segunda-feira, 29 de setembro de 2008

O sal é um dom




Minha mãe me deu ao mundo
de maneira singular
me dizendo uma sentença
pra eu sempre pedir licença
mas nunca deixar de entrar

Amanhã, entre as 18 e as 22, acontece a apresentação do livro O Sal é um Dom, receitas de Mãe Canô, com textos e receitas colhidas pela filha-poeta Mabel Velloso e fotografias de Maria Sampaio, que aqui já é amiga da casa, para minha honra.
Será em Salvador, no Restaurante Amado, que fica na Avenida de Contorno.
Se pensarmos nas receitas, é de dar água na boca. Se pensarmos nos textos, nas fotos e na carga histórica e emotiva, é de dar água (e sal, que é um dom) nos olhos.

Foto reprodução da capa do livro O Sal é um Dom, receitas de Mãe Canô, de Mabel Velloso, com fotografias de Maria Sampaio, editado em parceria pela Corrupio e a Nova Fronteira.

Tudo de novo (fragmento), de Caetano Veloso

Pálidos economistas pedem calma


Qual esquina dobrei às cegas
E caí no Cairo, ou Lima, ou Calcutá
Que língua é essa em que despejo pragas
E a muralha ecoa

Em Lisboa
Faz algazarra a malta em meu castelo
Pálidos economistas pedem calma
Conduzo tua lisa mão
Por uma escada espiral
E no alto da torre exibo-te o varal
Onde balança ao léu minh’alma

Sonhos sonhos são (fragmento), de Chico Buarque
Foto da Agência AP. Hoje, a Bolsa de São Paulo

domingo, 28 de setembro de 2008

Mais dez grandes artistas brasileiros menos divulgados


Mário Sève



Cris Delanno


Roque Ferreira


Suely Mesquita


1. Agrião

Formado na fonte inesgotável da Vila Isabel, Jorge Agrião é um compositor e percussionista inquieto e um grande ritmista. Seus sambas são daqueles pra levar na palma da mão. Seu disco de referência é Samba vadio, com arranjos de Cláudio Jorge. Ele tem ainda grandes parcerias com Mart’nália, Roque Ferreira e Evandro Lima

2. Suely Mesquita

As músicas de Suely já foram gravadas por Ney Matogrosso, Zélia Duncan, Pedro Luís e Fernanda Abreu, entre outros, mas o trabalho pessoal dela ainda não tem a repercussão que merece, sendo que Suely é uma ótima cantora, além da compositora que os colegas destacam. O selo Duncan Discos, da Zélia, relançou seu Sexo puro, que é uma ótima oportunidade para quem ainda não descobriu Suely.

3. Sayowa

Os jovens cariocas do Sayowa estão dando os passos certos para se inscrever entre os grandes nomes do hard rock brasileiro, que é o lado do rock em que Brasil conseguiu mais destaque. A banda liderada por Theo Van der Loo tem seu segundo album, produzido pelo Andreas Kisser do Sepultura, lançado na Argentina, Chile e Uruguai, mas que é vendido por eles de maneira independente no Brasil. Já fizeram varios tours na Europa e dividiram o palco com bandas dos quilates de Sepultura, Biohazard e Fear Factory. O Sayowa inclui os tambores treme-terra, que dão uma certa cor brasileira ao som pesado da origem anglo.

4. Angelo Primon

Este finíssimo violonista gaúcho é também um ótimo compositor e arranjador. Seu disco Mosaico mostra as suas influências, que vão da música do Sul da América até o flamenco para desaguar num estilo próprio onde a virtude foge dos cantos de sereia do virtuosismo.

5. Bïa Krieger

Outro caso -o Brasil tem vários- de artista brasileira com carreira de sucesso na Europa e pouca divulgação no Brasil. A cosmopolita Bïa mora em Paris, mas mantém seu refúgio em Floripa, já morou no Chile e é freqüente visitante de Canadá. Esta multiplicidade fez dela uma cantora multi-língüe. Bïa tem discos belíssimos como Sources e La mémoire du vent, este com várias versões em francês de clássicos de Chico Buarque. Em Nocturno, seu trabalho mais recente, Bïa arrisca com uma obra mais introspectiva.

6. Roque Ferreira

Esse é um luxo de compositor que o Brasil tem. Baiano de Nazaré, chamou a atenção quando Clara Nunes gravou Apenas um adeus e depois Coração valente, no começo da década de oitenta. Responsável por um dos maiores sucessos da carreira de Zeca Pagodinho (Samba pras moças), Roque é além de um dos principais compositores de samba de raiz, de samba de roda de todos os tempos, um ótimo intérprete da sua própria obra. Por isso é quase inadmissível que ela tenha disponível no mercado só um disco, o excelente Tem samba no mar, trazido pela Biscoito fino. Agora parece que Roberta Sá planeja gravar um disco dedicado à obra dele. Tomara que ajude para colocar Roque no lugar que merece.

