domingo, 31 de agosto de 2008

Blog Day, dia de atravessar fronteiras

Blog Day 2008
O Blog Day foi criado para que blogueiros do mundo todo possam recomendar outros blogs e assim estimular o conhecimento de novos portos e novos pontos de vista, para acrescentar ainda mais esse cruzamento de culturas e informações.
Então, seguem as minhas indicações:

1. M'zONe: o blog do Mielle que sempre tem informação interessante sobre cyber-cultura, ciência e tecnologia. Para leigos como eu é uma oportunidade de acessar outras praias.

2. La donna é mobile: o canto de Alana. Muito cinema, belíssimos textos e imagens. Extrema fineza.

3. .Blog: Jorge C. Reis é um médico português que tem um lado humanista como todos os médicos deveriam ter. Em seu blogue podemos descobrir cantos, encontros e culturas da sua belíssima terra.

4. BM Blog do Moura: O Moura é um baiano-paulista especialista en informática, esse mundo misterioso para mim. Sempre descubro informação bacana no site dele. E além do mais, ele é um blogueiro generoso com os outros blogueiros. Razões demais para justificar a indicação.

5. Imarginalico: Blog do jornalista brasileiro Ronald Junqueiro. Nesse blog eu simbolizo os blogues com autoria, com olhar próprio, aqueles que não vivem só do copy-paste e não oferecem tudo digerido.

Há muito blog legal para se recomendar, dessa vez podiam ser só cinco. Agradeço também a Roberto Jr do Voxtopia, pela sua generosidade de indicar meu blog. E a todos os companheiros que fazem desse oceano uma imensidão maravilhosa.

Tag do Blog Day: http://technorati.com/tag/blogday2008
Site do Blog Day

sábado, 30 de agosto de 2008

Orfandade


Mundo sem mecenas
morto socialismo
orfandade
morto
produtor executivo
Deus moreno morto de braços abertos
fieis escondidos
morno fim do dia
expatriado
soro pingado
para adiar a morte
do já morto
talento soterrado
pálido susto dos herdeiros
surto dos abençoados
bem-aventurados.

Orfandade, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto de
Lise Sarfati no neuropsiquiátrico Serbsky, na Rússia post-soviética de 1995

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Corri pra ver


Ouvi cantando assim
ô ô, ô ô
A majestade do samba
Chegou, chegou
Corri pra ver
Pra ver quem era
Chegando lá
Era a Portela

Era a Portela do seu Natal
ganhando mais um carnaval
Era a Portela do Claudionor
Portela é meu grande amor

Ouvi cantando assim...

Era a rainha de Oswaldo Cruz
Portela muito nos seduz
foi mestre Paulo seu fundador
nosso poeta e professor

Ouvi cantando assim...

Corri pra ver, de Chico Santana, Monarco e Casquinha
Foto de divulgação de Casquinha, Zeca Pagodinho e Monarco

Hoje estreia nos cinemas do Brasil O mistério do samba, documentário de Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor sobre a Velha Guarda da Portela.
Li nos foruns da vida que esse filme e todos os documentários musicais que estão aí, desde o de Cartola até o dos Rolling Stones, são cópia do Buena Vista Social Club. Bobagens.
Pra começar, sem tirar seus méritos, o BVSC não foi o primeiro documentário sobre música e ou músicos, o próprio Scorsese fez The Last Waltz, documentário sobre The Band, em 1978.
E também, ninguém ia esperar dez anos pra copiar um filme, até porque se essa fosse a intenção outros poderiam copiar primeiro.
Eu que tive a honra de produzir e escrever o roteiro de um documentário sobre samba em que aparecem algumas dessas figuras maravilhosas das velhas guardas, sinto a maior felicidade quando um outro filme do estilo é feito.
As velhas guardas merecem o nosso maior respeito, porque eles são os que mantiveram a tradição quando o samba não estava na mídia nem na moda e eles são os que seguram o samba pra passar para as outras gerações.
Então, hoje estreia O mistério do samba. Corram pra ver.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Cinema Paissandu: Preservar ou deixar morrer?




