sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O ano em que Nemvem Quenaotem saiu de férias


Meus caros, esse espaço permanecerá fechado por férias.
Primeira relatividade: se der, um dia eu posto via satélite. Segunda relatividade: a maioria das postagens do blog não estão ligadas à última notícia. Aliás, qual é a última notícia? Houve alguma vez uma última notícia?
Enfim, tem bastante pra ler e/ou ver no arquivo sem precisar da novidade. Nenhum de nós precisa ser tão moderno assim.
Vou respirar um pouco do ar que me justifica e volto. Descansarei de vocês e, principalmente, de mim mesmo porque, como costumo dizer, eu as vezes de mim me canso um pouco.
Se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí.


Foto de Irving Penn

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Pensar e poetizar



"A linguagem é a casa do ser. Em seu lar habita o homem. Os pensadores e os poetas são os guardiões desse lar."

Martin Heidegger sustentava que um povo não é caracterizado pelos seus elementos étnicos, políticos ou geográficos, mas pelos seus elementos idiomático-culturais ou, expressado de outra maneira, quem funda uma nação são os poetas e os pensadores dela.
Foto de Martin Heidegger de autor não especificado

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Mestras de música



Tive três mestras de música. Nas dúvidas de língua estrangeira que me assaltam o tempo todo penso que talvez deveria começar assim: “Eu tive três mestras...”, mas detesto começar um texto com a palavra “eu”, então saiba o leitor iludir essa ausência de pronome.
Enfim, tive três mestras de música. A primeira foi Sara Bonino, que dirigia o coro da escola onde eu fiz o ensino fundamental. Sempre séria e com um batom vermelho furioso ela me mostrou muito cedo que músicas boas podem vir de qualquer canto do planeta.
Com minha emissão já grave aos onze anos, eu fazia parte da terceira voz do coro que cantava nos atos músicas do Guastavino, do folclore armenio, da tradição francesa e muitas outras.
A professora Sara me ensinou essa cara de bobo que a gente precisa fazer para relaxar o queixo, esse sorriso falso para sustentar as notas em i. Ela detestava que eu e outros fizéssemos parte do time de futebol da escola. Ela detestava futebol que, na época, todos nós achávamos muito mais interessante que ensaio de coro. Porém, no dia da decisão do tornéio inter escolar, a professora Sara nos-levou para a sala de música, nos fez deitar no chão e começou a tocar melodias suaves no piano pra gente relaxar. Foi um dos gestos de generosidade mais bonitos que eu recebi na minha vida.
A segunda dessas três mestras foi Virgínia Lee, que foi minha professora de violão na Fundação do Centro de Estudos Brasileiros em Buenos Aires, quando eu, já com vinte e cinco anos, ressolvi que tava na hora de deixar de adiar esse aprendizado.
A professora Virgínia me levou pela extensão rítmica brasileira com precisão e alegria. Descobri com ela que alegria é fundamental pra encarar qualquer aprendizado. Sempre lembro a bronca que ela deu em mim quando soube que eu era canhoto: “Você está fazendo um duplo esforço, um para aprender e outro para aprender feito destro”.
E a Virgínia -que ainda tenho o enorme prazer de encontrar de vez em quando- também me ajudou para achar os caminhos que me levaram alguns anos depois a virar um modesto “brasilianista” e a derrubar preconceitos sobre músicas que eu tinha como bregas. Mas a especialista nesse quesito foi a minha terceira mestra: Maria Bethânia.
Na verdade, o trabalho de Bethânia começou a obrar em mim bem antes, no ano 1980, quando eu voltei da minha primeira viagem ao Rio de Janeiro com, entre outros, o vinil do disco Mel. Por esse disco conheci Waly Salomão -embora eu já conhecia pelo Transa do Caetano e não sabia- e também Lupicínio Rodrigues . A Maricotinha me apresentou Rosinha de Valença e Sueli Costa; me fez interessar pelas raízes, procurar compositores que -na época em que não havia internet ainda- nem sempre foi fácil achar desde Buenos Aires.
Foi através dela que compreendi porque chamamos de Rei quem chamamos de Rei, que me aventurei pelas espessuras do mato, que soube que todo mar tem um rio. É por ela que ainda hoje descubro músicos talentosíssimos como Roque Ferreira. É por ela que aprendi que o palco é um espaço sagrado.
Sem essas três professoras eu não poderia ter feito um documentário sobre samba do qual respeitosamente me orgulho; talvez não teria ido nunca morar no Brasil; talvez não poderia trabalhar como produtor cultural com música brasileira nem ser chamado para escrever ou organizar coleções de música. Sem elas com certeza não teria virado uma “palavra autorizada” na matéria e minha conceição da música seria bem menos ampla.Por tudo isso, meu agradecimento por elas será eterno.

