sábado, 31 de março de 2007

Mano Brown



As meninas dos Jardins gostam de rap
(Zeca Baleiro)

sexta-feira, 30 de março de 2007

Céu no chão



Vista assim do alto
Mais parece um céu no chão
Sei lá,
Em Mangueira a poesia fez um mar,
se alastrou
E a beleza do lugar, pra se entender
Tem que se achar
Que a vida não é só isso que se vê
É um pouco mais
Que os olhos não conseguem perceber
E as mãos não ousam tocar
E os pés recusam pisar
Sei lá não sei...
Sei lá não sei...

Sei lá Mangueira (fragmento), letra de Hermínio Bello de Carvalho e música de Paulinho da Viola.
Foto de Erno, da série Domingo em Mangueira (1963)

quinta-feira, 29 de março de 2007

Presente de Zeus




Vi Prometeu
voltar pro céu
fogo sagrado
nem sorriso
de Geovana
na avenida
pode trazer.

Eu vi Prometeu
carruagem do sol
subir ao céu
aqui meus olhos
sem luz
novo presente
de Zeus.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Prometheus, arte digital de Ariela Pelaia

quarta-feira, 28 de março de 2007

O Tom Maior na Arte Maior



Tom praticando Tai-Chi ou então o círculo do Chi vai da arte ao Tom.


"O objeto arte em minha mão sempre foi tratado na fronteira."
Tom Zé
Foto de David Helman


terça-feira, 27 de março de 2007

O Tom Maior


Você inventa grite
Eu invento ai!
Você inventa chore
Eu invento ui!
Você inventa o luxo
Eu invento o lixo
Você inventa o amor
Eu invento a solidão
Você inventa a lei
E eu invento a obediência
Você inventa Deus
E eu invento a fé
Você inventa o trabalho
E eu invento as mãos
Você inventa o peso
E eu invento as costas
Você inventa a outra vida
Eu invento a resignação
Você inventa o pecado
Eu fico aqui no inferno
Meu Deus, no inferno
Valha-me Deus, no inferno.

Ui! (Você inventa), de Tom Zé e Odair Cabeça de Poeta

segunda-feira, 26 de março de 2007

Gregory Corso



Nasceu em Greenwich Village, de uma jovem adolescente que o abandonou para regressar a Itália, seu país de origem.
Passou a infância fugindo de orfanato em orfanato e com várias famílias na qualidade de filho adoptivo.
Trabalhou como operário, esteve preso. Começou a escrever poesia na cadeia e tornou-se um dos maiores referentes da Geração Beat.
Durante boa parte da sua vida não teve endereço fixo nem CPF.
Nasceu em 26 de março de 1930. Hoje completaria 77 anos.

Segue a versão original do seu poema Hello..., acompanhado da tradução para o português.


It is disastrous to be a wounded deer.
I'm the most wounded, wolves stalk,
and I have my failures, too.
My flesh is caught on the Inevitable Hook!
As a child I saw many things I did not want to be.
Am I the person I did not want to be?
That talks-to-himself person?
That neighbors-make-fun-of person?
Am I he who, on museum steps, sleeps on his side?
Do I wear the cloth of a man who has failed?
Am I the looney man?
I the great serenade of things,
am I the most cancelled passage?

ALÔ

É desastroso ser um cervo ferido.
Eu estou muito ferido, os lobos rondam
e tenho meus fracassos também.
Minha carne ficou presa no Gancho Inevitável!
Quando criança vi todas as coisas nas quais não queria me transformar.
Serei a pessoa que não desejava ser?
Aquela pessoa que-fala-sozinha?
Aquele de quem os vizinhos caçoam?
Serei eu aquele que, nos degraus do museu, dorme de lado?
Estarei usando a roupa do cara que faliu?
Sou um sujeito lunático?
Na grande serenata das coisas,
serei a passagem mais cancelada?

domingo, 25 de março de 2007

Imigrantes



Chegada de imigrantes no porto de Buenos Aires, em 1910.
Foto do Archivo General de la Nación

sábado, 24 de março de 2007

Sebastião e Sebastien



Uma bala entre dois homens
dois lados do mesmo nome
de uma origem sagrada
que o helenismo não nomeia
mundo encardido na Idade das trevas
caem as graças
caiam as Grécias
não há mais o que apagar
não há mais quem apagar
na Idade das trevas
Sebastião atirou em Sebastien
na BR cento e dezeseis.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Inspirado no crime do músico francês Sebastien Gressez, durante o assalto que ocorreu na Via Dutra na segunda-feira. E no fato de que o suspeito de ter matado o músico tem o mesmo nome.