O cinema Paissandu do bairro carioca do Flamengo abrigou na década de sessenta uma geração de jovens que entendiam o cinema e as artes em geral como uma ferramenta de transformação. Uns eram os autores desse cinema e outros eram os polemistas, em calorosas discussões que podiam começar em Godard e acabar na luta de classes.
Agora o grupo Estação, que gerencia a sala, colocou data de validade para o histórico espaço, chamado na atualidade Estação Paissandu. E é pra já, no próximo domingo.
A notícia gerou um movimento de cinéfilos e uma reação acorde com os dias de hoje, um abaixo-assinado veiculado através da internet. Meu primeiro impulso foi clicar lá e assinar também. O Paissandu para mim, morador do bairro, sempre foi um polo cultural, uma referência, o lugar onde corriamos aqueles que não corriamos atrás da novidade. Eu morava na Senador Vergueiro e sabia, mesmo indo pouco nos últimos tempos, que ele estava lá. E eu me orgulhava por pertencer a um bairro que tinha um cinema diferente de quase todos.
Agora, desde a distância do inverno de Buenos Aires penso se o fato de querer manter esses espaços e realmente uma maneira de salvaguardar nossa cultura ou é uma jogada a traição da nossa própria nostalgia.
A realidade é que o Paissandu, com seu cheiro de mofo, não é mais o que era, mas nós também não somos, eles não são. Glauber e Sganzerla morreram, assim como Bergman e Antonioni; Jabor virou colunista do Globo e aqueles anos deixaram uma colheita heterogénea que inclui feridos, recalcados; uns que optaram pelo cinismo e outros que ainda acreditam que a esperança de um mundo senão melhor um pouco menos injusto, essa sim não tem data de validade.
Cinemas de rua viraram templos para que pastores eletrônicos materializem os milagres. Ou seja, quem comparecia ao cinema como quem assiste ao templo foi substituído pelos que comparecem com a ilusão de achar um deus que possa encher o buraco que provoca nos homens a angústia de existir. E o buraco enfim está mais embaixo.
Cinemas são nesses dias espaços descaracterizados que não cheiram mofo nem tem gato andando entre as fileiras. Eles cheiram pipoca e óleo de batata frita. A familiaridade procurada é a uniformidade do sujeito consumista: qualquer cineplex de Botafogo tem que ser igual ao que você encontra em qualquer cineplex do Brighton, na Inglaterra. O sucesso é a identificação, vide McDonalds. Tudo igualzinho, tudo com o mesmo sabor.
O burburinho eletrônico deu como conseqüência que o dono do prédio saiu dizendo que o Paissandu não vai ser trocado por um estacionamiento. Que o prédio será preservado enquanto um investidor -os benditos mecenas posmodernos- é achado. O diretor José Joffily ensaiou uma definição legal: “Eu me aproximava do Paissandu meio atemorizado, porque naquela geração eram todos oniscientes. Eu participava timidamente das discussões que se seguiam às sessões porque, se você falasse mal de certos filmes, acabava a sua vida social, acabavam as suas chances de namorar. Com o fechamento do Paissandu, encerra-se uma época em que o cinema era discutido, não era um mero brinquedo, mas um veículo para a revolução”.
E eu chego ao final dessas linhas com menos certezas que dúvidas. Devemos lutar como Quixotes para manter vivos esse bastiões da cultura? Devemos nos agarrar das paredes porque, parafraseando Serrat, “foi alí onde a Lauren Bacall jurou eterno amor Humphrey Bogart”?
Ou devemos assumir que aquilo não é mais, virou ilusão? Ou devemos deixar os operários derrubarem nosso passado a golpes de picareta e criar novos cinemas Paissandu? Talvez novos desejos e porque não novas utopias.

Texto de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto do cinema Paissandu na década de sessenta, sem crédito do autor
Foto do cinema Paissandu na atualidade de Leonardo Aversa


Confira neste post os dez filmes mais badalados da Geração Paissandu

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Adeus da esposa


Adeus, adeus
Pescador não esqueça de mim
Vou rezar pra tê bom tempo, meu nego
Pra não tê tempo ruim
Vou fazer sua caminha macia
Perfumada de alecrim

Adeus da esposa, de Dorival Caymmi
Para Stella Maris Caymmi (in memoriam)
Foto de Murillo Tinoco

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Ciganos simbolizam o medo do outro



O blog Babel.com da amiga Letícia Castro sumou-se à campanha contra a sistemática perseguição aos ciganos na Itália.
Em primeiro termo, agradeço a Letícia pela sua contribuição. Tenho certeza que os numerosos leitores que visitam o blog dela vão trazer mais assinaturas.
Com ajuda para escrever em francês para pessoas não francesas, troquei e-mails com o pessoal do A Voz dos Ciganos. Eles me disseram que aumentou o número de assinaturas vindas do Brasil, país que acumula o setenta por cento do tráfico do meu blog. Acredito que com o apoio do Babel.com esse número irá crescer mais ainda.
No Nemvem Quenaotem a "extranjería" (adoro essa palavra em espanhol) é um dos pilares. Todos os dias me chegam mais e mais notícias desse desprezo aos estrangeiros na Europa. As vezes nem coloco porque acho que vai ficar meio over, mas minha indignação com o assunto fala mais alto. Podemos sim contribuir com nossas vozes e com nossos atos cotidianos para afastar o etnocentrismo e o medo do diferente. Afinal é isso. Freud explica. O que é que o outro está dizendo ou mostrando de nós e que nós não queremos enxergar?
Isso vale também pra gente, que adoramos essas rixas argentinos x brasileiros ou paulistas x cariocas e tal.
Ciganos, o povo rom, segundo pesquisas, são os mais segregados na Europa, por isso são também emblemáticos nessa luta. Porque só haverá integração nas diferênças e pelas diferênças. Isso vale pro mundo e pro quintal. Só depois de atravessar esse rio, a Europa poderá ser chamada de comunidade.