7. Mário Sève

Um dos membros fundadores do Nó em pingo d’água, que possui o dom da grande admiração de colegas das origens diversas e o merecido prestígio no mundo do choro. Mas eu posso até imaginar aquela pergunta que surge com a obra dos instrumentistas: “mas não tem uma pra tocar no rádio?” Claro que tem, é só mudar aquela fórmulinha fácil da programação pre-digerida. Mário é saxofonista, flautista, compositor e arranjador. No ótimo Casa de todo mundo reuniu os amigos do Baticun, o Nó, Epoca de Ouro, Pedro Luís, Suely Mesquita, Suzano e Clara Sandroni, entre outros.

8. Cris Delanno

Conhecida como a voz do Bossacucanova, Cris Delanno vem construindo uma sólida carreira solo, que tem um disco dedicado a fazer jus à obra de Newton Mendonça e outro que leva seu nome, onde passeia entre as suas duas línguas de nascença (inglês e português) por um repertório eclético que vai de João Bosco e Aldir Blanc a Paul Williams. Atualmente Cris prepara um novo disco, autoral e com arranjos e produção de Alex Moreira.

9. Marco André

Já tenho me referido a este notável cantor e compositor nascido em Belém, que em seus discos Amazônia Groove e Beat iu conseguiu o impensado link entre os ritmos da sua terra e a eletrônica. Radicado há anos no Rio de Janeiro, ele já foi compositor de escola de samba, cantor de música de novela e produtor de grandes nomes da MPB. Mas sua obra merece no Brasil uma força que seja semelhante aos reconhecimentos que tem pelo mundo fora.

10. Dorina

A musa do Irajá prestigia as rodas de samba cariocas por onde passa. Dona de uma garra particular no palco, Dorina é reconhecida pelos grandes sambistas vivos, desde Dona Ivone Lara até Zeca, como uma das maiores representantes do gênero.

Foto de Cris Delanno de Lívio Campos
Foto de Suely Mesquita de Guto Costa


Segunda entrega dessa minha reunião de artistas que merecem mais e melhores oportunidades na mídia. Como sempre digo, se ajudar para que pelo menos mais uma pessoa os conheça, já cumpri meu objetivo. E como sempre digo, haverá mais, a safra é enorme e a mídia tem miopia crônica. Vocês encontram aqui a primeira entrega da série.

sábado, 27 de setembro de 2008

Um poster de Paul Newman


Sempre tão discreta, minha mãe jamais exteriorizava sentimentos por outros homens que não fossem meu pai. Mas como toda regra tem a sua exceção, ela perdia o juízo por Paul Newman, Jean Paul Belmondo e Alain Delon. Quando ela via uma foto de algum deles fazia como se desmaiasse. Esse lado fã da minha bem comportada mãe me deixava intrigado e um pouco ciumento por causa do meu pai que, logicamente, levava na brincadeira.
Um coleguinha do bairro, de futebol de rua, de brincar de esconde-esconde e roubar frutas da àrvore, era filho de um operário da industria gráfica. Um dia, estando na casa dele, me disse como por acaso:
- Pega uns posters daí.

Para mim, poster era tudo. A parede do meu quarto me identificava. Eu dividia a minha parede com o meu irmão Jorge, pois meu irmão mais velho, Aníbal, tinha uma parede para ele só. Eu fui separando posters pra levar pra casa: um dos Beatles, vestidos de cavaleiros ingleses, um do Hugo Gatti, goleiro do Boca, cabeludo, que usava faixa na época em que nenhum jogador era tão moderno assim nem existia o marketing da imagem. De repente, enfiado nos posters que cheiravam tinta como se estivesse numa loja de doces, me deparei com um do rosto de Paul Newman e com a cor dos seus olhos que hoje eu definiria como da cor de Chico Buarque.
- Vou levar esse pra minha mãe -eu disse pro meu amigo-

Cheguei em casa, larguei os posters no meu quarto e dei pra mãe o de Paul Newman. Ela fez aquela brincadeira de desmaiar, me deu um beijo e me olhou com aquele olhar amoroso. Depois enrolou o poster, que ficou guardado para sempre num canto do armário.

Paul Newman (1925-2008)
Foto de 1958 de Paul Newman e Joanne Woodward de Sid Avery

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Sexta-feira non sancta (IX)


O lado menos pensado da pensadora Simone de Beauvoir, em foto roubada por Art Shay em Chicago em 1952, quando o grande Art era apenas um fotógrafo iniciante da Life Magazine. A foto, cobiçada por colecionistas, foi publicada com um escandaloso photoshop no Le Nouvel Observateur em janeiro desse ano. Isso motivou uma crónica de Art para contar a sua verdade da história. Segundo ele, a escritora ouviu os cliques da Leica, mas não se preocupou em cobrir seu corpo. Só disse: "você é um rapaz malvado".

