ten, ou listar os primeiros dez que vieram à minha cabeça.

domingo, 12 de outubro de 2008

Cartola - 100 anos


...Tem muitas músicas que eu esqueci... que naquela época não existia gravadora e a gente fazia aquilo de decorar, decorar, decorar até... e as vezes só de decorar acabava esquecendo... As vezes era um amigo meu, um conhecido mesmo que dizia:
- Você se lembra desse samba assim... assim?
- Não, de quem é?
- É seu.

Extrato de depoimento de Cartola, com Aluízio Falcão, na Rádio Eldorado de São Paulo, em 1979
Foto de Cartola -de autor não creditado- na década de cinqüenta, servindo café, na época em que trabalhava como contínuo no Ministério de Industria e Comercio

sábado, 11 de outubro de 2008

A inesperada


O corpo da inesperada
atravessa minha cama quieta
a Roma emudeceu
e no silêncio a tarde bateu as botas

leves sejam as palavras que me tocam
como me toca o pé da inesperada
os fuzileiros não precisam de espantalho
os cachorros não precisam de agasalho
está na pele o terceiro mandamento
e no andamento do samba
está o silêncio
que fez morrer a tarde
e faz tremer o nada
no abraço da inesperada.

A inesperada, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto de hannamonika

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A cantora Saba traz a diáspora africana na voz


A casa de Saba, de grandes janelas, dava para o mar e tinha um morro nas costas. Era uma pequena vila em Somália. Ela lembra que atrás do morro começava o deserto de terra vermelha e que havia palmeiras na praia.
Quando a maré baixava ela saia com sua mãe e sua irmã caçula para andar na areia. Saba era nascida em Mogadíscio e a mãe que lhe contava histórias no luar, em Etiópia.
O pai de Saba era um italiano que tinha por lá uma agência de turismo. Ela tinha cinco anos quando a coisa ficou feia. Somália era uma colónia italiana e por ciclos não se dava bem com Etiópia.
Um italiano casado com uma etíope na Somália? Só podiam ser espiões, ele dos Estados Unidos e ela da Etiópia. Uma noite foram pegar ele na casa. Apesar de que só tinha cinco anos, Saba lembra muito bem da angústia dessas horas. O pai foi solto, mas o casal e as duas filhas tiveram dois dias para abandonar Somália e ir pra Itália.
As pessoas são o resultado da própria trajetória. Saba compõe e canta suas músicas na língua materna, um dialeto somali falado num setor de Mogadíscio. A obra dela está atravessada pelo choque e pelo encontro cultural entre a Africa e a Europa.
Seu álbum Jidka (The line) é definido por ela como a linha que divide seu ventre em dois partes, uma clara e outra escura. Mas é impossível não associar à palavra ao seu outro significado, que é fronteira. Porque Saba, essencialmente, pratica um retorno à terra da sua infância e mescla isso com os sons que vieram depois. Vejam que lindo.

Foto de Saba no estúdio com seu antigo parceiro, o camaronês Tatè Nsongan, que também tem um historial de trabalho musical na busca de conexão entre culturas

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Enquanto isso, Wikipédia "mata" Le Clézio

Quando a França da cultura milenária e os quatorze Prêmios Nobel de Literatura comemorava mais um, alguém resolveu matar Le Clézio na Wikipédia. Confiram a matéria que escrevi sobre o assunto no Blogueiro Reporter