Foto antiga, sem crédito, de ciganos deportados

Luiz Tatit, o cancionista


De um lado vem você com seu jeitinho
Hábil, hábil, hábil
E pronto!
Me conquista com seu dom

De outro esse seu site petulante
WWW
Ponto
Poderosa ponto com

É esse o seu modo de ser ambíguo
Sábio, sábio
E todo encanto
Canto, canto
Raposa e sereia da terra e do mar
Na tela e no ar

Você é virtualmente amada amante
Você real é ainda mais tocante
Não há quem não se encante

Um método de agir que é tão astuto
Com jeitinho alcança tudo, tudo, tudo
É só se entregar, é não resistir, é capitular

Capitu
A ressaca dos mares
A sereia do sul
Captando os olhares
Nosso totem tabu
A mulher em milhares
Capitu

No site o seu poder provoca o ócio, o ócio
Um passo para o vício, o vício
É só navegar, é só te seguir, e então naufragar

Capitu
Feminino com arte
A traição atraente
Um capítulo à parte
Quase vírus ardente
Imperando no site
Capitu

Capitu, de Luiz Tatit
Foto de Gal Oppido

Especialista en letras kilométricas, Luiz Tatit traça histórias que, desde o cotidiano e sem privar-se do humor, bordeiam o existencialismo. É nessas histórias que ele encaixa as suas harmonias e palavras muitas vezes como sons. E também nesse marco o autor prova as suas teorias.
Porque Tatit é uma figura fundamental não só pela sua contruibuição artística, mas também pelo seu trabalho teórico na pesquisa do universo e dos materiais com que é feita a canção brasileira. Seus livros O cancionista - Composição de canções no Brasil (1996) e Todos entoam - Ensaios, conversas e canções (2007) são obras capitais tanto para aqueles que trabalham com esse mistério chamado canção quanto para os interessados na criação artística em geral. No decorrer dessas obras, Tatit desenvolve o conceito de cancionista, palavra pouco comum no português mas bastante utilizada no espanhol para definir os artesãos construtores de canções.
Talvez seja Capitu, essa versão livre e posmoderna do personagem de Machado de Assis no romance Dom Casmurro, sua música mais gravada, com versões ótimas de Zélia Duncan, Adriana Deffenti e Ná Ozetti, além da própria do compositor. Mas sua obra toda é de uma grande riqueza, daquelas dificis de espartilhar.

domingo, 24 de agosto de 2008

A lágrima de Sinéad que rodou o mundo


Para complementar a postagem anterior, umas linhas sobre Nothing compares 2U, a música de Prince e o vídeo do británico John Maybury que levaram Sinéad O’Connor para o número um das paradas em 17 países.
A cantora irlandesa, sem dúvidas a melhor de todas as surgidas na década de noventa, não queria ser uma pop star e enxergando para onde ia o marketing, decidiu raspar a cabeça. Considerada até esse momento uma artista alternativa, ela já tinha lançado o excelente The Lion & the Cobra, onde mostrava sua singularidade.
O diretor do vídeo filmou numerosas cenas em Paris, mas acabou escolhendo longos primeiros planos de Sinéad cantando e olhando fixamente para o objetivo, enquanto a música in crescendo e a expressão da cantora tomam o espectador. Essa estética da intérprete que, longe de deixar ela menos atrativa lhe deu mais força à sua personalidade, lembra a Joan d’Arc de Maria Falconetti.
Possuída pela emoção, Sinéad deixa rolar uma lágrima em seu rosto, uma emoção que não estava ensaiada e que reflete substantivamente a dor do abandono amoroso.
Essas longas tomadas, inesperadamente, impuseram-se no reino da vertigem que a MTV anunciava.
Como em Losing my religion, há uma certa atmosfera religiosa, não expressada aqui no simbólico mas no transcendente.
Em junho de 1990, na onda de Nothing compares 2U, Sinéad foi parar na capa da Rolling Stone. Ela detestou o sucesso e se recusou a receber o Grammy que ganhou por I do not want what I haven’t got.
John Maybury, que já tinha trabalhado no cinema como diretor de arte de Derek Jarman, continuou fazendo clipes ótimos para artistas como Neneh Cherry, Morrissey, Cindy Lauper e quase todos os outros que a irlandesa fez depois. E mais tarde partiu para o cinema, mas já como diretor, e fez, entre outras, a ótima The Jacket.
Encerrando o conceito desses últimos dois textos, havia na alvorada da década de noventa, nesses artistas associados com diretores como os citados e outros como Spike Jonze, Russel Mulcahy e Nigel Dick, um certo desejo de transcendência, desde a arte concebida como busca da beleza. Mas hoje esse desejo se perdeu ou foi por outros rumos, mais difusos, como se a produção de imagens num videoclipe fosse também um significante dos tempos.


Captura do vídeo de 1990, Nothing compares 2U, dirigido por John Maybury, na última foto.