Ayo



Do you really think she can love you more than me, do you really, really think so Do you really think she can love you more than me, baby I know she won't Cause I loved you, unconditionally, I gave you even more than ,I had to give I was willing for you to die, cause you were more precious to me, than my own life

Down on my knees, I'm begging you, Down on my knees, I'm begging you, Down on my knees, I'm begging you, Please, please don't leave me

I won't believe, that you really, really, wanna leave me, just because of her Have you forgot about, all the things, we've been through, she was not the one, who was there for you See, I loved you unconditionally, I gave you even more than ,I had to give I was willing for you to die, cause you were more precious to me, than my own life

Down on my knees, I'm begging you, Down on my knees, I'm begging you, Down on my knees, I'm begging you, Please, please don't leave me

Don't leave me, I'm begging, I love you, I need you, I'm dying, I'm crying, I'm begging, Please love me I love you, I love you, I'm begging, please love me, I'm begging, I'm begging, Please don't leave me, no, no, no, no, no

Down on my knees, I'm begging you...

Down on my knees, de J.O. Ogunmakin e G. Brenner
Foto de Jean Marc Lubrano and Clam
Nasceu na Alemánia, de pai nigeriano e mãe cigana. Morou em Londres e agora anda entre Paris e Nova Iorque, sempre com um pé na Africa. O lugar da Ayo é esse blog. Seu canto dói e faz bem ao mesmo tempo. Prestem atenção na moça.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Aurelião



Abracei o Aurelião
como se fosse você
revista e ampliada
em nova edição
abracei o Aurelião
botei no colo
não achei definição
que pudesse te-explicar
abracei o Aurelião
para tocar sua língua
na mais pura impressão
Só achei tinta e paixão.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)

quinta-feira, 22 de março de 2007

Tata Monalê



Xangô três coruna
vem da Ilha de Nagô
Ninguém sabe de onde
eu venho
Ninguém sabe de onde
eu sou
Xangô três coruna
vem da Ilha de Nagô.

Três coruna, domínio público da tradição afro-brasileira, adaptação de Tata Monalê e Carlinhos Brown.

terça-feira, 20 de março de 2007

La Felipe



Hablo con dejo de otros mares
y ya no sé qué arenas
guardarán secretas,
aquel pequeño puñado de historias que fuí
tan lejos de aquí.
Hoy tu cuerpo es quien me enseña a vivir
y desde que me abrazas
desde que me besas
no soy aquella que llega
y que piensa distancia,
tu vida también es mi país.
Y si algún día ves que voy a morir
préstame tu pecho,
será noche tibia
y yo tendré por patria
la almohada que me diste.
Puede ser que muera así cantando bajito
o que me meta en un rinconcito
o que sienta como un frío de dos,
pero no moriré extranjera
de tus labios fuertes.


La extranjera, de Liliana Felipe, um hino para estrangeiros e apaixonados. "E eu terei por pátria o travesseiro que você me deu".
La Felipe, argentina do México, artista em tudo o que é lado, mulher de nenhum lugar.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Assim sai a palavra


Quebrado requebrado
feito novelo meada
perna cruzada mão baixo
perante folha batido
mexido queijo apertado
comprimido torto tonto
cabisbaixo

assim sai a palavra

parto animal expulsão
arquejo chama cais
pedregal coceira água

assim sai a palavra.

Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Eugene Vardanyan

domingo, 18 de março de 2007

Distraídos venceremos



A beleza parece ser algo que se passa com o sentido.
Ela é a plenitude física do sentido.

Neste mundo, só a beleza faz sentido.

Paulo Leminski

sábado, 17 de março de 2007

Carta para Elisa



Na casa da minha mãe achamos uma pasta com papeis e documentos que minha vó paterna guardava. A descoberta é fundamental para tentar reconstruir a história do meu pai que estava completamente fragmentada pelo desmembramento da família dele.
Há uns documentos e lembranças incríveis entre esses papeis. Segue uma carta para minha bisavó Elisa enviada desde Porto pela sua cunhada Maria, onde fala também da "pequena René", minha vó. Tentei transcrever com a maior fidelidade, incluindo até os erros do original.

Publico no blog por ser esse um espaço da condição estrangeira, seja de pessoas, lugares ou sentimentos.