Foto de Simone de Beauvoir (sem photoshop) de Art Shay

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Borges detestava Gardel e amava Pink Floyd


O motivo da entrevista era mais uma das tantas exposições, mostras e palestras que têm como objeto a obra e a vida do escritor Jorge Luis Borges. A viúva dele, María Kodama, para uns foi literalmente os olhos do mestre nos últimos tempos e para outros foi o capeta, especialmente aqueles que gostam de sublinhar as lendas com juízos fatais, do tipo Yoko Ono acabou com os Beatles.
O certo é que María cuida da obra e do legado dele e é a voz da sua memória. Tanto que ainda a gente descobre coisas insólitas, brincadeiras e provocações daquelas que o escritor adorava.
Em entrevista à BBC de Londres, Kodama confirma que ele detestava Carlos Gardel, que achava que o cantor tinha estragado o belo tango da velha guarda. Mas como tango e malandragem eram assuntos comuns nas conversas dele a declaração foi só uma constatação. Mas a notícia é que Borges adorava Pink Floyd e que freqüentemente pedia que ela colocasse The Wall.
O universo onírico do grupo inglês cativou também ao criador do Aleph.
Na mesma entrevista, María Kodama diz que Borges, além de Brahms, Bach e a música da Idade Média, também gostava de um som dos Beatles e dos Rolling Stones.

Foto de Jorge Luis Borges de Sara Facio

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Os dez mais da Geração Paissandu


Jeanne Moreau, belle em Jules e Jim


Inesquecível Gian Maria Volonté


Plus belle Jean Seberg em Acossado


Jean-Luc Godard, o cara


Cinzas e diamantes, obra capital de Wajda

1. Cinzas e diamantes (Popiól i diament), de Andrzej Wajda (1958)
2. Acossado (À bout de souffle), de Jean-Luc Godard (1959)
3. O ano passado em Marienbad (L'Année derniere à Marienbad), de Alain Resnais (1961)
4. Jules e Jim, uma mulher para dois (Jules et Jim), de François Truffaut (1961)
5. Deus e o diabo na terra do sol, de Glauber Rocha (1964)
6. Alphaville, de Jean-Luc Godard (1965)
7. O demônio das onze horas (Pierrot le fou), de Jean-Luc Godard (1965)
8. A chinesa (Le chinoise), de Jean-Luc Godard (1967)
9. Weekend à francesa (Weekend), de Jean-Luc Godard (1968)
10. A classe operária vai ao paraíso (La classe operaia va in paradiso), de Elio Petri (1971)

Segundo consta no livro Geração Paissandu (Editora Relume Dumará, 1996), do jornalista Rogério Durst, esses são os dez títulos preferidos pelo público do agora desaparecido cinema do bairro do Flamengo, no Rio de Janeiro. O autor define aquele local como um "ninho de moços ávidos por informação e socialização", cujo apogeu se deu no espaço entre ditaduras, que foi de 1964 a 1968, nas épocas em que bastava com uma idéia e a câmera na mão. A única exceção da lista é o filme italiano de Petri.
Vocês encontram aqui meu texto sobre o fechamento do Cine Paissandu.

domingo, 21 de setembro de 2008

Quero ver Irene rir


Família Veloso. Irene ri.