Texto de Juan Trasmonte (Creative Commons)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Imigrantes (IV)


Reprodução de Los Refugiados, obra de 1937 de Tamara de Lempicka

Rosas pro Guimarães


"Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura".

Extraído de Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa
Foto da viagem de João ao sertão mineiro, em 1952

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

osgemeos



Os caras são convidados para fazer sua arte lá na Europa, como mostra a imagem do outrora tradicional Castelo de Kelburn, na Escócia. Porém, na própria São Paulo, o asno do prefeito Gilberto Kassab, mandou apagar várias das obras de arte urbana dos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, osgemeos, corriqueiramente chamados por alguns -entre eles Kassab, claro- de graffiteiros, como se isso fosse uma categoria menor das artes visuais.
Esse prefeito apoia o conceito militar anão de que branquinho é sinônimo de limpo e limpo é sinônimo da ordem.
Um povo que não cuida dos seus artistas entrega seu futuro.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Perdão


Se eu soubesse a razão
o mistério não seria
subir e descer
por escadas rolantes
fechar portas
a sete chaves
espiar a lua
sobre um prédio em construção
que já tem compradores.

Em algum lugar
tem que existir o perdão.

Perdão, de Juan Trasmonte (Creative Commons)

Quino e a banalização da culinária



"Eu percebo uma deformação das cozinhas originais, porque agora com esse movimento todo da comida fashion, os restaurantes fazem um prato japonês, um marroquino e um outro crioulo. Fora do lugar da origem é impossível reproduzir certas culinárias, porém as pessoas acham que comem algo auténtico. O que acontece, em síntese, é que nessa procura se perde a essência da comida e, na verdade, acho isso uma barbaridade. Sei lá, vejo que há muita superficialidade nesse mundo todo, não só da comida mas do vinho."


Reprodução de "La aventura de comer"
Um novo livro de Quino é sempre uma boa noticia

sábado, 19 de janeiro de 2008

Irving Penn


Cafe in Lima, fotografia de Irving Penn, que em 2008 fez noventa anos e, como sempre, mora em Nova Iorque.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Sexta-feira non sancta (V)


Foto de algum bisavô sortudo

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Sérgio Natureza


Restinga da Marambaia
urubus na Sapucaia
um morcego de Atalaia
Jandaia desarvorou...
é permitida a gandaia
cada um com a sua laia
a manhã fugiu da raia
porque a tarde não tardou
O michê de mini-saia
despachado em plena praia
quando o sol Césardesmaia
no pontal do Arpoador
Vem a noite de tocaia
o céu cor de bala toffee
o bofe comendo um misto dentro
da sauna a vapor
E lá do alto, benquisto
brilha o Cristo Redentor
perdoando os prejuízos causados
pelo calor.
Ah! Rio, quem te inventou?

Caricas III, de Sérgio Natureza. Antonio Saraiva musicou e Marcos Sacramento cantou bonito.