Le Clézio


Durante anos eu não conheci outra coisa que não fosse o pequeno quintal da casa e a voz de Lalla Asma gritando meu nome: «Laila!». Como eu disse, não sei qual é o meu verdadeiro nome, mas tenho me acostumado com o que me pôs minha senhora, como se fosse o que minha mãe escolheu para mim. Mas também penso que algum dia alguém vai me chamar pelo meu verdadeiro nome e que então me estremecerei e o reconhecerei.
Lalla Asma também não era o verdadeiro nome da minha senhora. Ela chamava-se Azzema e era judia espanhola. Quando explodiu a guerra entre os judeus e os árabes, no outro extremo do mundo, ela foi a única que não abandonou o Mellah. Ficou trancada atrás da grande porta azul e se recusou a sair. Até que uma noite eu cheguei e tudo mudou na vida dela.
Eu a chamava as vezes de «senhora» e outras de «vó», porque ela foi quem me ensinou a ler e escrever em francês e em espanhol, me iniciou no cálculo e na geometria e me transmitiu as bases da religião -a dela, na que Deus não tem nome, e a minha, na chama-se Alá-. Ela lia para mim passagens dos seus livros sagrados e me ensinava tudo que eu não devia fazer, como assoprar sobre o que a gente vai comer, por o pão virado ou limpar as partes íntimas com a mão direita. Ela me dizia que há de se dizer sempre a verdade e lavar todos os dias dos pés à cabeça.
Em troca, eu trabalhava para ela da manhã até a noite no quintal, passando a vassoura, cortando lenha para o fogão ou lavando roupa. Eu gostava muito de subir no teto para estender a roupa: de lá eu via a rua, os tetos das casas vizinhas, as pessoas que passavam, os carros e inclusive um pedaço do grande rio azul. Desde lá os ruidos pareciam-me menos terríveis. Eu achava que estava fora do alcance de todos.
Quando ficava muito tempo no teto, Lalla Asma gritava meu nome desde o grande quarto cheio de almofadas onde ela ficava o dia inteiro. Me dava um livro para que eu lesse ou bem fazia ditados e me perguntava coisas das lições anteriores.
Como recompensa, me deixava ficar com ela na sala e colocava os discos dos seus cantores preferidos: Um Kalsum, Said Darwich, Hbiba Misika, e especialmente Fayruz, com voz grave e rouca dele, e a formosa Fayruz Al Halabiyya, que canta Ya Kudsu. Toda vez que ela ouvia o nome Jerusalém, Lalla Asma começava a chorar.

O peixe dourado (Poisson d'or, 1999) (fragmento), de Jean-Marie Gustave Le Clézio, prêmio Nobel de Literatura 2008, escritor do desarraigamento que se diz orgulhosamente metade francês e metade da Ilha Maurício; e que sustenta que o romance é "o melhor sistema para entender o mundo"
Versão para o português de Juan Trasmonte
Foto de Le Clézio da Agência AFP

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Supertramp e a mulher tatuada



Sempre tive a impressão que Supertramp foi uma banda sub-valorizada. Que teve seu sucesso reconhecido -embora sempre maior nos Estados Unidos que na própria Inglaterra- mas que os elogios para sua obra foram cautelosos.
Eles estouraram na mídia com o album Crime of the Century, que tinha o hit Dreamer. Mas eu era fissurado por School, com aquela levada de piano e a bateria segurando o ritmo.
Como na época eu já era catador, fui atrás de outros discos da banda inglesa. Não bastava com sentar no Google e procurar um link para fazer download, porque não havia Google. O lance era esperar que alguém viajasse para os Estados Unidos ou Europa, que também não era coisa de todos os dias ou procurar em alguma das pouquíssimas lojas de importados.
Um dia em uma festa reconheci a voz de Roger Hodgson cantando uma música que eu não conhecia. Cheguei perto do DJ, que confirmou que tratava-se de Supertramp e me mostrou essa capa que vocês vêem aqui.
Minha primeira reação foi olhar para os lados, pois capas com imagens de nus eram proibidas na época da ditadura militar. Depois senti estranheza e curiosidade. Não havia exuberância naquele corpo para despertar minha febre adolescente, mas era um torso completamente tatuado e isso na segunda metade dos anos setenta também era uma raridade: tatuagens eram reservados para marinheiros, presos e bandas de motoqueiros como os Hells Angels que só apareciam nos filmes. O que aconteceu no meio está difuso nas linhas do tempo, mas eu imagino que foi uma encheção de saco monumental até conseguir que os meus pais me dessem a grana para comprar os discos. Sim, porque eu acabei comprando Indelibly Stamped e o primeiro Supertramp – The Early Years, importados, imagino que por um preço absurdo de caro.
O sucesso do Indelibly stamped, album lançado em 1971 e relançado em 1977 quando o grupo se deu bem, era Rosie had everything planned (A Rosinha tinha tudo planejado, um título que cairia como uma luva para uma ex-governadora do Rio de Janeiro) mas eu gostei de cara de outra, Travelled, com seu refrão

And though I try to be a good man,
I just know that I'll be losing very soon
And there are times and there are motions,
when I do believe I'm going out of tune.