Caetano Veloso no exílio em Londres


Já tenho escrito que a música Maria Bethânia foi uma das primeiras que despertou minha atração por música brasileira, fora as músicas de Roberto Carlos que eu ouvia em espanhol sendo criança.
Com curiosidade adolescente fui atrás do autor daquela música e assim descobri Caetano Veloso. Na minha primeira viagem ao Brasil, com dezessete anos, trouxe vários vinis, entre eles, aquele que foi o segundo da carreira solo dele, que chamou minha atenção pela capa branca com a assinatura no meio. Pouco sabia então da biografia do artista. Nas primeiras matérias que eu li, alguma falava sobre a viagem dele com Gil para São Paulo com o objetivo de desenvolver a carreira e dos momentos dificis que todo natural de uma cidade pequena tem que atravessar quando vira um migrante.
Quando ouvi Irene pela primeira vez achei natural que fosse, entre guitarras distorcidas que já nos oitenta soavam pitorescas, uma música de saudade do jovem baiano que sentia falta dos seus afetos. Eu não fazia a menor idéia de quem era a Irene da música. No progressivo aumento do meu interesse pela obra de Caetano, soube que Irene era uma das irmãs dele. Pouco tempo depois, num especial da televisão brasileira -daqueles que os meus amigos gravavam com generosidade pra mim quando o acesso à informação era menos democrático e simples- eu soube que a música tinha sido criada pelo artista na cadeia, porque o sorriso de Irene, aberto e sonoro, era o completo oposto daquela realidade.
Fiquei comovido com a história e a beleza da metáfora. Lembrei imediatamente do grande poeta espanhol Miguel Hernández, que escreveu vários dos seus mais estarrecedoramente belos poemas nas prisões da Guerra Civil Espanhola. Mas mesmo ignorando os motivos que levaram Caetano a compor a música, eu já gostava muito dela, da musicalidade rítmica do verso “quero ver Irene rir” e do contraste das guitarras elétricas e o andamento com o que as palavras significavam. Para um adolescente de Buenos Aires, criado na ditadura e na cultura do tango, resultava muito curioso como na música brasileira, letras tristes eram freqüentemente expressadas com músicas que sugeriam o contrário. Com o tempo cheguei a fazer programas de rádio inteiros acentuando essa particularidade, em comparação com a música argentina.
No seu livro Verdade Tropical, Caetano refere assim o acontecimento:
Irene tinha catorze anos então e estava se tornando tão bonita que eu por vezes mencionava Ava Gardner para comentar sua beleza. Mais adorável ainda do que sua beleza era sua alegria, sempre muito carnal e terrena, a toda hora explodindo em gargalhadas sinceras e espontâneas. Mesmo sem violão, inventei uma cantiga evocando-a, que passei a repetir como uma regra: Eu quero ir minha gente/ Eu não sou daqui/ Eu não tenho nada/ Quero ver Irene rir/ Quero ver Irene dar sua risada/ Irene ri, Irene ri, Irene... Foi a única canção que compus na cadeia. (...)
Quando comecei a arranhar as cordas do violão, já com vinte e cinco anos, um dia me surpreendi cantando Irene num ritmo bem mais lento e o círculo fechou, pois senti na própria carne a profundidade da tristeza daquela música.
Eu já tinha conversado com Caetano, em entrevista em Buenos Aires no começo da década de noventa, sobre a tristeza desses anos. Agora, através do encontro humanamente virtual com a arte e a pessoa de Maria Sampaio, achei entre os seus links o Blog de Irene Velloso, precisamente chamado Irene ri, com o palíndromo que descobriu o grande Augusto de Campos. E lá está ela, com seu sorriso, que jamais testemunhei ao vivo, mas que imagino do jeito que o artista o descreveu, no antagonismo da opressão, como uma vitória da liberdade.

Foto da família Veloso de Maria Sampaio
Fragmento do livro Verdade Tropical, de Caetano Veloso (Companhia das Letras, 1997)
Reprodução da capa do disco Caetano Veloso, de 1969
Foto de 1969 de Caetano Veloso no exílio em Londres, de autor não indicado

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Por falar em verso


As palavras
por enquanto
são o único que eu tenho
nem uma webcam eu tenho
pra não ter que adivinhar
seu olhar
ah, verdade
a distância
também eu tenho
mas no fundo
da pele da carne
da vela da pouça
do pouso
as palavras
são o único que eu tenho

por tanto
que te dói
por tanto
te dou
tudo o que tenho.

Por falar em verso, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto de
Jean François Bauret

De que falamos quando dizemos Desaparecidos


Oscar e Fernando Amestoy


Gustavo, Guillermo, Diego e Eduardo Germano


María Irma e María Susana Ferreira


Roberto Ismael Sorba, Jorge Cresta e Azucena Sorba


Clara Atelman de Fink e Claudio Marcelo Fink

Ausências é o nome do excelente trabalho de Gustavo Germano, fotógrafo argentino residente na Espanha. A desaparição sistemática de pessoas imposta pela ditadura militar argentina nos anos setenta tentou disfarçar o maior massacre da história do país, mas eles só conseguiram com seu método criar um eterno presente. O próprio fotógrafo, que tem seu irmão Eduardo desaparecido, colheu cenas do cotidiano e as reproduziu no presente.
Há dois dias foi detido no Rio de Janeiro Norberto Tozzo, o último dos dez acusados da chacina de Margarita Belén, acontecida em 76 nessa região do Chaco, no norte argentino. Nesse dia, 22 militantes desarmados foram levados para uma área despovoada e foram assassinados no local.
É bom lembrar porque temos uma sensação de alívio cada vez que um desses canalhas é preso.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

As três Graças


Dedico este espaço aos agradecimentos que estavam na minha dívida. Escolhi a linda imagem clássica de Raffaello que representa às Graças, sinônimo de gentileza e simpatia. Na verdade, serão cinco os agradecimentos.

Primeira Graça (Aglaya): Para a amiga Renata D'Elia, editora da revista Paradoxo, que me convidou a participar no staff com meus textos. É uma honra para esse gringo em virtude do nível de escrita dos jornalistas e escritores que colaboram lá. Para começar, a Re escolheu meus pareceres sobre a importância da linguagem visual do videoclipe no advento da MTV.

Segunda Graça (Thalia): Para a amiga Letícia Castro, alma mater do Babel.com que, além de me levar com convicção invejável para o seleto grupo de convidados do Blogueiro Reporter do DiHITT, me deu esse final de semana um selinho com belíssimas palavras para o Nemvem Quenaotem; palavras que meu pudor não me permete reproduzir.