Com seus trocadilhos e suas rimas fluentes esse é um belíssimo retrato do Rio e os seus contrastes, aliás, um dos mais belos desses últimos anos junto com o São Sebastião de Totonho Villeroy, que já foi postado aqui.
Esses poetas garantem a herança do Aldir e do Chico na tradução em poesia do Rio.
Foto do Cristo Redentor de Custódio Coimbra
Foto de Sérgio Natureza de Nilton de Souza Moraes

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

No pasarán


Reprodução de cartaz do Exército Republicano, na Guerra Civil Espanhola, de autor desconhecido

O Brasil de Camus


Na sua viagem à América do Sul de 1949, Albert Camus deu sua definição para Brasil:
Um país em que as estações se confundem umas com as outras; onde a vegetaçäo inextrincável torna-se disforme; onde os sangues misturam-se a tal ponto que a alma perdeu seus limites.

E por falar em Camus no post anterior, queria colocar uma foto da sua passagem pelo Brasil mas -pra variar- não achei nenhuma no maremagnum dos buscadores ou melhor, só achei uma dele comendo feijoada num site exclusivo para assinantes. Resumo da ópera, vai um dos famosos retratos do Cartier Bresson
Foto de Albert Camus de Henri Cartier Bresson

domingo, 13 de janeiro de 2008

O estrangeiro


"Compreendi, então, que um homem que houvesse vivido um único dia, poderia sem dificuldade passar 100 anos numa prisão. Teria recordações suficientes para não se entediar."

Do romance O estrangeiro, de Albert Camus
Foto de Yousuf Karsh

sábado, 12 de janeiro de 2008

Marina


Dentro de cada um
Tem mais mistérios do que pensa o outro
Uma louca paixão avassala a alma o mais que pode
O certo é incerto, o incerto é uma estrada reta
De vez em quando acerto, depois tropeço no meio da linha
Tem essa mágica
O dia nasce todo dia
Resta uma dúvida
O sol só vem de vez em quando
O certo é incerto, o incerto é uma estrada reta
De vez em quando acerto,
Depois tropeço no meio da linha

Pseudo blues, de Nico Rezende e Jorge Salomão, gravada por Marina Lima no álbum Virgem

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Perambulante


Meu coração
perambula pirilampo
pirilampeja
luz plebeia
carnuda lâmpada
peregrino percussor
persistente coração
que não perece
que não parece.

Perambulante, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto de Alicia D'Amico

Grand Canyon




Sempre achei que esse filme antecipava os anos noventa. Um dia assisti o trailer oficial do filme, e descobri que diz exatamente isso. E como a fugacidade -dos relacionamentos, das alegrias e até das dores- é um dos asuntos centrais do filme, nessa fugacidade voraz que é a internet não achei uma foto legal do filme. Enfim, não vou comprar um scaner só por causa disso.
O Larry Kasdan é um dos maiores diretores que deu o cinema dos Estados Unidos nos anos oitenta e com projeção na década de noventa, como mostra essa Grand Canyon, que nós-diz que tudo pode mudar em segundos, que nós diz rispeito da banalidade das coisas que achamos fundamentais e que ainda indica que se houver alguma esperança, ela está nos encontros entre pessoas.
Aliás, o Kasdan não filma desde 2003. Tá na hora de voltar, Larry, hein?

Na foto superior, da esquerda pra direita: Mary-Louise Parker, Mary Mc Donnell, Kevin Kline, Steve Martin, Danny Glover, Alfre Woodard
Foto de Lawrence Kasdan de David Kebo

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Don José Larralde


Un moscardón azul teje la siesta
sobre los cuatro rumbos de la tarde
anda un cansancio de sol por los caminos
que se mete en los ríos de la sangre.

En el yunque del pasto las chicharras
van rompiendo pedazos de la tarde
y yo estoy parado aquí sobre mi sombra
con las venas abiertas en el aire.

Pasa su piel rosada en una nube
pinta un ceibo su boca de ansiedades
y su cabello se desfleca al viento
sobre el maremar de los trigales.