sábado, 23 de agosto de 2008

Quando R.E.M. encontrou García Márquez e Caravaggio











Quando lembro da explosão da MTV e de como modificou o consumo e a pauta de divulgação dos artistas na industria musical, sempre vêm à minha cabeça dois videoclipes: Nothing’s compare’s 2U, de Sinéad O’Connor, dirigido por John Maybury, e Losing my religion, do R.E.M., dirigido pelo indiano Tarsem Singh.
Hoje vamos fazer uma paradinha no videoclipe que impulsionou a música de 1991 que trouxe o sucesso massivo pra banda formada na Georgia, mas especialmente nas influências que permeiam sua estética.
A primeira e clara é a do pintor lombardo Caravaggio e suas cenas religiosas que são uma chave da fase barroca. Como pode-se ver aqui, há passagens do clipe que reproduzem em detalhe várias pinturas do artista.
A segunda influência foi a do relato Un señor muy viejo con unas alas enormes, do escritor colombiano Gabriel García Márquez. Provavelmente o que motivou a adaptação (o próprio Michael Stipe aparece com grandes asas brancas em algumas passagens do clipe) foi a versão fílmica do conto, do diretor Fernando Birri, com roteiro feito a quatro mãos por ele e o próprio Gabo.
Grande criador de comerciais para as mais poderosas marcas, Tarsem Singh, que depois incursionou no cinema com A cela e The Fall, virou e até hoje leva a etiqueta do “diretor do Losing my religion”. Tarsem carregou a expressão dos atores, no estilo dos melodramas que fazem uma parte substantiva da enorme produção indiana de cinema. Na fase brainstorming do projeto, Tarsem viu Michael dançando daquela forma desajeitada e decidiu incorporá-lo ao clipe.
“Losing my religion” é uma expressão usada no norte dos Estados Unidos como sinônimo de perder a esperança, especialmente em pessoas.
Stipe declarou em entrevista à Rolling Stone que a música não é sobre religião mas sobre obsessão. Porém, a iconografia religiosa atravessa o clipe e de fato ele teve difusão proibida na Irlanda, país de forte tradição católica. Há também um forte apelo gay nas imagens (eu diferencio gay de homossexual) também presente na obra do pintor. Inclusive há quem interpreta a música como uma alegoria do “sair do armário”, ou seja, que o narrador seria um homossexual se assumindo como tal.
Eu nunca interpretei dessa maneira embora reconheci a estética gay, que é óbvia numa primeira leitura. Sempre ouvi e vi Losing my religion como uma canção-rezo, uma Romaria da era MTV.
O certo é que Losing my religion, que segundo Stipe foi feita em oito minutos e sustenta parte do seu atrativo no bandolim que o guitarrista Peter Buck estudava na época, continua imbatível, assim na música quanto na imagem. Amém.

Captura de Michael Stipe em cena do videoclip Losing my religion; outras cenas que reproduzem quadros de Caravaggio e foto do diretor Tarsem Singh

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Centenário de Cartier-Bresson


Olhe, observe, não respire, aperte o disparador e continue andando.


Me dar tempo foi o único luxo que eu me permiti na vida. As pessoas apressadas são miseráveis.


Eu vejo o que os outros não vêem. Eu olho e olho. Escutar para mim é difícil, mas nunca deixo de olhar.


Minhas fotos refletem o caráter universal da natureza humana. Uma das grandes vantagens do talento e da experiência é atingir a simpleza, essa sabedoria que se afasta do pedantismo para chegar no essencial.


Eu gosto de rostos, do que significam, pois tudo está escrito neles.

Hoje é o centenário do nascimento do fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson. Reporter fotográfico do século vinte, ele desenvolveu o conceito do "instante decisivo" em que uma foto é tirada, aquele em que, segundo ele, o coração, a cabeça e o olho estão na mesma linha.
A primeira foto mostra três homens olhando por cima do Muro de Berlim. A segunda é a sua famosa instantânea do campo de concentração de Dassau, na Alemanha; a terceira mostra o rezo de mulheres na India pela morte de Gandhi, o mahatma; a quarta é toda uma definição da revolução sexual dos anos sessenta, com o advento da minisaia.
Agora que o universo digital democratizou as imagens, é bom parar um momento e valorizar o "instante decisivo".




quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Língua dividida



Minha língua dividida
minha faca de dois gumes
vaga lume
andas nas trevas
sangra presa na mordida
é uma língua que são duas
traz o lamento dos mouros
e a cruz dos conquistadores
a dor no olhar do Pessoa
quevedos andrades e outros
todos tamizados
nos suspiros hernandianos
igual língua viperina
é uma língua que são duas.

Língua dividida, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Reprodução de mapa da época com a linha do Tratado de Tordesilhas dividindo as terras do rei de Castela das do rei de Portugal

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Quando Borges não era cego (e assistiu Citizen Kane)


Todos sabemos que uma festa, um palácio, uma festa, uma grande empresa, um almoço de escritores ou jornalistas, um ambiente cordial de franca e espontânea camaradagem, são essencialmente horrorosos; Citizen Kane é o primeiro filme que os mostra com alguma consciencia dessa verdade.

Fragmento da crítica do filme Cidadão Kane, de Orson Welles, escrita por Jorge Luis Borges e publicada em agosto de 1941 na revista Sur. A seguir, o texto completo da matéria, em espanhol.