Porto 12 de fevereiro 1913

Minha boa Elisa


Escrevi-lhe quando aqui esteve D Antonio Moutinho e tambem o mesmo Sr foi portador de uma carta que lhe enviei junto ao estojo de costura que ia pa a Maria René; não sei se a Eliza me respondeu á dita carta e se devem caminha-se ou então não me escreveu, se assim fosse receio bem que seja por falta de saude a qual eu deveras sentiria.
Eu tenho andando apoquentada com o reumatismo e o Ferreira mal da sua bronchite porem vamos indo gemendo e andando.
Ainda não tirei a minha photografia porque não se ofereceu occasião para o fazer, mas quando poder eu lhe enviarei o meu retrato.
Aceite muitas saudades minhas pa a Eliza e beijos para a pequena René e logo que receba esta pedia para quando me escreva diga de D Antonio teve feliz viagem; Eu fiquei muito grata pela sua amabilidade para connosco.

Sua affetuosa amiga e cunhada
Maria

sexta-feira, 16 de março de 2007

Arto Lindsay


Longe de tudo e até de ti
Nesse frio nesse vento
Tenho só um pensamento firme
No firmamento
Tudo é distante e teu
Tudo é distante

Cabelo na cara óculos escuros
Boca séria eu adoro
O mundo civilizado
A noite indisciplinada

Espalhada entre rostos e luzes vi você


Mundo Civilizado, de Arto Lindsay e Marisa Monte.
Foto de Ziga Koritnik
Arto é a prova de que uma certa mistura de Estados Unidos com Brasil pode dar certo.

quinta-feira, 15 de março de 2007

Anjos



Fatalmente
você e eu
pequeno ser
sangue na palavra
camafeu
ser afim
querubim
raiz do fogo
oxigênio da lâmpada
ser pequenos
você e eu
eu e você
ação de graças.




Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Sonho de uma noite de verão, desenho de Cláudia Toledo

quarta-feira, 14 de março de 2007

De quebra



Sartre com Simone de Beauvoir na praia de Copacabana em 1960. Quantos aí já pisaram na mesma areia que ele?
Foto da AFP

Les autres



"L'enfer, c'est les autres".

O inferno são os outros
Jean-Paul Sartre em Huis Clos (Entre quatro paredes), 1944
Foto de Brassaï, tirada em 1944 no Café de Flore

terça-feira, 13 de março de 2007

Bangu



Rarefeito ar arranha o nariz
o que diz que diz é de arrepiar
trama tutorial treme dente giz
eu já ouvi ingrês falar cate tif
nóis pega ladrão prende prega e fim
estranhou estrada extremou estrepe
no xadrez peão pão água celular
lar Bangu angu bangue-bangue azar
pomba-gira geme exalta Exu
rebelião no ar reveillon no chão
raro feito Roma Nero fogo chama
guarda ateia chame arrebenta Deus.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Escrito perto de algum reveillon e muito perto de alguma das inúmeras rebeliões em Bangu.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Alpha Blondy



Travailler c’est trop dur
et voler c’est pas beau
d’mander la charité
c’est quelque chose que je ne veux plus faire
chaque jour que moi je vis
on ne demande de quoi je vis
je dis je vis sur l’amour
et j’espère vivre vieux
je prends mon vieux cheval
et j’attrape ma vielle selle
je selle mon vieux cheval
pour aller chercher ma belle
je prends ma vieille Bible
ma Thora mon vieux Coran
D’Abidjan à Saint Félix
je cours chercher Hélène
travailler c’est trop dur
et voler c’est pas beau
d’mander la charité
c’est quelque chose que je ne veux plus faire.

Travailler c’est trop dur, de Alpha Blondy.

domingo, 11 de março de 2007

Ricardo Espalter




Ontem nos deixou Ricardo Espalter, grande cómico uruguaio. Criou personagens inesquecíveis como o Toto Paniagua, aquele rude que sofria nas aulas de bons modos; o atendente da loja de discos que era asediado por un cliente "alegre"; o "pequeno saltamontes", um trapalhão paródico do seriado Kung-Fu e tantos outros. Em 1989, perto da eleição em Uruguai, deu vida ao Pinchinatti, um político que fazia promessas ridículas. A brincadeira foi longe. As pessoas queriam que ele fosse candidato mesmo e chegou a encher a praça principal de Montevideu num comício hilário.
No estilo dos atores do cinema mudo, falava com seus gestos e seu rosto. Morreu com 82 anos. Foi um dos últimos exemplares de um humor que está em retirada.