And though I try to be a good man,
I keep finding there's no where to begin
And so I think I'll go on singing,
and in time I hope that we can all join in.


Eu ficava horas sentado na poltrona da sala ouvindo aquela música. Pois é, na época também as pessoas sentavam para ouvir música e só, você não ouvia música enquanto fazia qualquer coisa.
Só para registro: depois do Indelibly Stamped todos os membros da banda se demitiram, exceto Rick Davies e Roger Hodgson, as dívidas ultrapassavam fartamente os ganhos, mas os dois decidiram ir em frente com Supertramp, procurando o destino, como se essa letra que está aqui fosse premonitória. Depois entraram os novos membros (Dougie Thompson, John Helliwell e Bob C. Benberg), a banda continou do jeito que Hodgson queria, com dois vocalistas principais. Então eles conheceram o produtor Ken Scott (esse é o cara) e chegou o sucesso. A mulher da foto da capa resultou ser Rusty Skuse, freqüentadora do Livro Guiness como a mulher mais tatuada do Reino Unido. A Rusty, uma lenda do tatoo, subiu o ano passado.

Foto reprodução de capa do disco de Supertramp Indelibly Stamped, de 1971
Foto da banda do interior da capa, na reprodução para a edição em cd

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Dr Alderete



Com uma estética que evoca o cinema Z, que bebe das fontes inusitadas da luta mexicana, a iconografia surfista e os seriados de televisão, Jorge Alderete (também conhecido como Dr Alderete) é uma das mais genuinas expressões da arte pop.
Nascido na Argentina e radicado no México há anos, Jorge é além de grande ilustrador, designer de tipografias e publicidade. Trabalhou nos canais MTV e Nickelodeon. Enquanto suas obras são publicadas em mais de vinte países, ele anda por esses dias apresentando seu último livro, chamado Yo soy un Don Nadie (I am Nobody ou Je suis Tout-le-monde, dependendo da edição). A obra traz uma galeria de personagens da noite mexicana, turbinados pelo olhar do autor que da às figuras um visual entre trash, pagão e sagrado.


Ilustrações do livro Yo soy un Don Nadie, de Jorge Alderete
Foto de Jorge Alderete de Gerardo Montiel Klint

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Ela é minha cara


Causa reboliço aonde passa,
Desce mais redondo que a cachaça...
Ela é a fulana de tal,
O seu palácio vai do Leme ao Pontal,
É a minha mais entre as dez mais.
Ela é gente bem,
Por isso mesmo não dá mole a ninguém,
Mas um dia eu faço ela sambar.

Ela é o colírio da moçada
Quando chega pára a batucada.
Ela é o jazzy,
E há quem diga que parece um rapaz,
Mas quem fala é louco pra encarar.

Ela é minha cara
E nem me olha quando a gente se esbarra,
Mas um dia eu faço ela sambar.
Tira onda de granfina ,
Mas pra mim é só a mina
Que enfeitiçou meu coração.
Vai que um dia pinta um clima
E ela vem parar na minha
E eu vou comer na sua mão...

E eu vou comer na sua mão...
E eu vou comer na sua mão...

Ela é minha cara, de Celso Fonseca e Ronaldo Bastos, interpretada por Mart'nália

Conheci Mart'nália no dia da entrevista marcada para o documentário Samba no pé. O ponto de encontro era o Circo Voador, na passagem de som da Rita Ribeiro. Nessa noite ia ter canja da filha de Martinho e Anália.
Quando ela chegou, perto das seis e depois do almoço no Nova Capela, os membros da equipe começaram a olhar pra mim com desconfiança. Parecia que Mart'nália tivesse vontade de qualquer coisa, menos de falar. Até esse momento tudo tinha dado certo e os entrevistados haviam esbanjado gentileza e sorrisos.
Mas quando a câmera acendeu, Mart'nália também iluminou-se, deu um show de bola e deixou momentos inesquecíveis para o documentário.
Depois compreendi que Mart'nália estava apenas amanhecendo. A história vale para referenciar o novo disco da artista, intitulado Madrugada, produzido por Arthur Maia e Celsinho Fonseca, que já havia produzido o ótimo Pé do meu samba e que ainda deu essa Ela é minha cara, em parceria com Ronaldo Bastos.
Se enganou quem pensava que depois do sucesso do Menino do Rio, a cantora ia tentar repetir a fórmula. Ela vai quase no sentido oposto, mas continua fiel à sua essência, traçando pontes entre Vila Isabel e a Motown, entre a raiz e a MPB. E graças a deus e aos orixás, tudo acaba em samba. Nas madrugadas onde ela se inspira, passeia sua ginga e também responde os e-mails.
Se eu tenho um lado carioca é esse mesmo. Mart'nália é minha cara.