"El ciudadano"
"Citizen Kane (cuyo nombre en la República Argentina es "El ciudadano") tiene por lo menos dos argumentos. El primero, de una imbecilidad casi banal, quiere sobornar el aplauso de los muy distraídos. Es formulable así: un vano millonario acumula estatuas, huertos, palacios, piletas de natación, diamantes, vehículos, bibliotecas, hombres y mujeres; a semejanza de un coleccionista anterior (cuyas observaciones es tradicional atribuir al Espíritu Santo) descubre que esas misceláneas y plétoras son vanidad de vanidades y todo vanidad; en el instante de la muerte, anhela un solo objeto del universo ¡un trineo debidamente pobre con el que su niñez ha jugado! El segundo es muy superior. Une al recuerdo de Koheleth el de otro nihilista: Franz Kafka. El tema (a la vez metafísico y policial, a la vez psicológico y alegórico) es la investigación del alma secreta de un hombre, a través de las obras que ha construido, de las palabras que ha pronunciado, de los muchos destinos que ha roto. El procedimiento es el de Joseph Conrad en "Chance" (1914) y el del hermoso film "The Power and the Glory": la rapsodia de escenas heterogéneas, sin orden cronológico.
Abrumadoramente, infinitamente, Orson Welles exhibe fragmentos de la vida del hombre Charles Foster Kane y nos invita a combinarlos y a reconstruirlos. Las formas de la multiplicidad, de la inconexión, abundan en el film: las primeras escenas registran los tesoros acumulados por Foster Kane; en una de las últimas, una pobre mujer lujosa y doliente juega en el suelo de un palacio que es también un museo, con un rompecabezas enorme. Al final comprendemos que los fragmentos no están regidos por una secreta unidad: el aborrecido Charles Foster Kane es un simulacro, un caos de apariencias. (Corolario posible, ya previsto por David Hume, por Ernst Mach y por nuestro Macedonio Fernández: ningún hombre sabe quién es, ningún hombre es alguien.) En uno de los cuentos de Chesterton -"The Head of Caesar", creo- el héroe observa que nada es tan aterrador como un laberinto sin centro. Este film es exactamente ese laberinto.
Todos sabemos que una fiesta, un palacio, una gran empresa, un almuerzo de escritores o periodistas, un ambiente cordial de franca y espontánea camaradería, son esencialmente horrorosos; Citizen Kane es el primer film que los muestra con alguna conciencia de esa verdad.
La ejecución es digna, en general, del vasto argumento. Hay fotografías de admirable profundidad, fotografías cuyos últimos planos (como en las telas de los prerrafaelistas) no son menos precisos y puntuales que los primeros. Me atrevo a sospechar, sin embargo, que "Citizen Kane" perdurará como "perduran" ciertos films de Griffith o de Pudovkin, cuyo valor histórico nadie niega, pero que nadie se resigna a rever. Adolece de gigantismo, de pedantería, de tedio. No es inteligente, es genial: en el sentido más nocturno y más alemán de esta mala palabra.

Foto de Jorge Luis Borges de Sara Facio

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Dez grandes parcerias da música brasileira


1. João Bosco-Aldir Blanc
Se bem foram projetados por Elis Regina (o que mais dizer da Elis?) adquiriram vôo próprio, nos versos brilhantes de Aldir, no canto suingado e no violão percussivo de João. Criadores de jóias como Kid Cavaquinho, O mestre-sala dos mares, Gênesis, Comissão de frente, O bêbado e a equilibrista, Tiro de misericórdia e tantas outras, muitas delas compostas ao telefone.

2. Tom Jobim-Vinicius de Moraes
Nem precisam apresentação. Reunidos em 1956 em ocasião da montagem da peça Orfeu da Conceição que protagonizou Haroldo Costa, trabalharam para compor de todas as maneiras possíveis na época: nas mesas dos bares, fazendo primeiro a música e depois a letra e vice-versa, compondo sobre versos, escrevendo sobre trechinhos de melodias, pelo correio. Assim deixaram para o mundo clássicos como Chega de saudade, O amor em paz, A felicidade, Eu sei que vou te amar e tantas outras.

3. Nelson Cavaquinho-Guilherme de Brito
Parceria formada em 1955. Só os versos “Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor” fizeram de Guilherme um dos maiores poetas do samba e popularizaram Nelson, o autor da melodia. Juntos também assinaram Pranto de poeta, Folhas secas e muitas outras.

4. Chico Buarque-Francis Hime
Como o uísque, Chico Buarque é bom sozinho ou com gelo. Das várias parcerias que Chico cultivou ao longo da sua trajetória, escolho a que fez com o compositor, pianista e arranjador Francis Hime. Eles são responsáveis de peças belíssimas como Meu caro amigo, Atrás da porta, Trocando em miúdos e o clássico samba-enredo Vai passar, que virou um hino da resistência na época da ditadura.

5. Moraes Moreira-Galvão
Criadores da maioria dos sucessos de Os Novos Baianos, que eles formavam com Pepeu, Baby Consuelo (depois Baby do Brasil) e Paulinho Boca de Cantor. A banda que passou o rock pela peneira do samba, vivia em comunidade e tinha todo o estilo dos roqueiros mas foi o conterráneo João Gilberto seu inesperado mentor. Entre outras, Moraes e Galvão comporam Acabou chorare, Preta pretinha, Tinindo trincando e Besta é tu.

6. Humberto Teixeira-Luiz Gonzaga
O Gonzagão é uma instituição no Brasil, mas músicas como Asa Branca, Juazeiro (objeto de sucessivos plágios no exterior), Assum preto e Que nem Jiló, entre muitas, vem acompanhadas do grande parceiro Humberto Teixeira, que ainda fez grandes obras sozinho e em outras parcerias. Teixeira e Gonzaga foram a ponta de lança do sucesso do baião e a música nordestina como resposta brasileira ao bolero que vinha de fora.

7. Frejat-Cazuza
Introduzido ao Barão Vermelho por Léo Jaime, além de vocalista, Cazuza virou autor da maioria das letras da banda, muitas em parceria com o guitarrista Frejat. Todo o amor que houver nessa vida, Só as mães são felizes, Ideologia e Pro dia nascer feliz são da safra deles.

8. Roberto Carlos-Erasmo Carlos
Pouco a dizer que não esteja dito. Uma parceria que começou em meados da década de sessenta e deixou mais de um centenar de músicas no imaginário popular. Qual a sua preferida?