Terceira Graça (Eufrósine): Para Maria Sampaio, artista da fotografia e das letras, a última grande alegria do encontro que me deu a tal da blogosfera. Maria colocou o Nemvem Quenaotem num lugar de destaque entre as recomendações do seu Continhos para cão dormir. Me deixa muito feliz a indicação que vem de uma artista pela que eu tenho uma grande admiração.

Graça Bonus track 1: Para o companheiro José Felipe, do Sempre um pouco de tudo, que também me presenteou com um selo e que é um constante apoio na rede DiHITT, mesmo que eu tenha lá as minhas idas e voltas com os critérios do site.

Graça Bonus track 2: Para Jussara Câmara, do site Idade Maior que, prévio pedido de autorização, reproduziu lá meu texto sobre o fechamento do Cinema Paissandu, no Rio de Janeiro.

Encontram-se todos os dias por aqui gestos generosos como para contestar o egoísmo que campeia no mundo. A todos meu agradecimento.

Reprodução da obra As três Graças, de Rafaelle Sanzio, pintada presumivelmente em 1504

terça-feira, 16 de setembro de 2008

The Great Gig in the Sky


Richard Wright (1943-2008)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O artista e o produtor: os amigos


Vocês me desculpem a referência pessoal mas se como já disse o Poetinha, a vida é a arte do encontro, a amizade é uma certa forma da arte.
Fiquei amigo do Ramiro Musotto quando os dois morávamos no Rio de Janeiro. Consegui fazer a ponte para que Sudaka, seu primeiro disco solo, com edições no Brasil e nos Estados Unidos, fosse lançado na Argentina.

Pouco tempo depois ele voltou a morar em Salvador, a cidade que o viu crescer musicalmente até ser o que ele é, um dos maiores percussionistas do mundo, e eu voltei a morar em Buenos Aires.
Nesse mesmo ano Ramiro me ligou uma noite e disse:
- Vou apresentar Sudaka na Argentina e quero que você seja meu tour manager.
Eu disse não. Vocês sabem, esse negócio de trabalhar com amigo é complicado e se não der certo, a amizade pode ir por água abaixo.
Mas Musotto não desistiu na minha negativa e teimou em me convencer até eu aceitar. Minha única condição foi que na hora em que a gente vesse que o lado humano poderia ficar poluído pelo trabalho, eu cairia fora.
Deu tudo certíssimo nesse e no seguinte ano, quando fizemos o segundo tour.
Depois cada um foi andando seu caminho, vendendo seu peixe. A carreira solo dele bombando, se expande pra Europa e eu continuo na gravadora, com os discos e os shows.
Mas pelo menos uma vez por ano a gente se encontra e é só e nada menos do que isso, a tal arte do encontro.
Ramiro vai fazer show no próximo sábado em Buenos Aires, no La Trastienda.

A foto foi tirada em 2005 por Javier Tenembaum, dono do selo Los Años Luz, depois de um show no Ciclo Estudio Abierto, no Hotel de los Inmigrantes.

domingo, 14 de setembro de 2008

O mistério da fé


Respeito a litúrgia dos católicos mas discordo de nove em cada dez tópicos da doutrina da igreja. Entendo religião no seu sentido etimológico de religar.
Já o mistério da fé, parece-me comovente até o arrepio.
Hoje chegaram em San Nicolás, cidade do interior da província de Buenos Aires, mais de duzentos mil peregrinos atrás do andor que levava a Virgen del Rosario de San Nicolás, sob uma chuva de pétalas de rosa.
Faz exatamente vinte e cinco anos, dizem, aconteceu a aparição de Maria à frente de uma mulher humilde, quase iletrada e que não possuia qualquer educação religiosa.
A mulher, chamada Gladys Motta, não conseguiu no começo descrever Maria, mas reproduziu complexas citas bíblicas e mostrou os estigmas nos pulsos, até que um dia revelou-se a imagem idéntica à da virgem que estava no desvão da catedral.
O Vaticano reconheceu a veracidade da sua testemunha.
Gladys nunca falou com a imprensa e só sai da casa dela para visitar as filhas e as netas.

Foto de J. Granata

sábado, 13 de setembro de 2008

Vinil faz 60 anos e resiste


O engenheiro da CBS Peter Carl Goldmark , um húngaro formado em Berlim que chegou aos Estados Unidos em 1933, criou em 1948 o disco de longa duração, o nosso caro vinil, também chamado de LP, long play, bolachão ou como eu aprendi em espanhol el vinilo.
A novidade trazia sulcos menores e a velocidade de 33 1/3 RPM e permitia gravar até 25 minutos por lado.
A outra grande novidade era que o vinil custava menos do que os cinco discos de acetato que eram precisos para a mesma quantidade de música gravada.
Na década de cinqüenta se popularizou o uso do vinil e em 1958 foram lançados os primeiros discos em estéreo gravados em dois canais e ainda a Philips introduziu a fita casete.
Todos os que achávamos que o maior inimigo do vinil era a poeira no começo dos anos noventa descobrimos que foi o cd que deixou o vinil na agonia.
Mas parece que igual o samba, o nem tão velho bolachão agoniza mas não morre. DJ's e colecionistas, fetichistas e adoradores do vintage ainda garantem a sua existência.


