quarta-feira, 31 de outubro de 2007

José Agustín Goytisolo


Tú no puedes volver atrás
porque la vida ya te empuja
como un aullido interminable,

hija mía es mejor vivir
con la alegría de los hombres
que llorar ante el muro ciego.

Te sentirás acorralada,
te sentirás perdida o sola,
tal vez querrás no haber nacido,

yo se muy bien que te dirán
que la vida no tiene objeto
que es un asunto desgraciado,

entonces siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí pensando en ti
como ahora pienso.

Un hombre solo una mujer
así tomados de uno en uno
son como polvo no son nada,

pero yo cuando te hablo a ti
cuando te escribo estas palabras
pienso también en otros hombres,

tu destino está en los demás,
tu futuro es tu propia vida,
tu dignidad es la de todos,

entonces siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí pensando en ti
como ahora pienso.

Nunca te entregues
ni te apartes
junto al camino,

nunca digas
no puedo más
y aquí me quedo,

la vida es bella tú verás
como a pesar de los pesares
tendrás amor tendrás amigos.

Por lo demás no hay elección
y este mundo tal como es
será todo tu patrimonio,

perdóname no sé decirte nada más,
pero tú comprende
que yo aún estoy en el camino,

y siempre siempre acuérdate
de lo que un día yo escribí pensando en ti
como ahora pienso.

Palabras para Julia, de José Agustín Goytisolo
Poeta catalão da chamada Geração do 50, foi extremamente sensível, amante da liberdade até o fim e amante dos excesos, tanto que em 1999, no meio de uma das suas depressões, se jogou pela janela.
Esse Palabras para Julia que ele escreveu para a sua filha, é um dos mais bonitos poemas de língua espanhola, e também uma lição de vida, dessa vez sem excesos e sem ufanismo.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

O dedo de Björk



Passeio de bicicleta pela orla e lembrancinha para o fotógrafo

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Ipanema In


Hoje eu quero ter cem anos
e alguns planos pra nós dois
bater nossas bengalas duras
colocar o nosso pó de arroz
e não importa
o piercing na barriga
Ipanema in
a cansada Zona Sul
vamos colorir os nossos corpos velhos
com tipo estranho de tatoo

Celebrar as rugas
que arranharam nossas ruas
as minhas as tuas
celebrar o tempo
que não volta mais
a dor dos teus dos meus
dos nossos ais
e descansar o nosso corpo
em paz

Isso tudo pra dizer
que eu quero viver junto com você
Isso tudo pra dizer...

que hoje eu quero ter
mais de um milhão de anos
pra descansar dos nossos
vinte e muitos anos
das grandes idéias
dos largos planos
dos muitos enganos
vamo que vamo
aqui estamos
seres humanos
beltranas beltranos
sicranas sicranos
fulanas fulanos

Celebrando as rugas
que arranharam nossas ruas...

Ipanema In, de Rodrigo Bittencourt
Poeta, cineasta, músico, tem um lado carioca e um lado meio tropicália, um lado pop e um lado trovador da América do Sul, daqueles que partindo da letra puxam a melodia. Talvez agora seja mais falado porque Maria Rita gravou (seu) Meu samba. Mas façam o exercício de procurar seu trabalho solo nas Casas das Matrizes, nas Laura Alvins e nos Humaitá pra peixe da vida.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Irupé


Tierra sin paz
cielo tendrás
aunque sientas
desierto este tiempo.

Bella ancestral
luz estelar
son las coplas
que cantan tus cerros.

Preguntarás
si escucharán
tus lamentos
que llegan al viento.

Florecerán, perfumarás
los recuerdos
que aún guarda el misterio.

Plata serás
soles verás
alumbrar
esa antigua promesa.

Tierra ancestral
bella mortal
una historia
nacida de un sueño.

Cielos vendrán
a despertar
tus latidos
que aún guarda el misterio.

Renacerás y cantarás
con las voces
todos los tiempos.

Vidala Paradiso, de Irupé Tarragó Ros
Nome de planta aquática do litoral argentino, mística e mágica, fada azul, não conseguem classifica-la. Traz por herança desde o berço o folclore, mas está à beira dele e do rock e dentro da pureza ou no que se traduz da sensibilidade em estado puro. Canta. Muito.
Foto de Irupé Tarragó Ros de Antonio Fernández

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Crazy Diamond



Essa foto de Syd Barrett, o diamante louco, inspirou uma idéia em Tom Stoppard, que inspirou Rock'n'Roll, sua última peça
Foto de Adrian Boot

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

A Rita que não levou meu sorriso


Jurema deu um estrondo
que toda a terra estremeceu
por onde anda os companheiros da Jurema
que até hoje não apareceu
Jurema ô juremê juremá
é uma cabocla de pena filha de tupinambá
rainha das águas e areias
nunca atirou pra errar
é uma cabocla de pena

Jurema, Domínio público, adaptação de Rita Ribeiro
Foto de Duca Mendes

terça-feira, 23 de outubro de 2007

A Asa yoruba que vôa


Am in chains you’re in chains too
I wear uniforms, you wear uniforms too
Am a prisoner, you’re a prisoner too
Mr Jailer