Cada aroma sutil es un deseo
en esta soledad de soledades.
Y yo estoy parado aquí sobre mi sombra
con las venas abiertas en el aire.

Un moscardón azul teje la siesta
sobre los cuatro rumbos de la tarde
anda un cansancio de sol por los caminos
que se mete en los ríos de la sangre.

Cada aroma sutil es un deseo
en esta soledad de soledades.
Y yo estoy parado aquí sobre mi sombra
con las venas abiertas en el aire.

Sobre mi sombra, de José Larralde
Criador do existencialismo rural, Don José Larralde é o maior poeta surgido da pampa argentina.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

O mundo que foi (IV)


O Arpoador e no fundo o Morro Dois Irmãos, em 1952, na lente maravilhosa de José Medeiros.
Depois passou o tempo e todos aprendemos com Chico a respeitar o silêncio do Dois Irmãos, "assim como se a rocha dilatada fosse uma concentração de tempos". E essa foto mostra que é.

Referências à música Morro Dois Irmãos, de Chico Buarque
Foto de José Medeiros

Camunguelo


Na véspera do Natal foi embora Cláudio Lopes dos Santos, o Camunguelo, grande flautista, grande bamba.
Mas como diz o ditado, sambista não morre, só dá um breque.

Foto de Paulo Eduardo Neves

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Some girls








Quando a música disco era rainha da cena, os Rolling Stones lançaram Some Girls, uma das suas últimas obras primas. Com Miss you espalhada pelos rádios do planeta eles flirtaram com o ritmo que estava na onda, mas o disco inteiro tem uma solidez admirável, com Richards e Ronnie Wood duelando nas guitarras, Jagger cantando como sempre e Wyman e Watts com suas caras de nada, mas segurando toda a estrutura.
A música Some Girls foi taxada de misógina, o que no caso lógicamente não era uma opinião mas uma outra mostra daquele humor azedo que atravessa inteira a obra deles.
Porém, há uma história muito mais curiosa que envolve o design do disco. Criado pelo artista estadounidense Peter Corriston, adianta-se no tempo no conceito retrô, que reproduz velhos anúncios de sutiã e vários rostos em troquel, com perucas e detalhes coloridos. As caras dos próprios integrantes da banda misturam-se com ícones sexys de diferentes épocas como Lucille Ball, Raquel Welch, Marilyn e Farrah Fawcett, que na época era a bomba dos anjos de Charlie.
Mas a meninas -ou seus herdeiros- ficaram ofendidíssimas com essa imagem caricata delas e ressolveram abrir um processo. Resumo da ópera, a capa teve que ser mudada e a brincadeira ficou só com os rostos deles que já tinham zoado com a imagem deles mesmos muitas vezes, como mostra a foto de 66, da capa de Have you seen your mother baby, standing in the shadows, onde davam uma de drag-queens.
A obra de Peter Corriston entrou na galeria das maiores capas, assim como outras dele, por caso a de Physical Graffiti, dos Zeppelin, que merece uma postagem pra ela sozinha.

Some girls give me money
Some girls buy me clothes
Some girls give me jewelry
That I never thought I'd own

Some girls give me diamonds
Some girls, heart attacks
Some girls I give all my bread to
I don't ever want it back

Some girls give me jewelry
Others buy me clothes
Some girls give me children
I never asked them for

So give me all your money
Give me all your gold
I'll buy you a house back in Zuma beach
And give you half of what I own

Some girls take my money
Some girls take my clothes
Some girls get the shirt off my back
And leave me with a lethal dose

French girls they want Cartier
Italian girls want cars
American girls want everything in the world
You can possibly imagine

English girls they're so prissy
I can't stand them on the telephone
Sometimes I take the receiver off the hook
I don't want them to ever call at all

White girls they're pretty funny
Sometimes they drive me mad
Black girls just wanna get fucked all night
I just don't have that much jam

Chinese girls are so gentle
They're really such a tease
You never know quite what they're cookin'
Inside those silky sleeves