sábado, 10 de março de 2007

Meu lar é um botequim




Eu só queria sentar
escondido entre as vozes
e jogar conversa fora
chope bala imigrantes
pedintes e delirantes
impedidos e farsantes
escanteio olha a chuva
não falei? tá impedido!
porre taxi vamo nessa
na hora do jogo
nós é Botafogo
escudo estrela
pipa no morro
Espanha luso-falante
nós é cearense
do alto da Rocinha
nós é carioquês
nós é argentino
da segunda linha
outra coisa é gente fina
só dá marquês nessa esquina
minha pátria é minha língua
minha pátria é um lote
um cantinho no Picote.


Tributo ao Picote, de Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Stella Ribeiro

Esse é o maior boteco do mundo. Saudades do seu Marcelino, Vicente, Antonio e todo o pessoal desse cantinho do Flamengo onde eu fui muito feliz.

Os normais



"A humanidade está duas doses debaixo da normalidade".

Humphrey Bogart

quinta-feira, 8 de março de 2007

Dona Edith do Prato



Vou me embora pro sertão
ô viola meu bem, ô viola
eu aqui não me dou bem
ô viola meu bem, ô viola
sou empregado da Leste
sou maquinista do trem
vou me embora pro sertão
que eu aqui não me dou bem
ô viola meu bem, viola
ô viola meu bem, viola

Viola meu bem, tradicional, adaptação de Caetano Veloso.
Cadeira de vime. Prato de louça e faca. Chiado. Mãe de leite do quinto filho de Dona Canô. Filha de Oxum-Maré e as Vozes da Purificação que vem da igreja.
Jota Velloso, filho da moça que morria de amor chamada Clara, e Bethânia nem sabem o bem que fizeram à humanidade ao produzir o disco de Dona Edith.
A arte de Dona Edith do Prato talvez diga mais sobre o sentido da vida que dezenas de tratados filosóficos.

quarta-feira, 7 de março de 2007

Alma clandestina



Já atravessei a fronteira
continuo clandestino
esperando uma palavra
como se fosse um carimbo
um visto de permanência
no território proibido
do seu peito suas mãos.

-------------------------
Minha alma alga marina
anda colada na quilha
anda veloz outra milha
alta anda imponente
nada bendita baleia
anda alma lavada
até tocar sua areia.


Juan Trasmonte (Fragmento. Todos os direitos reservados)
Foto de Miguel Angel Marcos.

terça-feira, 6 de março de 2007

Jean Baudrillard (1929-2007)



"No universo existe cada vez mais informação e cada vez menos sentido".


Partiu hoje Jean Baudrillard, o retratista da ezquizofrenia social.

segunda-feira, 5 de março de 2007

A grande Sueli




Freqüentas minhas mais estranhas fantasias
e todas as manhãs és o meu pão e o leite
me salvas do jejum nas madrugadas frias
e a noite sempre volto a te pedir: me aceite.


Quero-te mais do que imaginas ser possível
te trouxe um búzio mágico dessa viagem
marina melodia ao pé do teu ouvido
já que pensas que sou um marinheiro audaz.


Faça de conta que nada disso conta
que não importa, exceto estarmos outra vez aqui
abra-me novamente a tua porta
pois eu jamais parti.



Todos os lugares. Música de Sueli Costa e versos de Tite de Lemos.
Sueli merece ser reconhecida como uma das maiores compositoras do Brasil de todos os tempos. Sempre com ótimos parceiros nas letras. Aliás, se alguém tiver uma foto do Tite que me mande. Na internet sobra besteira e faltam poetas.

domingo, 4 de março de 2007

Acima debaixo ao lado aparte



acima de qualquer suspeita
debaixo de toda razão
ao lado de nenhuma parte
aparte de algum lugar

acima de toda cidade
debaixo de qualquer porão
ao lado de algum flagrante
aparte de nenhum total

acima de nenhuma coxa
debaixo de algum silêncio
ao lado de toda vergonha
aparte de qualquer tostão

acima de algum alento
debaixo de nenhuma fé
ao lado de qualquer batuque
aparte de toda noção.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)
Foto de Eugene Vardanyan

Ms. Thomas



Ela é uma senhora de 86 anos. Poderia estar tomando chá com amigas e falando orgulhosa dos netos. Porém ela está na Casa Branca incomodando à anta do Bush com a sua presença. É a jornalista mais antiga ali em atividade. Reclama da covardia de outros jornalistas que "decepcionaram o povo" por não dizer a verdade sobre Iraque.