I have fears you have fear too
I will die, you sef go die too
Life is beautiful don’t you think so too
Mr Jailer

Am talking to you jailer
Stop calling me a prisoner
Let he who is without sin-
Be the first to cast the stone
Mr Jailer

You suppress all my strategy
You oppress every part of me
What you don’t know, you’re a victim too
Mr Jailer

You don’t care about my point of view
If I die another will work for you
So you threat me like a modern slave
Mr Jailer

If you walking in a market place
Don’t throw stones
Even if you do you just might hit
One of your own Life is not about your policies
All the time
So you better rearrange your philosophies
and be good to your fellow man jailer

I hear my baby say I wan be president
I wan chop money
From my government
What he don’t know
Be say Mr Jailer

Mr Jailer, de Asa
Foto de Benoit Peverelli


Essa é a música que abre o primeiro disco da Asa (pronuncia-se Asha), que foi lançado na França na semana passada. Filha da nação Yoruba -seu nome significa pequeno falcão nessa língua-, francesa da origem nigeriana. Para inscrever na linha de Tracy Chapman ou Ayo, mas só como referênça. A moça tem 25 anos e uma marca bem pessoal. Destaque para a produção de Cobhams Asuquo -ele está por tras de vários discos maravilhosos- que tirou o melhor da herança musical dela e imprimiu um som sensacional.
Cobhams só pode olhar com os olhos da alma e criar vento para essa Asa voar.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Mito do eterno retorno


Rio
voltar por que
pedra portuguesa
quebra-cabeça
incenso mar
non sense ir
por que voltar
se todo lugar
é nenhum lugar
e nenhum lugar
pode ser um.

Mito do eterno retorno, de Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)

sábado, 20 de outubro de 2007

Salvador, anos oitenta


Anos oitenta em Salvador, encontro cotidiano de feras. Os percussionistas Carlinhos Brown e Ramiro Musotto, na foto com Toinho, Tony e Valtinho.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Sexta-feira non sancta (2)


quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Quevedo, como se fosse hoje


Pues amarga la verdad,
quiero echarla de la boca;
y si al alma su hiel toca,
esconderla es necedad.
Sépase, pues libertad
ha engendrado en mi pereza
la Pobreza.

¿Quién hace al tuerto galán
y prudente al sin consejo?
¿Quién al avariento viejo
le sirve de Río Jordán?
¿Quién hace de piedras pan,
sin ser el Dios verdadero?
El Dinero.

¿Quién con su fiereza espanta
el cetro y corona al Rey?
¿Quién, careciendo de ley,
merece nombre de Santa?
¿Quién con la humildad levanta
a los cielos la cabeza?
La Pobreza.

¿Quién los jueces con pasión,
sin ser ungüento, hace humanos,
pues untándoles las manos
les ablanda el corazón?
¿Quién gasta su opilación
con oro y no con acero?
El Dinero.

¿Quién procura que se aleje
del suelo la gloria vana?
¿Quién siendo toda cristiana,
tiene la cara de hereje?
¿Quién hace que al hombre aqueje
el desprecio y la tristeza?
La Pobreza.

¿Quién la montaña derriba
al Valle; la hermosa al feo?
¿Quién podrá cuanto el deseo,
aunque imposible, conciba?
¿Y quién lo de abajo arriba
vuelve en el mundo ligero?
El Dinero.

La pobreza, el dinero. Letrilla satírica de Francisco de Quevedo y Villegas, publicada no El parnaso español.
Pensar que isso foi escrito em 1648

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Arlo


Coming in from London
From over the pole
Flying in a big airliner
Chickens flying everywhere around the plane
Could we ever feel much finer?

Coming into Los Angeles
Bringing in a couple of keys
Don't touch my bags if you please
Mister Customs Man

There's a guy with a ticket to Mexico
No, he couldn't look much stranger
Walking in the hall with his things and all
Smiling, said he was the Lone Ranger

Hip woman walking on a moving floor
Tripping on the escalator
There's a man in the line
And she's blowing his mind
Thinking that he's already made her

Coming in from London
From over the pole
Flying in a big airliner
Chickens flying everywhere around the plane
Could we ever feel much finer?

Coming into Los Angeles, de Arlo Guthrie
Bombou Woodstock quando ele tocou essa música do cara pedindo que na fronteira não mexessem nas suas coisas pra não acharem o bagulho.
Foto de Arlo e sua neta Jacklyn de Annie Leibowitz

terça-feira, 16 de outubro de 2007

As musas também fazem anos



Hoje faz anos Dorina, a nossa musa do envolvente Irajá
Salve Dorina!

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Blog Action Day



Técnicos da Fundação Patagonia Natural trabalham na recuperação de pingüins afetados pelos derramamentos de petróleo.
Na primeira foto, eles são alimentados, no início do processo. A outra foto mostra o final, quando os que conseguem sobreviver são liberados.
http://www.patagonianatural.org/

Hoje é o Blog Action Day. Blogueiros do mundo todo neste dia escrevemos postagens sobre o meio ambiente.
http://blogactionday.org

domingo, 14 de outubro de 2007

Língua estranha


De todas as minhas partes estrangeiras
a língua
é a mais estrangeira
em cada corpo que roça
ela estranha
língua queimada de amor
sempre balança entre dois
língua mãe
língua adopção
um sotaque revelado
está na ponta da língua
a pele bárbara é coceira
mas sempre a fio a língua
de fio a pavio
é a parte mais estrangeira.