9. Noel Rosa-Vadico
Foram ao todo onze músicas em quatro anos, começando por Feitio de oração, estreada em 1933, quando Vadico tinha 22 anos. Conversa de botequim, Pra que mentir e Feitiço da Vila são outros produtos dessa sociedade da Epoca de Ouro. A criação de Noel, como é sabido, foi prolífica mas breve no tempo.

10.Sueli Costa-Tite de Lemos
A grande compositora carioca Sueli Costa encontrou grandes parceiros em Abel Silva, Cacaso, Paulo César Pinheiro e o poeta , dramaturgo e jornalista Tite de Lemos. Com ele fez Todos os lugares, Medo de amar Nº 2 e Conversações com João e Maria, entre outras.

Como sempre, a ordem não indica valor. Aqui estão só dez das tantas e generosas sociedades artísticas da história da música popular brasileira. Não reparem nos links das páginas das letras e os acordes para os compositores. A verdade é que nesses sites de cifras e letras pouca bola dão para colocar a autoria certa.
Fiquem ligados. Continuará.

Foto de Tom Jobim e Vinicius de Moraes de Chico Nélson





domingo, 17 de agosto de 2008

Enquanto isso...


...Marion Jones assiste os Jogos Olímpicos de Pekim na cadeia.
Não vamos defender o engano nem a mentira, mas o fato da atleta estar cumprindo com sua pena de seis meses de prisão soa, no mínimo, exagerado.
Ela já tinha sido suspensa até 2009 e tinha sido obrigada a devolver as cinco medalhas que obteve em Sydney 2000. Como se não fosse punição suficiente, imprimiram um carater exemplificador na sentença, que chegou a ter um pedido de comutação recusado pelo presidente. A velha dupla moral dos estadounidenses venceu essa carreira.
Marion Jones é o reflexo de uma sociedade que divide às pessoas entre winners e losers, num país que tem o maior consumo de cocaína do planeta, mas foca esse outro eixo do mal na Colômbia; um pais cujo presidente despede os atletas chamando-os de "embaixadores da liberdade".
Se tudo vale para não ser um excluído social porque o resultado teria que ser diferente?
Hoje o mundo, os sponsors e a mídia têm novos reis e rainhas da velocidade. Enquanto isso, os picaretas de plantão procuram novas maneiras de driblar os testes de doping.
O COI, as autoridades, os juízes e até os presidentes sabem bem o que fazer com quem sair da linha. Sabem bem que o melhor exemplo é a pimenta nos olhos dos outros.

Foto de Marion Jones de Mike Segar

sábado, 16 de agosto de 2008

Blog Action Day, de novo

O sucesso do Blog Action Day de 2007, quando o assunto foi ecologia, já anunciou que a iniciativa tinha que continuar. Esse ano o assunto é pobreza e o dia marcado o 15 de outubro.
O projeto é estabelecer um dia para que blogueiros do mundo todo façam uma postagem sobre um tema comum para criar uma ação coletiva.
Quem quiser participar pode acessar o botão que está aqui no meu blog ou acessar ao site da organização Blog Action Day

É doce morrer no mar


É doce morrer no mar
nas ondas verdes do mar...

Tenho ânsia de ser o autor do mais puro, do mais simples. Parto para encontrar a forma mais doce de dizer as palavras e música de uma canção, num estribilho que você segure na cabeça, que trauteie, que assovie. Meu sonho é chegar a essa perfeição de ser o autor de uma "ciranda, cirandinha", uma coisa que se perca no meio do povo.
Dorival Caymmi (1914-2008)

É doce morrer no mar (fragmento), de Dorival Caymmi
Foto de Fernando Rabelo

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O longo crepúsculo de F. Scott Fitzgerald


Hoje em dia, o remédio habitual para alguém que está no fundo do poço é pensar naqueles que estão na indigência ou sofrem de padecimentos físicos. Tem uma ação balsámica contra a melancolia no geral e é um conselho razoavelmente saudável para qualquer um no decorrer do dia, mas às três horas da madrugada essa cura não serve pra nada. E em uma noite realmente escura da alma, sempre são as três da madrugada, dia apôs dia. Nessas horas a tendência é recusarmos a enfrentar a realidade, retirarmo-nos a um sono infantil do que continuamente nos arranca, exaltados, o contato com o mundo.
(...) Um escritor como eu irá ter uma profunda confiança em si próprio, uma imensa fé na sua boa estrela. É um sentimento quase místico, uma sensação de que nada pode lhe acontecer. Thomas Wolfe tem isso y o Ernest Hemingway o tinha. Eu tive isso uma vez, mas depois de uma série de desastres, muitos deles por responsabilidade minha, alguma coisa acontecei com esse sentimento e perdi o pé.

Fragmento da entrevista de F. Scott Fitzgerald com Michel Mok, publicada no jornal The New York Post em 1936
Foto do arquivo da George Eastman House

Grande retratista do lado escuro da aristocracia, F Scott Fitzgerald passou seus últimos anos como uma sombra dele mesmo. O longo declínio do autor dos romances O Grande Gatsby e Suave é a noite, começou com seu próprio abuso do álcool como reflexo da insatisfação e da tragédia pessoal desde que sua mulher Zelda se jogou nos trilhos ao passo do trem e foi internada num hospício.O jornalista Michel Mok descreve Fitzgerald na entrevista de onde publico esse fragmento como um homem trémulo, bebendo de uma garrafa que tinha escondida na gaveta e à beira do desespero.O escritor que foi um dos máximos referentes da chamada geração perdida, terminou seus dias decadente, como um personagem dos seus livros.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O samba de João Gilberto faz cinqüenta anos