Ela fechava todas as coletivas com seu clássico "Thank you, Mr. president". Mas, desde março de 2006 o pessoal de lá ficou nervoso e quase não a deixam participar das coletivas. Foi quando Ms. Thomas perguntou ao presidente quais as verdadeiras razões da invasão. Ipsis literis:

"I'd like to ask you, Mr. President, your decision to invade Iraq has caused the deaths of thousands of Americans and Iraqis, wounds of Americans and Iraqis for a lifetime. Every reason given, publicly at least, has turned out not to be true. My question is: Why did you really want to go to war? From the moment you stepped into the White House, from your Cabinet -- your Cabinet officers, intelligence people, and so forth -- what was your real reason? You have said it wasn't oil -- quest for oil, it hasn't been Israel, or anything else. What was it?"


Foto de Helen Thomas com Richard Nixon de Red Grandy.

sábado, 3 de março de 2007

Yo tengo tantos Hermanos


De onde vem a calma daquele cara?
Ele não sabe ser melhor, viu?
Como não entende de ser valente
Ele não saber ser mais viril
Ele não sabe não, viu?
Às vezes dá como um frio
É o mundo que anda hostil
O mundo todo é hostil
De onde vem o jeito tão sem defeito
Que esse rapaz consegue fingir?
Olha esse sorriso tão indeciso
Tá se exibindo pra solidão
Não vão embora daqui
Eu sou o que vocês são
Não solta da minha mão
Não solta da minha mão
Eu não vou mudar não
Eu vou ficar são
Mesmo se for só não vou ceder
Deus vai dar aval sim
O mal vai ter fim
E no final assim calado
Eu sei que vou ser coroado rei de mim.

De onde vem a calma, de Marcelo Camelo
Foto de Prodigo.

sexta-feira, 2 de março de 2007

A ponte


Do outro lado da ponte
fala-se outra língua
sinais e cartazes
o mesmo dizem
mas dizem diferente
os rádios tocam outras músicas
as fardas dos policiais mudam de cor
é só atravessar a ponte
e até os cachorros latem diferente
e as pessoas chamam diferente aos cachorros
e no entanto o rio não muda sua cor marrom
a terra é vermelha em Puerto e em Foz
de qual lado da ponte você é estrangeiro
de qual lado da ponte você é brasileiro
e no meio da ponte você não tem pátria
e sem pátria você é um sujeito perdido
passaporte não presta quando você passa
e só pode ser alguém na hora da partida
e volta a ser alguém na hora da chegada
o sonho da origem o destino justifica
partir ou então chegar quando cansar você fica
a ponte já foi feita para ser atravessada
a origem dessa ponte seu destino justifica
o que é que vai fazer quando você estiver no meio
e qual será seu nome no final da trajetória
e quem será você quando não seja estrangeiro
e já não tenha mais nome e nem identidade
e nem idade tenha e nem língua nem história.


Juan Trasmonte (Todos os direitos reservados)

quinta-feira, 1 de março de 2007

Nick



I never felt magic crazy as this
I never saw moons knew the meaning of the sea
I never held emotion in the palm of my hand
Or felt sweet breezes in the top of a tree
But now you're here
Brighten my northern sky.

I've been a long time that I'm waiting
Been a long that I'm blown
I've been a long time that I've wandered
Through the people I have known
Oh, if you would and you could
Straighten my new mind's eye.

Would you love me for my money
Would you love me for my head
Would you love me through the winter
Would you love me 'til I'm dead
Oh, if you would and you could
Come blow your horn on high.

I never felt magic crazy as this
I never saw moons knew the meaning of the sea
I never held emotion in the palm of my hand
Or felt sweet breezes in the top of a tree
But now you're here
Brighten my northern sky.

Northern Sky, de Nick Drake. Essa é uma das canções de amor mais bonitas que eu já ouvi. A música pertence ao album Bryter Layter, de 1970, obra prima de Nick que, porém, começou sua espiral de depressão nesse ano, desapontado com a pouca repercussão da sua obra.
Morreu em 1974, aos 26 anos, de overdose acidental de anti-depressivos que ele tomava para conseguir dormir.
A foto não tem crédito. A morte prematura de um artista genial também não.


"I can't cope, all the defences are gone. All the nerves are exposed."