Foto de Mart'nália de Eny Miranda

domingo, 5 de outubro de 2008

Peter Bjorn & John & Juan


Peter Morén, da banda sueca Peter Bjorn & John, o sábado passado no backstage do festival onedotzero_buenosaires.
Eles são os criadores da música Young folks, aquela que ficou identificada como a "a música do assobio". A canção que lhes deu grande popularidade também esconde a essência deles como banda, que está mais para o power trio.
Gente fina, os PB&J se prestaram mansamente para fazer toda a promoção e fizeram questão de visitar a gravadora local. Alguns artistas locais poderiam dar conta do recado.
Peter -que está na foto comigo- é tudo formal fora da cena e no palco vira o capeta. Bjorn, o mais sarcástico dos três, foi embora para Estocolomo no dia seguinte do show, o último de um tour de um ano. E o baterista John vai ficar por aqui um mês para estudar espanhol.

Foto de Marcela Romanelli

sábado, 4 de outubro de 2008

China Keitetsi, a mulher que foi criança-soldado


"Quem vê uma criança-soldado não enxerga em que vai virar dez anos depois"


Em apenas trinta e dois anos, a ugandesa China Keitetsi já viveu várias vidas e morreu muitas vezes.
Aos oito anos fugiu do maltrato paterno da casa e foi recrutada no NRA, a guerrilha de Yoweri Museveni, atual presidente da Uganda. Com nove anos ganhou seu primer fuzil UZI e aprendeu a matar. China perdeu a conta das vezes que foi violentada por oficiais. "O NRA nos deu armas, nos fez lutar sua guerra, nos ensinou a matar, odiar, torturar, e nos fez as suas namoradinhas".
China foi mãe pela primeira vez aos quatorze anos e aos dezoito conseguiu fugir do exército.
Depois de uma luta (sim, uma outra luta) de dez anos recuperou os filhos que hoje vivem com ela em Dinamarca.
Em junho deste ano cumpriu o sonho de abrir um lar de abrigo para crianças-soldado e filhos de crianças-soldado em Ruanda.
Dar testemunha e ajudar aos outros é a maneira que China Keitetsi achou para tentar redimir tanta perda e tanta dor. Sua vida hoje está consagrada aos filhos, a escrever livros e oferecer palestras que narram a sua experiência. E a essa outra longa guerra que decidiu dar contra o fim da utilização de crianças como soldados.



Foto de China Keitetsi de Bernardo Pérez
Foto do arquivo pessoal de China Keitetsi em Kampala, aos 18 anos

Buenos Aires, capital da música brasileira

No Blogueiro Reporter do DiHITT está disponível a matéria que escrevi sobre a onda de shows de música brasileira que invadiu Buenos Aires este ano. Confiram.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A insustentável leveza do meme


Capa do único disco do Melimelum (1976)


The Guess Who, na onda da moda Sgt. Pepper

A querida Requeri, do ótimo e musical re...bloggando, veio me dizer que eu ganhei um meme. Peraí, e que diabo é isso? foi o primeiro que eu pensei. As vezes vocês esquecem que eu sou gringo mesmo. Eu fiquei imaginando que um meme fosse um tipo de leprechaun.
Aí a Requeri veio explicar com a maior paciência do mundo que eu só tenho que escolher as minhas sete músicas preferidas, postar e repassar.
Nossa senhora! Eu vivo fazendo listas de dez músicas de qualquer coisa e sempre é pouco e agora eu só devo escolher sete?
Enfim, eu continuo sem saber a certo o que é o tal do meme, mas com certeza o meme deve ser uma coisa assim... leve. Até tem uma certa musicalidade: meme/leve.
Então, primeiro vejam as sete (aliás foram oito) que Requeri escolheu:
1 . r.e.o. = roll with the changes
2 . eagles = hotel california
3 . george harrison = give me love
4 . dr. john = such night
5 . elton john = madman across the water
6 . david bowie - rock'n roll suicide
7 . b-52s = juliete of spirits
8 . deep purple - anya