Em 1989, em uma dessas raras entrevistas que João Gilberto concede, ele disse a um reporter do jornal francês Liberation que um dia ele chegou para Newton Mendonça e disse assim:
- Que negócio é esse de bossa nova? Eu faço samba.
Parece que o Newton pediu pro João não falar isso publicamente para não criar desavenças entre os membros do incipiente movimento.
O certo é que antes do famoso compacto com Chega de saudade e Bim-bom; antes da famosa saída da Columbia -onde tinha todo acertado pra lançar o disco até o executivo da gravadora chamado Corte Real sugerir trocar a palavra "baião" por "canção" no lado B; antes dele bater um dia na porta do apartamento do Menescal ("você tem um violão aí pra gente tocar alguma coisa?"); antes do jornalista do Ultima Hora, Moyses Fuks colocar um cartaz no Grupo Universitário Hebraico com a inscrição "Hoje Sylvinha Telles e um grupo bossa nova", usando o termo pela primeira vez... Antes disso tudo, com sua batida diferente, João Gilberto já fazia o samba dele.

Foto de Oldemar Victor, grande fotógrafo e professor baiano, que infelizmente morreu no mês passado e que fez essa imagem quando tinha só 14 anos

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Woodstock revisitado





Em 2009 o mítico festival de Woodstock vai comemorar quarenta anos. Esperamos uma avalanche de homenagens, reedições e tal. O cineasta Ang Lee já entrou na lista dando início às filmagens de Taking Woodstock. O filme estará centrado no livro de memórias de Elliot Tiber, o proprietário do motel El Monaco, onde a organização e vários artistas ficaram hospedados.
Parece que Tiber era um decorador de interiores de Nova York que teve que carregar com a administração do motel familiar que estava no meio do campo. E o local ficava junto à enorme granja que foi cedida para a realização do festival.
Quem será Hendrix no filme? E Janis? Será que vão misturar cenas de arquivo ou vão contratar milhares de extras?
Enquanto esperamos pelo ressultado, deixo aqui algumas imagens do Woodstock original, sem efeitos especiais.

A primeira imagem é da Agência Reuters; a segunda foto é de Richie Suraci, e a terceira de Robert Altman

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Incomum


Porque você é incomum
porque você é moça e prosa
asturiana e chula
e malandra
porque tua paz
enquanto tu dormias
porque Leminski quis
porque distância kiss
no café da manhã
el tiempo calma
perna ardida.

Porque incomum não é especial
incomum é fora do comum
incomum é fora do ordinário
você não é especial
você é incomum
porque você as vezes ri
e se não der não ri
porra nenhuma
nem uma vez
e foda-se
o mundo feliz
mas o olho
continua além
daquela self-picture
de você
olho em paz
enquanto tu dormias
olho além
que só você sabia
e vez em quando
volta a poesia.

Especial foi palavra feita pra cheque
pra programa de Natal do Rei
pra megasena
Desconfie das pessoas
que te chamem de especial
Você é incomum
sua asturiana malandra.

Porque surpresinha mata tédio
porque tédio mata tudo.

Incomum, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Reprodução da obra What do you feel guilty for?, de Daniele Buetti, da série Dreams result in more dreams

domingo, 10 de agosto de 2008

Crianças


Che Guevara com seu filho Ernesto


Criança Chico Science



Criança Peter Falk


Criança Oscar Alemán



Criança Preta Gil


Criança Amy Winehouse


Criança durmindo no festival de Woodstock

Hoje é o dia das crianças nesse canto do mundo

Foto de Gilberto Gil e Preta Gil, de Chico Nélson
Foto de criança em Woodstock de Richie Suraci




sábado, 9 de agosto de 2008

Adeus ao poeta palestino


Ele está tranqüilo, eu também
sorve um chá com limão
bebo um café,
É o único que nos distingue.
Ele leva, como eu, uma camisa ampla listrada
eu folheio, como ele, os jornais da tarde.
Ele não me vê quando eu olho de soslaio,
Eu não o vejo quando ele olha de soslaio,
ele está tranqüilo, eu também.
Pergunta ao garçom,
pergunto algo ao garçom...
Uma gata preta passa por nós,
acaricio sua noite
acaricia sua noite...
Eu não lhe digo: está aberto,
o céu está muito azul.
Ele não me diz: está aberto.
Ele é o observado e o observador
eu sou o observado e o observador.
Mexo a perna esquerda
mexe a perna direita.
Cantaroleio uma canção,
cantaroleia uma cancão parecida.
Eu penso: é ele o espelho em que eu me vejo?
Depois olho nos seus olhos,
mas não lhe vejo...
Abandono o café depressa.
Penso: talvez ele seja um assassino, ou quiçá
alguém que pensou que eu sou um assassino.
Ele tem medo, e eu também!