A ilustração foi achada no site RecordBrother
Foto do toca-discos de Annie Leib
Foto de Peter Carl Godmark do arquivo da AIP

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

No salão com Ava Gardner



Baby você não precisa
De um salão de beleza
Há menos beleza
Num salão de beleza
A sua beleza é bem maior
Do que qualquer beleza
De qualquer salão...

Meu sonho de consumo é passar na frente do salão de beleza e achar Ava Gardner fazendo o cabelo.

Salão de beleza (fragmento), de Zeca Baleiro
Infelizmente não achei o autor dessa foto linda

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Para a vida inteira


O seu amor não era
para a vida inteira

agora vale tudo agora
tremedeira bebedeira
carnaval já era quarta-feira
fim de noite quinta-feira
fim de feira
porque

o seu amor não era
para a vida inteira.

Para a vida inteira, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto de Yves G. Noir

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Dez músicas brasileiras para cantar nos bares





1. O bêbado e a equilibrista (João Bosco - Aldir Blanc)
Popularizada por Elis Regina, infaltável depois nos shows do João. Uma belíssima metáfora sobre a esperança na época da ditadura.
Melhor verso: A esperança dança na corda bamba de sombrinha

2. Sampa (Caetano Veloso)
Uma música a prova de bairristas. Celebra o estupor do poeta perante a cidade imensa, para quem “vem de outro sonho feliz de cidade”, com referências aos paulistas Rita Lee e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos.
Melhor verso: Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas

3. Maluco beleza (Raul Seixas – Cláudio R. Azevedo)
Toca Raul! Então tá. A música que mais identifica o roqueiro baiano, aliás o maior emblema do rock brasileiro, possui uma melodia imbatível que faz sair cantarolando na primeira audição. Na época em que normalidade era o pior fantasma dos jovens.
Melhor verso: Vou ficar, ficar com certeza maluco beleza

4. As rosas não falam (Cartola)
O maior sucesso de Cartola, popularizado por Beth Carvalho em 1975, quando emplacou a música na novela das oito, no caso Duas Vidas, na Globo. Nascida quando Dona Zica perguntou olhando pras roseiras da casa “Como é possível, tantas rosas assim?” e Cartola respondeu “Não sei, as rosas não falam”. O grande compositor foi gravar no ano seguinte ao sucesso de Beth, num dos fundamentais discos que ele fez pra gravadora Marcus Pereira.
Melhor verso: Simplesmente as rosas exalam o perfume que roubam de ti

5. Carinhoso (Pixinguinha – João de Barro)
Lançada em 1928 com a Orquestra Típica Donga-Pixinguinha, é inimaginável quantas vezes já foi cantada em rodas de violão, inclusive porque com uns poucos acordes simples, os iniciantes no instrumento podem se aventurar pelo universo de Pixinguinha. O grande Braguinha só foi colocar letra nesse samba-choro vinte anos depois.
Melhor verso: Vem sentir o calor dos lábios meus à procura dos teus

6. Nos bailes da vida (Milton Nascimento – Fernando Brant)
Cantores de churrascaria, jóias escondidas nas boates, artistas perdidos em buracos cheios de fumaça, eis sua canção. Música autobiográfica cuja letra Fernando Brant escreveu partindo das inúmeras histórias da noite que Milton contou pra ele.
Melhor verso: Cantar era buscar o caminho que vai dar no sol

7. (Caminhando) Pra não dizer que não falei das flores (Geraldo Vandré)
Outra música simples, de apenas dois acordes que acabou virando um dos principais exemplos de canção política no Brasil. Apresentada em 1968, foi censurada e empurrou Vandré pro exílio no Chile, começando a alimentar a lenda sobre o artista que até hoje continua.
Melhor verso: Quem sabe faz a hora, não espera acontecer

8. Epitáfio (Sérgio Britto)
Uma da última fornada de clássicos de roda de violão. Trouxe um novo sucesso aos Titãs quando já pareciam viver das glórias passadas. Para alavancar a sua popularidade foi incluída na novela Desejos de mulher, mas é lembrada por ter sido lançada no mesmo ano em que o grupo perdeu absurdamente o guitarrista Marcelo Frommer
Melhor verso: O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído

9. Ronda (Paulo Vanzolini)
O grande Vanzolini, um dos créditos paulistas do melhor samba, embora com uma obra pequena fez essa música na década de cinqüenta, embora o sucesso demorou até que Márcia a gravou muitos anos mais tarde e depois ganhou outras versões ótimas como as de Ângela Maria e Maria Bethânia. Traição, bar, bebida, tem tudo a ver com a noite.
Melhor verso: No meio de olhares espio em todos os bares, você não está