E agora, como o meu meme é todo etéreo as minhas têm a ver com alegria, daquela sensorial, que te invade quando você ouve, como uma volta à inocência perdida:

1. Satelite of love - Lou Reed
2. Acabou chorare - Novos Baianos
3. One divided - The Guess Who (aquela ótima banda canadense que tudo mundo conhece por American Woman)
4. Rosado atardecer - Melimelum (uma banda folk argentina da década de 70 que ninguém conhece e só lançou um disco que tem essa música que pra mim tem um dos mais belos arranjos vocais que eu já ouvi. Ouça você também)
5. Good morning starshine (Da peça e o filme Hair, quem canta no filme é a Beverly D'Angelo)
6. El reparador de sueños - Silvio Rodríguez (música que o cantor cubano fez para o seu filho)
7. Pé do meu samba - Mart'nália (por ela, por Caetano que fez a música, pelo meu amor pelo Rio de Janeiro e porque virou leit motiv do meu documentário Samba no pé)

Meu bonus track
8. Scorn not his simplicity - Sinéad O'Connor (da minha deusa pessoal para todas as crianças do mundo)

E finalmente, repasso o dito cujo para:
1. Re D'Elia, do >Magic on Sundays
2. Mara, do >Pintando música
3. Moura, do >BM Blog do Moura
4. Felipe, do >Um pouco de tudo
5. Ana, do >Cabrocha, a flor do samba

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Dylan Thomas opina sobre opinião e poesia


- As opiniões são o ressultado de uma discussão com si próprio, mas como a maioria das pessoas não é capaz de discutir com ninguém e menos ainda consigo próprio, as opiniões são um horror. Há opiniões, claro. Na poesia dramática, por exemplo, mas a grande parte de nós somos poetas líricos. Foi Eliot que demonstrou que é possível falar de qualquer coisa em verso, exceto de si mesmo. (...)
Eu suponho que deveriamos matizar o assunto da opinião. O matiz, a inclinação da mente, molda a poesia.

Mr. Thomas mantinha o cigarro no canto da boca, inclinando a cabeça para afastá-la da fumaça.

- Eu gosto de escrever a palavra "sangue" (N. de trad. no inglês, blood), é um tipo curioso de palavra.

Mr. Thomas e o seu convidado beberam.

- O que ressulta interessante é a maneira em que certas palavras perdem ou o seu significado ou a sua bondade. Por exemplo, a palavra "honra" (N. de trad. no inglês honor), uma palavra digna de herois. Na realidade é uma palavra digna de Nero.
- Por que perdem o seu significado ou a sua bondade as palavras?
- Porque com assiduidade as usam as pessoas que não devem.

Fragmento da entrevista concedida pelo poeta galês Dylan Thomas ao escritor Harvey Breit (conhecido por seus livros de cartas com Ernest Hemingway e Malcolm Lowry), publicada no >The New York Times Book Review em 1952, um ano antes da morte de Thomas, em decorrência de problemas com o álcool.

Versão para o português de Juan Trasmonte

Foto de Dylan Thomas e sua mulher Caitlin, publicada no jornal inglês The Telegraph sem creditos. Provavelmente os direitos pertençam a Jeff Towns

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Costumes


Se você se acostumar
não serei eu
serei morfina
e você pedirá mais
enquanto a veia
contamina
e pede mais
e mais declina
e perde o olho
na seringa
e no coringa
perde o jogo
por esquecer
jogada no futuro
a jóia de um segundo
num segundo
de surpresa.

E se eu cansar
não serei eu
serei o cego
que ficou a ver navios
o cuspe de metralha
sem sentido
o nada menos zero
aquele idiota
que bebe do seu sangue
e jorra água pela boca sem palavra
o felizardo
que esqueceu
o dom que traz o cheiro
de torradas de limão

E se eu cansar
da sua alegria
e do seu olho aberto
fechado
serei o pé de lama
o espantalho.

Costumes, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Reprodução de obra de
Ian Francis