Minha língua que estranha, de Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto da fronteira entre Mauritânia e Senegal, de João Leitão

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

O velho Norman


"Escrever livros é o mais perto que os homens podem ficar da maternidade"

Foto-ilustração de Norman Mailer de Sean McCabe

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Tudo sempre azul




O dia se renova todo dia
Eu envelheço cada dia e cada mês
O mundo passa por mim todos os dias
Enquanto eu passo pelo mundo uma vez
A natureza é perfeita
Não há quem possa duvidar
A noite é o dia que dorme
O dia é a noite ao despertar.

O mundo é assim, composição de Alvaiade de 1968
Foto da Tia Eunice de Gustavo Furtado

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

El Tata


Depois de morar trinta anos em Paris, o cantor e compositor de tangos Tata Cedrón voltou a Buenos Aires há dois anos. El Tata tem musicado poemas de Raúl González Tuñón, César Vallejo, Juan Gelman e outros poetas que pela sua métrica pareciam impossíveis de musicar.

Foto de Martín Arias

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Diva dos pés descalços


Se m’sabia
K’gente novo ta morrê
M’ka tava ama
Ninguém
Ness mundo
Ess morna
E sonho d’nha esperança
Ki ja confessam
Qu’ma bo amor
Era falso, ô flor
Na dispidida
Bo tchora tcheu
M’magoa
M’tchora também

Flor de'nha esperança, tradicional, interpretada por Cesária Evora
Foto de Mark Seliger

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Suburbia


"I stick a knife in my hand, what do I see? Blood. Red and sticky as anybody elses. Any man. Any African-Americans. Any slaves. I bang my head, what do I hear? Silence."

Não é o filme nem a peça que ficaram velhos. São os anos noventa que já passaram há tanto tempo.

Do filme Suburbia, escrito por Eric Bogosian, baseado na sua própria peça, e dirigido por Richard Linklater
Foto da atriz Samia Shoaib numa cena do filme

domingo, 7 de outubro de 2007

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Medo


É medo medo medo
eu tenho você tem
é dúvida armadilha
tragada hesitação
é sangue no desejo
seca nas teclas do piano
pia de Poncio Pilatos
cuidar do cú dos romanos
romaria medo insano
medo do dedo de Deus
imensidão forajida
fugir do fogo queimar
medo de dar certo
medo de dar
medo de nao dá
medo tatame brigar
medo de machucar
macho de medo teimar
temer tremer ser
ou não ser
encorajar coração
couraça corcunda dor
medo de tanta coragem
cara cama paisagem
é medo medo medo
medo no meio e no fim
medo não seres afim
medo beira da calçada
meio fio e meada
eu tenho você tem.

Medo, de Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Liliana Vilas Boas

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Nobreza cristalina


Lá do alto a cachoeira
vem descendo a ribanceira
num roncar que não tem fim
Curso d´água é quem me guia
canto a dor e a alegria
A vida me fez assim
Pode me faltar dinheiro
que eu trabalho o ano inteiro
pra poder recuperar
mas nunca me faltem flores
pra agradecer amores
que Oxum vive a me dar

A vida me fez assim, de Teresa Cristina e Argemiro
Foto de Noale Toja

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Batá Brasil




Mestre Léo Leobons criou um site sobre batá no Brasil. Não é só pra aqueles que quiserem ter algum dia as suas mãos lavadas, mas também para aqueles que quiserem abrir a porta à cosmogonia dos tambores sagrados. Como os verdadeiros mestres, Léo é humilde e diz que o site é para fazer uma homenagem a um dos seus mestres, Fermín Nani, mas além disso está lá todo o seu conhecimento sobre batá-Añá.
http://www.batabrasil.com.br/

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Zé Celso



O diretor José Celso Martinez Corrêa apresenta sua versão de Os sertões no Rio até domingo.
Foto de Zé Celso por Isaumir Nascimento

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Wystan Hugh Auden & Carla




At last the secret is out, as it always must come in the end.
The delicious story is ripe to tell to tell to the intimate friend.
Over the tea-cups and into the square the tongue has its desire.
Still waters run deep. My dear. There's never smoke without fire.
Behind the corpse in the reservoir. Behind the ghost on the links.
Behind the lady who dances and the man who madly drinks.
Under the look of fatigue. The attack of migraine and the sigh
there is always another story. There is more than meets the eye.
For the clear voice suddenly singing. High up in the convent wall.
The scent of the elder bushes. The sporting prints in the hall.
The croquet matches in summer. The handshake. The cough. The kiss.
There is always a wicked secret. A private reason for this.

At last the secret is out, de Wystan Hugh Auden, musicado por Carla Bruni
Foto de Wystan Hugh Auden de Getty Images