10. Asa branca (Luiz Gonzaga – Humberto Teixeira)
Música que identificou a tantos imigrantes nordestinos nas grandes cidades brasileiras. Versos comoventes do doutor Teixeira acrescentados na toada adaptada do folclore. Se foram lá mais de sessenta anos, as secas continuam e Asa branca continua preciosa.
Melhor verso: Quando o verde dos teus óios se espaiá na prantação

Está faltando alguma música? Claro! Dezenas! Mas eu já disse, essas seleções minhas são arbitrárias, sem ordem de valor e sem final, ou seja, poderão ser retomadas a qualquer momento. A casa aceita sugerências. Já, se ao ler, o respeitado leitor não saiu cantando pelo menos uma dessas músicas, o respeitado leitor tem um problema sério.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Cotidiano na Geórgia



Na Ossétia do Sul, uma mãe e sua filha passam por um soldado russo na volta às aulas. A brancura das roupas da menina contrasta com o pano de fundo do prédio destruído pelos bombardeios. O soldado olha pra elas com o cano do seu fuzil apontando para o chão enquanto elas olham para o chão.
O que põe fim às guerras não é a política nem a diplomacia, mas a força do cotidiano. São as pequenas ações do dia-a-dia que acabam vencendo à morte.

Foto de Viktor Drachev, que esta deixando uma excelente testemunha do conflito com as suas tocantes imagens

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Savater e as fortalezas


Os países mais afortunados acham que podem fazer fortalezas e ficar lá dentro com o que precisam, com pobres suficientes para que trabalhem para eles, mas não incomodem. Mas este é um conceito errado, porque o mundo tem atingido tal nível de interconexão que, ou nos salvamos todos ou perdemos todos. Hoje ser cosmopolita e ser solidário é ser realista. Acreditar que é possível que alguns pequenos grupos salvem-se enquanto os outros perecem devorados por um mar de necessidades é um erro enorme. Ninguém salva-se nem afunda sozinho.

Fragmento da entrevista da jornalista Socorro Estrada a Fernando Savater, publicada ontem no jornal Clarín
Versão para o português de Juan Trasmonte
Foto de Santi Burgos

O espanhol Fernando Savater é o filósofo mais popular da terra dele. Polêmico e polemista, agora mesmo está envolvido em uma briga de intelectuais por ter redatado e defender o Manifesto pela Língua Comum (Manifiesto por la Lengua Común), que reclama pelos direitos lingüísticos dos hispano-falantes nas comunidades bilíngües da Espanha. Nascido no País Vasco, também é um ativo militante contra os nacionalistas etarras.
Mas, coincidindo ou não com as suas idéias políticas, é um prazer ler seus livros de filosofia, freqüentemente embutidos nas listas dos mais vendidos, entre os romances e as biografias que estão na moda. A nova obra de Savater, que motivou essa entrevista, chama-se A aventura do pensamento e traduz com simplicidade a obra de filósofos fundamentais para entender o desenvolvimento da civilização ocidental.

domingo, 7 de setembro de 2008

Ode ao fracasso tem o rosto de Mickey Rourke


O filme The Wrestler (O lutador, na tradução literal, só Deus sabe qual será o título em português), de Darren Aronofsky, acaba de ganhar o cobiçado Leão de Ouro no Festival de Veneza. Protagonizada por Mickey Rourke, conta a história de um lutador de luta livre que resiste o passo do tempo e o esquecimento.
Os críticos assistentes coincidem em salvar o filme estadounidense do tédio geral que invadiu à mostra, caraterizada sempre pela qualidade do cinema ali apresentado. Este ano, quase não houve filmes da América Latina.
O diretor de Requiem for a dream e Pi, as duas identificadas pelas suas audácias narrativas, abraçou o classicismo para contar uma história de perdedores que bem pode trazer paralelismos entre o personagem de Rourke e a sua própria vida. Sem um sucesso de bilheteria desde Orquídea selvagem (1990), o outrora moço que fazia suspirar as mocinhas, já foi um fracassado lutador de boxe, sofreu excessos químicos vários e virou uma sombra de si mesmo.
Como o cinema adora histórias de losers, esse Rourke caricato daquele, agora lhe oferece a possibilidade de dar a volta por cima. E pelo que parece, todos vamos nos-sentir um pouco redimidos com ele.

Foto de Mickey Rourke da agência AP

sábado, 6 de setembro de 2008

Cucas abertas pelas Novas Bossas



Ontem à noite no Niceto Club, em Buenos Aires. Bossacucanova, equipe e staff da produção celebrando o primeiro show da banda na Argentina. Todas as nossas câmeras em automático para eternizar o instante. Foi muito legal mesmo.
Com guitarras, teclados, baixos e loops, estão abertos os caminhos para garantir a herança do banquinho e o violão. Além do mais, os BSN são gente finíssima. Show sem stress é tudo o que um produtor deseja. Valeu.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Sem Fernando Torres


O teatro brasileiro perdeu Fernando Torres...