Give me all you money
Give me all your gold
I'll buy you a house back in Zuma beach
And give you half of what I own

Yeah baby why don't you please come home
Some girls they're so pure
Some girls so corrupt
Some girls give me children
I only made love to her once

Give me half your money
Give me half your car
Give me half of everything
I'll make you world's biggest star

So gimme all your money
Give me all your gold
Let's go back to Zuma beach
I'll give you half of everything I own



Some girls, de Mick Jagger e Keith Richards
Reproduções da arte do LP Some Girls, de Peter Corriston
As reproduções foram achadas no site Sleevage

domingo, 6 de janeiro de 2008

Confraternização de bambas


Tia Surica canta enquanto Negão da Abolição bate palmas. Foi na Confraternização do Ano Novo, no Cafofo, em primeiro de janeiro.
A foto é gentileza da querida Tia Bia Alves, eterna rainha do Bloco dos Suburbanistas

sábado, 5 de janeiro de 2008

O velho Chinaski


- Eu vou matar esse carro! -gritava ela- Eu mato!
Seus punhos batiam no capô, na porta, no parabrisa. Comecei a mexer o carro devagar para não feri-la. Meu Mercury Comet de 62 tinha ficado fora do combate e eu acabava de comprar um Volkswagen de 67. Estava reluzente e encerado. Inclusive tinha uma camurça especial no porta-luvas. Enquanto andava pra frente, Lydia continuava batendo o carro com os seus punhos. Quando passei por ela coloquei a segunda marcha. Olhei pelo retrovisor e vi ela, em pé, sozinha no luar, imóvil com sua camisola azul e sua calcinha. Me deu um nó no estômago. Me senti doente, inútil, triste. Estava apaixonado por ela.

Mulheres, (fragmento) de Charles Bukowski
Tradução para o português de Juan Trasmonte
Foto de Michael Monfort

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Pátria


Pátria potestade
grande úbere grande orbe
metrópole desvairada
desculpa foi pelo cano
cachorra de oito tetas
outro triz não tem engano
em noites de lua cheia
nem quando amanhece claro
assinante do Estadão
defensoria dos pobres
longa fila dos ausentes
filo-pátria dos sem filhos
sem mais mãe e sem sentido
pátria filtro filicida
fura pária inseticida
pátria fúria desigual
água cinza celestial.

Pátria, de Juan Trasmonte (Creative Commons)
Foto de Ana Carolina Fernandes

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Heitor dos Prazeres


Como se não bastasse com sua contribuição à música, Heitor dos Prazeres também fazia esses quadros maravilhosos.

Roda de samba, reprodução do óleo de Heitor dos Prazeres

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Songhai




Em 1988 os irmãos Carmona, do grupo espanhol Ketama conheceram em Londres o músico de Mali, Toumani Diabaté. Foi no apartamento da produtora Lucy Durán, que comemorava o aniversário dela.
Foi amor à primeira vista. Mal podiam falar entre eles, os flamencos do lendário clã dos Habichuela falavam espanhol e Toumani francês e inglês. Não foi empecilho. Poucos meses depois foi editado Songhai, um álbum imprescindível de encontro de culturas, mal chamado de "música do mundo", onde também participa o contra-baixista inglês Danny Thompson.
O trabalho de Ketama na divulgação internacional do flamenco foi fundamental. Eles foram muitos curiosos com outras expressões musicais, se bem no final ressolveram se abrir a um ámbito mais pop, o que não é um demérito mas uma escolha que, no caso, não produziu obras comparáveis aos primeiros discos.
Já Toumani leva seu sobrenome ligado a sua tradição de griot, que em Mali vai muito além do puramente artístico. Eles podem ser conselheiros matrimoniais e assessorar políticos. Então, Toumani é um dos maiores intérpretes do kora, aquele instrumento de cordas com uma grande barriga, e também um narrador de tradições da etnia dos mandinga do nordeste de Mali.