Ele está tranqüilo, de Mahmud Darwish
Versão para o português de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto de F.J. Vargas

Faleceu ontem Mahmud Darwish, considerado o poeta da resistência palestina desde que em 1998 ele escreveu a Declaração da Independência Palestina.
Autor dos livros Menos rosas, O leito de uma estranha, Estado de sítio e Não se desculpe, entre outros, Mahmud tinha nascido em Birwa em 1941. Sua cidade natal foi destruída pelos israelenses, o poeta foi perseguido, preso e forçado ao exílio reiteradamente por causa da sua atividade literária e política. Pertenceu a OLP e recebeu honras de vários governos e instituições.
Sempre contava que escreveu Estado de sítio "com os tanques na porta da minha casa". Seu poema mais famoso, Carteira de identidade, foi traduzido a dezenas de línguas.
Todos os exilados desses tempos por todas as causas perdem com a partida de Mahmud uma voz essencial, aquela que disse "O exílio é uma parte de mim. Quando vivo no exílio eu levo a minha terra comigo. Quando eu vivo na minha terra, sinto o exílio comigo. A ocupação é o exílio. A injustiça é o exílio. Permanecer horas num controle militar é o exílio. O porvir é sempre pior para nós. Isso é o exílio".

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Sexta-feira non sancta (VIII)



Reprodução de ilustração de Art Frahm

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O ritual de São Caetano






Como todos os dias 7 de agosto, milhares de pessoas em Buenos Aires pedem para São Caetano por um futuro melhor.
A primeira foto é de Miguel Midonno, a segunda foto foi feita por Aníbal Greco

Ciganos são os mais segregados da Europa



Hoje em Madri, uma passeata convocou ciganos da Espanha inteira em protesto contra a onda de racismo que atravessa a Europa.
Na foto da Agência EFE, uma jovem segura um estandarte com a lenda "Payos o gitanos, convivencia abierta!"
Payos é o vocábulo com que os ciganos denominam os não ciganos.
Segundo estudo, os ciganos são atualmente a minoria mais segregada na Europa.
Quem quiser assinar contra a caça de bruxas na Itália, pode fazé-lo clicando no banner que está na coluna da direita desse blog.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Warhol - 80 anos




Só podia ser leão no zodíaco. Hoje faria 80 anos Andy Warhol, no ano em que fazem vinte que ele morreu.
As duas imagens pertencem ao fotógrafo Christopher Makos, que foi discípulo primeiro de Man Ray e depois do máximo ícone da arte pop. Como Makos também foi um acólito de Warhol, ele fez centenares de fotos que hoje rodam o mundo. No encontro com essa outra celebridade de Salvador Dalí (haja espaço para tanto ego!) Makos registrou esse beijo, certamente mais profano que aquele que ocupa a postagem de ontem. O mais engraçado foi que Makos passou o almoço inteiro tentando conversar com Gala, a amada musa de Dalí, até que ela virou pra ele e disse: "Não me interessa nada do que você diga".
Warhol é uma figura fundamental para entender a cultura pop, mas vamos convir que a arte da humanidade não começou com ele, como alguns moderninhos pretendem.

Fotos de Andy Warhol e Andy Warhol e Salvador Dalí, de Christopher Makos

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Um Pulitzer, duas fotos





Como muitos estadounidenses naqueles tempos, Rocco Morabito foi criado na sua cidade natal, foi lutar à Segunda Guerra Mundial, voltou e deu a volta por cima. Ele era fotógrafo do hoje desaparecido Jacksonville Journal, daqueles que fazem fotos do que pintar, de jogo de basquete até casamento. Um dia ele ia dirigindo seu carro para tirar umas fotografias dos trabalhadores das ferrovias quando passou por um poste de alta-tensão onde um operário acabara de tomar um choque. Parou o carro, chamou uma ambulância pelo rádio, colocou um filme na sua câmera e desceu. Nesse momento, um outro operário, alertado pelo barulho, subiu no poste e improvisou o trabalho de reanimação do colega que estava pendurado.
Quando voltou pra redação, Rocco disse "acho que tenho uma foto muito bonita", mas o editor lhe respondeu que o exemplar do dia seguinte já estava fechado. Às pressas ele mesmo revelou o filme e mostrou a foto pro editor que, por sua vez, levou a peça para o editor de fotografia. Depois de olhar por um instante, este disse "muito boa. Vamos chamar de O beijo da vida", e vamos colocar na capa.
Assim foi feito e tudo mundo foi embora sem muitas expectativas, na rotina do jornal.
A outra foto, batizada de Flower Power foi tirada por Bernard “Bernie” Boston num protesto contra a guerra do Vietnã. Boston foi definido pelos seus colegas como um gentleman que levava sempre suas botas texanas e sua Leica. Foi chefe de fotografia em Washington no Los Angeles Times e no The Washington Star e fez imagens célebres de vários presidentes.
Em 1994 ele foi morar na montanha e editou, junto com a esposa Peggy, um pequeno jornal.
Flower Power, que mostra um manifestante colocando flores nos canos dos fuzis dos soldados, foi tirada em 1967 mas publicada só um ano depois. A foto de Rocco Morabito, publicada sem alardes, foi reproduzida nos dias seguintes nos principais jornais dos Estados Unidos. Um dia o fotógrafo chegou ao trabalho e a redação estava na maior festa. A sua foto acabara de ganhar o Prêmio Pulitzer, vencendo Flower Power, a outra finalista.
Exatamente quarenta anos depois, Rocco têm 87 e sua imagem ganhou até um documentário. Bernie Boston morreu em janeiro desse ano com todas as honras, mas sem o cobiçado prêmio.




Primeira foto: The kiss of life (O beijo da Vida), de Rocco Morabito
Segunda foto: Flower Power, de Bernie Boston
Terceira e quarta fotos: Os criadores e as criaturas