... e Fernandona perdeu seu companheiro de quase cinqüenta anos

Foto de Fernando Torres de Rogério Assis

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Bossacucanova na Argentina


Como eu estou com pouco trabalho esses dias, resolvi produzir um show do Bossacucanova em Buenos Aires. Nós sofre mas nós gosta...
E como todo mundo -inclusive eu- está nessa comemoração dos cinqüenta anos, melhor trazer pra Argentina um pouco da bossa nova dos próximos cinqüenta anos.
A banda vai fazer músicas dos seus discos Brasilidade, Uma batida diferente e algumas inéditas. Som bacana pra portenho não botar defeito.
É isso aí, quem tiver amigos por estas bandas e quiser ajudar na divulgação é so encaminhar essa imagem. Vai ser na sexta-feira no Niceto Club. A produção agradece.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Zweig, o homem que inventou o Brasil do futuro


A concentração do artista tem sido danificada -disse Stefan Zweig e bateu no peito com a mão esquerda-. Como é que vão captar a nossa atenção os velhos assuntos? Um homem e uma mulher se conhecem, se apaixonam, eles têm uma aventura. Em uma outra época isso foi uma história. Voltará a ser daqui a um tempo, mas como viver com entusiasmo num mundo tão trivial como o de hoje?
Os últimos meses têm sido fatais para a produção literária europeia. A norma básica para todo trabalho criativo continua sendo a concentração e jamais tem sido tão difícil de atingir para os artistas na Europa. Como se concentrar no meio de um terremoto moral? Na Europa a maioria dos escritores está fazendo um tipo ou outro de trabalho bélico. Outros tiveram que fugir dos países deles e moram no exílio desvairando daqui pra lá. Inclusive os contados autores que podem continuar trabalhando nas suas próprias mesas são incapazes de fugir da turbulência dos nossos tempos.
A reclusão já não é possível enquanto o nosso mundo está em chamas. A “torre de marfim” da estética não é à prova de bombas, como já disse Irwin Edman. De uma hora para a outra a gente espera as notícias. A gente não pode evitar ler os jornais, ouvir o rádio e, ao mesmo tempo, se sentir oprimido pela preocupação por parentes e amigos. Um foge do seu lar na área ocupada, outros foram presos e pedem pela sua liberdade. Tem quem vai de um consulado para outro procurando um país que o possa acolher. Todos os que tivemos a sorte de achar abrigo somos assaltados dia apôs dia desde todos os lados por cartas e telegramas que solicitam a nossa ajuda. Cada um de nós vive a vida de outros cem, além da nossa própria vida.


Stefan Zweig, em fragmento da entrevista concedida a Robert Van Gelder, publicada em 1940 no The New York Times.
Versão para o português de Juan Trasmonte

Esse depoimento doloroso e amargurado do escritor austríaco Stefan Zweig antecipa sua viagem ao Brasil, onde se refugiou e onde decidiu suicidar-se junto com sua esposa Lotte.
Um ano depois dessa entrevista, já radicado em Petrópolis, o autor escreveu Brasil, o país do futuro. Na época, o livro não foi bem recebido pela classe intelectual brasileira, na convicção de que desde o título já era um panfleto de propaganda do governo Vargas. Na verdade, Zweig descobriu no Brasil, apesar de certo olhar etnocéntrico, uma esperança que na Europa estava sendo derrubada pelas bombas e o ódio. Como afirma seu biógrafo Alberto Dines, o escritor ficou isolado e mais deprimido ainda. Morava na serra humildemente embora era uma pessoa rica. O clima não ajudava à sua mulher asmática e o cotidiano ficou mais duro ainda. Nesse momento, ninguém comprendeu que o futuro que Zweig referia já não era o futuro dele mas o de todos nós.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

O olhar de Maria Sampaio


O blog traz essas alegrias. Quando Dona Canô, a mãe de todos os Veloso, fez cem anos eu dediquei uma postagem simples, onde tudo o que eu tinha a dizer estava expressado em uma fotografia que achei de Maria Guimarães Sampaio. Nela aparece Dona Canô, sentada sozinha na sala da casa de Santo Amaro, num belíssimo preto e branco. É uma imagem comovente, atravessada pelo silêncio e as recordações. Então só resolvi acrescentar uns versos de Caetano que definem poeticamente à mãe dele, da música Genipapo absoluto.
Ontem, quase um ano depois da postagem, a autora da foto, deixou uma mensagem agradecendo o fato de eu ter colocado o crédito e com um convite para visitar o blog dela.
No Continhos para cão dormir há outras fotografias lindas feitas por Maria, como essa incluída aqui e também seus textos permeados de brasilidade.
Quem anda por aqui sabe que sustento e defendo autoria nos blogs. Esse detalhe de incluir um crédito que pode parecer menor, também pode desaguar no mar do encontro entre pessoas que estão aqui, nesse mundo as vezes chato, jogando luz com a sua arte.

Foto de Maria Sampaio de 1994, da fazenda Mutumpiranga, Nilo Peçanha, Bahia